JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

domingo, 3 de novembro de 2013

POETA DA SEMANA

DEDÉ MONTEIRO

POESIA: Dedé Monteiro, um baú de poesias

Reações: 
José Rufino da Costa Neto, Dedé Monteiro, nasceu no sitio Barro Branco de Tabira/PE, no dia 13 de setembro de 1949. É filho de Antonio Rufino da Costa e de Olivia Pires da Costa.
Começou a escrever versos aos 15 anos de idade, influenciado pelo pai (que cantava cordéis, enquanto trabalhava na roça), pelos vencedores de folheto de feira e pelo violeiros nordestinos.
Publicou três livros de poesia: Retratos do Pajeú, em 1984; Mais um baú de retalhos, em 1995; e Fim de feira, em 2006.
Mestre da poética pajeuzeira, Dedé foi citado ou teve poemas seus publicados em: Na senda do lirismo – de Jô Patriota (1984); Tabira e sua gente – de Nevinha Pires (1995); Cantadores, prosas sertanejas e outras conversas – de Zé Marcolino (1987); Dicionário bibliográfico de poetas pernambucanos, de Lamartine Morais (1993); Tabira, histórias e estórias – de Nevinha Pires (1998); poetas encantadores – de Zé de Cazuza (2001); Pinto Velho do Monteiro, o maior repentista do século – de Ivo Mascena (2002); Lourival Batista Patriota – de Ivo Mascena (2004); As curvas do meu caminho – de Manoel Filó (2004); Pinto do Monteiro, um cantador sem parelha – de Joselito Nunes (2006); Amores perfeitos na beira do mar, coletânea de galopes à beira-mar que organizei (2007) e Palavras ao plenilúnio – de João Batista de Siqueira (Cancão) – organização de Lindoaldo Vieira Campos Júnior (2007).
Atualmente, Dedé, professor aposentado, escreve poesias e é, conforme diz, motorista de Teté (sua esposa), servente de pedreiro para o poeta Gonga (seu irmão) e serve de ‘macaco’ para seus netos Paulo Henrique e Maria Paula.



Soneto: 
Dupla Estiagem

Quando Deus manda, lá por seus motivos,
Dois anos secos para os sertanejos,
Se os mesmos anos são consecutivos,
Tombam por terra todos os desejos.

Pelas estradas, tristes, pensativos,
Vão-se arrastando, como caranguejos,
Milhares desses pobres semi-vivos,
Deixando a vida sobre seus rastejos.

A nossa terra, que com chuva é rica,
Faltando a mesma, desprezada fica,
Tombando a seca sobre os ombros nus.

O sol resseca todas as alfombras
E os bichos brutos vão procurar sombras
Nas sombras magras dos mandacarus.

( Dedé Monteiro - 1979)

UMA DÉCIMA

 É nesse tempo, também, 
Que faz seus primeiros versos,
Que estão por aí afora,
Extraviados, dispersos...
Versos simples e inocentes,
Que só mostrava aos parentes,
Gente de fora não via...
Mostrava aos de casa, sim,
Porque parente é assim:
Aplaude até porcaria.  [...]



FIM DE FEIRA

O lixo atapeta o chão
Um caminhão se balança
Quem vem de fora se lança
Em cima do caminhão
Um ébrio esmurra o balcão
No botequim da esquina
O gari faz a faxina
Um cego ensaca a sanfona
E um vendedor dobra a lona
Depois que a feira termina.

Miçanga, fruta, verdura,
Milho feijão e farinha,
Bode, suíno, galinha,
Miudeza, rapadura.
É esta a imagem pura
De uma feira nordestina
Que começa pequenina,
Dez horas não cabe o povo.
E só diminui de novo
Depois que a feira termina

Na matriz que nunca fecha
Muito apressado entra alguém
Mas sai vexado também
Se não o carro lhe deixa
O padre gordo se queixa
Do calor que lhe domina
E agita tanto a batina
Quem que vê fica com pena
Toca o sino pra novena
Depois que a feira termina.

