JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

domingo, 23 de outubro de 2011

FRASE DA SEMANA

"O único homem que nunca comete erros é aquele que nunca faz coisa alguma. Não tenha medo de errar, pois você aprenderá a não cometer duas vezes o mesmo erro". 
(Franklin D. Roosevelt)

POETAS DA SEMANA

20 de OUTUBRO DIA DO POETA - VERSOS DE CLÉCIO RIMAS



"Isso foi suficiente
Pra eu fazer poesia"

Nascer em Serra Talhada
Ser radicado em Tabira
Respeitar a macambira
Pisar na terra molhada
Gostar de uma namorada
Ver na feira a freguesia
Entender a fantasia
Pra fazer glosa e repente
Isso foi suficiente
Pra eu fazer poesia

Brincar descalço no chão
Armar a minha arataca
Comer o bago da jaca
Fazer dum cedro, alçapão
Misturar sopa com pão
Na janta que mãe fazia
E no amanhecer do dia
Mirar o sol no nascente
Isso foi suficiente
Pra eu fazer poesia!

Caçar com meu pai no mato
Fazer curral de sabugo
Nunca escapar dum verdugo
Sempre que eu fui insensato
Fazer remendo em sapato
Pra calçar na serventia
Acordar com a sinfonia
Da passarada contente
Isso foi suficiente
Pra eu fazer poesia!
Nada é pior do que,
ver a casa destruída;
visitar um irmão preso,
rezar pra mãe falecida,
do pai não saber o nome,
um filho chorar de fome
e a casa não ter comida.

Abel Araújo
Um improviso de João Paraibano:

Me criei com cuzcuz e leite quente,
Jerimum de fazenda e melancia.
Com seis anos de idade eu já sabia
Quantas rimas se usava num repente.
Fui nascido nas mãos da assistente,
Na ausência dos olhos do doutor.
Mamãe nunca fez sexo sem amor,
Papai nunca abriu mão do seu direito.
Obrigado meu Deus por ter me feito
Nordestino, poeta e cantador.

* * *

O poeta João Paraibano estava numa
festa e devido a uma confusão com a sua
mulher, por motivo de ciúmes desta, foi preso.
Conta-se que assim que se viu dentro do cárcere,
o poeta (que é analfabeto) aos prantos
e em estado de embriaguês,
proferiu de improviso os seguintes
 versos para o delegado:

Doutor eu sei que errei
Por dois fatos: dama e porre.
Por amor se mata e morre.
Eu nem morri, nem matei,
Apenas prejudiquei
Um ambiente de classe.
Depois de apanhar na face
Bati na flor do meu ramo.
Me prenderam porque amo
Quanto mais se eu odiasse.

Poeta mesmo ofendido
Sabe oferecer afeto.
Faz pena dormir no teto
Da morada de um bandido,
Se humilha, faz pedido
Ninguém escuta a voz sua,
Não vê o sol, nem a lua
Deixar o espaço aceso.
Por que um poeta preso
Com tantos ladrões na rua?

Sei que não sou marginal,
Mas por ciúmes de alguém,
Bebi pra fazer o bem,
Terminei fazendo o mal.
Eu tendo casa, quintal,
Portão, cortina, janela,
Deixei pra dormir na cela
Com a minha cabeça lesa,
Só sabe a cruz quanto pesa
Quem está carregando ela.

Poeta é um passarinho
Que quando está na cadeia
Sua pena fica feia,
Sente saudade do ninho,
Do calor do filhotinho,
Da fonte da imensidade.
Se come deixa a metade
Da ração que o dono bota,
Se canta esquece da nota
Da canção da liberdade.

Doutor, se eu perder meu nome
Não acho mais quem o empreste,
A minha mulher não veste,
Minha filhinha não come
E a minha fama se some
Para nunca mais voltar.
Não querendo lhe comprar,
Mas humildemente peço:
Se puder, rasgue o processo
Deixe o poeta cantar
 
HABAES PINHO

O instrumento do crime que se arrola
Nesse processo de contravenção
Não é faca, revólver, nem pistola
É simplesmente, doutor, um violão.

Um violão, doutor, que na verdade
Não matou nem feriu o cidadão
Feriu, sim a sensibilidade
De quem o ouvir cantar na solidão.

O violão é sempre ternura
Instrumento de amor e de saudade.
O crime a ele não se mistura
Inexiste entre os dois afinidade.

O violão é próprio dos cantores
Dos menestréis de alma enternecida
Que cantam as mágoas que povoam a vida
E sufocam suas próprias dores.

O violão é música é canção
É sentimento, é amor, é alegria.
É pureza, é néctar que extasia
é adorno espiritual do coração
Seu viver como o nosso é transitório
Mas seu destino não se perpetua
Ele nasceu para cantar na rua
Não para ser arquivo de cartório.

Mande soltá-lo pelo amor da noite
Que se sente vazia em suas horas,
Para que volte a ouvir o terno açoite
Das suas cordas leves e sonoras.
(Ronaldo Cunha Lima)