JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

sexta-feira, 10 de maio de 2013

6º FESTIVAL DE VIOLA EM SÃO PAULO


VEJO  O TREM DA SAUDADE ME LEVANDO
AO LUGAR QUE NASCI E FUI CRIADO
(JOÃO PARAIBANO)

 6º FESTIVAL DE VIOLA EM SÃO PAULO

Lembro a casa que foi minha morada
Que já tem rachaduras no reboco
A biqueira tocando um baião moco
N’uma lata da boca enferrujada
Uma cabra sem peia outra piada
Qu’eu tangia de casa pra o roçado
Com um peito vazando em cada lado
Um cabrito deitado outro mamando
VEJO  O TREM DA SAUDADE ME LEVANDO
AO LUGAR QUE NASCI E FUI CRIADO

Não esqueço o cupim na linha torta
De uma casa que eu fui nascido nela
Uma lata de flores na janela
Minha irmã aguando a flor da horta
Um cachorro azunhando os pés da porta
Uma pasta de lodo no telhado
Um quintal  um varal atravessado
Com um pano estendido balançando
VEJO  O TREM DA SAUDADE ME LEVANDO
AO LUGAR QUE NASCI E FUI CRIADO

Lembro o gato correndo pela bica
Procurando onde um rato se escondia
Mãe lavando uma rede qu’eu dormia
Com sabão e semente de oiticica
Nossa mesa enfeitada de canjica
De pamonha, de bolo e milho assado.
Cuscuz quente com leite esturricado
E a tigela de barro fumaçando
VEJO  O TREM DA SAUDADE ME LEVANDO
AO LUGAR QUE NASCI E FUI CRIADO

Não esqueço os invernos de janeiro
Que passei no sertão da minha terra
O trovão abalando o pé da serra
Quando o vento rasgava o nevoeiro
Tanajura caindo no terreiro
Muitas flores se abrindo pelo prado
Um açude sangrando, um rio de nado
Pai cavando na roça e mãe plantando
VEJO  O TREM DA SAUDADE ME LEVANDO
AO LUGAR QUE NASCI E FUI CRIADO


 Não esqueço o café com tapioca
Tripa assada na cuia de farinha
Mel de engenho com água de quartinha
Um pirão de farinha de mandioca
Lembro a minha espingarda soca- soca
Carregada com chumbo envenenado
Qu’eu usei nas matanças de viado
Hoje tem, mas ninguém estando “matando”
VEJO  O TREM DA SAUDADE ME LEVANDO
AO LUGAR QUE NASCI E FUI CRIADO

MORO AQUI EM SÃO PAULO E NÃO CONSIGO
ESQUECER OS COSTUMES DO SERTÃO

(ZÉ VIOLA)

6º FESTIVAL DE VIOLA EM SÃO PAULO

Um cachorro ladrando no terreiro
Dois capotes correndo no quintal
Uma vaca parida no curral
Uma cabra berrando o chiqueiro
Dois, três galos cantando num puleiro
Uma rede com linha de algodão
Viajar do meu chão foi ilusão
Viver longe demais é um castigo
MORO AQUI EM SÃO PAULO E NÃO CONSIGO
ESQUECER OS COSTUMES DO SERTÃO

Sou do tempo do cocho e da gamela
E um forró numa sala de reboco
Amarrei “mão” de burro em pé de toco
Fiz porteira, fiz cerca e fiz cancela.
Fiz perneira, fiz peia e já fiz sela
Caprichei nas costuras do gibão
Trago o cheiro da sola em minha mão
Faço é rir de quem diz qu’eu sou antigo
MORO AQUI EM SÃO PAULO E NÃO CONSIGO
ESQUECER OS COSTUMES DO SERTÃO

Não consigo esquecer do meu roçado
A enchente da altura da barreira
Uma boi manso da altura da porteira
O soqueiro da altura do cercado
O capim da altura do arado
O joelho da altura do feijão
O chapéu da altura do pendão
E o milho da altura do umbigo
MORO AQUI EM SÃO PAULO E NÃO CONSIGO
ESQUECER OS COSTUMES DO SERTÃO

Vaquejada de fama é o meu trecho
Repentista que canta sem marmota
Rapadura de cana piojota
Que só quebra quem tem força no queixo
Eu não sei o d’acho é Remelexo
Se Eu Te Pego pra mim num presta não
Pocotó, É o Tcham e Batidão
Essas coisas de louco eu não me ligo
MORO AQUI EM SÃO PAULO E NÃO CONSIGO
ESQUECER OS COSTUMES DO SERTÃO