A filhinha do mendigo
Sentada a seus pés, num beco,
Comendo um pão doce seco
Diz: papai, coma comigo.
E o velho pensa consigo
Meu deus, mudai sua sina
Pra que minha pequenina
Não sofra o que eu sofro agora
Ria a filha, o velho chora
Depois que a feira termina.

Um pedinte se levanta
Da beira de uma calçada
Chupando uma manga espada
Pra servir de almoço e janta
Um boi de carro se espanta
Se o motorista buzina
Um velho fecha a cantina
Um cachorro arrasta um osso
E o pobre “assa vessa” o bolso
Depois que a feira termina

Um camponês se engana
Chega atrasado na feira
Não compra mais macaxeira,
Nem batata, nem banana
Empurra a cara na cana
Pra esquecer a ruína,
Arroz, feijão, margarina,
Açúcar, óleo, salada,
Regressa e não leva nada
Depois que a feira termina

No açougue da cidade
Das cinco e meia em diante
Não tem um pé de marchante
Mas mosca tem com vontade
Um faxineiro abre a grade
Tira uma mangueira fina
Rodo, pano, creolina,
Deixa tudo uma beleza
Mas só começa a limpeza
Depois que a feira termina

E o dono da miudeza
Já tendo fechado a mala
Escuta o rapaz que fala
Do outro lado da mesa:
- Meu senhor, por gentileza,
O senhor tem brilhantina?
Ele diz com voz ferina:
- Aqui na mala ainda tem
Mas eu não vendo a ninguém
Depois que a feira termina

Um jumento estropiado,
Magro que só a desgraça,
Quando vê que a feira passa
Vai pra frente do mercado
O endereço ao danado
Eu não sei quem diabo ensina
Eu só sei que baixa a crina
Entre as cinco e as cinco e meia
Lancha, almoço, janta e ceia
Depois que a feira termina.


A PORCA PRETA PELADA



Dedé Monteiro

No dia em que eu me casei
Ganhei uma bacorinha.
Era preta e peladinha,
Com muito gosto a criei.
Cresceu tanto que eu nem sei
discriminar a cevada.
Assombrava a meninada
Com seu tipo de gigante!
Parecia um elefante
A porca preta pelada.


Todos tinham medo dela,
Mas ela era tão mansinha
Que eu fiz uma cangalhinha
Pra carregar coisa nela…
Depois comprei uma sela
E a bicha deu de tacada:
Aprendeu toda passada,
Sem ser preciso ensinar…
Todos queriam comprar
A porca preta pelada.

 
Mas eu não vendia não.
Podia vir ouro em pó
Que eu não dava um mocotó
Da bicha por um milhão!
Um dia um rico ancião
Chegou na minha morada
Com uma vaca raçada,
Me cantou pra fazer troca,
Mas eu disse: é de maroca
A porca preta pelada.


O tempo se foi passando,
A fama dela crescia:
Eu estava almoçando um dia
E, quando estava almoçando,
Ouvi um carro zuando,
Saí pra ver da calçada,
Vi o carrinho na estrada,
Dele o prefeito descer
Dizendo: ‘eu vim só pra ver
A porca preta pelada…’


Tudo ia correndo certo,
Mas um dia aconteceu:
Quando o dia amanheceu
Procurei-a e não vi perto…
E, vendo tudo deserto,
Disse: ‘a bicha foi roubada…’
Mas achei a condenada
Na roça de Pedro Mudo.
Estava acabando tudo
A porca preta pelada



Tudo que o Pedro cobrou
Paguei sem fazer questão:
Notei que tinha razão,
Pois quase nada ficou…
E ela não se conformou,
Foi lá outra madrugada;
Dessa vez não deixou nada,
Carregou tudo na pança…
Era um ‘esmeril de França’
A porca preta pelada.


De outra feita fez um oco
Na roça de Tia Zefa:
Comeu quase uma tarefa
De jerimum de ‘caboco’…
Derrubou dez pé de coco,
Cada um de uma dentada…
E titia aperreada
Com essa terrível arte,
Quis matar de bacamarte
A porca preta pelada.


Paguei todo o prejuízo,
Depois chamei um pedreiro,
Mandei fazer um chiqueiro
Do jeito que era preciso.
Gastei até ficar liso,
Mas ela ficou trancada,
Tia ficou sossegada,
Eu sossegado fiquei,
Porque nunca mais soltei
A porca preta pelada.


