Doutor eu sei que errei
Por dois fatos, dama e porre
Por amor se mata e morre
Eu não morri nem matei
Apenas não respeitei
Um ambiente de classe
Depois de apanhar na face
Bati na flor do meu ramo
Estou preso porque amo
Quanto mais se odiasse
Poeta mesmo ofendido
Ainda oferece afeto
Faz pena dormi no teto
Da morada de um bandido
Se humilha, faz pedido
Ninguém escuta a voz sua
Não ver o sol nem a lua
Padece o maior desprezo
Pra que um poeta preso
Com tantos ladrões na rua
Sei que não sou marginal
Mas com ciúmes de alguém
Pedi pra fazer o bem
Acabei fazendo o mal
Eu tenho casa e quintal
Portão, cortina e janela
Deixei pra dormir na sela
Com a minha cabeça lesa
Só sabe a cruz quanto pesa
Quem ta carregando ela
Doutor se eu perder o nome
Não acho mais quem me empreste
A minha mulher não veste
Os filhos que tem não come
A minha fama se some
Para nunca mais voltar
Não querendo lhe comprar
Humildemente eu lhe peço
Se puder rasgue o processo
Deixe o poeta cantar
(João Paraibano)
INVERNO NO SERTÃO
O nordeste está mais lindo
No final da estiagem
O gado dormindo em cima
Do sobejo da pastagem
E um pincel de tinta verde
Mudando a cor da paisagem
Como é lindo no inverno
Se avistar filhos e pais
Assoviando na frente
E os filhos cantando atrás
Quebrando o pendão do milho
Pra “boneca” engrossar mais
O rio aumenta as enchentes
Formiga sai da panela
Se avista a borboleta
Beijando a flor amarela
Pedindo licença a pétala
Pra se deitar dentro dela
Em cada cravo despido
Tem quatro patas de abelhas
A grama está mastigada
Em dentadura de ovelhas
A bica enchendo a lata
E o lodo cobrindo as telhas
(João Paraibano)
Nossos corpos de amaram no passado
Nossos filhos são três, têm nossos traços
Se eu não fosse por ti, apaixonado
Não viva seguindo os vossos passos
Quando durmo, te vejo do meu lado
Recebendo o calor dos meus abraços
Sou enfermo de amor necessitado
da quentura da cama dos seus braços
Se não queres me ver um morto vivo
Não reveles a causa e o motivo
Que fez nossa amizade destruída
Tu és fraca de calma, eu nasci forte
Se eu ganhar teu PERDÃO rejeito a MORTE
Se eu perder teu AMOR, não quero a VIDA.
(Jão Paraibano)
OUTRAS...
Muitas cenas são revistas
Na hora crepuscular
O bico de um peito cheio
Proíbe um pagão chorar
A casca do fruto racha
A voz do silêncio é baixa
Mas dá pra Deus escutar.
Vê-se a serra cachimbando
Na téia, a aranha borda
Um xexéu canta animado
Depois que o dia se acorda
E Deus coloca um batom roxo
Na flor do feijão de corda
(João Paraibano)
DEBUTANTE
Filha minha, quisera eu está seguindo
Cada passo da tua adolescência
Ver teus lábios sedosos se abrindo
Resmungando a canção da inocência
O meu rosto chorando, o teu sorrindo
Neste misto de alarme paciência
Pelos quinze degraus que estáis subindo
Na escada abstrata da inocência
Flor da vida, seus erros são pequenos
Se podes ser santa, seja ao menos
Uma imagem de carne em meu altar
Ao faltar-me um sorriso, eu busco o teu
pra teu sangue ser teu, eu dei do meu
Vários pingos de amor, pra te ganhar
(João Paraibano)