JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

VERSOS MAGNÍFICOS

QUANDO HÁ SECA NO SERTÃO
SÓ NÃO MORRE A POESIA.

MOTE: FELIZARDO NUNES
GLOSAS BRÁS IVAN


Morre logo a gitirana
O feijão-de-corda seca
Morre o milho na boneca
Devido a seca tirana
Murcha a flor da umburana
Quando o carão silencia
Se calam caçote e jia
No fundo do cacimbão.
Quando há seca no sertão
Só não morre a poesia.

Só se ver o chão rachado
Onde existia água e lodo
Sertanejo perde todo
Algodão que foi plantado
O caboclo é obrigado
Fazer o que não queria
Vender por baixa quantia
Dois terços da criação.
Quando há seca no sertão
Só não morre a poesia.

O camponês acanhado
S'inscreve ao "Bolsa Familia"
Chove discurso em Brasilia,
Projeto pra todo lado
Fica tudo engavetado
Sem chegar onde devia
Metade em burocracia
Metade em corrupção.
Quando há seca no sertão
Só não morre a poesia.

E quando a seca se estica
Pintando de cinza as roças
Fazendo secar as grossas
Folhas da velha oiticica
Um gato dorme na bica
Por onde a água corria
Depois que a chuva batia
Nas telhas do casarão.
Quando há seca no sertão
Só não morre a poesia.

Só não morre a esperança
Nem a fé do sertanejo
Vai vivendo de desejo
Enquanto chega a bonança
O poeta não se cansa
Pega na viola e cria
Que até seca e caristia
Lhe servem de inspiração.
Quando há seca no sertão
Só não morre a poesia.