JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

sábado, 13 de março de 2010

HOMENAGEM A OLINDA

Poetas,

Pernambuco inteiro está de parabéns pelo aniversário de Olinda e Recife!

Recife com dois a menos,
Olinda com dois a mais,
Vizinhas quanto aos terrenos,
Irmãs no clima e na paz.
Tire fora os disparates
Da confusão dos mascates
E veja as belezas suas:
Uma dupla especial,
Um povo fenomenal
E o mar aplaudindo as duas!

Meu abraço!

Dedé Monteiro

SONHO DE SABIÁ (CANÇÃO)

Sonho de Sabiá ( Cancão)



Um sabiá diligente
Voou pela vastidão
Mas por inexperiente
Caiu em um alçapão.
Depois de aprisionado
Ficou mais martirizado
Pensando no seu filhinho.
Implume sem alimento
Exposto a chuva e ao vento
Sem poder sair do ninho

Deram-lhe por seu abrigo
Uma pequena gaiola
Num casebre de um mendigo
Que só comia de esmola.
Só vivia cochilando
Com certeza imaginando
Sua liberdade santa.
Ia cantar não podia
Que a sua voz se perdia
Logo ao sair da garganta

Tornou-se a pena cinzenta
No rigor do seu castigo
Na saleta fumarenta
Da casa do tal mendigo.
Triste sempre arrepiado
Neste viver desolado
Ia um mês. vinha outro mês,
Assim completou um ano
Sentindo seu desengano
Nunca cantou uma vez.


Depois uma tarde inteira
O pobre do passarinho
Sonhou que ia à palmeira
Onde tinha feito o ninho.
Olhava em frente às campinas
Via por traz das colinas
A natureza sorrindo.
Ao sentir a liberdade
Pensou ser realidade
Sem saber cantou dormindo.

Depois sonhou que voltava
A terra dos braunais
Por onde sempre cantava
Junto aos outros sabiás.
Voava nas ribanceiras
Pousava nas laranjeiras
Olhando o clarão do dia.
Voava através do monte
Voltava a beber na fonte
Que todas manhãs bebia.

No sonho via as favelas
Criadas nos carrascais
Voou baixo, pousou nelas,
Cantou os seus madrigais
Voltou, colheu os orvalhos,
Que gotejavam dos galhos
Dos frondosos jiquiris.
Alegre abria a plumagem
Pra receber a bafagem
Das manhãs do seu país.



Foi a terra dos palmares
Atravessou toda flora
Voou por todos lugares
Que tinha voado outrora.
Passou pelos mangueirais
Entre outros sabiás
Cantou sonora canção.
O seu som melodioso
Estava mais pesaroso
Devido a sua emoção.

Viu a vinda do inverno
Nos quadrantes da paisagem
Ouviu o sussurro terno
Do bulício da folhagem.
Cantou todo arrebol
O brilho morno do sol
Morrendo nos altos cumes.
Sentia quando cantava
Que seu coração chorava
Com mais tristeza e queixumes.

Sonhou catando sementes
Num campo vasto e risonho
Se sentia tão contente
Que sonhou que fosse um sonho.
Olhava pra vastidão
Tocava em seu coração
Um regozijo profundo
Todas delícias sentia
Às vezes lhe parecia
Vivendo fora do mundo.



Voou por entre os verdores
Atravessou as searas
Cantou pelos resplendores
Das manhãs frescas e claras.
Passou pelo campo vago
Bebeu das águas do lago
Posou sobre os arvoredos.
Entrou pelo bosque escuro
Aí sonhou um futuro
Tão triste que teve medo.

Depois sonhou que estava
Trancado em uma gaiola
Ouvindo alguém que cantava
Na porta pedindo esmola.
Ao despertar de momento
Reparou seu aposento
Ouviu falar o mendigo.
Fechou os olhos pensando
Sentiu seu íntimo chorando
No rigor do seu castigo.

Ainda em vão procurava
Sair daquela prisão
Seu olhar denunciava
Piedade e compaixão.
Ao pensar na liberdade
A mais pungente saudade
Devorava o peito seu
Assim o cantor da mata
Ferido da sorte ingrata
No outro dia morreu.

Uma cortesia do amigo: Josa Rabêlo

Versos dos Nonatos

JÓIAS RARAS DO REPENTE DOS NONATOS, VERDADEIRA OBRA PRIMA DA POESIA:

Em dezembro: o sol lindo, clima quente;
Em janeiro: o vilão da seca morre,
Um rosário de pingo d’água escorre
No pescoço do rio formando enchente.
A mãe terra despida, de repente,
Um tecido de flor faz seu pijama
Cururu na lagoa escolhe a cama,
Pra fazer sem sabão bolha de espuma
O nordeste se enfeita e se perfuma
Quando o pranto da nuvem se derrama.

O relâmpago se acende pra dá show
Camponês sem castelo vira rei
Quando a voz do trovão diz: eu cheguei!
O fantasma da fome diz: já vou!
Abra a boca de um silo que lacrou
Enche a cuia e não pesa em quilograma
Põe na cova, com um mês tem folha e grama
Quem plantou grão por grão colhe de ruma
O nordeste se enfeita e se perfuma
Quando o pranto da nuvem se derrama

Chove dez, quinze dias todo mês
Qu’a goteira da casa enche os canecos
Com excesso de água os açudecos
Ameaçam romper-se de uma vez
O capim cresce a ponto que uma rês
Sem curvar o pescoço alcança a grama
E quanto mais o bezerro suga a mama
Mas o peito com leite se avoluma
O nordeste se enfeita e se perfuma
Quando o pranto da nuvem se derrama

Do buraco as formigas vem pra fora
Os besouros, terreiro nenhum cabe.
Quando o céu engravida a nuvem sabe
Que vai da luz de chuva a qualquer hora
Um lençol de neblina envolve a flora
Mexe a gruta um pirão de areia e lama
A montanha esfumaça sem ter chama
Dá até pra pensar que a terra fuma
O nordeste se enfeita e se perfuma
Quando o pranto da nuvem se derrama


Contra a fome a fartura é um escudo
Que não pega zinabre nem ferrugem
O baixio coberto de babugem
Mais parece um tapete de veludo
Quem nos tempos da seca topou tudo
Vendo a chuva mudando o panorama
Vai dizer ao patrão findou-se o drama
Nunca mais planto roça de três ruma
O nordeste se enfeita e se perfuma
Quando o pranto da nuvem se derrama

Vê-se o raio cobrir-se de centelha
O terreno rochoso fica mole
A garganta da bica toma um gole
Quando a flecha da chuva alveja as telhas
Produz mais a indústria das abelhas
Pelo céu nevoeiro se esparrama
Quem tem casa de taipa se reclama
Se a parede entortar só Deus apruma
O nordeste se enfeita e se perfuma
Quando o pranto da nuvem se derrama

Quando o vento da chuva não vem manso
Quem tem medo de vento um pranto joga
Na traquéia do rio a cheia afoga
Um balseiro no meio de um remanso,
Berra um bode assombrado, nada um ganso
E se tremendo com o frio um boi se “acama”
E a enchente barrenta cor de Brahma
O que encontra arrumado, desarruma
O nordeste se enfeita e se perfuma
Quando o pranto da nuvem se derrama


No período que a chuva não se some
Fauna e flora se salvam dos maus tratos
O carão adivinho ganha status
A peitica agourenta perde o nome
O trator da fartura enterra a fome
A ferida da seca desinflama
E o terreno que a flor não embalsama
Nem precisa adubar que Deus estruma
O nordeste se enfeita e se perfuma
Quanto o pranto da nuvem se derrama




Nordestino que larga o rancho seu
E a morar no sudeste se obriga
Quando chega em São Paulo a mulher liga
Homem volte pra casa que choveu!
Ele mais saudosista do que eu
Reafirma que vem num telegrama
Quem nasceu no nordeste ao sertão ama
E em São Paulo... Nem morto se acostuma
O nordeste se enfeita e se perfuma
Quando o pranto da nuvem se derrama

De encapelo uma torre se levanta
Pra que o povo na roça não se queixe
Engolindo água nova nada o peixe
Sem limite de altura cresce a planta
Dando graças a Deus o pássaro canta
Parecendo um artista de programa
Vendo a chuva lavar o último grama
De poeira existente em sua pluma
O nordeste se enfeita e se perfuma
Quando o pranto da nuvem se derrama.

(Os Nonatos, 6º Desafio Nordestino de Violeiros).

Versos do Poeta Aldo Neves

Algumas sextilhas do poeta aldo Neves na cantoria de inauguração de sua viola, na Pousada do Vale, no dia 16/02/2008.
Eu puxei antigamente
Jumento pelo estovo
Vendo pai fazendo cerca
E minha mãe juntando ovo
Daria tudo que tenho
Pra ser criança de novo



Sextilha (A paisagem Nordestina)
A paisagem nordestina
Primeiro a chuva caindo
Segundo a terra molhada
Terceiro a flor se abrindo
Quarto um açude sangrando
Quinto a pastagem surgindo
(Aldo Neves)
Mais sextilhas da cantoria:

Pra o homem que é vigilante
O seu sofrer continua
Que só tem por companhia
A solidão e a lua
Cuida da casa dos outros
E anoite cuida da sua

Nessa hora na calçada
Cochila um ébrio deitado
O silêncio faz visita
Na cela d’um carcerado
E a natureza me obriga
Viver sonhando acordado

A noite acolhe os fantasma
Um detento forra a cela
A lua nasce embassada
Por trás da nuvem amarela
Se a viola é minha cruz
Vou ter que carregar ela.

Eu comparo a mocidade
Com a aurora prateada
Velhice cadeia triste
Com sua porta fechada
Que o delegado dos anos
Ver tudo mas não faz nada

Quando o inverno começa
Toda tristeza se esconde
Uma casaca de couro
Canta e outra responde
E a cheia arranca um caniço
E vai deixar não sei aonde.

Quando chove no sertão
Fica tudo diferente
A compesa solta, a agua,
Cobra e humilha o cliente.
Deus quando manda é de grasça
Não cobra nada da gente

A enchente empurra as varas
Pra desmanchar o caniço
As abelhas fazem mel
Se enganchar no cortiço
Quem se criou no sertão
Sabe o que é tudo isso
(Aldo Neves)

Admiro a sabiá
Por ser uma ave bela
Faz o ninho poe e choca
E quer o filho perto dela
E tem mãe que mata a criança
Pra não dá trabalho a ela.
(Dió de Santo Izidro)
Numa missa em Tuparetama, na missa do dia dos pais em agosto 2006, o poeta Aldo Neves fez:

Decassílabo
Jesus cristo tem sido até agora
Protetor de ateus e de pagãos
Me entrego senhor em tuas maõs
Tando aqui ou andando mundo afora
Ele a ajuda a que ri e a quem chora
Porque é paciente e bom amigo
Me livrando da treva e do perigo
É o mestre do mundo e da igreja
E por mais longe senhor que eu esteja
Com certeza eu alcanço o teu abrigo

Sextilha
Quando chove no sertão
Se acabam todos os horrores
As abelhas fazem mel
Tirando o néctar das flores
E a capina é o cenário
Do filme dos cantadores
Mote: FICOU FELIZ O SERTÃO
COM A CHUVA NOVAMENTE (Josa Rabêlo) dia 10 de junho/2007
Com medo de um perdigueiro
Corre um preá pra coivara
E uma rolinha se ampara
Na sombra de um juazeiro
Na sangria de um barreiro
Canta um cururu contente
Deus deixa a cigarra ausennte
E dá lugar pra o carão
Ficou feliz o sertão
Com a chuva novamemte

Quando a terra está molhada
No curral as vacas mugem
Camponês tira a ferrugem
Do gume da sua enxada
Levanta de madrugada
Já vai escolher semente
E não vai fcar um vivente
Sem plantar milho e feijão
Ficou feliz o sertão
Com a chuva novamente

Quem tinha arrumado a mala
Não vai sair do sertão
Na zuada do trovão
Toda cigarra se cala
No riacho a água embala
Levando o que tem na frente
Parecendo uma serpente
Se arrastando pelo chão
Ficou feliz o sertão
Com a chuva novamente

A nuvem sofre um desmaio
Deixando o céu colorido
O trovão dá estampido
Como quem faz um ensaio
Um pe´de apara-raio
Se balança lentamente
Não se parece com gente
Mas dá ligeira impressão
Ficou feliz o sertão
Com a chuva novamente

No riacho a água sobra
Levando as folhas da serra
Deus une o céu com a terra
Quando a chuva se desdobra
Pra se esconder de uma cobra
Sai um sapo velozmente
E num relâmpago do nascente
Deus tira a foto do chão
Ficou feliz o sertão
Com a chuva novamente
(Aldo Neves)

O poeta Aldo Neves, no mote de Josa Rabêlo:

VALORIZE A CULTURA DO SERTÃO,
FECHE AS PORTAS À MÍDIA ENGANADORA.

Valorize o caboclo nordestino
O gibão, o vaqueiro e sua cela;
O curral o mourão e a cancela,
O chocalho que é boca de sino.
Dê valor ao caboclo campesino
Que é o homem sofrido da lavoura.
E por aí já tem mais de uma emissora
Que não sabe quem foi um Gonzagão,
VALORIZE A CULTURA DO SERTÃO,
FECHE AS PORTAS À MÍDIA ENGANADORA.

Dê valor a um carão de madrugada,
Que não é um doutor mas advinha.
E vinte pintos seguir uma galinha
E ela só, tomar conta da ninhada.
E um trovão estralar de madrugada
Sem contato com os fios da emissora.
E a formiga cortar sem ter tesoura
Estragando a lavoura do feijão.
VALORIZE A CULTURA DO SERTÃO,
FECHE AS PORTAS À MÍDIA ENGADORA


Camponez quando acorda sabe a hora
Com o galo que é seu seresteiro
Com o sapo cantando no barreiro
E com o sol enfeitando a branca aurora
Um riacho jogando água pra fora
Sem ter canos que sirva de adutora
Inda tem nessa terra encantadora
A sanfona, o chapéu e o gibão
VALORIZE A CULTURA DO SERTÃO
FECHE AS PORTAS PRA MÍDIA ENGANADORA


O poeta do pé da serra – Aldo Neves, (Aldo de Luiz Terto), fez esses versos em homenagem aos 48 de convivência de João Martins e Dona Nilza.

São quarenta e oito anos
De muita felicidade
Do lado de dona Nilza
Prazer e honestidade
Do lado de João Martins
Safadeza e falsidade.

João Martins pediu que o poeta não acabasse com ele e o poeta fez:

São quarenta e oito anos
De convivência e respeito
Aonde existe bons planos
A união faz efeito
E nem na loto se ganha
Um homem bom desse jeito

Na Exposição de Animais de Tuparetama vendo a lua sair cheia e bonita Josa Rabêlo pediu ao poeta Aldo Neves que fizesse um verso pra ela, a lua.

A lua no Céu Vagueia
Como um barco que flutua
Inspirando o seresteiro
Jogando os raios na rua
Tudo que o poeta é
Só deve a Deus e a lua

Pra lua sair bonita
Deus é quem abre a janela
E o quadro azul do espaço
A natureza pincela
Num sei quem é mais bonita
Se a noite ou se é ela
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
SEXTILHAS
O homem tira da terra
O pão pra botar na mesa
Sem precisar poluir
O rio e nem a represa
Deus vira as costa pr’àqueles
Que ferem a natureza

Mote: ESCUTEI A ROQUEIRA DO TROVÃO
AVISANDO O SERTÃO VAI SER MOLHADO
(Joaquim Filó)
Glosa: Aldo Neves

O sertão quando a terra está molhada
A enchente no rio faz rumores
As abelhas brincando com as flores
Sertanejo se acorda à madrugada
Meia noite uma serra é aguada
Com um chuveiro depois de destrancado
Carro pipa de tanque enferrujado
E a cigarra esquecida do verão
Escutei a roqueira do trovão
Avisando o sertão está molhado




Uma nuvem se forma no nascente
Com a força do vento se balança
Jitirana nas cercas fazem trança
Canta os sapos felizes na enchente
Para a terra Deus manda esse presente
Tantas vezes e nada tem cobrado
E as formigas trabalham no roçado
Igual gente fazendo procissão
Escutei a roqueira do trovão
Avisando o sertão está molhado

Quando sobra fartura o pobre enrica
E recupera de novo a esperança
E um moleque com fome encosta a pança
Na panela melada de canjica
Vai embora o verão, o carão fica
Pra cantar quando o rio está de nado
E o nordeste só cheira a milho assado
Nas fogueiras de noite de São João
Escutei a roqueira do trovão
Avisando o sertão está molhado

O cenário enfeitando a capoeira
Só o tempo querendo ele desmancha
E um enxame de abelhas se arrancha
Num buraco de um pau de aroeira
Na segunda o matuto vai à feira
Contar o que fez no seu roçado
E o fantasma da seca encarcerado
Sem querer Deus botou-lhe na prisão
Escutei a roqueira do trovão
Avisando o sertão está molhado

De manhã quando o sol enfeita a barra
Uma flor se desprende e cai do galho
Camponês recomeça o seu trabalho
Sem ouvir a cantiga da cigarra
À tardinha as gangarras fazem farra
Com o milho depois de pendoado
E a enchente parece um aleijado
Sem andar se arrastando pelo chão
Escutei a roqueira do trovão
Avisando o sertão está molhado

Passa a brisa de leve o chão bafeja
Deixa a terra bastante perfumada
Bate a água na telha compassada
Como o sino tocando na igreja
Se transforma a paisagem sertaneja
Com o mato depois de enfolhado
Parecendo um quadro desenhado
Que Deus fez sem triscar nem com a mão
Escutei a roqueira do trovão
Avisando o sertão está molhado

O trovão ribombando serra à baixo
Parecendo com um tiro numa guerra
Uma chuva bem leve molha a terra
Desce a água correndo prá um riacho
Uma jia cantando chama um macho
Como quem diz: Adeus, Muito obrigado!
Um rosário de barro avermelhado
Forma um círculo enfeitando o cacimbão
Escutei a roqueira do trovão
Avisando o sertão está molhado
(Aldo Neves)

É Terezinha, a mulher
Que aqui a gente ama
Não me guardou no seu ventre
Não me teve em sua cama
Mas é a segunda mãe
Que tenho em Tuparetama

Seu eu fosse parente dela
Cuidava com muito zelo
Tirava as rugas do rosto
Voltava a cor do cabelo
E sem dúvida era um puxa-saco
De Terezinha Rabelo
(Poeta Aldo Neves)



No teu beijo, Deus bota uma mistura
Que imitá-lo eu acho tão custoso
O teu beijo pra mim, é mais gostoso,
Que uma manga depois que está madura.
Porque que ele pra mim tem mais doçura
Que o miolo da própria melancia
Eu beijei o teu rosto e, não sabia,
Que o teu cheiro ficava em minha face
Se o teu beijo matasse quem beijasse
Eu beijava sabendo que morria
(Aldo Neves)

Nas eleições de 2000 em Tuparetama, o grupo adversário de Sávio Torres, usou da falta de respeito na hora da retirada de uma placa que continha a foto de Sávio Torres. O Poeta Aldo Neves, nas eleiçoes de 2004 no ato da colocação da mesma placa fez...