Já fazia um ano e meio
Que a suína estava presa,
Quando uma rude tristeza
Quase aniquilar-me veio.
Foi grande o meu aperreio:
Ela amanheceu deitada,
Sem comer, acabrunhada…
Fui ver o que tinha sido,
A cobra tinha mordido
A porca preta pelada.


Mandei logo um portador
Chamar Seu Zeca Toinho,
Ele foi num minutinho
E trouxe o tal curador.
Este me fez um favor
Que eu não pagarei com nada:
Deixou a bicha curada,
Nunca vi reza tão forte!
Tirou das garras da morte
A porca preta pelada.


Aí gastei mais dinheiro
Pra dar proteção a ela:
Comprei dez metros de tela,
Dessa de fazer viveiro.
Cobri de tela o chiqueiro,
Não deixei brecha pra nada.
A tela era tão fechada
Que não passava nem grilo.
Então fui cevar tranqüilo
A porca preta pelada.


E para recuperar
Todo aquele dinheirão
Adquiri um barrão
Para com ela cruzar.
E, para a estória encurtar.
Apareceu a ninhada!
Até que sei tabuada,
Mas quase que não contava…
Todo mundo admirava
A porca preta pelada.


Ao todo eram trinta e três,
De robusto a mais robusto!
Com um mês, causavam susto:
Já pareciam ter seis…
‘Enriqueci’ de uma vez
Na venda da bicharada:
Vendi a cem contos cada,
Enchi os bolsos contente
E fui cevar novamente
A porca preta pelada.


Inda deu mais sete crias,
Cada qual mais numerosa
Ficou mais do que famosa,
Me deu milhões de alegrias!
Mas também deu-me agonias:
Morreu de velha,  coitada…
Hoje só resta a ossada
Da rainha dos suínos,
Assombração dos meninos,
A porca preta pelada.


Tabira, 1970

RECEITA DA SEMANA

 COMIDAS TÍPICA DA PARAÍBA

 Receita de Chambaril

Chambaril

Ingredientes da Receita de Chambaril

4 fatias de músculo com osso (ossobuco)
1/4 colher (chá) de cominho em pó
1/4 colher (chá) de pimenta do reino
2 tomates grandes sem sementes, picados
4 colheres (sopa) de coentro picado
2 colheres (sopa) de cebolinha verde picada
6 xícaras de água
Sal a gosto

Pirão:
1/2 xícara de farinha de mandioca fina
4 xícaras do caldo de cozimento do músculo.

Como Fazer Chambaril

Modo de Preparo:
Na panela de pressão, coloque o músculo, cominho, pimenta, tomates, coentro, cebolinha, cubra com água, tampe, leve ao fogo alto, deixe ferver, abaixe o fogo, cozinhe por cerca de 50 minutos ou até o músculo ficar macio.
Pirão:
Em uma panela, coloque 4 xícaras do caldo do cozimento (complete com água quente, se for necessário), leve ao fogo alto, acrescente a farinha de mandioca aos poucos, mexendo sempre para não empelotar e cozinhe, até obter um pirão homogêneo.

FILME DA SEMANA







  • Sinopse
    Pela primeira vez na história, um filme retrata, com fidelidade, lógica e respeito, a reencarnação, tema de interesse de milhões de pessoas em todo o mundo. Baseado em fatos reais relatos no livro autobiográfico de Jenny Cockell, Minha Vida na Outra Vida conta a história de Jenny, uma mulher do interior dos Estados Unidos, que tem visões, sonhos e lembranças de sua última encarnação, como Mary, uma mulher irlandesa que faleceu na década de 30. Intrigada, Jenny sai em busca de seus filhos da vida passada. Tem início uma jornada emocionante. Jenny é magistralmente interpretada pela renomada atriz Jane Seymour, de Em Algum Lugar do Passado. Só, que desta vez, não se trata de ficção, mas de realidade.

FRASE DA SEMANA

"O sofrimento é o intervalo entre duas felicidades".
 (Vinícius de Moraes)