Algumas sextilhas do poeta aldo Neves na cantoria de inauguração de sua viola, na Pousada do Vale, no dia 16/02/2008.
Eu puxei antigamente
Jumento pelo estovo
Vendo pai fazendo cerca
E minha mãe juntando ovo
Daria tudo que tenho
Pra ser criança de novo
Sextilha (A paisagem Nordestina)
A paisagem nordestina
Primeiro a chuva caindo
Segundo a terra molhada
Terceiro a flor se abrindo
Quarto um açude sangrando
Quinto a pastagem surgindo
(Aldo Neves)
Mais sextilhas da cantoria:
Pra o homem que é vigilante
O seu sofrer continua
Que só tem por companhia
A solidão e a lua
Cuida da casa dos outros
E anoite cuida da sua
Nessa hora na calçada
Cochila um ébrio deitado
O silêncio faz visita
Na cela d’um carcerado
E a natureza me obriga
Viver sonhando acordado
A noite acolhe os fantasma
Um detento forra a cela
A lua nasce embassada
Por trás da nuvem amarela
Se a viola é minha cruz
Vou ter que carregar ela.
Eu comparo a mocidade
Com a aurora prateada
Velhice cadeia triste
Com sua porta fechada
Que o delegado dos anos
Ver tudo mas não faz nada
Quando o inverno começa
Toda tristeza se esconde
Uma casaca de couro
Canta e outra responde
E a cheia arranca um caniço
E vai deixar não sei aonde.
Quando chove no sertão
Fica tudo diferente
A compesa solta, a agua,
Cobra e humilha o cliente.
Deus quando manda é de grasça
Não cobra nada da gente
A enchente empurra as varas
Pra desmanchar o caniço
As abelhas fazem mel
Se enganchar no cortiço
Quem se criou no sertão
Sabe o que é tudo isso
(Aldo Neves)
Admiro a sabiá
Por ser uma ave bela
Faz o ninho poe e choca
E quer o filho perto dela
E tem mãe que mata a criança
Pra não dá trabalho a ela.
(Dió de Santo Izidro)
Numa missa em Tuparetama, na missa do dia dos pais em agosto 2006, o poeta Aldo Neves fez:
Decassílabo
Jesus cristo tem sido até agora
Protetor de ateus e de pagãos
Me entrego senhor em tuas maõs
Tando aqui ou andando mundo afora
Ele a ajuda a que ri e a quem chora
Porque é paciente e bom amigo
Me livrando da treva e do perigo
É o mestre do mundo e da igreja
E por mais longe senhor que eu esteja
Com certeza eu alcanço o teu abrigo
Sextilha
Quando chove no sertão
Se acabam todos os horrores
As abelhas fazem mel
Tirando o néctar das flores
E a capina é o cenário
Do filme dos cantadores
Mote: FICOU FELIZ O SERTÃO
COM A CHUVA NOVAMENTE (Josa Rabêlo) dia 10 de junho/2007
Com medo de um perdigueiro
Corre um preá pra coivara
E uma rolinha se ampara
Na sombra de um juazeiro
Na sangria de um barreiro
Canta um cururu contente
Deus deixa a cigarra ausennte
E dá lugar pra o carão
Ficou feliz o sertão
Com a chuva novamemte
Quando a terra está molhada
No curral as vacas mugem
Camponês tira a ferrugem
Do gume da sua enxada
Levanta de madrugada
Já vai escolher semente
E não vai fcar um vivente
Sem plantar milho e feijão
Ficou feliz o sertão
Com a chuva novamente
Quem tinha arrumado a mala
Não vai sair do sertão
Na zuada do trovão
Toda cigarra se cala
No riacho a água embala
Levando o que tem na frente
Parecendo uma serpente
Se arrastando pelo chão
Ficou feliz o sertão
Com a chuva novamente
A nuvem sofre um desmaio
Deixando o céu colorido
O trovão dá estampido
Como quem faz um ensaio
Um pe´de apara-raio
Se balança lentamente
Não se parece com gente
Mas dá ligeira impressão
Ficou feliz o sertão
Com a chuva novamente
No riacho a água sobra
Levando as folhas da serra
Deus une o céu com a terra
Quando a chuva se desdobra
Pra se esconder de uma cobra
Sai um sapo velozmente
E num relâmpago do nascente
Deus tira a foto do chão
Ficou feliz o sertão
Com a chuva novamente
(Aldo Neves)
O poeta Aldo Neves, no mote de Josa Rabêlo:
VALORIZE A CULTURA DO SERTÃO,
FECHE AS PORTAS À MÍDIA ENGANADORA.
Valorize o caboclo nordestino
O gibão, o vaqueiro e sua cela;
O curral o mourão e a cancela,
O chocalho que é boca de sino.
Dê valor ao caboclo campesino
Que é o homem sofrido da lavoura.
E por aí já tem mais de uma emissora
Que não sabe quem foi um Gonzagão,
VALORIZE A CULTURA DO SERTÃO,
FECHE AS PORTAS À MÍDIA ENGANADORA.
Dê valor a um carão de madrugada,
Que não é um doutor mas advinha.
E vinte pintos seguir uma galinha
E ela só, tomar conta da ninhada.
E um trovão estralar de madrugada
Sem contato com os fios da emissora.
E a formiga cortar sem ter tesoura
Estragando a lavoura do feijão.
