JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Jóias raras dos geniais: Ivanildo Vila Nova e Geraldo Amâncio, pelos idos dos anos 70, trabalho em vinil...

... No sertão quando o chão está molhado
Corre água nas veias de um regato
Pula a onça da furna corre o gato
E um cavalo galopa estrupiado
Um garrote atravessa um rio de nado
Uma cobra se acoa com um canção
A cantiga saudosa do carão
Faz lembrar o lugar que fui nascido
Entre as telas do filme colorido
Que Deus fez para o cinema do sertão

No sertão quando é bem de manhãzinha
O sertanejo se acorda na palhoça
Chama o filho mais velho e sai pra roça
E a mulher toma conta da cozinha
Faz um fogo de lenha e encaminha
Munguzá, feijão quente e fava pura
E depois de fazer esta mistura
Sai faceira igualmente uma condessa
Com o quibuque de barro na cabeça
E vai levar aos heróis da agricultura

No sertão quando rompe a alvorada
No oitão do terreiro um frango pia
Uma cobra valente engole gia
Na floresta desperta a passarada
A cantar uma canção tão afinada
Que parece uma orquestra universal
Um piru dá três volta no quintal
Um cabra nas cabras puxa os seios
Um vaqueiro esvazia os peitos cheios
De uma vaca leiteira no curral

É preciso ter muita paciência
Guardar milho num quarto empaiolado
Sustentar a criação com alastrado
N’uma terra que tem pouca assistência
Trabalhar no serviço de emergência
Esperando o inverno que não vem
Insistir, crer em Deus e passar bem
Manter sempre a família tão unida
Do chão seco arrancar o pão da vida
Sertanejo faz isso e mais ninguém




A riqueza do pobre nunca passa
D’um pote que mata a sua sede
Uma enxada nuj canto de parede
Dois chapéus: um de palha outro de maça
Um cambito tingido de fumaça
Uns dez filhos que tem sua aparência
A esposa que é mãe da paciência
Se chorar ou sofrer não se maldiz
E ele às vezes é muito mais feliz
Que um rico ladrão de consciência