Essa placa tem sido até agora
Grande vítima dos que lhe escoltaram
Quatro anos de dores já passaram
E a tristeza da gente foi embora
O prefeito tem sido até agora
Protetor de inveja e de maldade
Sávio Torres o povo tem vontade
De levá-lo ao palanque da mudança
Que pra gente é um pingo de esperança
Contra um mar de mentira e falsidade

Quem não recorda o Exu
Tem por lembrança o Museu
E quando Gonzagão morreu
Enlutou o Pajeú
Seu gibão de couro cru,
Ninguém veste o seu gibão
E tocava o pássaro carão
Na sanfona prateada
Eita saudade danada
Das festas de São João

Cada um tem um destino
Pra cumprir depois que nasce
Ah se Gonzagão voltasse
Pra tocar feito um menino
Até José Marcolino
Fez letra pra Gonzagão
E foi vítima de colisão
Com uma vaca na estrada
Eita saudade danada
Das festas de São João


Chá de êndrio e prá stress
E pra controlar a pressão
De boldo é pra o intestino
Ou sopro no coração
De laranja é pra quem leva
Cassete na eleição na eleição

Essa campanha de agora
A outra eleição retatra
De manhã tem movimento
À noite tem carreata
Que voto é igual veneno
Se for demais também mata

Vamos votar no 14
Pra não mudar o partido
Quem vota no 22
Além de está perdido
Vai passar mais quatro anos
Chorando e arrependido





O partido do 14
Com os votos que ele tem
Fez com que o 22
Dele virasse refém
Sávio virou Mick Tison
Não tem mais dó de ninguém

Sávio é prova de fogo
Vencê-lo a parada é dura
Vai passar mais 04 anos
Comandando a prefeitura
E essa gripe do 14
Virou mal que não tem cura

Quem acompanha o partido
É pra obter sucesso
Que Sávio prossiga assim
Mais uma vez eu lhe peço
Tuparetama não sai
Do caminho do progresso

Versos do poeta Felipe Jr.

SE PUDESSE EU COMPRAVA A MOCIDADE
NEM QUE FOSSE PAGANDO À PRESTAÇÃO.
Meu passado foi bem aproveitado
Tive força, vigor e sensatez...
Eu contava feliz a cada mês
Doze moças que havia namorado.
Hoje em dia ninguém vejo ao meu lado,
Meu futuro ficou sem direção.
Quando vem essa tal recordação
Eu suspiro dizendo com saudade:
“Se pudesse eu comprava a mocidade
Nem que fosse pagando à prestação”.

Assisti sorridente a cada cena
Todo o filme da minha juventude,
A beleza se fez minha virtude
Quando tinha ao meu lado Madalena.
No meu peito restou essa Safena
Não é musa pra ter no coração,
Porém ter é sinal de obrigação
Se quiser pouco mais longevidade,
Se pudesse eu comprava a mocidade
Nem que fosse pagando à prestação.

Quando moço não quis saber de estudo,
Permiti que o meu tempo fosse vago.
Hoje vejo que o tempo fez estrago...
Tornou nada o meu tempo (ou quase tudo).
Desse tempo o punhal pontiagudo
Fez sangrar sem dar valorização,
Pois quem tinha esse dom jogou no chão,
E eu falei para o tempo: “Majestade,
Se pudesse eu comprava a mocidade
Nem que fosse pagando à prestação”.

Mas passado não volta nunca mais,
O que é bom pouco a pouco se dissolve...
Pega o tempo, carrega e não devolve
Deixa claro cumprindo os seus ‘sinais’.
Eu sou contra essas leis universais...
Deveria pra cada cidadão
Existir outra chance, aí então
Ele iria escrever com mais vontade:
“Tô comprando de volta a mocidade
Nem que seja pagando à prestação”.


Poeta Felipe Júnior
da União dos Cordelistas de Pernambuco
Reencontro Materno

Àquela que irei me encontrar um dia... Iderci Nunes Felipe

Minha mãe fez despedida
Quando ainda era criança,
Acabou-se a esperança
Que eu tinha pra minha vida.
Mas pra minha mãe querida,
Eu prometi pela luz
Que Deus-Pai é quem conduz...
E ao chegar a morte bela,
Vou ficar bem junto dela
Na morada de Jesus.

E eu quando lhe encontrar,
Vou dizer coisas que um dia
Esta minha poesia
Não pôde bem expressar.
Então Deus vai me falar:
“Meu filho, me dê a cruz...
Teu sentimento traduz
O amor que tens por ela,
Podes ir pra junto dela
À morada de Jesus”.

E neste encontro de brilho
Vou ver minha mãe sorrindo...
Vindo a mim e me pedindo:
“Me dê um abraço, meu filho.
Vamos seguir este trilho,
Tirar do rosto o ‘capuz’,
E não agir contra a luz
Da divindade singela.
Eis a Casa santa e bela...
A Morada de Jesus”.

Então direi: “Pai amado,
Eu lhe dou muito obrigado...
Já completei minha sina.
Não agüentei a saudade...
Por isso que por vontade
Vou ter mais felicidade
Com a minha mãe divina”.

Obrigado, meu Deus!


Poeta Felipe Júnior
da União dos Cordelistas de Pernambuco

Nossa historia de amor é um segredo
Sabe Deus, eu e ela e mais ninguém.

Começou o namoro no portão,
Depois fui ao pai dela apresentado,
Quando eu vi já me havia apaixonado
Pela moça que atou meu coração.
Eu sai da mais tensa escuridão,
E passei a avistar um novo além.
Ela quer e eu a quero como alguém
Que desfruta o amor sem está com medo.
Nossa historia de amor é um segredo
Sabe Deus, eu e ela e mais ninguém.

Minha vida ficou bem mais florida...
Eu vi bem que o amor não é brinquedo.
Nossa história de amor é um segredo
E é assim que será por toda a vida.
A paixão sempre foi correspondida
E o amor entre nós já se mantém,
Por que não fazer o que me convém?
Vou falar confiante ao pai dela:
“Seu doutor, o amor que eu tenho a ela
Sabe Deus eu e ela e mais ninguém”

Poeta Felipe Júnior




SE PUDESSE EU COMPRAVA A MOCIDADE
NEM QUE FOSSE PAGANDO À PRESTAÇÃO.


Meu passado foi bem aproveitado
Tive força, vigor e sensatez...
Eu contava feliz a cada mês
Doze moças que havia namorado.
Hoje em dia ninguém vejo ao meu lado,
Meu futuro ficou sem direção.
Quando vem essa tal recordação
Eu suspiro dizendo com saudade:
“Se pudesse eu comprava a mocidade
Nem que fosse pagando à prestação”.

Assisti sorridente a cada cena
Todo o filme da minha juventude,
A beleza se fez minha virtude
Quando tinha ao meu lado Madalena.
No meu peito restou essa Safena
Não é musa pra ter no coração,
Porém ter é sinal de obrigação
Se quiser pouco mais longevidade,
Se pudesse eu comprava a mocidade
Nem que fosse pagando à prestação.

Quando moço não quis saber de estudo,
Permiti que o meu tempo fosse vago.
Hoje vejo que o tempo fez estrago...
Tornou nada o meu tempo (ou quase tudo).
Desse tempo o punhal pontiagudo
Fez sangrar sem dar valorização,
Pois quem tinha esse dom jogou no chão,
E eu falei para o tempo: “Majestade,
Se pudesse eu comprava a mocidade
Nem que fosse pagando à prestação”.

Mas passado não volta nunca mais,
O que é bom pouco a pouco se dissolve...
Pega o tempo, carrega e não devolve
Deixa claro cumprindo os seus ‘sinais’.
Eu sou contra essas leis universais...
Deveria pra cada cidadão
Existir outra chance, aí então
Ele iria escrever com mais vontade:
“Tô comprando de volta a mocidade
Nem que seja pagando à prestação”.



Poeta Felipe Júnior,
da União dos Cordelistas de Pernambuco

Versos do poeta Abel Araújo

Nada é pior do que,
ver a casa destruída;
visitar um irmão preso,
rezar pra mãe falecida,
do pai não saber o nome,
um filho chorar de fome
e a casa não ter comida.

Abel Araújo

Oh meu Deus após essa vida inteira,
renascendo eu não quero ser chique,
o berço só uma casa de pau-a-pique,
por obstreta eu quero uma parteira.
por ambulância, uma burra pantinzeira,
por leite em pó, quero caldo de feijão.
na hora do parto, em vez de cirurgião,
uma benzedeira, mulher de camponês.
Ou meu Deus se eu nascer outra vez,
eu te peço me mande pro sertão.

Vindo outra vez, Deus peço, por favor:
deixe eu ser sensível a uma poesia,
me ensine a gostar mais de cantoria,
deixe que meu pai seja um lavrador.
Deixe-me sentir o cheiro duma flor,
antes da chuva esfreguar ela no chão.
ou mande renascer Luiz, rei do baião,
ou mande quem faça, isso que ele fez.
Oh meu Deus se eu nascer outra vez,
eu te peço , me mande pra o sertão.

Mote e glosa: Abel Araújo

Quem tem um barraco por morada,
e quem ver o esgoto em sua rua,
quem dorme com mosquito, pele nua,
quem tem uma mãe desempregada.
Quem já teve uma irmã estuprada,
quem já fez cobertas de jonais,
e não sabe quem são os seus pais,
se não fizer crime, o troço tá errado.
A ganância dos homens tem gerado,
batalhão de futuros marjinais.

O dinheiro do juro do banqueiro,
o resto de obra superfaturada,
a propriedade que não é tributada,
os milhões de renda de artilheiro.
As divisas evaídas de doleiro,
por falha de nossas leis fiscais.
Depois falta pra pagar policiais,
e um sistema carcerário ultrapassado.
A ganância dos homens tem gerado,
batalhões de futuros marjinais.

Mote: domínio público.
Glosa: Abel Araújo

A criança é tão sincera,
em seu riso e seu olhar.
Que vendo uma criança,
com sua mãe resmongar,
sem tempo, hora e norma,
no mínimo é uma forma,
que Deus usa pra falar.
(ABEL ARAÚJO)

A alma vai mastigando,
um pedaço de oração,
para ver se Deus tem pena,
e a alma ganha o perdão.
(pedaço duma sextilha de Sebastião Dias)

No lugar do engenho hoje só resta,
os escombros da dor e da saudade.

O tempo foi perverso e destruiu,
aquela coisa que vivi de escutar,
a madeira virou lenha de queimar,
a junta de bois, faminta sucumbiu.
A parede velha,veio a chuva,ela ruiu,
cana não tem naquela propriedade,
e rapadura estão fazendo na cidade,
mas rapadura, industrial, não presta.
No lugar do engenho hoje só resta,
os escombros da dor e da saudade.

Mote: Rafael Moura
Glosa: Abel Araúj

Versos do poeta Janio Leite

Mais um ano de vida completado
E o filme do tempo se passando
As saudades que sinto do passado
E o futuro ansioso, eu esperando

Os momentos bonitos vou guardando
Mas dos tristes não quero ser lembrado
Só os bons quero viver recordando
Mas os ruins quero morto e enterrado

Lembro sempre a família e os amigos
Que em todos momentos estão comigo
Seja fácil ou difícil a situação

E a todos vocês eu agradeço
O carinho, o afeto e o apreço
Vocês moram todos no meu coração

Janio Leite
Poeta eu lhe agradeço
Não sei nem se eu mereço
Tanto carinho e apreço
Mas obrigado poeta
Melhor não podia ser
Tá com compadre e você
Comemorar com prazer
Mais uma data completa

Obg meu amigo poeta, SDS poeticas...
Janio Leite
Cada dia que passa em minha vida
Sinto o tempo afastar você de mim
Se o destino quiser que seja assim
Minha dor vai ser grande e desmedida

No peito se abre uma ferida
Sem achar uma cura pra seu fim
Se é assim que Deus quer, ô coisa ruim
Aceitar essa amarga despedida

Os melhores momentos dessa história
Ficarão para sempre na memória
Pois de ti eu vou sempre recordar

Consciência eu tenho de não ter
Mas queria pelo menos lhe dizer
Foste o erro que mais gostei de errar.

Jânio Leite

Poeta mudei as duas ultimas linhas dos dois tercetos, achei q assim ficaria melhor, SDS poéticas, um xero na familia......
"No sertão tem vaqueiro que dar grito
No boiato correndo lá na serra
No curral, tem uma cabra que berra
Porque quer amamentar seu cabrito
A natura faz um filme tão bonito
Como mãe generosa e protetora
A maior e melhor das genitora
Que faz tudo e não cobra um tostão
Valorize a cultura do sertão,
Feche as portas da mídia enganadora"

Tem poeta dedilhando sua viola
Um cachorro latindo no terreiro
Tem um galo engordando no chiqueiro
E um pássaro cantando na gaiola
Um menino brincando com sua bola
A galinha da ninhada é protetora
Protegendo da raposa, à predadora
Escondendo os seus pintos no oitão
Valorize a cultura do sertão,
Feche as portas da mídia enganadora

Dê valor ao o homem que é roceiro
Esqueçamos do programa do Gugu
Onde só se exibe corpo nu
E não mostra o poeta violeiro
Reconheça o aboio do vaqueiro
Não se iluda com essas emissoras
Que só bota a dançinha da vassoura
Não se escuta de viola um baião
Valorize a cultura do sertão,
Feche as portas à mídia enganadora”

Acauã num pau seco a cantar
O roceiro com a cena desanima
Fala logo que a chuva vai ser fina
Pensa logo como é que vai lucrar
Esse ano a semente não vai dar
Vou perder quase toda a lavoura
Só Jesus com a chuva salvadora
Nos dá lucro de arroz, milho e feijão
Valorize a cultura do sertão,
Feche as portas à mídia enganadora
Jânio Leite


Sertanejo se alegra com o roçado
E uma mesa repleta de fartura
Tem pamonha, tem canjica e rapadura
Queijo, Leite, coalhada e milho assado
No curral muito gordo tem seu gado
E se olha para o céu está cinzento
Uma nuvem com água traz sustento
Pra quem tava numa grande agonia
Quando chove no sertão há alegria
É a certeza que teremos alimento

Uma chuva se forma no nascente
O roceiro se anima com a cena
Fala para a mulher sua pequena
Este ano tem fartura para a gente
Só Deus mesmo nosso pai onipotente
Que pra ele fiz até um juramento
Se chuvesse e acabasse o sofrimento
Eu rezava uns pai nosso e ave maria
Quando chove no sertão há alegria
É a certeza que teremos alimento

Desculpa poeta pelos pés quebrados...

Saudações poéticas, Janio Leite 16/04/2008




exagerei na aposta
desse jogo tão maldito
que chega fiquei aflito
quando obtive a resposta
tem hora que voce gosta
de quem só tem falsidade
quem lhe gosta de verdade
só recebe ingratidão
na roleta da paixão
meu premio será saudade


entreguei a voce o meu amor
eu pensei que contigo era feliz
mas comigo viver voce nao quis
viverei carregando esta dor
so me resta aceitar o dissabor
porque fostes fazer essa maldade
nunca vi tamanha crueldade
que fizestes com um pobre coração
Estou preso nas grades da paixão
Só recebo visitas da saudade

Poeta Josa, fiz esse mote e quero um verso seu nele viu....

Janio Leite











Cada traço e detalhe do teu ser
Mesmo longe sou capaz de decifrar
Perfeição inocente e singular
Com beleza incapaz de conceber

Se pudesse, como ti, outra nascer
Pois seria do criador abusar
Perfeição só Deus mesmo pra criar
Não teria como outra ele fazer

A receita que lhe fez já foi rasgada
Pra não ser-te novamente copiada
Porque nada pode a ti ser comparado

Você tem a pureza de uma santa
Uma beleza que a qualquer um encanta
Se tornando um dos ser mais cobiçado

Janio Leite, 21/05/2008






No sertão a fartura está sobrando
Os barreiros e açudes estão cheios
As cigarras procuram outros meios
Pra viver, que de seca não está dando
Que agora o carão quem está cantando
Sertanejo se alegra com o roçado
Já se acha pamonha e milho assado
Em qualquer uma casa do sertão
Escutei a roqueira do trovão
Avisando o sertão está molhado

Só Jesus nosso pai onipotente
Pra botar todo verde na folhagem
Ver sangrar as lagoas e barragem
E os rios descer botando enchente
Trazer muita alegria para a gente
Que o inverno já estava demorado
Mas agora o terreno está molhado
Pra o roceiro fazer a plantação
Escutei a roqueira do trovão
Avisando o sertão está molhado


Janio Leite, 28/05/2008

Versos do Poeta Laci Chaves

Laci:
Nela jamais acredido
Aceitei em minha morada
Mesmo sendo mais furada
Que tábua de pirulito
Levei chifre, chute e grito
Mas hoje sou cobra criada
Vou lhe encher de porrada
De mulher tenho é um feixe
DIFÍCIL É PEGAR O PEIXE
DEPOIS DA ISCA ESTRAGADA.

Você manchou o papel
Não honrou o matrimônio
Robou o meu patrimônio
Logo na lua de mel
Depois foi dançar o CRÉU
Bebeu, caiu na calçada
Mulher bandida e safada
É melhor que o cabra deixe
DIFÍCIL É PEGAR O PEIXE
DEPOIS DA ISCA ESTRAGADA.

Dei-lhe tudo que podia
Desde o perfume ao sapato
Mas seu coração ingrato
Me pagou com covardia
Não a quero hoje em dia
Tenho outra namorada
Se está abadonada
De você mesma se queixe
DIFÍCIL É PEGAR O PEIXE
DEPOIS DA ISCA ESTRAGADA.

MOTE: José Ivan
GLOSA: Laci Chaves,
SJJaguaribe - Ce. 08/07/2008

Laci:
Fui rever a minha primeira escola
Onde eu aprendi o alfabeto
Num recando estava o projeto
Da carteira que pús minha sacola
Na cantina encontrei a caçarola
Toda suja de tisna no fogão
Recordei do cuscuz e o do baião
O mingau que tomava feito papa
VEIO O VENTO DA NOITE E DEU UM TAPA
BEM NA CARA DA MINHA SOLIDÃO.

