POETA LIMA JÚNIOR
Bem nos restos de saudade
Que se encontram no
meu rosto
Há marcas da
mocidade
Misturadas com o
desgosto.
Tal e qual um cigarro
exposto ao vento
Vejo as horas
tragando minha vida,
E a cinza de cada
sentimento
Soterrando o
instante da partida.
No consumo da alma,
opaquecida
A matéria vestida
de tormento,
E o desejo abismal
de um suicida
É somente a bebida
do momento.
Quando o sol, se me dá de tal
grandeza
Eu percebo os encalços da tristeza
Feito sombra, na minha companhia.
Com a sorte mesquinha de um cativo,
Ouço a morte dizendo que estou vivo
E eu perdendo uma vida a cada dia.
Lima Junior
Beijo se oferta de graça
Mas, quem recebe
este bem,
Querendo agradar
com outro
A quem o deu, mesmo
sem
Nada ter cobrado em
troca
Faz grande oferta
também.
Lima Junior
Quantos risos, após o
“paraíso”
Quando ao corpo, à
mudez despe os desejos!
Quantos gritos da
alma calam beijos
E gemidos de “dor”
que emitem o riso!
Da paixão, sou só
vinga e enraízo
No teu solo de
amor, que me enobrece.
Quanto mais tempo
usamos, mas nos cresce
Deste tempo, o
desejo que mais dure,
E o sangue da gente
se misture
Com a raiz do amor,
pra ver se cresce!
Lima Junior
''Ao bater a saudade,
evite o bar
Uma dor não se cura
com lamentos
Quem com álcool
irriga os sentimentos
Na colheita do
fruto irá penar.
Até mesmo quem
cansa de jurar
Quebra a jura,
enlouquece perde a paz
O orgulho adotado
se desfaz
Fecha um corte,
mais abre uma ferida
Não misture saudade
com bebida
Que quem bebe roendo, vai atrás.''
Lima Junior
Se não sou como és e nem
pareça
Com a forma que
tens, talvez encaixe,
Porque peças
iguais, por mais que se ache
São difíceis montar
quebra-cabeça.
Diferença não há,
que permaneça
Quando a mesma
visão é partilhada.
Se são dois, os
sentidos da estrada
Bem no meio se
juntam cada via,
E se as semelhanças
fossem o guia
Era um cego atrás
doutro sem ver nada.
Lima Junior
Cinco horas da tarde mãe
fervia
Um café lá no nosso
casarão
Aromático o café
“morto” em pilão
Visitava os dez
vãos da moradia.
Mesa posta, família
e alegria
Mãe servia o café
com brevidade,
Foi-se tempo e esse
cheiro ainda invade
Feito nódoa do
tempo que não sai
Cai a tarde, o sol
desce, o dia vai
Nasce a noite no
colo da saudade.
Desfalece o sol e o céu parece
Um altar reservado pra Maria
Bem distante uma nuvem vela o dia
No silêncio enlutado de uma prece.
Deus visita um casebre e permanece
Quando a fé de quem ora, tem verdade
Toda casa é altar de santidade
Pra quem curva o joelho diante o Pai.
Cai a tarde, o sol desce, o dia vai
Nasce a noite no colo da saudade.
Paira a fé no olhar da rezadeira
Que desfia o rosário conta a conta,
E num velho vaqueiro que desmonta
Do cavalo, bem perto da cocheira.
A fumaça da velha carvoeira
Sobe ao céu procurando eternidade
E uma vela queimada na metade
Se desgasta na “fé”, some e não cai.
Cai a tarde, o sol desce, o dia vai
Nasce a noite no colo da saudade.
Poeta Lima Júnior