VALORIZE A CULTURA DO SERTÃO,
FECHE AS PORTAS À MÍDIA ENGADORA
Camponez quando acorda sabe a hora
Com o galo que é seu seresteiro
Com o sapo cantando no barreiro
E com o sol enfeitando a branca aurora
Um riacho jogando água pra fora
Sem ter canos que sirva de adutora
Inda tem nessa terra encantadora
A sanfona, o chapéu e o gibão
VALORIZE A CULTURA DO SERTÃO
FECHE AS PORTAS PRA MÍDIA ENGANADORA
O poeta do pé da serra – Aldo Neves, (Aldo de Luiz Terto), fez esses versos em homenagem aos 48 de convivência de João Martins e Dona Nilza.
São quarenta e oito anos
De muita felicidade
Do lado de dona Nilza
Prazer e honestidade
Do lado de João Martins
Safadeza e falsidade.
João Martins (In-Memorian) pediu que o poeta não acabasse com ele e o poeta fez:
São quarenta e oito anos
De convivência e respeito
Aonde existe bons planos
A união faz efeito
E nem na loto se ganha
Um homem bom desse jeito
Na Exposição de Animais de Tuparetama vendo a lua sair cheia e bonita Josa Rabêlo pediu ao poeta Aldo Neves que fizesse um verso pra ela, a lua.
A lua no Céu Vagueia
Como um barco que flutua
Inspirando o seresteiro
Jogando os raios na rua
Tudo que o poeta é
Só deve a Deus e a lua
Pra lua sair bonita
Deus é quem abre a janela
E o quadro azul do espaço
A natureza pincela
Num sei quem é mais bonita
Se a noite ou se é ela
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SEXTILHAS
O homem tira da terra
O pão pra botar na mesa
Sem precisar poluir
O rio e nem a represa
Deus vira as costa pr’àqueles
Que ferem a natureza
Mote: ESCUTEI A ROQUEIRA DO TROVÃO
AVISANDO O SERTÃO VAI SER MOLHADO
(Joaquim Filó)
Glosa: Aldo Neves
O sertão quando a terra está molhada
A enchente no rio faz rumores
As abelhas brincando com as flores
Sertanejo se acorda à madrugada
Meia noite uma serra é aguada
Com um chuveiro depois de destrancado
Carro pipa de tanque enferrujado
E a cigarra esquecida do verão
Escutei a roqueira do trovão
Avisando o sertão está molhado
Uma nuvem se forma no nascente
Com a força do vento se balança
Jitirana nas cercas fazem trança
Canta os sapos felizes na enchente
Para a terra Deus manda esse presente
Tantas vezes e nada tem cobrado
E as formigas trabalham no roçado
Igual gente fazendo procissão
Escutei a roqueira do trovão
Avisando o sertão está molhado
Quando sobra fartura o pobre enrica
E recupera de novo a esperança
E um moleque com fome encosta a pança
Na panela melada de canjica
Vai embora o verão, o carão fica
Pra cantar quando o rio está de nado
E o nordeste só cheira a milho assado
Nas fogueiras de noite de São João
Escutei a roqueira do trovão
Avisando o sertão está molhado
O cenário enfeitando a capoeira
Só o tempo querendo ele desmancha
E um enxame de abelhas se arrancha
Num buraco de um pau de aroeira
Na segunda o matuto vai à feira
Contar o que fez no seu roçado
E o fantasma da seca encarcerado
Sem querer Deus botou-lhe na prisão
Escutei a roqueira do trovão
Avisando o sertão está molhado
De manhã quando o sol enfeita a barra
Uma flor se desprende e cai do galho
Camponês recomeça o seu trabalho
Sem ouvir a cantiga da cigarra
À tardinha as gangarras fazem farra
Com o milho depois de pendoado
E a enchente parece um aleijado
Sem andar se arrastando pelo chão
Escutei a roqueira do trovão
Avisando o sertão está molhado
Passa a brisa de leve o chão bafeja
Deixa a terra bastante perfumada
Bate a água na telha compassada
Como o sino tocando na igreja
Se transforma a paisagem sertaneja
Com o mato depois de enfolhado
Parecendo um quadro desenhado
Que Deus fez sem triscar nem com a mão
Escutei a roqueira do trovão
Avisando o sertão está molhado
O trovão ribombando serra à baixo
Parecendo com um tiro numa guerra
Uma chuva bem leve molha a terra
Desce a água correndo prá um riacho
Uma jia cantando chama um macho
Como quem diz: Adeus, Muito obrigado!
Um rosário de barro avermelhado
Forma um círculo enfeitando o cacimbão
Escutei a roqueira do trovão
Avisando o sertão está molhado
(Aldo Neves)
É Terezinha, a mulher
Que aqui a gente ama
Não me guardou no seu ventre
Não me teve em sua cama
Mas é a segunda mãe
Que tenho em Tuparetama
Seu eu fosse parente dela
Cuidava com muito zelo
Tirava as rugas do rosto
Voltava a cor do cabelo
E sem dúvida era um puxa-saco
De Terezinha Rabelo
(Poeta Aldo Neves)
No teu beijo, Deus bota uma mistura
Que imitá-lo eu acho tão custoso
O teu beijo pra mim, é mais gostoso,
Que uma manga depois que está madura.
Porque que ele pra mim tem mais doçura
Que o miolo da própria melancia
Eu beijei o teu rosto e, não sabia,
Que o teu cheiro ficava em minha face
Se o teu beijo matasse quem beijasse
Eu beijava sabendo que morria
(Aldo Neves)