Procurei minhas antigas paqueras
Todas elas já tinham se casado
A casinha que nasci e fui criado
Hoje no canto só encontrei crateras
Não podendo voltar aquelas eras
Solucei, verti lágrimas pelo chão
De joelho rezei uma oração
E com o dedo eu desenhei um mapa
VEIO O VENTO DA NOITE E DEU UM TAPA
BEM NA CARA DA MINHA SOLIDÃO.

Mote: Wellington
Glosa: Laci
SJJaguaribe-Ce, 08/06/2008.










Sei que morrendo não vivo
Ter vida é ser criativo
Atrás da morte não corro
Só a Deus peço socorro
Não acredito no Papa
Pastor vive na garapa
Tenho pena dos ateus
A VIDA PERTENCE A DEUS
DA MORTE NINGUÉM ESCAPA.

Só existe um Salvador
Religião tá sobrando
Falços profetas pregando
Iludindo o pecador
Leio a Bíblia com amor
Interpreto até a capa
A terra é nosso mapa
No céu só entra os SEUS
A VIDA PERTENCE A DEUS
DA MORTE NINGUÉM ESCAPA.

Mote: Hugo Araújo
Glosa: Laci Chaves, 14/05/2008.
SJJaguaribe - Ce.

Laci:
Entre todos os amores
Que criou o pai eterno
Somente o amor materno
É dígno de seus valores
Nas alegrias e nas dores
Na chegada ou na saída
Na subida ou na descida
Com seu amor nos ampara
MÃE É A JÓIA MAIS CARA
QUE UM FILHO POSSUI NA VIDA.

Em um amor conjugal
Pode haver traição
Irmão brigar com irmão
Isso é muito natural
Mas em termo mundial
Toda mãe é cocebida
Encontrar uma fingida
Se tiver é coisa rara
MÃE É A JÓIA MAIS CARA
QUE UM FILHO POSSUI NA VIDA.

Ela é a única pessoa
Que podemos confiar
Coso seu filho errar
Na mesma hora perdoa
Entrega à Deus, abençoa
E acolhe em sua guarida
Por mais que seja a ferida
Dentre pouco instante sara
MÃE É A JÓIA MAIS CARA
QUE UM FILHO POSSUI NA VIDA.

Um beijão pra todas mamães por esse dia maravilhosa!
Laci Chaves, 11/05/2008 - SJJaguaribe-Ce.

Laci:
Dia 1° de Junho - 50 Anos da Emancipação Política de São João do Jaguaribe.
Eis aí minha homenagem!
SONETO: "São João, Meio Século"

És tu São João um pequeno jardim
Berço amado dos nossos ancestrais
Terras férteis de verdes carnaubais
Tens aroma das pétalas de jasmim.

Foste outrora das Virgens e Jandoim
Como conta nas páginas dos anais
Um refúgio nas vilas e arraiais
Dos indígenas, imigrantes e mirim.

Hoje és uma cidade pequenina
Onde o rio Jaguaribe se inclina
Temperando a tua trajetória

Neste chão onde a luta predomina
Os teus filhos de forma genuína
Comemoram "MEIO SÉCULO" a tua glória.

Autor: Laci Chaves, 06/05/2008.

Laci:
Maio é mês de Maria
Maria mãe de Jesus
Jesus que morreu na cruz
Para nos salvar um dia
Deus na sua engenharia
Fez a MULHER que destaco
Fez o HOMEM um ser tão fraco
Só em ver mulher profana
SE MULHER FOSSE BANANA
EU QUERIA SER MACACO.

Deus criou os animais
Os homens com seus reflexos
Mas nas atrações dos sexos
Somos irracionais
Eu mesmo gosto demais
De ver mulher sem casaco
Um blusinha de taco
Um sorte meio sacana
SE MULHER FOSSE BANANA
EU QUERIA SER MACACO.

Posso passar por tarado
Claro que tenho respeito
Mulher de um corpo bem feiro
No mínimo deixa-me excitado
Sou casado e não viado
Não meto a mão em buraco
Mas se cair no meu saco
Só respeito mãe e mana
SE MULHER FOSSE BANANA
EU QUERIA SER MACACO.

Mote e Glosaas de: Laci Chaves
03/05/2008. SJJaguaribe - Ce.

Fez João de barro pedreiro
O jumento motorista
O macaco trapezista
O carão cancioneiro
Tetéu com o sono maneiro
Periquito "Patriota"
Papagaio poliglota
Dois profetas: sapo e jia
FOI DEUS QUEM PÔS MAESTRIA
NO VÔO DE UMA GAIVOTA.

Fez o socó pescador
A garça uma enfermeira
A galinha de parteira
O ganso ver um pastor
O canário torcedor
O camaleão desbota
Burra não é idiota
Transa, sequer, toma cria
FOI DEUS QUEM PÔS MAESTRIA
NO VÔO DE UMA GAIVOTA.


Mote: Wellinton Vicente
Glosa: Laci Chaves.
SJJaguaribe - Ce, 22/04/2008

Laci:
Deus o nosso Pai Supremo
Deu-me a vida completa
Ainda me fez poeta
Por isso a nada temo
Posso sofrer mas não gemo
Posso chorar de paixão
Mas quando canto um baião
Esqueço todo sofrer
SE A POESIA MORRER
PODE COMPRAR MEU CAIXÃO.

Virou uma psicose
O meu dom de poesia
Sonho a noite, canto ao dia
Essa musa é minha dose
É minha metamorfose
Meu alimento, meu pão
Basta eu cantar u'a canção
Pra qualquer dor dissolver
SE A POESIA MORRER
PODE COMPRAR MEU CAIXÃO.

Mote: Marconiza
Glosa: Laci Chaves, 15/04/2008.
SJJaguaribe - Ce.

Lembro do ipê florado
Numa noite de Natal
Que o ato sexual
Foi por nós dois explorado
Eu fiquei apaixonado
E você ficou tão assim
Que toda noite é afim
De ir pra o pé de ipê
DOU UM DOCE SE VOCÊ
UM DIA ESQUECER DE MIM.

Mote: Wellington Vicente
Glosa: Laci Chaves, 13/04/2008.
SJJaguaribe - Ce.

Lembro daquele barranco
Qando tu se atrepava
E eu de baixo oiava
O fundim do biquim branco
Tu se assentava num banco
Mermo de frente pra eu
Com meus ói cor de pneu
Vendo tua carça azú
ÊITA! PARECE QUE TU
NUNCA ARREPARAVA N'EU!

Laci Chaves, complementando a poesia matuta de: Wellington Vicente.

Laci:
Roberto Carlos fez fita
Com músicas de emoções
Mas passou por depressões
Ao perder Maria Rita
Uma pessoa erudita
Que tem Jesus como guia
Mesmo perdendo Maria
Não perdeu o seu talento
TEM QUE HAVER SOFRIMENTO
PARA FLUIR POESIA.

O Nordeste é região
De poeta afamado
Como Benoni Conrado
Compositor de canção
O próprio Sebastião
Na UTI quase morria
Um Elizeu Ventania
Sem visão cantava o vento
TEM QUE HAVER SOFRIMENTO
PARA FLUIR POESIA.

Ivanildo Vila Nova
Também ficou depressivo
Mulheres foram o motivo
Que quase o levou a cova
Ele passou pela prova
Que ninguém não gostaria
Mas seu grau de Cantoria
Ainda é de cem por cento
TEM QUE HAVER SOFRIMENTO
PARA FLUIR POESIA.

MOTE: poeta XEXÉU
GLOSA: Laci chaves, 31/03/2008.
SJJaguaribe - Ce.

Laci:
AQUI NO MEU CEARÁ
QUANDO NÃO É OITO É OITENTA.

Tá feio o negócio aqui
Viu-se no jornal local
No Jornal Nacional
A cheia no Cariri
Tem caído chuva ali
De forma tão violenta
A lavoura não aguenta
Cidade alagada está
AQUI NO MEU CEARÁ
QUANDO NÃO É OITO É OITENTA.

Em Lavras da Mangabeira
No interior do Estado
A enchente do Salgado
Inundou toda ribeira
Com água na cominheira
Até prédio se arrebenta
Desabrigado lamenta
Vendo tudo se acabar
AQUI NO MEU CEARÁ
QUANDO NÃO É OITO É OITENTA.

Em ano de escassez
Sem chuva na região
Morre animais no sertão
Perde a planta o camponês
Ao contrário dessa vez
Chuva de mais atormenta
A vizinhança comenta
Oh meus Deus o que será
AQUI NO MEU CEARÁ
QUANDO NÃO É OITO É OITENTA.

Laci Chaves, 27/03/2008.
SJJaguaribe - Ce.

O mundo se lembra bem
Tanto sangue derramado
O Iraque no passado
O tal de Sadan Russen
Não tinha dó de ninguém
Mandou matar muita gente
Morreu merecidamente
Como Judas enforcado
NÃO EXISTE APOSENTADO
NA PROFISSÃO DE VALENTE

Minha primeira morada
Foi numa casa de barro
Um jumento era meu carro
Minha sombra uma latada
Minha rede era armada
Com uns cordões dados nóis
E eu olhando os rochinóis
Fazendo ninho no oitão
CADA PEDAÇO DE CHÃO
GURDOU UM POUCO DE NÓS.

Nossa roça de legumes
Onde íamos trabalhar
O pau d'arco ao florar
Nos cobria de perfumes
À noite os vaga-lumes
Só pariciam faróis
Iluminando os cipós
Das matas do meu sertão
CADA PEDAÇO DE CHÃO
GURDOU UM POUCO DE NÓS.

Mote: Wellington Vicente
Glosa: Laci Chaves
SJJaguaribe-Ce, 20/03/2008

Também no meu Ceará
Seu sertão possui fartura
Temos mel de rapadura
Caldo de cana, aluá
Farofa num aguidá
Lá na casa dos meus pais
E os verdes carnaubais
Oxigenando o vento
O SERTÃO É CEM POR CENTO
DEZ PRA MIM TÁ BOM DEMAIS

Eu tentei fazê-la bem feliz
Infelizmente ela fez tudo ao contrário
Para ela não passei de um otário
Que zombou de mim o quanto quis
Me disseram que ela hoje diz
Tou pagando por tudo acontecido
Ele era pra ser o meu marido
Mas comi e depois cospi no prato
O CIÚME É A PEDRA NO SAPATO
DESTE AMOR QUE NÃO FOI CORRESPONDIDO.

A mulher que amei sem me amar
Não mais quero, mas ela agora quer
Que eu deixe minha atual mulher
Pra com ela de novo começar
Hoje essa que tenho no meu lar
Deu-me um filho, minha vida faz sentido
Eu seria um mau agradecido
Se a deixasse ou jogasse ela no mato
O CIÚME É A PEDRA NO SAPATO
DESTE AMOR QUE NÃO FOI CORRESPONDIDO.

MOTE: Marconiza
GLOSA: Laci Chaves.
Laci:
Uma esposa carinhosa
Um filho tão amoroso
Sou Poeta corajoso
Canto verso, faço prosa
Minha sogra é uma rosa
Minha mãe é uma estrela
Sou feliz em poder vê-la
Essa família unida
"SE EU NÃO TIVESSE ESSA VIDA
PEDERIA A DEUS PRA TÊ-LA."


Nossa vida é cheia de mistérios
Nenhum ser é capaz de desvendar
Os trajetos que vamos caminhar
São além de obscuros, muito sérios
Os Teólogos apontam seus critérios
Vidente, de vez em quando aparece
Evangélico iludido permanece
E o Católico só fala em Aparecida
O SEGREDO DA VIDA ESTÁ NA VIDA
SÓ QUE O DONO DA VIDA NÃO CONHECE.

Do passado sabemos o que fomos
Do futuro é perdido alguém falar
No presente podemos confirmar
A imagem que nesse mundo somos
Da origem dos nossos cromossomos
A ciência sem dúvida esclarece
Mas o Espírito Imortal que fortalece
Só o incrédulo do seu poder duvida
O SEGREDO DA VIDA ESTÁ NA VIDA
SÓ QUE O DONO DA VIDA NÃO CONHECE.

Assim prosseguimos nossos dias
Envolvidos num mundo de ilusões
Nos desfrutes das novas gerações
Que se afogam num mar de fantasias
Livros "Bíblicos" são as mercadorias
Que o comércio da fé nos oferece
Da palavra de Deus o povo esquece
Salvação é uma coisa indefinida
O SEGREDO DA VIDA ESTÁ NA VIDA
SÓ QUE O DONO DA VIDA NÃO CONHECE.

Músicas em carros de som
Painéis, slogans e fotos
Nesta disputa de votos
Todo político é do bom
Até a voz muda o tom
O papo é descontraído
Blusas e bonés de partido
Viram farda do povão
EM ÉPOCA DE ELEIÇÃO
TODO POBRE É CONHECIDO.

As palavras homem honesto
Sou amigo do eleitor
Estou nessa por amor
São FRASES de manifesto
Dão com a mão, fazem gesto
Como é que tá meu querido?
Cochicha em todo ouvido
Promessas têm de montão
EM ÉPOCA DE ELEIÇÃO
TODO POBRE É CONHECIDO.

Sou amigo do senhor
Quando de mim precisar
Pode ir me procurar
Seja lá que hora for
Ganha o voto do eleitor
Deixa o coitado iludido
Mas pra ficá-lo esquecido
Basta o fim da apuração
EM ÉPOCA DE ELEIÇÃO
TODO POBRE É CONHECIDO.

Mote e Glosas de:
Laci chaves, 21/08/2008.
São João do Jaguaribe-Ce.





Vou modificar só um pouquinho seu mote por causa da junção das rimas, tá!
MANTER UMA POSTURA SOBERANA
E NÃO PENSAR QUE A LUTA ESTÁ PERDIDA.

Precisamos viver com auto estima
Pois a vida é cheia de espetáculos
Superamos diversos obstáculos
E só com garra se chega lá em cima
Nosso corpo é uma matéria-prima
Nosso espírito assegura nossa vida
Quem é fraco desiste na saída
Quem é forte supera e não profana
MANTER UMA POSTURA SOBERANA
E NÃO PENSAR QUE A LUTA ESTÁ PERDIDA.

Vencedor é aquele que batalha
Derrotado é o que se acovarda
O que busca o seu Anjo da Guarda
No final sai beijando a medalha
Apesar que a vida é muito falha
Enfrentemos com a cabeça erguida
Só Deus pode curar qualquer ferida
E só a fé moverá a força humana
MANTER UMA POSTURA SOBERANA
E NÃO PENSAR QUE A LUTA ESTÁ PERDIDA.

Mote: Clóris Andrade
Autor: Laci Chaves, 09/11/2008.
SJJaguaribe _ Ce.

Quando você se ausenta
Sinto tamanha tristeza
Minha alma fica presa
Meu coração se lamenta
Seu corpo é quem me sustenta
Sua face é meu piano
Sem o seu calor humano
A minha matéria esfria
A SUA AUSÊNCIA DE UM DIA
GERA SAUDADE DE UM ANO.

MOTE: Raphael Moura
Laci Chaves, 07/11/2008.
SJJaguaribe - Ce.

Ela é a mulher que mais desejo
Vou lutar pra trazê-la novamente
Não suporto seu jeito atraente
Enlouqueço na hora que lhe vejo
Seu suor, a doçura do seu beijo
O sorrizo que só seus lábios têm
Perfeição Deus não botou em ninguém
Mas que ela é PERFEITA até no sono
OU COM DONO, OU SEM DONO, EU SEREI DONO
DA MULHER QUE MAIS AMO E QUERO BEM.

Eu não sei se é loucura ou ilusão
Esse amor que carrego do passado
Eu só sei que ficou irraizado
Nas entranhas de um pobre coração
Acho até que virou obsessão
Pois sem ela viver mais não convém
Junto dela se DEUS me mandar cem
Tiro ela e as outras eu abadono
OU COM DONO, OU SEM DONO, EU SEREI DONO
DA MULHER QUE MAIS AMO E QUERO BEM.








Se um dia eu alcançar essa proeza
Nunca mais soltarei das minhas mãos
Vou dar uma cunhada à meus irmãos
A meus pais uma nora com certeza
Vou tratá- la em forma de princesa
E ser seu príncipe pra sempre, fim, amém
Eu não sei se menino ela inda tem
Mas eu pego um que tenho e depois CLONO
OU COM DONO, OU SEM DONO, EU SEREI DONO
DA MULHER QUE MAIS AMO E QUERO BEM.

Autor: Laci Chaves, Um Poeta Apaixonado! hehehehehe...
22/11/2008, São João do Jaguaribe - Ce.

Nunca matei nem roubei
Nem desonrei sem assumir
Nunca ganhei pra mentir
Ou infringir qualquer lei
O roubo que pratiquei
Confessei logo o Autor
Roubei uma linda flor
E botei na minha guarida
NA MINHA FOLHA CORRIDA
SÓ CONSTA CRIMES DE AMOR.

Pra meus pais sou um bom filho
Pra meu filho eu sou bom pai
Um irmão meu jamais cai
Jogado por mim num trilho
Pra minha esposa sou brilho
Pra meus sogros um beija-flor
Pra cunhados um professor
Pra meus amigos a VIDA
NA MINHA FOLHA CORRIDA
SÓ CONSTA CRIMES DE AMOR.

Se alguém enloqueceu
Eu enlouqueci também
Se roubei o amor de alguém
Esse alguém roubou o meu
Entre o roubo meu e seu
No Tribunal do Senhor
Jesus foi meu Promotor
E ela foi absorvida
NA MINHA FOLHA CORRIDA
SÓ CONSTA CRIMES DE AMOR.

Mote de: Valdir Teles
Glosas: Laci Chaves, 24/11/2008.
SJJaguaribe -Ce.

Hoje estou na detenção
Cumprindo esse regime
Por ter cometido o crime
De roubar seu coração
Não estou pagando em vão
Pois fui covarde e safado
No dia do meu jurado
Vou depor a seu favor
NO TRIBUNAL DO AMOR
SOU O RÉU E SOU CULPADO.

Você era uma criança
E eu já maior de idade
Tirei sua virgindade
Prometendo-lhe aliança
Mas Deus com sua balança
Pesou meu erro dobrado
Porque lacre violado
Lasca lá quem diabo for
NO TRIBUNAL DO AMOR
SOU O RÉU E O CULPADO.

Eu me pergunto por quê
Essa atração me consome
Só sei falar no seu nome
Só sei ouvir seu CD
O pior é que você
Tá me deixando tarado
Sei que tara é pecado
Mas vou morrer pecador
NO TRIBUNAL DO AMOR
SOU O RÉU E O CULPADO.

