JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

quarta-feira, 22 de maio de 2013

SARAIVADA DE VERSOS - VALE A PENA DÁ UMA "ISPIADA"!


O grande Poeta pernambucano Dedé Monteiro
Dedé Monteiro “elogiando” a empresa telefônica TIM:
Não sei por que diabo foi
Que, em vez de pagar tão caro,
Eu já não mudei pra “CLARO”,
Pra “NEXTEL”,” VIVO” ou “OI”.
Jesus do céu me perdoe,
Já que eu agi tão errado.
Mas a TIM tem mais pecado
Que Judas, Nero e Caim.
A TIM, tim tim por tim tim,
Não vale um tostão furado.
Quem tiver algum segredo
Pr’um amigo em São José,
Acho que se for a pé
Consegue chegar mais cedo.
Hoje eu fiz calo no dedo,
Terminei triste e cansado,
Sem poder dar um recado
Tão importante pra mim.
A TIM, tim tim por tim tim,
Não vale um tostão furado.

* * *
Versos do poeta Onésimo Maia

Fico feliz quando canto
Meus versos de improviso
Os dedos chutam as cordas
Os lábios com ar de riso
Sopra o vento do repente
Raspando o chão do juízo

Você canta Portugal
Canta França, canta Hungria
Mas se eu tirar a tampa
Do baú da putaria
Nunca mais ninguém da fé
Da sua sabedora

O sapo tem muitas coisas
Mas nenhuma vale nada:
Tem couro e não bainha
Tem tripa e não buchada
Tem sangue e não dá chouriço
Tem leite e não dá colahada

Já vi wisque importado
Ter perdido pra pitu
Saiba que um bacharel
Precisa de um papangu
Porque Monteiro Lobato
Cresceu com Jeca Tatu

Com a minha cantoria
estou vivendo tranqüilo:
urubu não ganha fama,
não canta, não tem estilo!
Todo dia come carne,
Sem saber quanto é um quilo!

A mulher veio pedir
que eu passe o Natal com ela,
mas eu vou ganhar dinheiro
pra trazer o comer dela;
que é melhor faltar na cama
do que faltar na panela.

Eu voto em Zé Agripino,
que é santo da minha Sé,
porque me deu um emprego
que garante o meu café:
sou o vigia de um grupo
que inda sei onde é.

Da casa de Lima Neto,
quando você se aproxima,
a empregada diz logo:
- Venha correndo, seu Lima!
Chegou o cantador torto
que o gambá mijou em cima!

Ele é bom pai para os filhos
E um bom filho para Deus.
Eu sempre fui o canário
Das festas dos filhos seus,
Pois, do alpiste dos dele,
Eu ganho a ração dos meus.

Quando eu vier outra vez,
seu filho já está crescido;
essa moça tem casado,
já tem largado o marido;
sua mulher tá com outro
e o senhor já tem morrido.

Sua roupa tá bonita,
Seu sapato está brilhando.
Tive pena do menino
Quando estava lhe engraxando,
Pois ele tomou na jaca
Do jeito que estou tomando!

Eu sou tão analfabeto,
Que nem sei dizer o tanto;
Vendo um lápis, tenho medo;
Vendo um caderno, me espanto,
Mas, quando um jumento rincha,
Eu penso um poema e canto.

Francisco Hercílio Pinheiro

Na Escritura Sagrada,
me lembro que Jesus disse:
“Quem tivesse pra dar, desse,
quem não tivesse, pedisse;
quem fosse triste chorasse,
quem fosse alegre sorrisse”.
*
Eu fui, eu sou e serei…
São três coisas de mister.
Se eu fui foi porque Deus quis,
se eu sou é porque Deus quer,
e para o tempo futuro
eu serei, se Deus quiser.
*
Canta, Severino Pinto,
massa dos quatro elementos,
catadupa do improviso,
montanha de pensamentos,
grandeza de céus e mares,
força da rosa-dos-ventos!
*
Enfrentar meu companheiro,
cantando, ninguém se atreve.
No momento em que ele canta
Parece que Deus escreve
Com tinta da cor do céu,
Em papel feito de neve
*
Você tem razão demais,
Porque nasceu desumano,
Mesmo este é o costume
Do povo pernambucano:
Fala a verdade um minuto
E mente o resto do ano.
*
Caiu um bicho da telha,
parece uma lagartixa:
é carne que não se come,
é couro que não se espicha.
Eu peço ao dono da casa:
pegue um pau, mate essa bicha!



Foi à forca Tiradentes
com a maior paciência;
seu sangue se derramava,
e a terra, por inocência,
bebia o sangue de um filho
que quis dar-lhe a independência.
(Dimas Batista)

SONETO DE RONALDO CUNHA LIMA


Não maldigo os versos que  lhe fiz

Não maldigo os versos que lhe fiz,
embora não devesse tê-los feito.
São versos que nasceram do meu peito,
mas frutos de um amor muito infeliz.

