VEJO O TREM DA SAUDADE ME LEVANDO
AO
LUGAR QUE NASCI E FUI CRIADO
(JOÃO PARAIBANO)
6º FESTIVAL DE VIOLA EM SÃO PAULO
Lembro
a casa que foi minha morada
Que
já tem rachaduras no reboco
A
biqueira tocando um baião moco
N’uma
lata da boca enferrujada
Uma
cabra sem peia outra piada
Qu’eu
tangia de casa pra o roçado
Com
um peito vazando em cada lado
Um
cabrito deitado outro mamando
VEJO O TREM DA SAUDADE ME LEVANDO
AO
LUGAR QUE NASCI E FUI CRIADO
Não
esqueço o cupim na linha torta
De
uma casa que eu fui nascido nela
Uma
lata de flores na janela
Minha
irmã aguando a flor da horta
Um
cachorro azunhando os pés da porta
Uma
pasta de lodo no telhado
Um
quintal um varal atravessado
Com
um pano estendido balançando
VEJO O TREM DA SAUDADE ME LEVANDO
AO
LUGAR QUE NASCI E FUI CRIADO
Lembro
o gato correndo pela bica
Procurando
onde um rato se escondia
Mãe
lavando uma rede qu’eu dormia
Com
sabão e semente de oiticica
Nossa
mesa enfeitada de canjica
De
pamonha, de bolo e milho assado.
Cuscuz
quente com leite esturricado
E a
tigela de barro fumaçando
VEJO O TREM DA SAUDADE ME LEVANDO
AO
LUGAR QUE NASCI E FUI CRIADO
Não
esqueço os invernos de janeiro
Que
passei no sertão da minha terra
O
trovão abalando o pé da serra
Quando
o vento rasgava o nevoeiro
Tanajura
caindo no terreiro
Muitas
flores se abrindo pelo prado
Um
açude sangrando, um rio de nado
Pai
cavando na roça e mãe plantando
VEJO O TREM DA SAUDADE ME LEVANDO
AO
LUGAR QUE NASCI E FUI CRIADO
Não
esqueço o café com tapioca
Tripa
assada na cuia de farinha
Mel
de engenho com água de quartinha
Um
pirão de farinha de mandioca
Lembro
a minha espingarda soca- soca
Carregada
com chumbo envenenado
Qu’eu
usei nas matanças de viado
Hoje
tem, mas ninguém estando “matando”
VEJO O TREM DA SAUDADE ME LEVANDO
AO
LUGAR QUE NASCI E FUI CRIADO
MORO
AQUI EM SÃO PAULO E NÃO CONSIGO
ESQUECER
OS COSTUMES DO SERTÃO
(ZÉ
VIOLA)
6º
FESTIVAL DE VIOLA EM SÃO PAULO
Um
cachorro ladrando no terreiro
Dois
capotes correndo no quintal
Uma
vaca parida no curral
Uma
cabra berrando o chiqueiro
Dois,
três galos cantando num puleiro
Uma
rede com linha de algodão
Viajar
do meu chão foi ilusão
Viver
longe demais é um castigo
MORO
AQUI EM SÃO PAULO E NÃO CONSIGO
ESQUECER
OS COSTUMES DO SERTÃO
Sou
do tempo do cocho e da gamela
E um
forró numa sala de reboco
Amarrei
“mão” de burro em pé de toco
Fiz
porteira, fiz cerca e fiz cancela.
Fiz
perneira, fiz peia e já fiz sela
Caprichei
nas costuras do gibão
Trago
o cheiro da sola em minha mão
Faço
é rir de quem diz qu’eu sou antigo
MORO
AQUI EM SÃO PAULO E NÃO CONSIGO
ESQUECER
OS COSTUMES DO SERTÃO
Não
consigo esquecer do meu roçado
A
enchente da altura da barreira
Uma
boi manso da altura da porteira
O
soqueiro da altura do cercado
O
capim da altura do arado
O
joelho da altura do feijão
O
chapéu da altura do pendão
E o
milho da altura do umbigo
MORO
AQUI EM SÃO PAULO E NÃO CONSIGO
ESQUECER
OS COSTUMES DO SERTÃO
Vaquejada
de fama é o meu trecho
Repentista
que canta sem marmota
Rapadura
de cana piojota
Que
só quebra quem tem força no queixo
Eu
não sei o d’acho é Remelexo
Se
Eu Te Pego pra mim num presta não
Pocotó,
É o Tcham e Batidão
Essas
coisas de louco eu não me ligo
MORO
AQUI EM SÃO PAULO E NÃO CONSIGO
ESQUECER
OS COSTUMES DO SERTÃO