Laci Chaves, 25/11/2008.
SJJaguaribe - Ce. (Agora virei fã de Louro Branco, hehehehehehehe)

No dia que um pobre morre
É mesmo que um bezerro
Cinco pessoas no enterro
Pra bem longe o povo corre
Um rico num carro porre
Vira e morre num buraco
Até Padre puxa saco
Vem no local e celebra
A CORDA SEMPRE SÓ QUEBRA
DO LADO QUE É MAIS FRACO.

Um barão pode comprar
Carro importado e mansão
Passear de avião
Sem a despesa pagar
Se um agricultor andar
Numa BIZ caindo o taco
O povo chama velhaco
E de motoqueiro peba
A CORDA SEMPRE SÓ QUEBRA
DO LADO QUE É MAIS FRACO.

Uma atriz de novela
Pode até com dez transar
Ninguém acha isso vulgar
Batem é palmas pra ela
Mas se uma da favela
Inventar de dar o cassaco
Há logo um balacobaco
Fica igual mosca em pereba
A CORDA SEMPRE SÓ QUEBRA
DO LADO QUE É MAIS FRACO.

Atenção! Fiz de improviso essas estrofes hoje, enquanto uma jovem exclamava
esse ditado popular... A CORDA SÓ QUEBRA DO LADO MAIS FRACO...

Dentro da América Latina
Poeta comigo cai
Desde o Chile ao Uruguai
Paraguaio e Argentina
No Brasil virei rotina
No Peru meu astro brilha
Na Colombia em sextilha
Já provoquei até morte
EU CANTANDO SOU MAIS FORTE
DO QUE FURACÃO NA ILHA.

No Continente Africano
Lá o meu repente é prático
No Continente Asiático
Europeu e Americano
Duvido é um ser humano
Vencer-me em qualquer trilha
Geraldo com Maraviiiilha
Só não apanhou por sorte
EU CANTANDO SOU MAIS FORTE
DO QUE FURACÃO NA ILHA.

Mote: Gildo Aires
Glosas: Laci Chaves.

Meu passado que o tempo carregou
Só lembrança restou-me como prenda
Do engenho que tinha na fazenda
E da junta de bois que pai comprou
Muito caldo de cana mãe tomou
Nós nascemos saudáveis de verdade
Nessa época mel tinha qualidade
Seu sabor era a do suor na testa
NO LUGAR DO ENGENHO HOJE SÓ RESTA
OS ESCOMBROS DE DOR E DE SAUDADE.
(Laci Chaves)

Versos do poeta Wellington Vicente

Foi Deus quem pôs maestria,
No vôo de uma gaivota."

(Mote de Ademar Macedo)

Deu imponência ao leão
E agilidade ao gato,
Deu nadadeiras ao pato,
Rapidez ao gavião,
Pôs um luar no sertão
Duma cor que não desbota,
Deu à semente que brota
Uma auréola de magia.
Foi Deus que pôs maestria
No vôo de uma gaivota.

Deus, Javé ou Jeová
Deu fidelidade ao cão,
Autonomia e visão
Ao predador carcará,
Pôs mau odor no gambá,
Fez do pavão um janota,
Pôs o mocó numa grota
Como habitante e vigia.
Foi Deus que pôs maestria
No vôo de uma gaivota.

Deu notas ao sabiá,
Magia ao uirapuru,
Deu feiúra ao cururu
E valentia ao guará,
Dentição forte ao preá,
À cotia e à marmota,
Marreco seguir a rota
Voando em noite sombria.
Foi Deus que pôs maestria
No vôo de uma gaivota.

Autor: Wellington Vicente.
Porto Velho, 20/04/2008.

Uma banda do meu peito
Não consegue te esquecer.

Sempre que os nossos olhares
Fixaram a mesma seta
Meu coração de poeta
Voou por vários lugares.
Olhando aqueles luares
Que a paixão pôde trazer
Eu não consigo entender
A razão de tanto efeito.
Uma banda do meu peito
Não consegue te esquecer.

Guardo comigo a caneta
Com o teu nome gravado:
É tesouro conservado
Dentro da minha gaveta.
Eu vivo como estafeta
Da tropa do bem-querer
Como não posso te ver
Deito e não durmo direito.
Uma banda do meu peito
Não consegue te esquecer.

Já tentei por vários meios
Aproximar-me de ti:
Disfarçar-me de gari,
Ser o homem dos correios.
Para conter os anseios
De querer e não poder,
Só está faltando eu ser
Um candidato a prefeito.
Uma banda do meu peito
Não consegue te esquecer.

Autor: Wellington Vicente
Porto Velho, 13/04/2008.

Ao poeta Zé Vicente da Paraíba.

“Ah! Que saudades que tenho...”
Um grande vate dizia.
Guardo na mente o desenho
Da terra que me deu cria.
Nesta viagem me lanço
Inda recordo o balanço
Que eu pedi pra Sinhá
E ela com seu trabalho
O pendurou em teu galho
Meu velho pé de jucá!

Quando Sinhá me embalava
Eu sentia a liberdade
Igual a quem viajava
Montado em felicidade.
O teu galho retesado
Como mãe que tem cuidado
Com o pequeno piá
E eu sorrindo a valer
Parecia te entender
Meu velho pé de jucá.

Hoje estás envelhecido,
Teu caule, outrora viçoso,
Já está todo ruído
Pelo cupim furioso.
Teus galhos, meu grande amigo!
Já não servem de abrigo
Ao canoro sabiá
E eu de ti recordando
Sinto a velhice chegando
Meu velho pé de jucá.

Mote: Zé Ilton
Glosas: Wellington Vicente
Porto Velho, 13/12/07.
Tem que haver sofrimento
Pra poesia fluir.

(Mote do repentista Xexéu)

Às amigas: Fátima Marcolino, Taíza, Clóris, Irene, Cida, Gitana, Marconiza, Marivalda, Neide, Neidinha, Pétala, Aparecida Cavalcanti, Rosimere, Alda e Wendy.

Xexéu, grande repentista,
Com sua alma inquieta
Disse que todo poeta
Tem um “quê” de masoquista.
Pelo seu ponto de vista
Fui a campo conferir:
Vi que a rima é elixir
Para combater lamento.
Tem que haver sofrimento
Pra poesia fluir.

Fui folhear os anais
Do poeta Castro Alves,
De Casimiro e Gonçalves,
Patativa e Luís Vaz.
Percebi que são iguais
Nas maneiras de agir:
Quando a dor vem afligir
A cura vem do talento.
Tem que haver sofrimento
Pra poesia fluir.

Relendo as composições
Dos poetas pioneiros
Transformo os meus desesperos
Em meras recordações.
Minhas antigas paixões
Já não podem me ferir,
As musas mandam seguir
Nas asas do pensamento.
Tem que haver sofrimento
Pra poesia fluir.

Autor: Wellington Vicente.
Porto Velho, 30/03/2008.

Fiz isso sem precisão,
Avalie se precisar.

(Mote de Daudeth Bandeira)

À cidade de Altinho-PE (terra que me criou).

Moleque, ainda em Altinho
Fui treloso na ribeira
Com a minha baladeira
Matei muito passarinho.
Nas terras do meu padrinho
Eu inventei de entrar
Por gaiatice soltar
O gado na plantação.
Fiz isso sem precisão,
Avalie se precisar.

O meu pai, velho vaqueiro,
(Porque caí duma burra)
Pegou-me e deu-me uma surra
Com vara de marmeleiro.
Eu, moleque presepeiro,
Quis da surra me vingar,
À noitinha fui cortar
As correias do gibão.
Fiz isso sem precisão,
Avalie se precisar.

O padre Pedro Solano,
Pároco da minha cidade,
Com toda a sua bondade
Batizou este ente humano.
Anos depois o decano
Necessitou viajar
E eu, chofer do lugar,
Cobrei a mais do ancião.
Fiz isso sem precisão
Avalie se precisar.

Autor: Wellington Vicente.

João Pessoa-PB, 16/01/2008

NÃO EXISTE APOSENTADO
NA PROFISSÃO DE VALENTE.

O grande Antônio Silvino
“Governador do sertão”
Antecedeu Lampião
No cangaço nordestino
Porém um dia o destino
Pôs no caminho um tenente
E o bravo combatente
Foi pra Recife algemado
Não existe aposentado
Na profissão de valente.

A Bíblia diz que Sansão
Recebeu forças de Deus
E centenas de Filisteus
Pereceram em sua mão
Mas um dia o coração
Sentiu algo diferente
Dalila, covardemente,
O fez ser capturado.
Não existe aposentado
Na profissão de valente.

Já Virgolino Ferreira
O famoso Lampião
Combatia um batalhão
Sem se afastar da trincheira
Uma informação certeira
Trouxe a volante potente
Mas existe quem comente
Que morreu envenenado.
Não existe aposentado
Na profissão de valente.

Mote: Josemar Rabelo
Glosas: Wellington Vicente.
Porto Velho, 24/03/2008.

CADA PEDAÇO DE CHÃO
GUARDOU UM POUCO DE NÓS.

A todas as Marias, fictícias ou não, que povoam as mentes dos Josés.

Ô! Mocidade fugaz,
Passaste como uma enchente
Imprimindo em minha mente
Recordações imortais.
Fui à casa dos meus pais
E ao sítio dos meus avós.
Maria ouvi tua voz
Ecoando no grotão!
Cada pedaço de chão
Guardou um pouco de nós.

Deitei-me sobre o lajedo
Onde a gente namorava
E o nosso amor brotava
Na rigidez do rochedo.
A lua guarda o segredo
Do que ocorreu após
E o rio em sua foz
Entoava uma canção.
Cada pedaço de chão
Guardou um pouco de nós.

Vi na tábua da porteira
As nossas iniciais
Envelhecidas demais
Pelo pincel da poeira.
Inda existe a ingazeira
Junto à cerca de aveloz,
Lembrei dos teus caracóis
Aquecendo a minha mão.
Cada pedaço de chão
Guardou um pouco de nós.

Autor: Wellington Vicente
Porto Velho, 11/03/2008.

PARABÉNS, POETA!

Fiz um rosário rimado
Para me dar proteção.

(Aproveitando a idéia de Fátima Marcolino para homenagear o Dia da Poesia).

Descobri que meu remédio
Está nos versos que faço,
A rima dar-me um abraço
Chega e desaloja o tédio.
Passo na frente do prédio
De uma antiga paixão,
Mas a tal recordação
Não me deixa desolado.
Fiz um rosário rimado
Para me dar proteção.

Saudades da minha terra
Sempre atormentam demais
Dos meus irmãos, dos meus pais,
Do meu belo pé-de-serra.
Do profeta que não erra
Com a sua previsão,
Do Padim Ciço Romão
Com o seu santo cajado.
Fiz um rosário rimado
Para me dar proteção.

Daquela paixão primeira
Que tanto marcou a gente
Parecendo um ferro quente
Numa brasa de aroeira.
Daí, faço uma barreira
Que serve de contenção
E a minha improvisação
Deixa o meu corpo fechado.
Fiz um rosário rimado
Para me dar proteção.

Autor: Wellington Vicente
Porto Velho, 15/03/2008.

É pororoca de versos
Na cachoeira da mente.

(Adaptação de um mote de Josemar Rabelo)

Quando estou a meditar
Sobre pequenos problemas
Um riacho de poemas
Pede para desaguar
Na imensidão do mar
Que detém tanto Repente
E a tristeza aparente
Some por vales diversos.
É pororoca de versos
Na cachoeira da mente.

Tudo enfim se ilumina
E aquela saudade boa
Num instante sobrevoa
Minha nação nordestina.
Meu ego já se inclina,
Meu olhar fica contente
E a bênção de Zé Vicente
Livra-me dos maus e perversos.
É pororoca de versos
Na cachoeira da mente.

Autor: Wellington Vicente
Porto Velho, 02/05/2008.

NA ROLETA DA PAIXÃO
MEU PRÊMIO SERÁ SAUDADE.

(JOSEMAR RABÊLO)

Uma famosa cigana
Leu as minhas digitais
E disse: - Pelos sinais
Querem só a tua grana.
Evite a mulher mundana
Repleta de falsidade,
Senão a diversidade
Invade o teu coração!
Na roleta da paixão
Meu prêmio será saudade.

A partir da profecia
Daquela sábia mulher
Eu namorei a Esther,
Marta, Marcela e Maria.
Inda conquistei Sofia
E Maria Soledade
Porém naquela amizade
Só encontrei traição.
Na roleta da paixão
Meu prêmio será saudade.

Nunca mais tive sossego
Pois minhas novas conquistas
Foram todas egoístas
E só queriam chamego.
Eu que queria o emprego
Do meu amor e bondade
Não encontro quem me agrade
E me dê o coração.
Na roleta da paixão
Meu prêmio será saudade.


Autor: Wellington Vicente
Porto Velho, 06/05/2008.

Negue tudo, mas não negue
Meu direito de amar.

(Asa Branca do Ceará)

Jure que quando me avista
Seu peito não acelera
Que nunca encarou “de vera”
Esse jogo de conquista
Diga pro seu analista
Que só quer me humilhar
Fale que ao me ligar
A ligação não prossegue
Negue tudo, mas não negue
Meu direito de amar.

Diga que seus sentimentos
Nunca passam de rompantes
Que os melhores instantes
São apenas fingimentos
Fale que nos aposentos
Nunca conseguiu entrar
Sustente que ao me beijar
Nunca se sentiu entregue
Negue tudo, mas não negue
Meu direito de amar.

Autor: Wellington Vicente
Porto Velho, 23/03/2008

Quando parte um poeta o céu se anima
Por ganhar mais um anjo iluminado.

* Em memória do meu pai, POETA ZÉ VICENTE DA PARAÍBA, pela sua passagem ao Plano Superior em 09 de maio de 2008.

Muitas saudades!!!

Quando O Ser Divinal faz a chamada
Avisando que a viagem terminou
A matéria sofrida e castigada
Fica livre do espírito que voou.
Os lamentos dos entes mais queridos
São até muitas vezes confundidos
Com os cânticos dum Arcanjo destacado
Que anuncia do palco lá de cima:
Quando parte um poeta o céu se anima
Por ganhar mais um anjo iluminado.

A beleza das rimas eterniza
Mais um nome no lar dos imortais,
Vem a musa com carinho e suaviza
O que foi, até pouco, muitos ais.
Numa Esfera sem dores e mentiras
Querubins vão tocando as suas liras
Em louvor ao aedo anunciado
E a terra em respeito muda o clima.
Quando parte um poeta o céu se anima
Por ganhar mais um anjo iluminado.


Autor: Wellington Vicente.

Toda casa de taipa abandonada
Guarda um grito de fome dentro dela.

(Mote de Ademar Macedo)

*Em visita ao sítio Sobradinho em Altinho-PE.

Visitando o torrão dos meus avós
Vi que o tempo havia destruído
Um pequeno casebre protegido
Pela sombra duma cerca de aveloz.
À direita inda havia uns mororós
Como que emoldurando uma aquarela,
No terreiro um pedaço de gamela,
Um ferrolho e um cabo de enxada.
Toda casa de taipa abandonada
Guarda um grito de fome dentro dela.

No monturo daquela moradia
Avistei uns arreios de vaqueiro,
Uma canga, uma vara de carreiro,
Um balaio emborcado, uma bacia.
Eu diante de tanta nostalgia
Fui sentindo um entalo em minha goela
E chorando passei pela cancela
Com a alma mais triste e mais pesada.
Toda casa de taipa abandonada
Guarda um grito de fome dentro dela.

Autor: Wellington Vicente.
Altinho-PE, 21/05/2008.
POETA DO NORTE.

Aos amigos Prof. Sebah e Taíza Maria.

Meu Pernambuco adorado!
Meu bravo Leão Dourado!
Muito jovem te deixei,
Mas trago as tuas paisagens
Como capa das imagens
Mais belas que avistei.

Pelo passado de glória
És hoje o pai da História,
Berço de Joaquim Nabuco
E os primeiros guerreiros
Defendendo os brasileiros
São teus filhos, Pernambuco!

Nos famosos arraiais
Onde o guerreiro voraz
Sangrava honrando o teu chão
Negros e índios (soldados)
Lutavam escutando os brados
De Henrique e Camarão.

Parti daí muito cedo
Mas aprendi no degredo
Ser como és: Muito forte.
Obedecendo ao destino
De migrante nordestino
Virei Poeta do Norte!

Autor: Wellington Vicente.
Porto Velho, 06 de maio de 2008.

*Participe da comunidade “POETA ZÉ VICENTE DA PARAÍBA”.

Mote: Veio o vento da noite e deu um tapa
Bem na cara da minha solidão.


Visitando o Torrão que me criou
Numa certa madrugada triste e fria
Assisti a uma sessão de nostalgia
Que a tela do tempo me mostrou.
Só o vento, solidário, acompanhou
As imagens que revi do meu sertão,
Meu passado foi revisto em edição,
Minha infância foi mostrada em cada etapa.
Veio o vento da noite e deu um tapa
Bem na cara da minha solidão.

Fui revendo o meu tempo de menino:
A cartilha, o caminho da escola,
O meu carro de lata, a minha bola,
O boi de barro, invenção de Severino*,
Um cordel endeusando Virgolino,
Que pra quem não conhece é Lampião,
Vi papai escrevendo uma canção
E mamãe preparando uma garapa.
Veio o vento da noite e deu um tapa
Bem na cara da minha solidão.

Autor: Wellington Vicente.
Porto Velho, 08 de maio de 2008.
*Severino Vitalino (filho do Mestre Vitalino e meu amigo do Alto do Moura, Caruaru-PE).

DEFINIÇÃO DE SAUDADE.

À poetisa Fátima Marcolino.

A saudade é como espinho
Que entra e não quer sair
Infecciona o peito
Quando se tenta extrair
De dia fica acordada
De noite não quer dormir.

Autor: Wellington Vicente.
Porto Velho, 10/06/2008.

Cai a chuva no colo do roçado
Germinando o pendão da esperança.

(Mote de Vanilson de Souza Silva)

Uma prece que chegou ao Pai Eterno
Do roceiro mais contrito do sertão
Faz com que O Divino olhe pro chão
E mande abrir as torneiras do inverno
E o que foi até pouco aquele inferno
Vira logo um recanto de bonança,
Pois a fé quando chega à balança
Pesa mais que o prato do pecado.
Cai a chuva no colo do roçado
Germinando o pendão da esperança.


É daí que a terra entra no cio
Esperando a semente no seu ventre,
A lagoa pede ao sapo que concentre
Mais coaxos no grande desafio.
Os peixinhos desovam pelo rio,
A devota reza mais e não se cansa,
À noitinha, vem a lua e também lança
Um sorriso ao lugar abençoado.
Cai a chuva no colo do roçado
Germinando o pendão da esperança.

Autor: Wellington Vicente.

Porto Velho, 14.06.2008

Êita! Saudade danada
Das festas de São João.

Do forró ainda puro,
Sem sintomas de lambada,
Da espiga retirada
Do milharal do monturo,
Do bacamarte pé-duro
Ribombando no grotão,
Chamando a população
Para a dança na latada.
Êita! Saudade danada
Das festas de São João.

Daquele aroma brejeiro
Das moças da minha terra,
Do povo do pé da serra
Que chamava o sanfoneiro.
A cota vinha primeiro
E tal contribuição
Garantia que o baião
Fosse até de madrugada.
Êita! Saudade danada
Das festas de São João.

Das promessas de amor
Regadas à aguardente,
Da morena sorridente
Paquerando o tocador,
Do matutinho cantor,
(Parecendo o Azulão),
Imitando o Gonzagão
Entoando uma toada.
Êita! Saudade danada
Das festas de São João.

Autor: Wellington Vicente.
Porto Velho, 19 de junho de 2008.

A ARTE DE REPENTISTA,
ALÉM DE SER TÃO SINGELA.
NÃO É DEUSA MAS É SANTA,
NÃO É MULHER MAS É BELA.
NÃO DAR BEIJO, NEM FAZ SEXO,
MAS EU ME CASEI COM ELA.

Autor: Vicente Reinaldo.



Pois pinte a sua aquarela
Com as tintas do Repente
Seja andarilho do verso
Faça improviso pra gente
Para ficar parecido
Com o que foi Zé Vicente.

Autor: Wellington Vicente.

Acenda a sua fogueira
Com a brasa da saudade!

(Mote da amiga Fátima Marcolino)

Nossa Fátima Marcolino
Deu um mote sugestivo
E achei mais um motivo
Pra dizer que o nordestino
Longe do chão agrestino
Enfrenta a disparidade
Ninguém calcula a metade
Da lembrança da ribeira.
Acenda a sua fogueira
Com a brasa da saudade!

Só quem passou ou está
Passando por esta fase
Pode calcular a base
Das recordações de lá.
Quem saiu de Quixadá,
Caruaru, Soledade,
Altinho, Sumé, Trindade,
Afogados da Ingazeira.
Acenda a sua fogueira
Com a brasa da saudade!

Aproveite este São João,
Enfeite bem o terreiro,
Ouça Jackson do Pandeiro,
Jacinto Silva, Azulão,
Marinês e Gonzagão,
A mais alta sumidade,
Espalhe pela cidade
O som da música brejeira.
Acenda a sua fogueira
Com a brasa da saudade!

Autor: Wellington Vicente.
Porto Velho, 23 de junho de 2008.

Está com o fundo rasgado
O saco do querer mais.

(Final de sextilha de João Paraibano enviada por Josa Rabêlo)

O cruel Capitalismo
Com suas garras potentes
Transforma os bons ambientes
Em arenas de egoísmo
Enterra todo o civismo
E raízes culturais
Rasga todos os anais
Que retrataram o passado.
Está com o fundo rasgado
O saco do querer mais.

Nossos jovens brasileiros
Grande massa alienada
Esquecem a cultura herdada
E copiam os estrangeiros
Até mesmo os forrozeiros
Presentes nos arraiais
Perderam as credenciais
Do Baião e do Xaxado.
Está com o fundo rasgado
O saco do querer mais.

Na política, nem se fala
O poder do vil metal
Troca o antigo ideal
Pelo “miolo” da mala
Nas reuniões da sala
As câmeras mostram demais
Que os políticos rivais
Comem do mesmo bocado.
Está com o fundo rasgado
O saco do querer mais.

Autor: Wellington Vicente.
Porto Velho, 30.06.08.





HAJA SAUDADE NA GENTE!

Ao Poeta Zé Marcolino.

Desceu do Serrote Agudo
Labaredas de saudade
E Zé na eternidade
Vive acompanhando tudo
O fole de Zé Bicudo
Toca aquele xote quente
E o cantador de repente
Num martelo agalopado
Canta bastante inspirado:
-Haja saudade na gente!

A lacuna que deixou
Ninguém preencheu ainda
A saudade nunca finda
E a dor nunca passou
Hoje a Fátima lembrou
Do seu amado parente
Eu liguei pra Zé Vicente
Narrando o acontecido
Ele falou, comovido:
-Haja saudade na gente!

Autor: Wellington Vicente, Porto Velho, 28/06/2007.









Dorme a cinza da fogueira
Esperando o Carnaval.

(Mote do amigo Junior do Bode, de Olinda-PE).

No derradeiro floreio
Da sanfona pé-de-bode
A morena se sacode
E naquele balanceio
O meu olhar fica cheio
De emoção sem igual
Como sou sentimental
Digo a minha companheira:
- Dorme a cinza da fogueira
Esperando o Carnaval!

Quando a sanfona se cala
Parece que a Natureza
Sopra um sopro de tristeza
Pelos recantos da sala
O forrozeiro se abala
Pelo fim do arraial
Aí vem um vendaval
De saudade matadeira.
Dorme a cinza da fogueira
Esperando o Carnaval.

E os adornos juninos
Já vão sendo retirados
Muitos deles disputados
Por dezenas de meninos
Nossos irmãos nordestinos
Que vieram ao festival
Lamentam pelo final
Mas voltam à terra estrangeira.
Dorme a cinza da fogueira
Esperando o Carnaval.

Autor: Wellington Vicente.
Porto Velho, 03/07/08.


Vou conduzindo a canoa
Com o remo que possuo.

(Mote enviado pela amiga Clóris, a quem dedico estas glosas).

Imitando os beiradeiros
Vou abrindo os meus caminhos
Por entre os redemoinhos,
Barrancos e aguaceiros,
Sei evitar atoleiros,
Piso maneiro onde atuo,
Se a tromba é forte, recuo
E me sustento na proa.
Vou conduzindo a canoa
Com o remo que possuo.

Até os botos conhecem
O meu jeito de remar
E só de me acompanhar
Parece que se envaidecem.
Aos humanos que merecem
Eu sempre ajudo e influo
Mas evito e não incluo
Idéia de má pessoa.
Vou conduzindo a canoa
Com o remo que possuo.

Carrego em minha boroca,
Desde o dia do batismo,
Uma cuia de otimismo
Para qualquer pororoca.
Se um sentimento me toca
Sendo bom, eu acentuo,
Se for tristeza, diluo
Com poesia da boa.
Vou conduzindo a canoa
Com o remo que possuo.

Autor: Wellington Vicente.
Porto Velho, 08/07/2008.














Ninguém consegue prender
A alma do cantador.

(Mote do poeta Abel Araújo).

Nasceu pra viver voando
Ou atravessando rios
Enfrentando desafios
Nas pelejas porfiando
Ninguém sabe desde quando
Este pássaro voador
Vive igualzinho um condor
Sendo e gostando de ser
Ninguém consegue prender
A alma do cantador.

São marinheiros da rima
Em cada porto um poema
Em cada estrofe um esquema
Parindo uma obra-prima
A viola é sua lima
E como mestre escultor
Põe contornos numa dor
E a transforma em prazer
Ninguém consegue prender
A alma do cantador.

Seu canto não tem Fronteira
E nem respeita Divisa
O seu verso mobiliza
O pessoal da ribeira
Mas também canta na feira,
Na morada do doutor,
Pregando o mesmo teor
Eternizando o dizer:
- Ninguém consegue prender
A alma do cantador!

Autor: Wellington Vicente
Porto Velho, 07/07/2007.

Com a invenção da internet
O Mundo está sem porteira.

(Mote do poeta Zeca Domingos).

Virgem Maria! Doutor!
Agora inventaram um “trem”
Que um cabra de Belém
(Se for muito falador)
Fala com o de Salvador,
De Cabrobó ou de Feira,
Um matuto de Pesqueira
Ver um monge no Tibet.
Com a invenção da internet
O Mundo está sem porteira.

Sem precisar de carteiro
Eu escrevo aqui agora
E as letras vão embora
Sem nunca errar o roteiro.
É um troço tão ligeiro,
De pontaria certeira,
Que guardei na cristaleira
A minha antiga Olivetti.
Com a invenção da internet
O Mundo está sem porteira.






Uma ruma de notícias
Eu leio aqui todo dia,
É falando em carestia
Em favelas, em milícias,
Em incursões das polícias
Lá no morro da Mangueira,
Até Maria Ferreira
Diz: - Agora tô na Net!!!
Com a invenção da internet
O Mundo está sem porteira.

Autor: Wellington Vicente.
Porto Velho, 12/07/2008.

A sua ausência de um dia
Gera saudade de um ano.

(Mote do poeta Pedro Fernandes).

Eu nunca havia sentido
Uma dor tão sufocante
Faltou fôlego, num instante
Vi que estava perdido.
Perguntei a um conhecido
Irmão gêmeo dum cigano.
Ele falou: - Olha mano!
Tua saudade deu cria!
A sua ausência de um dia
Gera saudade de um ano.

Nunca vi tanta potência
Num choque de solidão
Senti a alta tensão
Da força da sua ausência.
Pedi logo providência
Ao diretor veterano
Que acionou um plano
Para me dar garantia.
A sua ausência de um dia
Gera saudade de um ano.

Sem você sou passarinho
Sem espaço pra voar,
Um cantador sem cantar,
Uma Asa Branca sem ninho,
Caminheiro sem caminho,
Pescador sem oceano,
Um Waldick Soriano
Desterrado da Bahia.
A sua ausência de um dia
Gera saudade de um ano.

Autor: Wellington Vicente.
Porto Velho, 13/07/2008




Um arco-íris se deita
Na paisagem do Sertão.

(Mote de Fátima Marcolino).

Uma nuvem no horizonte,
Parecendo uma cortina,
Vai jogando uma neblina
No cocuruto do monte.
No pé da serra defronte
Já se escuta o trovão
E o gado come ração
Numa cocheira bem feita.
Um arco-íris se deita
Na paisagem do Sertão.

O vento frio arrepia
As folhas do umbuzeiro,
Um dedicado vaqueiro
Tange a vaca que deu cria.
Um matutinho assovia
Uns acordes de baião,
A vovó prepara o pão
Sem precisar de receita.
Um arco-íris se deita
Na paisagem do Sertão.

Um violeiro ponteia
Seu estimado instrumento,
Lá no terreiro um jumento
Vem se espojar na areia.
A aranha tece a teia,
O velho faz oração,
O Autor da Criação
Vendo tudo se deleita.
Um arco-íris se deita
Na paisagem do Sertão.

Autor: Wellington Vicente.
Porto Velho, 21/07/2008.

Voltei pra sentir o cheiro
Das terras do meu sertão.

(Mote: Jonas de Antônio de Hilário. Enviado por Josa Rabêlo)


- Saudade é coisa do “Fute!”
Já dizia a minha avó.
Senti na garganta um nó
Quase perco o azimute.
Abandonei o Orkut,
Embarquei no avião,
Doido pra rever o chão
Que ouviu meu choro primeiro.
Voltei pra sentir o cheiro
Das terras do meu sertão.

Fui percorrer os locais
Onde passei minha infância
Comprovei que a distância
Provoca danos letais.
Procurei pelos meus pais
Só revi um, outro não.
Fui chorar lá no oitão
A contemplar o terreiro.
Voltei pra sentir o cheiro
Das terras do meu sertão.

Os amigos que deixei
Não revi nem a metade
Uns partiram pra cidade
Outros, onde estão não sei.
Mas ainda perguntei
Por Maria Conceição
Que levou meu coração
E não sei seu paradeiro.
Voltei pra sentir o cheiro
Das terras do meu sertão.

Glosas: Wellington Vicente.
Porto Velho, 12/08/2008.








Os legítimos repentistas
Estão desaparecendo.

(Asa Branca do Ceará)

Asa Branca, um cantador
Preservando a tradição
Dos aedos do sertão
Disse pra mim: - Glosador!
Busque em seu interior
Os versos que estão querendo
Que o povo fique sabendo
O que houve com os artistas.
Os legítimos repentistas
Estão desaparecendo.

Pelo estágio da morte
Passaram Antônio Marinho,
Pinto, Xudu, Canhotinho
E Passarinho do Norte.
Zé Limeira foi um forte
Com seu estilo estupendo
Sem querer acabou sendo
Precursor dos vanguardistas.
Os legítimos repentistas
Estão desaparecendo.

Asa Branca* e Expedito,
Aristo e José Barbosa
Estão recitando glosa
No sarau do Infinito.
Eu quase não acredito
Mas sofri um golpe horrendo,
Vi Zé Vicente dizendo:
- Fale para os cordelistas!
Os legítimos repentistas
Estão desaparecendo.

Glosas: Wellington Vicente.
Porto Velho, 17/08/2008.




A cada légua que ando
Sinto duas de saudade.

(Mote de Raphael Poeta)

Ah! Meu tempo de menino!
Pena que não voltas mais
Para trocar os meus ais
Pelo riso genuíno.
Mas por ordem do Destino
Minha jovialidade
Partiu com a vitalidade
Que me mantinha cantando.
A cada légua que ando
Sinto duas de saudade.

Quantas festas, quantas danças,
Quantas conquistas vividas
Hoje parecem feridas
Inflamadas nas lembranças.
O tempo cortou as tranças
Das musas da minha idade.
Hoje vago na cidade
Nas esquinas me escorando.
A cada légua que ando
Sinto duas de saudade.







Os meus amigos de outrora,
Parceiros dos festivais,
Uns já nem existem mais
Outros foram morar fora.
Mas eu vou pedir agora
A quem ler esta verdade
Repassem à comunidade
As mágoas que estou passando!
A cada légua que ando
Sinto duas de saudade.

Autor: Wellington Vicente.
Porto Velho, 19/08/2008.

Todo dia eu bebo um gole
Da cachaça da saudade!!!

(Mote de Raphael Moura)

Sou vítima do saudosismo
Da minha terra adorada
E de “lapada” em “lapada”
Virei refém do alcoolismo.
Uns dizem que é bucolismo
Isto que sempre me invade,
Outros dizem: - Na verdade,
Tu és um sujeito mole!
Todo dia eu bebo um gole
Da cachaça da saudade!!!

Já ingressei no AA
Por conselhos dos meus pais,
Mas os laços fraternais
Não me seguraram lá.
Mudei para Gravatá,
Aquela bela cidade,
Mas pra minha ansiedade
Não há clima que console.
Todo dia eu bebo um gole
Da cachaça da saudade!!!

No livro do meu passado
Cada página que folheio
Só avisto o devaneio
De quem não é mais lembrado
E isso tem me deixado
Quase à marginalidade,
Pois a minha liberdade
De vez em quando escapole.
Todo dia eu bebo um gole
Da cachaça da saudade!!!

Glosas: Wellington Vicente.
Porto Velho, 21/11/2008

Eu sou é conservador
Na arte da cantoria.

(Mote enviado pela amiga Clóris Andrade)

*Aos poetas-repentistas.

Nos modernos festivais
Para sair premiado
Precisa ser escolado
Em sistemas digitais,
Em câmbios nacionais,
Entender de mais-valia,
Mas tanta “sabedoria”
Não rima com cantador.
Eu sou é conservador
Na arte da cantoria.

Não cantem sobre “internete”,
“PC”,”chip”, “megabaite”,
“CPU”, “Pen-draive”, “saite”,
“HD”, “mause”, “disquete”.
Porque quem assim compete
(Pode até ganhar um dia),
Mas tira da poesia
O seu mais rico primor.
Eu sou é conservador
Na arte da cantoria.

Cantem os termos do Sertão:
Canga, canzil e fueiro,
Cabeçalho, tamoeiro,
Macambira, cansanção,
Facheiro, rompe-gibão,
Muganga, arenga e avia,
Imbuança e ingresia,
Coquista e aboiador.
Eu sou é conservador
Na arte da cantoria.

Autor: Wellington Vicente.
Porto Velho, 12/11/2008.

No Tribunal do Amor
Sou o réu e sou culpado.

(Mote de Josemar Rabelo)

Perdi em última instância
Em tudo que recorri,
Pois o peito que feri
Foi um amor da infância.
Devido a minha arrogância
Deixei esse amor de lado,
Hoje estou sendo julgado
Sem direito a defensor.
No Tribunal do Amor
Sou o réu e sou culpado.

Pois cada lágrima vertida
Por esse amor tão antigo,
Foi agravante no artigo
Da sentença proferida.
No momento que foi lida
Notei que cada jurado
Tinha me considerado
Como o pior malfeitor.
No Tribunal do Amor
Sou o réu e sou culpado.

A cada dia que vivo
Na prisão da consciência
Vejo que há evidência
Do alegado motivo
Que fez de mim um cativo
Sem que eu seja um celerado.
Só o Santo advogado
Pode escutar meu clamor.
No Tribunal do Amor
Sou o réu e sou culpado.

Autor: Wellington Vicente.
Porto Velho, 25.11.2008.







Saudade não é peixeira
Mas corta o peito da gente.

(Mote enviado pelo amigo Adevaldo)

Tem corte sem sangramento
Por ter seu fio invisível
Mas já sei que é terrível
O dano do ferimento.
Uns dizem que é sentimento
Que só quem sabe é quem sente,
Uns sentem, só brevemente,
Outros, pela vida inteira.
Saudade não é peixeira
Mas corta o peito da gente.

A ferida provocada,
Dependendo do motivo,
Não encontra curativo
Para deixá-la sanada.
Quando está quase sarada
Tem recaída freqüente,
Não há doutor que oriente
Uma cura verdadeira.
Saudade não é peixeira
Mas corta o peito da gente.

Não serve a Penicilina,
Mercúrio ou Merthiolathe,
Nem Bezetacil que trate
A infecção ferina.
A danada contamina
Quando entra na corrente
É auto-suficiente
Pra produzir choradeira.
Saudade não é peixeira
Mas corta o peito da gente.

Autor: Wellington Vicente.
Porto Velho, 16/07/2008.


A minha saudade é tanta
Que eu nem sei dizer o tanto.

(Mote de Asa Branca do Ceará)

Sete letras importantes,
Mas que só traduzem ais,
Contendo quatro vogais
E também três consoantes.
É o terror dos amantes
E produtora de pranto.
O seu poder causa espanto
Que só pneu de jamanta.
A minha saudade é tanta
Que eu nem sei dizer o tanto.

Até achava bonita
Esta palavra saudade
Por não sentir de verdade
A sua força esquisita.
Hoje a minha mente aflita
Vive acuada num canto
Sentindo o peso do manto
Que de noite se agiganta.
A minha saudade é tanta
Que eu nem sei dizer o tanto.

Como dizia o poeta:
- Saudade por ser mulher
Conhece todo o mister
Daquilo que nos afeta.
A sua invisível seta
Tem a magia do encanto,
Só quem sente sabe o quanto
Dói o peito e a garganta.
A minha saudade é tanta
Que eu nem sei dizer o tanto.

Autor; Wellington Vicente.
Porto Velho, 05/12/2008.

CENAS NOTURNAS

*Inspirado nos versos de Damião Metamorfose: “Isso tudo aconteceu enquanto você dormia”.

Uma coruja agourava
Na galhada de um jambeiro,
No boteco um seresteiro
Seu violão dedilhava,
A prostituta passava
Em busca da freguesia,
Um velho marujo ouvia
Uma canção do Alceu.
Isso tudo aconteceu
Enquanto você dormia.

A “campana” era montada
Na entrada da favela,
Um rádio tocava aquela
Canção do Noite Ilustrada,
Uma luzinha acanhada
Vinda da borracharia
Denunciava o vigia
Dormindo sobre um pneu.
Isso tudo aconteceu
Enquanto você dormia.

Um choro lá no berçário
Anunciava um vivente,
Outro virava cliente
Do agente funerário,
A velha no seu rosário
Agradecia à Maria
E o diário trazia
O que de fato ocorreu.
Isso tudo aconteceu
Enquanto você dormia.

Autor: Wellington Vicente.
Porto Velho, 10/12/2008.

MENSAGEM DE ANO NOVO.

Quem quer vencer faz assim.

(Mote do poeta Matias Neto)

Exerça a fraternidade,
Pratique a filantropia,
Ignore a covardia,
Cultive sempre a verdade,
Dê desprezo à falsidade,
Ore ao Senhor do Bonfim,
Regue sempre o seu jardim
Com as gotas da bonança,
Conserve sua esperança.
Quem quer vencer faz assim.

Distribua mais abraços,
Relembre os momentos bons,
Viva alimentando os dons,
Dê rumo certo aos seus passos,
Tire exemplos dos fracassos,
Não cultue o que é ruim,
Seja reto até o fim,
Tenha bondade em seus atos,
Nunca alimente boatos.
Quem quer vencer faz assim.

Não inveje quem trabalha
(Trabalhe do mesmo tanto!)
Não blasfeme contra santo,
Se falhar, corrija a falha,
Seja leal na batalha,
Amigo em qualquer festim,
Um conselheiro em motim,
Justo em toda decisão,
Exemplo pra cada irmão.
Quem quer vencer faz assim.

Autor: Wellington Vicente.
Porto Velho, 24/12/2008

A alma tem que pagar
O crime que a carne fez.

(Mote do poeta Bira Marcolino)

Quando Adão comeu o fruto
Que Jeová proibiu,
No mesmo instante surgiu
Nosso primeiro estatuto.
Satanás, de gênio bruto,
Com terrível sordidez,
Fez de Eva o seu indez
Só para o homem pecar.
A alma tem que pagar
O crime que a carne fez.

Do Éden foi excluído
Nosso casal pioneiro
Por ter quebrado o primeiro
Mandamento recebido.
Apesar de comovido,
Deus falou só uma vez:
- Agora, meu camponês,
Tu vais ter que trabalhar!
A alma tem que pagar
O crime que a carne fez.

Até hoje os nossos atos
Determinam as nossas penas,
Nossas preces são apenas
As remissões nos contratos,
Lenitivos para os fatos
Contrários à honradez,
Cada hora, dia e mês
Deus não pára de contar.
A alma tem que pagar
O crime que a carne fez.

Autor: Wellington Vicente.
Porto Velho, 09/01/2009.

VERSOS DO POETA PEDRO FERNANDES

Josa, este mote teu veio através da glosa do poeta
Wellington Vicente.
Fiz o que pude.


Sinhô Pereira aceitou
Virgulino no seu bando
Depois passou-lhe o comando
A capitão lhe elevou
De Lampião batizou
Depois dum combate quente
Do seu fuzil estridente
Saia um fogo danado
Não existe aposentado
Na profissão de valente.

No cangaço, Jurity
Volta seca, mergulhão
Corisco, Belo, Azulão
Zé sereno e Bem-ti-vi
Cabeleira e jabuti
Sabino Gomes, Vicente
Jararaca, o inclemente
Em vida foi enterrado
Não existe aposentado
Na profissão de valente.

Foi Jurema e Zé balbino
Ezequiel e Cacique
combater em Xique Xique
aonde morreu Levino
Em Sousa foi Virgulino
Baleado gravemente
Em angicos cruelmente
Ele foi atraiçoado
Não existe aposentado
Na profissão de valente

Antonio Benício era
Fugitivo da polícia
Formou a sua milícia
Bravo que só uma fera
mas a historia exagera
dizendo qu’ ele era crente
não maltratava indigente
mas foi amaldiçoado
não existe aposentado
na profissão de valente.

Lembro que em caruaru
Tinha uma figura estranha
chamado mãe de pantanha
preto da cor de urubu
e viciado em pitu
Um latrocida indecente
Foi abatido de frente
D'uma escola no “salgado”
Não existe aposentado
Na profissão de valente.

Ser valente não implica
Ser um mero desordeiro
ser manso como um cordeiro
covardia não indica
valente significa
na hora aga tá presente
não acuse injustamente
só brigue se obrigado
não existe aposentado
na profissão de valente.

Não confunda valentia
Com um transtorno mental
Sujeito anti social
uma psicopatia
Toda armação ele cria
Calculista e envolvente
Nenhum remorso ele sente
Se preso vai conformado
Não existe aposentado
Na profissão de valente.

Receba amigo, um conselho
Tolerante se conserve
A sua vida preserve
Até andando de joelho
A vida é um grande espelho
As faltas que há n’agente
Se refletem fielmente
Pra onde tenha apontado
Não existe aposentado
Na profissão de valente.

Pedro Fernandes de Araújo
João Pessoa, 25/03/2008.
Josa, minhas modestas estrofes com seu mote. Despretenciosamente.
Meu bisaco de poesia tem mais pena do que pedra, por isso não vai muito longe.

Um abraço.



Terra seca, esturricada
Ária, pobre e sem vigor
Mas seja lá onde for
Que sou de lá, nego nada
Foi e será sempre amada
lá de novo eu nasceria
a raiz que me nutria
imita o mandacaru
Quem nasceu no pajeú
Tem o “gen” da poesia.

Nascer naquela ribeira
É privilégio de poucos
Poetas, músicos, loucos
De alma leve e ordeira
A poética é mensageira
No cordel, na cantoria
Lá se canta todo dia
Mesmo sem ganhar tutu
Quem nasceu no pajeú
Tem o “gen” da poesia.

Louro, Dimas, Otacílio
Jó tinha verve marôta
Cícero, Anita, Zé catôta
Cantavam motes de Hercílio
Zé Adalberto, Marcílio
Clodomiro Paes não lia
Pedro Amorim aplaudia
Marinho e Zezé Lulu
Quem nasce no Pajeú
Tem o”gen” da poesia.

Também banhou-se no rio
Zé Dantas, grande poeta
Numa inspiração completa
Fez Riacho do Navio
Em sua letra escupiu
Samarica e Proficia
Luiz Gonzaga dizia
Vem morena, Rei Bantú
Quem nasce no pajeú
Tem o”gen” da poesia

Ouvir poema, ouvi mote
Explicitando a beleza
Das cenas da natureza
Como o salto do caçote
O sapo embaixo dum pote
Recebendo a água fria
Dos pingos que lhe caia
Do ponte de barro cru
Quem nasce no pajeú
Tem o”gen”da poesia.

Viver distante me arrasa
mas morar lá eu não posso
quase que me dá um “troço”
São Pedro fora de casa
Sintir o calor da brasa
Aquecendo a noite fria
Ver que a fumaça subia
Dum tronco de mulungu
Quem nasce no pajeú
Tem o “gen” da poesia.


João Pessoa, 11/03/2008 - Dia nacional da poesia

Pedro Fernandes.



Uma camisa ordinária
Com número e fotografia
Um bigodudo sorria
Na TV imaginária
Distribui a indumentária
Com eleitor iludido
Passa dois meses vestido
No outdoor do ladrão
Na época da eleição
Todo pobre é conhecido.

Político profissional
Já vive de cara lisa
A todos diz que precisa
Receber o nosso aval
Mas na câmara federal
Ele se faz de esquecido
Muda logo de partido
E diz oh povo pidão !
Na época de eleição
Todo pobre é conhecido.

Como vai parente amigo?
Meu querido conterrâneo
Seu pai foi contemporâneo
serviu caserna comigo
Como vai ele Rodrigo?
Pergunta o cabra fingido
Soube que havia morrido
E fez uma encenação
Na época de eleição
Todo pobre é conhecido.

Siá Maria Carrapato
Recebeu um visita
Um metro e meio de chita
Pra votar num candidato
Um punhado de retrato
Para ser distribuído
Um boné pra seu marido
E para o filho um calção
Na época da eleição
Todo pobre é conhecido.

Mote de : Laci Chaves
Glosa: Pedro Fernandes
João Pessoa, 22/08/2008.

O sol nascente aqueceu
As asas do vento morno
Como uma boca de um forno
Que natureza acendeu
O verão firme sem chuva
Some a formiga saúva
Abelhas sentem o estio
Fundas cacimbas de areia
sangrando água da veia
Do leito seco de um rio.

Acordar de madrugada
Sem preguiça, sem catimba
Já tem fila na cacimba
Que a água está esgotada
Espera que o olho o d´água
Como quem chora de mágoa
Forme um açude minúsculo
Mulher, ancião, meninos
Exibem corpos franzinos
Só pele, osso sem músculo.


Formam-se redemoinho
Na aragem quente da tarde
Sol à pino, o olho arde
Poeira invade o caminho
Uma coruja crocita
Um papagaio manso grita
Fecha a janela Maria!
Uma mulher vem da horta
Fecha e reza atrás da porta
Com medo da ventania.

Na roça as folhagens sêcas
Do milho que não vingou
O vento forte levou
bonecas murchas e pêcas
O feijão não formou vagem
Foi vítima da estiagem
Que calcina a região
No mesmo chão que plantei
Para o ano insistirei
Pra não deixar meu torrão.

Minha derradeira vaca
Da qual eu tirava o leite
Está servindo de enfeite
Na ponta daquela estaca
A ossada da cabeça
Como quem diz não esqueça
Aqui eu fui útil outrora
Ali virou talismã
Meu filho toda manhã
Ao passar por ela chora.


O roçado lá da serra
Foi verde, mas tá cinzento
Dois meninos num jumento
Puxam um cabrito que berra
Só tem o couro e o osso
Os quatro buscam um poço
Onde a sede matarão
Na volta enchem uma lata
Esse cenário retrata
Uma seca no sertão.

Pedro Fernandes
João Pessoa, 15/03/2008.

Conheci Biu de Crisanto
Paralítico e solitário
avesso a noticiário
recluso no seu recanto
um poeta que leu tanto
genética e filosofia
seu corpo não se movia
mas voava o pensamento
tem que haver sofrimento
pra fluir a poesia.


Rogaciano sofreu
e quase perdeu a calma
o seu livro "carne e alma"
com emoção escreveu
Jó, foi conterrâneo seu
na mesma fonte bebia
à "das Neves" oferecia
verso em frente o aposento
tem que haver sofrimento
pra fluir a poesia.

Cancão foi iluminado
mas o amor lhe feriu
ele silente partiu
Poemas foi seu legado
Outro poeta lembrado
Xudú nos versos dizia
que Anita os recebia
das asas leves do vento
tem que haver sofrimento
pra fluir a poesia.

Mote do repentista Xexéu
Glosa de Pedro Fernandes
João Pessoa, 31/03/2008.

Um abraço.
Um abraço poeta, com a força da correnteza do rio pajeú, nesse dias !!!


Eu era bem piquinino
Tu era mais maiózinha
Brincano lá na pracinha
Num brincava cum minino
Teu sapatin tinha um sino
Qui na grama se perdeu
Tirei o sino do meu
Dizeno: não sô lulu
mermo assim eu vi qui tu
Nunca arreparava n’eu.

O tempo foi se passano
Criei baiba qui nem bode
Quando a mucidade exprode
as paixão vão se chegano
As intenção vão mudano
Inocença se perdeu
Mas num sõi aconteceu
Nois dois junto ficá nu
Pruque d’ôto jeito tu
Nunca arreparava n’eu.

Eu vô li sê munto franco
Cuma eu sufri pru você
E sufri sem merecê
Qui o coração fico manco
Hoje de cabelo branco
Num cúipo o qui sucedeu
amô qui você nun deu
Eu incontrei in Zilu
Pruquê eu sôbe qui tu
Nunca arreparava n’eu.

Mote do poeta: Wellington Vicente
Glosa de: Pedro Fernandes
João Pessoa, 06/03/2008.
A noite a chuva caiu
Amanheceu diferente
O sertanejo contente
Nova esperança surgiu
Aquele sorriso abriu
Para a roça foi cantando
Na beira do rio chegando
Surpreso pois a dizer
Como é bonito se ver
O pajeú transbordando.

Pode causar prejuízo
Porque o rio está raso
Tanto tempo de descaso
Uma Dragagem é preciso
Não pode ser de improviso
É preciso ir planejando
deixar a água escoando
No seu leito se manter
Assim é lindo se ver
O pajeú transbordando.

As roças próximas do rio
Quem plantou se arrependeu
Toda lavoura perdeu
Porque a água cobriu
Virou lagoa o baixio
O pobre se interrogando
Que pecado tô pagando
Com chuva ou sol eu perder
Inda bem que pude ver
O pajeú transbordando.

O Tejo fugiu pra serra
O sapo desceu na cheia
Resto de cêrca passeia
Na água da cor de terra
Um borrego novo berra
Como quem está chamando
A mãe que desceu berrando
Bem distante foi morrer
Tudo pode acontecer
O pajeú transbordando

Eu fecho os olhos me vejo
Na beira do rio, á toa
Jota Simão na canoa
Um craque no seu manejo
atravessa o sertanejo
Só alguns passam nadando
Zé de Edite ajudando
Depois se dana a beber
Eu menino pude ver
O pajeú transbordando

É um motivo de festa
Menino tomando banho
entusiasmo é tamanho
De Itapetim à Floresta
O povo se manifesta
Esquece a seca cantando
E as beatas rezando
À Deus para agradecer
O quanto é belo se ver
O pajeú transbordando

De ir lá me deu vontade
Contemplar este cenário
Mas qual um presidiário
Impedido atrás da grade
A enchente da saudade
A vista foi me turvando
A lágrima foi inundando
chorei não pude conter
O meu desejo era ver
O pajeu transbordando.


Mote do Poeta: Josemar Rabelo
Glosa de Pedro Fernandes
João Pessoa, 08/04/2008.


Amanheci aluado
de tanto pensar em Vera
quando ela disse já era
nosso amor tá acabado
eu já chorei um bocado
nessa insônia insistente
me dano a fazer repente
com pensamentos perversos
um redemoinho de versos
na cachoeira da mente.

Desabafo de poeta
revelado num poema
falando no seu dilema
de uma paixão secreta
o amor quando se injeta
no coração do vivente
é parecido a enchente
deixa os tinos submersos
um redemoinho de versos
na cachoeira da mente.

Senti o clima mudando
pras bandas do meu sertão
depois eu vi o clarão
na tela do céu piscando
um trovão acompanhando
com sua voz estridente
me manifestei silente
do jeito dos introversos
um redemoinho de versos
na cachoeira da mente.

Sinto saudades do povo
do lugar onde nasci
eu de lá cedo dalí
só em lembrar me comovo
um dia eu volto de novo
para sentar no batente
e levar pra essa gente
que tem sentimentos tersos ¹
um redemoinho de versos
na cachoeira da mente.

Mote:Josa Rabelo
Glosa Pedro Fernandes

Ao ver a lua me inspiro
A nostalgia domina
Furtiva sobre a colina
É quando mais admiro
Narcotizado deliro
Nesse clarão reluzente
Sinto a força da corrente
Dividindo os universos
Um redemoinho de versos
Na cachoeira da mente.



O rio da poesia
Ta de barreira a barreira
Não é cheia passageira
É uma constante invernia
Surge como uma magia
Que a boca é só a vertente
Porque a sua nascente
Sãos neurônios submersos
Um redemoinho de versos
na cachoeira da mente.

(¹) Puros



Poeta, desculpa aí, mas a produção foi essa .
Um abraço, pajeuzeiro.
Pedro Fernandes

Sendo a vida uma viagem
As mãos de uma parteira
Foi a estação primeira
Desembarquei na coragem
Eu não trazia bagagem
do ventre que era morada
O abraço de chegada
Chôro no primeiro beijo
Eu olho pra trás e vejo
na poeira da estrada.

O caminho da escola
A primeira professora
A música na difusora
O compacto na vitrola
o roubo de graviola
brincadeira na calçada
a primeira namorada
que me frustrava o desejo
eu olho pra trás e vejo
na poeira da estrada.

caminhos que percorri
pontes que atravessei
sombras onde descansei
o pão doce que vendi
frio e calor que senti
a alpargata torada
eu comia tripa assada
com pensamento no queijo
eu olho pra trás e vejo
na poeira da estrada.

Eu fui um jovem esportista
Que não ligava pra taça
Jogava pela cachaça
Uma prática amadorista
Contribuí pra conquista
Nos campinhos de pelada
E na tática improvisada
fui campeão sertanejo
eu olho pra trás e vejo
na poeira da estrada.

Deixei meu torrão saudoso
Porque não dizer tristonho
Em busca daquele sonho
D’algum dia ser famoso
Ingênuo, cru, generoso
Bati em porta fechada
Levei da vida pancada
Da inocência despejo
Eu olho pra trás e vejo
Na poeira da estrada.

Um emprego, a faculdade
O primeiro rendimento
Pedido de casamento
veio a paternidade
tempo põe velocidade
quando sopra dá rajada
não dá ré nem faz parada
nem, o seu leme eu manejo
Eu olho pra trás e vejo
Na poeira da estrada.

Estou sentindo um enfado
Lembrança mostrando falha
As contusões, dor espalha
Dando sinal de cansado
Eu sou um resignado
Sem remorso da jornada
que só será completada
fazendo o último cortejo
eu olho pra trás e vejo
A poeira da estrada.

Mote e glosa de: Pedro Fernandes
João Pessoa, 03/05/2008.
No pano verde da vida
Quem dava as cartas era eu
Até que me apareceu
A ingênua Aparecida
sedutora, bem vestida
de falsa ingenuidade
Cheia de cumplicidade
Com um "crupier" ladrão
Na roleta da paixão
Meu prêmio será saudade.

Uma mulher eu ganhei
No relancim da paquera
Antes d’uma primavera
Ela disse já cansei
Desse baralho enjoei
Não me contenta a trindade
Foi embora da cidade
Fugindo com Ricardão
Na roleta da paixão
meu premio será saudade

Eu caí na jogatina
De aventura amorosa
Apostei e ganhei Rosa
A mais bonita menina
Angelical e grão-fina
Quando eu tirei “liberdade”
Ela me disse em verdade
De homem eu não gosto não
Na roleta da paixão
Meu prêmio será saudade.

O casamento é sinuca
Cada dia uma jogada
Tem que acertar a tacada
Se o taco espirra machuca
O giz de esfriar a cuca
A sublime lealdade
No fuso marca idade
De bico é separação
Na roleta da paixão
meu premio será saudade.

Com Míriam fiz parceria
Na bacarat do amor
Com ela fui ganhador
No jogo não me traía
A toda hora dizia
Eu tenho felicidade
A morte só por maldade
Cancelou nossa união
Na roleta da paixão
meu prêmio será saudade.


Poeta véi, foi o que pude fazer. Desculpe aí.

Um grande abraço.

Pedro Fernandes.
.



Um grande abraço, poeta !!!







Mãe
Mãe que me deu luz e vida
Me abrigou nove meses
Se acordou muitas vezes
Pra fazer minha comida
Quando sentia a mordida
Que eu lhe dava nos seios
De água seus olhos cheios
A mamada não parava
aí é que me abraçava
saciando meus anseios.


Se eu dormisse de dia
Ficava a noite acordado
E ela ali do meu lado
Cochilava e não dormia
Se a noite tivesse fria
Me agasalhava na manta
A fé de mãe era tanta
Enquanto embalava o berço
Ia dedilhando um terço
Rezando pra outra santa.




Ela me pôs na escola
Preparou minha merenda
Como eu não tinha agenda
Mãe pregava na sacola
um bilhetinho com cola
A professora Ritinha
passa a ficha todinha
de como me comportei
e eu nunca desconfiei
E pensava: mãe advinha.


Me acordar com carícia
Toda manhã ela vinha
Para o café na cozinha
E me servia a delícia
Papai ouvia a notícia
No rádio de pilha antigo
Mamãe sentava comigo
Dividindo a tapioca
Gesto que na CEIA invoca
Jesus repartindo trigo.





Os afazeres da casa
Mãe me ensinou bem cedo
Dizia não tem segredo
Fazer um fogo de brasa
Me dizia quem se atrasa
Mostra falta de respeito
Aprendi forrar o leito
Fazer mala pra viagem
O que pus nessa bagagem
Nunca mais será desfeito.


O tempo foi se passando
Perversidade trazendo
mamãe foi envelhecendo
A cabeleira pintando
sua memória falhando
A vista ficando escura
Sua passada insegura
A mão pegou a tremer
Mas não parou de crescer
O seu jardim de ternura.





Ser mãe é missão sublime
Um divino ministério
Há prêmio também cautério
Compondo o mesmo regime
Se o filho comete um crime
Faz parte do seu destino
Sofre com tal desatino
é do filho a defensora
Se ajoelha e diz: doutora
Me prenda e solte o menino.


Mamãe tinha fé castiça
Me ensinou a rezar
No domingo me acordar
Para assistir uma missa
Me ensinou que a preguiça
irmã da necessidade
dizia fale a verdade
mesmo que ela lhe doa
meu choro hoje atordoa
minha bússula de saudade


Mãe, é fonte de candura
Roseira que exala amor
Seu sopro alivia a dor
O seio jorra doçura
Seu colo tem a fofura
Do capucho de algodão
Uma usina de perdão
Sinfônica que o filho embala
A voz suave não cala
No palco do coração.

Pedro Fernandes
João Pessoa, 10/05/2008.
Eu trago vivo na mente
o jeito como ela andava
a roupa que ela usava
e a coroa no dente
pra roça ia na frente
não fica esmorecida
inda levava a comida
meu pai estava esperando
hoje choro me lembrando
da minha mamãe querida.

Sua chinela havaiana
com um prego atravessado
correia tinha quebrado
só porque não tinha grana
chegava o fim-de-semana
não arrefecia a lida
botava a calça comprida
no cavalo ia montando
hoje choro me lembrando
da minha mamãe querida.

Criou dez filhos sozinha
depois que papai morreu
educou, do jeito seu
se alguém saísse da linha
com autoridade vinha
austera mas comedida
a falha era corrigida
assim foi nos educando
hoje choro me lembrando
da minha mamãe querida.

Mote do poeta : Abel Araujo
Glosa de: Pedro Fernandes.
João Pessoa, 10/05/2008

Mote: Josa Rabelo
Glosa: Pedro Fernandes

O amor é anzol com três barbelas
com iscas cheirosas e desejadas
nesse mar de paixão são atiradas
nos incita a nadar em busca delas
engolidas provocam umas seqüelas
ofuscando o tirocínio e a razão
um velhote enfrentar um furacão
nessas águas vira peixe o pescador
sopra a brisa suave do amor
abrandando a quentura da paixão.

Pedro Fernandes
















Foi quebrado o silêncio da rotina
Quando grande arquiteto anunciou
Zé Vicente a missão já completou
O chamei para a hoste celestina
Lhe permito transpor essa cortina
E se encontrar com o Benone Conrado
Com Ascêncio, Bandeira e animado
Fazer dupla com Faustino e João de Lima
Quando parte um poeta o céu se anima
Por ganhar mais um astro iluminado.

As porteiras do céu foram se abrindo
A medida que o cortejo avançava
Sob aplauso, reverência onde passava
Aos acenos, retribuía sorrindo
Numa nuvem se lia “seja bem vindo”
A orquestra angelical toca um dobrado
E o maestro num gesto delicado
Lhe oferece a batuta com uma rima
Quando parte um poeta o céu se anima
Por ganhar mais um astro iluminado

Mote de Wellington Vicente
Glosa de : Pedro Fernandes
João Pessoa, 26/05/2008.






Viajei no transporte da memória
Na estrada que leva à meninice
Pra que os olhos de adulto assistisse
Aonde começou a minha história
O casebre duma família simplória
Que unida viveu e sofreu nela
A miséria entrou pela janela
E nunca mais saiu desta morada
Toda casa de taipa abandonada
Guarda um grito de fome dento dela.

Há anos ninguém mais lhe habitou
As paredes internas destruídas
A madeira das portas corroídas
que o cupim do tempo se instalou
A coberta de palha se queimou
O barreiro coberto de favela
A tristeza do cenário nos revela
O quanto a pobreza é castigada
Toda de casa de taipa abandonada
Guarda um grito de fome dentro dela

Mote de : Ademar Macedo
Glosa de: Pedro Fernndes
João Pessoa, 31/05/2008.

Um bom domingo, poeta.












JOSA,
um abraço, poeta!!.
Era assim...

O fumaceiro anuncia
Que chegou o São João
No espaço um foguetão
Deixa um rastro de magia
Um balão se distancia
No ventre da noite escura
Ninguém sabe em que altura
Nem aonde vai parar
De tanto a gente espiar
Com estrelas se mistura


O cheiro de milho assado
Se espalha no terreiro
Um busca-pé bem ligeiro
Ciscando pra todo lado
Um matutinho assustado
Corre pra dentro de casa
Vovô pisava na brasa
Mostrando ao povo o que é
Um homem puro e de fé
Que humildade extravasa.

Depois da fogueira acesa
Roqueira dar estampido
Bacamarteiro atrevido
aponta e com ligeireza
dispara trincando a presa
chapéu quebrado na testa
depois olha pra Ernesta
coração acelerado
ela diz ta aprovado
ele diz ganhei a festa.





Tem pamonha e tapioca
Cocada De amendoim
Doce de coco, alfenim
Batata doce e pipoca
Pé de moleque, paçoca
Tem bolo de macaxeira
Água quente na chaleira
Pra fazer café ou chá
Tem pão-de-ló, mungunzá
Queijo e manteiga caseira.


Toda comida é servida
Sem hora pra o fim da ceia
Depois da barriga cheia
Inda cabe uma bebida
Tem o quentão e batida
De frutas da região
jÁ BEM VARRIDO O Salão
Grita alto o sanfoneiro
Viva Antonio casamenteiro
Viva São Pedro, São João.




Era assim o meu São João
Que jà não existe mais
Costumes das capitais
Invadiram o meu sertão
A música de Gonzagão
Se ouvir é raridade
Tanta criatividade
Sendo substituída
Por música prostituída
Mata a gente de saudade.


João Pessoa, 08/06/2008
Pedro Fernandes

No espaço o sol é o astro rei
Que viaja na BR do infinito
o arrebol é o quadro mais bonito
que em minha vida já presenciei
Com a morada da águia me encantei
Seu tamanho, altura e posição
OH! que ave tão bonita é o pavão
que se orgulha de sua boniteza
No cinema maior da natureza
Tem um DEUS na sua direção.

A cascata que chora noite e dia
Umedece a face da montanha
notívaga a coruja se assanha
encantada com a luz da lua fria
Clareando o cenário em calmaria
Os artistas da mata agora estão
Hospedados sobre a vegetação
Amanhã apresentam outra beleza
No cinema maior da natureza
Tem um DEUS na sua direção.


Glosa: Pedro Fernandes
João Pessoa, 03/07/2008.
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De manhã andar na praia
Pé descalço sobre areia
Contemplar a lua cheia
Branca da cor de cambraia
Uma nuvem forma a saia
Como quem quer escondê-la
Só volto depois de vê-la
Exposta, inteira, despida
Se eu não tivesse essa vida
Pediria a DEUS pra tê-la

Viver sem poluição
Sem o calor do deserto
O que preciso tem perto
Nem precisa condução
Um shop em pé no balcão
Na porrinha sou estrela
Essa fama vou mantê-la
Com ela ganho a bebida
Se não tivesse essa vida
Pediria a DEUS pra tê-la.

Sentar no banco da praça
Sem compromisso marcado
Ficar de papo furado
Olhando o povo que passa
Moçoila cheia de graça
É um prazer conhecê-la
Se não puder convencê-la
Vou lhe deixar comovida
Se eu não tivesse essa vida
Pediria a DEUS pra tê-la.

Mote de: Marcos Ferraz
Glosa de: Pedro Fernandes
João Pessoa, 11/07/2008.


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Um adjunto pra roça
limpa de mato e plantio
do alto para o baixio
só vai quem tem a mão grossa
a água está na palhoça
numa cabaça no chão
e como não tem fogão
sobre trempre queima lata
Só um poeta retrata
as coisas do meu sertão.

Espingarda socadeira
O caçador de rolinha
Espera de manhanzinha
Debaixo da quixabeira
Num espera traiçoeira
É de cortar coração
Se acaso tremer a mão
chumbo se espalha e mata
Só um poeta retrata
As coisas do meu sertão.

Em julho viva Santana
Toda noite uma novena
sendo a cidade pequena
depois do terço tem cana
forró no fim de semana
Tem bacamarte e balão
Um frango vai a leilão
Maior oferta arremata
Só um poeta retrata
As coisa do meu sertão.

Mote de: João...
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Esse banzo me domina
Não há programa engraçado
Fico no quarto trancado
O mau humor se confina
Não saio nem na esquina
E nem dedilho o piano
Desisto de fazer plano
Porque me falta alegria
A sua ausência de um dia
Gera saudade de um ano.

Desaprendo a dar risada
Fico sério carrancudo
Todos notam quando mudo
Fico de cara amarrada
Não piso nem na calçada
Pra não falar com fulano
nem revelar a ciclano
Quanta falta faz Maria
A sua ausência de um dia
Gera saudade de um ano.

Eu não sei ser diferente
Não aprendi disfarçar
Chega a hora do jantar
Espero que você sente
Mas você esta ausente
Sinto n’alma um desengano
Pego um litro de cinzano
Se fossem dois eu bebia
A sua ausência de um dia
Gera saudade de um ano.

Pedro Fernandes, João Pessoa, 11/07/2008.

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É preciso amar pra ser feliz
É preciso estudar pra aprender
É preciso viajar pra conhecer
É preciso encenar pra ser atriz
Só depois da primeira pede bis
para alma olho serve de janela
É preciso ter pavio pra ser vela
Pra colher é preciso que se plante
A morada de Deus é tão distante
Que é preciso morrer pra entrar nela.

Pra viver é preciso correr risco
O relâmpago antecede a um trovão
O morcego se abriga num porão
Vento forte carrega qualquer cisco
Protetor de animais é São Francisco
Divertimento de pião é currutela
Vida fácil só existe na novela
Todo mestre um dia foi estudante
A morada de Deus é tão distante
Que preciso morrer pra entrar nela.

Mote do Poeta; Lima Jr.
Glosa de: Pedro Fernandes

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Certas senas vistas no cotidiano
arrepiam minh’ alma e contamina
bandido que estupra uma menina
patrão que explora o ser humano
Uma família no mar de desengano
Sem trabalho, sem pão e moradia
Perambula pela rua todo o dia
A noite vai dormir sem comer nada
Um menino dormindo na calçada
E um cachorro servindo de vigia

Passa o dia a pedir de porta em porta
ouvir não, já não lhe afeta mais
todo dia é manchete nos jornais
com retrato duma criança morta
se por acaso o frio não suporta
se cobre com jornal que noticia
o crack não perdoa a quem vicia
mesmo assim ele dar uma tragada
um menino dormindo na calçada
e um cachorro servindo de vigia.

Sua cama é de cimento grosseiro
Junto à porta de vidro atrás da grade
A marquise já caiu quase a metade
de dia o seu nome é maloqueiro
pivete, trombadinha, maconheiro
um vira lata que atende por cutia
solidário, lhe acompanha pela via
toda noite essa peça é encenada
um menino dormindo na calçada
e um cachorro servindo de vigia.

Essa farmácia da rua da matriz
Fica aberto somente até às dez
Seus vizinhos são bares e cafés
Ao fecharem, se abre a cicatriz
De uma vida rude, torpe, infeliz
Que amanhece rente a soleira fria
Ao escárnio da vil democracia
Que finge não ser contaminada
Um menino dormindo na calçada
E um cachorro servindo de vigia.

Mote de: Clóris.
Glosa de: Pedro Fernandes
João Pessoa, 12/07/2008.

Um abraço, poeta !!!


Se o São João não foi bom
Seja feliz em Santana
Os laços que nos irmana
É canal que escorre som
Às vezes se erra o tom
Desvirtua a melodia
se de nós não dependia
A vida é a maestrina
Com sua batuta afina
Refazendo a harmonia.

Cantar é o seu destino
Poesia é seu produto
Como seu fã eu refuto
Seu silêncio repentino
Puxe o badalo do sino
Espante a chateação
A luz da animação
Precisa ficar acesa
Se despeça da tristeza
Entoando uma canção.

Na orquestração da vida
Cada um tem seu papel
Do soldado ao coronel
A caserna é assistida
Se uma pessoa querida
Sopra desobediência
Arca com a conseqüência
Porque o código é assim
Ninguém vai pagar por mim
Nem no caso de amência.

João Pessoa, 13/07/2008
Pedro Fernandes





Mote do poeta Lima Jr.

Sua presença pra mim é refrigério
Sua imagem me serve de colírio
O sussurro da voz leva ao delírio
Seu corpo do amor é um império
Sua ausência produz em mim cautério
O crepúsculo vai mais cedo acontecer
esperando logo mais amanhecer
e nosso ninho de amor vir clarear
Sou capaz de pedir para cegar
Se olhar para o mundo e não te ver

Alimento minh’alma com seu gesto
O seu cheiro embriaga a minha mente
Quero ser seu amante eternamente
E pra isso hoje aqui me manifesto
Para tal eu transpus pântano funesto
Obstáculos mortais pude vencer
Para tê-la em meus braços e lhe dizer
Do langor que eu sinto ao lhe beijar
Sou capaz de pedir para cegar
Se olhar para o mundo e não te ver.

A influência que borrifas sobre mim
Qual orvalho asperso sobre a flor
Não altera o perfume nem a cor
Da begônia, Camélia ou do jasmim
És a aura de um anjo querubim
Que caminha comigo a proteger
Não há mal que me possa acontecer
Sua presença não posso diespensar
Sou capaz de pedir para cegar
Se olhar para o mundo e não te ver.

Mote do Poeta: Lima Jr.
Glosa de: Pedro Fernandes
João Pessoa, 16/07/2008.

Um abraço, poeta!!!

Um fato até curioso
Que a mim não incomoda
Não me adaptei a moda
Pintando o couro piloso
Vovô era caprichoso
Papai lhe acompanhava
Até no nome imitava
e jurou que ia mantê-lo
Hoje vejo o meu cabelo
Da cor que papai usava

No salão da natureza
A cabeleireira é cega
Primeiro vem e esfrega
Qualquer cor que dar beleza
Só depois vem a surpresa
Dessa cor não repintava
E um pote branco pegava
pintava mesmo sem vê-lo
Hoje vejo o meu cabelo
da cor que papai usava.

Obedecendo a genética
Eu carrego essa herança
Convivi desde criança
Nessa natureza ética
sem camuflar na cosmética
consciente que mudava
a mão de Deus me pintava
Cada fio com mais zelo
Hoje vejo o meu cabelo
Da cor que papai usava

Mote: Hugo Araújo
Glosa de: Pedro Fernandes
João Pessoa, 15/07/2008.

Dia dos pais
Pedro Fernandes de Araújo

Pai saía pra roça bem cedinho
Eu só ia mais tarde, com preguiça
arrancando os pés de hortaliça
dos pomares da beira do caminho
no percurso espantava passarinho
que na sombra da cerca descansava
quando a pedra zunia ele voava
eu olhava pra ver qual direção
outra pedra com jeito e atenção
a minha baladeira eu carregava.

E assim eu seguia pela estrada
Não fechava colchete nem cancela
Calça curta, sem camisa, de chinela
Quando via que a hora era avançada
Aumentava a freqüência da passada
Que a marmita no saco balançava
E o caldo do feijão se derramava
A água da cabaça já bem quente
Eu criava uma estória comovente
Pai dava entender que acreditava

Retornando no horário vespertino
Só chegava em casa com o sol posto
A expressão serena do seu rosto
contava a minha mãe meu desatino
Não castigue nem bata no menino
O Diálogo consolida a confiança
Pai num gesto sublime de bonança
Segurava entre as mãos minha cabeça
Eu também já fiz isso, não esqueça
Peraltice é normal quando criança

Pai me deu seu voto de minerva
Toda vez que eu errei de atitude
Me dizia é bom que você mude
Um homem responsável se preserva
Onde chega com respeito se conserva
Saiba entrar e sair com altivez
Seja homem responsável, mas cortês
Nunca minta, não roube, nem se humilhe
Espero que um dia você brilhe
Com propósito, talento e honradez.

Como pai eu não sou nem a metade
Do que foi o meu pai na paciência
Quando um filho me vem com insistência
Dizer não, castigar me dar vontade
Desisto quando inverto a minha idade
E Começo meu passado resgatar
A voz suave de papai a me falar
Fecho os olhos, conselhos vou ouvindo
Abro os olhos me pego repetindo
Que vontade papai, de lhe abraçar

Na viagem do tempo ao infinito
Embarquei assistindo aquele exemplo
Eu morei numa casa que era um templo
Sem imagem nem púlpito de granito
O que eu vi foi um gesto tão bonito
De amor, tolerância e harmonia
A página do diálogo se abria
se conflito o equilíbrio ameaçasse
quem tiver seu pai vivo lhe abrace
dia dos pais não é hoje, é todo dia.
Um abraço poeta!!!

Fui lá no Tejuaçú
Lugar onde me criei
Não me contive, chorei
Na sombra do pé de umbu
Não vi mais gado zebu
Nem cavalo, nem gibão
Sem jequi e sem mourão
Calou-se a voz do vaqueiro
Voltei pra sentir o cheiro
Das terras do meu sertão.

Menino, pastorei gado
Botei capim, Cortei palma
Trago gravadas na alma
as tarefas do roçado
meu ombro era calejado
de botar água em galão
era minha obrigação
encher os potes primeiro
voltei pra sentir o cheiro
das terras do meu sertão.

No período de moagem
Que durava uma semana
Ajudava moer cana
Mostrando minha coragem
Eu guardo viva a imagem
Dos dois bois na rotação
Tangidos por meu irmão
Que sonhava ser carreiro
Voltei pra sentir o cheiro
Das terras do meu sertão.

Mote: Jonas de Antonio de Hilário
Glosa: Pedro Fernandes
João Pessoa, 13/08/208.

Desde cedo aprender a tanger gado
pastorar e levar para o curral
tirar leite é tarefa matinal
sua escola primeira é o roçado
sem preguiça ele cresce acostumado
inicia o plantio logo em janeiro
se anima quando ver o nevoeiro
anunciando que prestes vai chover
tem que ser nordestino pra saber
dá valor ao nordeste brasileiro.

É honesto, valente e prestimoso
paciente, solidário, alegre e bom
recebem de Deus o grande dom
de poeta, sensível atencioso
No que faz é sempre caprichoso
agricultor, tangerino e bom vaqueiro
aboiador, repentista, zabumbeiro
E tocando a sanfona dá prazer !
tem que ser nordestino pra saber
dá valor ao nordeste brasileiro.

Tres figuras nasceram nesse chão
E fizeram bonito em todo canto
O maestro Sivuca é um espanto
Jackson do pandeiro e Gonzagão
Foi o rei que inventor o baião
Sua herança pra todo sanfoneiro
Se o forró toca no Brasil inteiro
É à Luiz que se deve agradecer
Tem que ser nordestino pra saber
Dá valor ao nordeste brasileiro.

Mot:Berenildo

Técnica até hoje não surgiu
Que possa nossa mente decifrar
Hipnose não deu pra enxergar
Ressonância magnética não serviu
Ultrassom também não descobriu
O que dentro da mente acontece
A idéia vem do nada e aparece
Outra idéia demora uma semana
É indecifrável a mente humana
Só o perfil do poeta estabelece
(Pedro Fernandes)

Cantarola a linda camponesa
Na cabeça a rodilha, a lata d’água
Um vestido de chita sem anágua
Todo dia percorre sem tristeza
O percurso de casa pra represa
Passa a vida refém duma ilusão
Esperando a volta de Simão
E ter filho depois do casamento
ver menino montado num jumento
estampada na bandeira do sertão

O terreiro da casa bem varrido
Que Parece uma quadra de esportes
um magote de meninos muito fortes
Cada um nessa casa foi parido
A roceira possui um só marido
Pra ter mais é preciso a condição
Ser viúva, ou por separação
D’ outro jeito não quebra o juramento
Ver menino montado num jumento
Na paisagem Bucólica do sertão

O carro de boi está sem fueiro
A forquilha escorando o cabeçote
A brocha prende o boi pelo cangote
Mas agora estão soltos no basseiro
Ficam todos em baixo d’umbuzeiro
Sem atrito do eixo com o cocão
A inércia das rodas sem tração
O silêncio é a forma de lamento
Quatro latas, a cangalha e o jumento
Estampadas na bandeira do sertão

Pedro Fernandes












Lembo a crença que havia
Que o arco-íris sugava
o nevoeiro secava
E por isso não chovia
Pra cortar essa magia
Procurava pelo chão
Três pedras pra formação
Duma pirâmide mal feita
O arco-íris se deita
Na paisagem do sertão.

Poeta é um sonhador
A natureza lhe encanta
À tarde no céu Deus Planta
um fenômeno multicor
Seja de que ângulo for
Comparo essa aparição
Um diadema grandão
Que a face da serra enfeita
O arco-íris se deita
Na paisagem do sertão.

A formiga corta a folha
Um tiziu solto dá pulo
A lagarta num casulo
Com o formato de bolha
Depois não terá escolha
Na mágica transformação
Mostrando admiração
À borboleta perfeita
O arco-íris se deita
Na paisagem do sertão

Mote de: Fátima Marcolino
Glosa de: Pedro Fernandes – João Pessoa. 22/07/2008.

O espelho impassível me revela
Com estou depois da mocidade
Não quero acreditar mas é verdade
Em cada cicatriz uma seqüela
Fico sério a expressão se congela
Se rio mostra a falta de pujança
O queixo dividido se balança
Dois riscos meu pescoço rodeou
A navalha do tempo retalhou
Minha face rosada de criança.

Se eu pudesse mantinha a aparência
O vigor dessa tez com formosura
O viço da pele, e essa candura
E os traços expressando inocência
Inexistia qualquer eflorescência
Não deixava ferir-lhe qualquer lança
Com o destino faria uma aliança
não mostrar as rugas que criou
A navalha do tempo retalhou
Minha face rosada de criança.

Vejo sulcos assimétricos espalhados
Das maçãs do meu rosto para a testa
Quando o trem da vida desembesta
Marcando passageiros embarcados
Os que não resistirem, são jogados
Para fora do vagão que não alcança
A estação da velhice onde se cansa
Com o peso da bagagem que juntou
A navalha do tempo retalhou
Minha face rosada de criança.

Pedro Fernandes.







Minha classe social
Bem diferente da sua
Voce morando na rua
E eu na zona rural
A diferença abissal
pra um pebleu sonhador
Sem culpa da minha cor
com sentimento antagônico
Mil perdões se fui platônico
Em sonhar com seu amor.

Eu sonhei até o dia
que me enchi de coragem
E caprichei na linguagem
pra dizer que lhe queria
o meu balaio de alegria
virou contêiner de dor
seu desdém arrasador
me deu um não tão lacônico
mil perdões se fui platônico
em sonhar com seu amor.

Eu escrevi um poema
Com uma nódoa de mágoa
o tempo que tudo enxágua
mas desbota quem blasfema
rejeição sempre foi tema
que maltrata o cantador
fui salvo por benzedor
com chá de pó amazônico
mil perdões se fui platônico
em sonhar com seu amor.

Mote: Wellington Vicente
Glosa: Pedro Fernandes
João Pessoa, 27/08/2008 – Dia do Psicólogo

Eu não creio na pessoa
que não se apega ao seu chão
nem abra seu coração
para as lembranças das "boa"
dos balanços de canoa
um copinho de geleda
de tardezinha a pelada
no oitão de Dona Diva
no mundo não há quem viva
sem ter saudades de nada.

Tomar um "rabo de galo"
pra queimar uma caieira
tome fogo a noite inteira
chega a lenha dava estalo
Rezava pra São Gonçalo
pra ter êxito na queimada
e no fim da madrugada
mãe sentava pensativa
no mundo não há quem viva
sem ter saudades de nada.

Os irmãos com quem brinquei
tomando banho em riacho
Tantas pitombas no cacho
que sorrateiro eu tirei
mangas maduras chupei
tanto rosa como espada
camisa toda melada
e fiapos na gengiva
no mundo não há quem viva
sem ter saudades de nada.

Mote do poeta: Zé Vicente
Glosa: Pedro Fernandes - João Pessoa, 29/08/2009.

Um abraço, Marcos Maia, grande poeta !!


Alô poeta !!! Veja esse mote de Fátima Marcolino!!!

A sua falta é sentida
Do nascer ao por do sol
A noite sem seu farol
Fica mais escurecida
Foi muito triste a partida
Porque nem se despediu
Meu peito uma dor sentiu
Com tamanha intensidade
Voce não mede a saudade
Que deixou quando partiu.

A cada dia que passa
cuias de lágrimas se lançam
Dos olhos que não se cansam
De fazer uma devassa
Na sua foto, que a traça
Boa parte destruiu
De furos fez bem uns mil
Só tá visível a metade
Voce não mede a saudade
Que deixou quando partiu.

Meu caçuá de lembrança
Pesa dez vezes meu peso
No meu lombo ele vai preso
Mas carregá-lo não cansa
Nesse passo de dança
minha mente admitiu
Aquele silencio que ouviu
Vinha da eternidade.
voce não mede a saudade
que deixou quando partiu.

Mesmo noutras dimensões
O que sinto voce sente
Porque há uma corrente
Transmissora de emoções
Liga nossos corações
Que se energizam sem fio
O amor não diminuiu
pela invisibilidade
Voce não mede a saudade
Que deixou quando partiu.

Glosa de : Pedro Fernandes
João Pessoa, 02/10/2008.

Saudações poéticas, Josa.

Criança é ingenuidade
Símbolo nobre de pureza
semente que a natureza
semeia na humanidade
sem manchas de vaidade
sem orgulho, ódio ou rancor
suave como uma flor
perfumada do jardim
foi Deus que a fez assim
anjo fonte de amor !!

Pedro Fernandes
O bolso cheio de bola
de gude para jogar
um alçapão pra pegar
a patativa de gola
e lhe prender na gaiola
ouvir seu canto dolente
eu também era inocente
sem culpa do que fazia
Oh meu Deus como eu queria
ser criança novamente.

Apelidava seu Chave
chamando-o de caboré
ele tirava o boné
corria atrás com a trave
nao era uma falta grave
Depois que ficou doente
Tão saudoso como a gente
chorava quando me via
Oh meu Deus como eu queria
ser criança novamente

Rodar pinhão na ponteira
brincar com vaca de osso
E tomar banho no poço
amossegar jardineira
na subida da ladeira
sem temer um acidente
Gritar em culto de crente
E pela janela cuspia
Oh meu Deus como eu queria
ser criança novamente.

Uma vizinha enjoada
trouxe feijão do roçado
e num dia ensolarado
espalhou pela calçada
para não ser espalhada
tocalhava atentamente
gritou comigo somente
porque por cima eu corria
Oh meu Deus como eu queria
ser criança novamente.

No mês de senhor São João
Eu carregava a roqueira
Juntava uma cabroeira
Comandava o pelotão
Pra ir até o oitão
De Dominga impaciente
cada pipoco extridente
com medo ela se benzia
Oh meu Deus como eu queria
Ser criança novamente.

O tempo é uma moenda
Que tudo na vida esmaga
O tempo bom ele apaga
no tempo ruim ele emenda
mas é pra que se aprenda
ser um Ser mais consciente
Saber que a vida é presente
E agradecer todo dia
Oh meu Deus como eu queria
Ser criança novamente.

Pedro Fernandes.
João Pessoa, 12/10/2008.
Hoje é dia do poeta
Esse ser puro sensível
Que enxerga o invisível
Com sua rima discreta
Sonha, delira, vegeta
Se sente dor anuncia
Mas chora de alegria
Na religião do verso
Declama pra o universo
No templo da poesia.

No pilar do sentimento
Ele edifica o poema
os afagos de Iracema
lhe servem de linimento
À noite, a lua e o vento
Despertam nele a saudade
Fere a sensibilidade
E faz brotar da ferida
buquê de rima florida
perfumando a humanidade.

Seu mundo é a natureza
O amor é seu garimpo
O sertão é seu olimpo
É diplomado em pureza
Seu patrimônio a pobreza
A vida é a sua escola
Seu instrumento a viola
Inspiração seu diploma
Divino dom, ninguém toma
Se fracassa, Deus consola.

Pedro Fernandes – João Pessoa, 20/10/2008.

Parabens pelo dia do poeta, poeta Josa.

Um abração.



Dia de finados

Mal havia o sol nascido
Vem o coveiro abre a porta
é seu jardim, sua horta
cada palmo é conhecido
já tinha pintado, varrido
essa lixeira de gente
por cima tão reluzente
mas por baixo putrefata
tanto faz um magnata
como um ser pobre indigente.

Eu fui visitar a cova
Onde sepultaram pai
Um pingo de vela cai
No pé da cruz semi nova
As flores servem de prova
De quem lhe tinha amizade
Sentei-me no pé da grade
Ouvia o povo rezando
Meus olhos iam minando
Duas lágrimas de saudade.

Vi uma mãe que chorava
Encostada num jazigo
Na mão um retrato antigo
do filho que tanto amava
a cada olhada que dava
Um soluço escapulia
O seu olhar traduzia
Saudade, dor, sofrimento
seu véu tremulava ao vento
como quem se despedia.

Um cruzeiro de granito
No centro do campo santo
Uma viúva com um manto
Reza um pai nosso contrito
Outra puxando um bendito
Uma mocinha com um véu
Os homens tiram o chapéu
Em respeito ao ambiente
O sol passa indiferente
Na passarela do céu.

Um viúvo ajoelhado
Escorado numa cruz
“fumo” no bolso conduz
Revela o luto guardado
Olha a cruz resignado
Se ver que por dentro chora
Mascara o pranto por fora
Reza a oração final
Conclui no pelo sinal
Se levanta e vai embora.

Com três anos de idade
Criança brinca, contente
Sua atitude inocente
Nos braços da orfandade
Sem noção da eternidade
Diz: mamãe foi viajar
Esperando ela voltar
Pensa que a mãe se esconde
Lhe chama,ela não responde
Com medo põem-se a chorar.

Era um dia de finados
Visitas ao cemitério
No chão que guarda mistério
Onde corpos transformados
os ossos são misturados
Fêmur, ilíaco, patelas
Escápula, ulnas, costelas
Tíbias, rádios, perônios
Vértebras e diversos crânios
Quem seriam donos delas?

É neste ambiente hostil
Fúnebre, sombrio e triste
Só flor de saudade existe
Ao seu redor reuniu
Quem a mesma dor sentiu
Em níveis tão variados
Pais, mães, filhos amados,
Irmãos, esposas, maridos
juntos choram comovidos
Hoje é dia de finados.

Pedro Fernandes de Araújo.






Tomei leite de jumenta
mãe queria me ver forte
no pescoço pra dar sorte
uma medalhinha benta
me banhei n'água barrenta
no período do verão
eu temperava o feijão
só com pimenta de cheiro
Eu fui menino roceiro,
nas quebradas do sertão.

De manhã ia à escola
pedalando uma magrela
o lanche era mortadela
com suco de graviola
no recreio jogava bola
na volta com meu irmão
sempre tinha discussão
quem ia no bagageiro
Eu fui menino roceiro
nas quebradas do sertão.

Ia com pai pra o roçado
quando a chuva começava
enquanto ele cavava
eu plantava com cuidado
o grão de milho contado
quando jogava no chão
completava a plantação
cobrindo a cova ligeiro
eu fui menino roceiro
nas quebradas do sertão.

Mote: Abel Araújo
Glosa: Pedro Fernandes.

Um abraço, poeta.





Me alimento de lembrança
Me divirto no delírio
Misturo lágrima e colírio
No colo da esperança
A rede que me balança
leva à ociosidade
ouço a voz da liberdade
dizendo não se isole
todo dia bebo um gole
da cachaça da saudade.

Viajo num nevoeiro
Com destino ignorado
Sedento e amargurado
Sem amor e sem dinheiro
Sempre acho um companheiro
Com a mesma enfermidade
No brinde da lealdade
O nome dela escapole
Todo dia eu bebo um gole
Da cachaça da saudade.

Todo dia eu vou na rua
Do bairro onde ela morava
E nosso encontro se dava
Só na presença da lua
Hoje essa ausência sua
É fonte de ansiedade
Outra ofertou-me amizade
Eu respondi não me amole
Todo dia eu bebo um gole
Da cachaça da saudade.

Mote: Raphael Mour
Glosa: Pedro Fernandes.

O juiz: a consciência
O réu: é esse poeta
A vítima: paixão secreta
O crime: pura insistência
Atenuante: a inocência
De um boêmio apaixonado
Que hoje vive calado
seu remorso é o promotor
No tribunal do amor
Sou o réu e sou culpado.

O fogo da mocidade
Queima as páginas da razão
Me fez cometer traição
Pra alimentar vaidade
Na frivolência da idade
A induzi ao pecado
Depois que foi consumado
me senti um vencedor
No tribunal do amor
Sou o réu e sou culpado.

Quando casei com Estela
Lhe jurei amor eterno
Sob o rótulo de moderno
Arranjei outra além dela
Num folhetim de novela
Sem script decorado
Errei por ter misturado
O artista com o autor
No tribunal do amor
Sol o réu e sou culpado.

Mote: Josemar Rabelo
Glosa: Pedro Fernandes.
João Pessoa, 25/11/2008.

Poeta, eis o que pude produzir.
Um abração.

O ano velho se finda
O ano novo começa
No “reveion” se despeça
Numa cerimônia linda
Que seja a “era” bem-vinda
Trazendo paz, união
Na terra passe um borrão
E apague toda tristeza
Que castigou a pobreza
Sofrida do meu sertão.

Esse povo humilde e forte
Não pede presente caro
Mas precisa de amparo
Das armadilhas da sorte
A seca, arena da morte
Mina sua resistência
Os ladrões de consciência
Na alma lhe deixa mágoa
Lhe negam direito à água
Tiram sua independência.

Deus pode dar um jeito
Atendendo esse pedido
Que seja um ano chovido
Mas de inverno perfeito
O rio correr no leito
Sem a ira da enchente
ver prosperar a semente
Satisfazendo esse povo
Que espera do ano novo
Boa safra de presente.

Pedro Fernandes - João Pessoa, 28/12/2008.

Voce subiu na calçada
espiou pela janela
como o rastro revela
não adentrou na morada
não chamou, nem disse nada
como quem quer e não quer
se outra chance tiver
do terreiro voce grita
eu agradeço a visita
e volte quando quiser.

Um abração, poeta!!!