São versos que guardam o que não quis
guardar daquele nosso amor desfeito.
Relendo-os sofro, e sofrendo aceito
o que o destino quis como juiz.

Não os maldigo, não. Não os maldigo.
Vou guardá-los em mim como castigo,
para no amor eu escolher direito.
Só porque nesse amor não fui feliz,
não maldigo os versos que lhe fiz,
embora não devesse tê-los feito.
* * *
Leandro Gomes de Barros

Meus versos inda são do tempo
Que as coisas eram de graça:
Pano medido por vara,
Terra medida por braça,
E um cabelo da barba
Era uma letra na praça.
* * *
               
Raimundo Cassiano

Eu entrei no hospital
Já quase no fim do dia
Ali falei ao doutor
Na mesa de cirurgia
Mexam no meu coração
Mas me deixem a poesia!
* * *
Odilon Nunes de Sá

Admiro a mocidade
Não querer envelhecer
Velho ninguém quer ficar
Novo ninguém quer morrer
Sem ser velho não se vive
Bom é ser velho e viver.

Cego Aderaldo

Todo passarinho canta
quando vem rompendo a aurora
só a pobre  mãe-da-lua
quando canta, logo chora…
assim eu faço também,
quando meu bem vai  embora.

João Paraibano

O sol diminui os raios
Depois que a tarde se fecha
O vento carrega a folha
Da galha de um pé de ameixa
Sai dando tabefe nela
Quando se aborrece e deixa.


Valdir Teles

No momento em que Pinto faleceu
As violas pararam de tocar
Deus mandou o Nordeste se enlutar
Respeitando o valor do nome seu
Pernambuco ao saber entristeceu
Paraíba até hoje está doente
Só tem galo cantando atualmente
Porque Pinto mudou-se do poleiro
Com a morte de Pinto do Monteiro
Abalou-se o império do repente.

SEIS MESTRES DO IMPROVISO E UM FOLHETO CLÁSSICO


Leo Cruz
Admiro a exuberância
De um poeta em cantoria
Com a tempestade de versos
Que num instante ele cria
E as nuvens do seu juízo
Soltam raios de improviso
Riscando o céu da poesia.
* * *
João Paraibano
O sol diminui os raios
Depois que a tarde se fecha
O vento carrega a folha
Da galha de um pé de ameixa
Sai dando tabefe nela
Depois se aborrece e deixa.

Ivanildo Vilanova
Num dia de sexta-feira,
buscando divertimento,
fui cantar em um convento,
apenas por brincadeira;
arriei por uma freira,
porém foi uma ironia:
nem ela se corrompia
nem eu me santificava;
“quando eu ia, ela voltava;
quando eu voltava, ela ia.”
* * *

Pedro Bandeira

As aves noturnas voavam sutis
saindo dos campos procurando as fendas
as furnas de pedra pareciam lendas
dos velhos caboclos do nosso país.
As grotas jorravam lá dos alcantis
e o prado florido igual um pomar.
O mocho fugia pra se ocultar
o Sol espirrava e a lua ia embora,
a faca do dia rasgava a aurora
e a barra quebrava na beira-do-mar.
* * *

Bernadino Ramos

Quando eu pego na viola
E corro o dedo na prima
Se as águas corre pra baixo
Eu faço subir prá cima,
Quem tiver na lei do cão
Eu passo prá lei divina.
* * *

Improvisos de Sebastião Dias

Das quatro e meia em diante,
sinto de Deus o poder,
um sopro espatifa as nuvens
para o dia amanhecer,
Deus enfeita o firmamento
E a vassoura do vento
Varre o céu pra o sol nascer.
* * *
Antônio, tire o canário
deste horrível sofrimento!
Ele já foi amarelo,
Mas tá ficando cinzento,
Que a frieza do presídio
Transforma a cor do detento!
* * *
Vamos parar a cantiga
que a garganta está cansada!
Já vejo nos horizontes
Os reflexos da alvorada
E a noite sentindo dores
Pra ser mãe da madrugada!
* * *
Já é hora em que o menino
na calçada come fuba,
debaixo de uma choupana
coberta de carnaúba,
dessas que a ventania
com qualquer sopro derruba!
* * *
Na Capital Bandeirante
eu vim fazer um passeio,
mas, ao deixar o Nordeste,
parti a alma no meio…
Ou vem a banda de lá,
Ou vai a banda que veio.
* * *
O pintor caprichou tanto
e a pintura está tão boa,
que até a garça pintada
no aceiro da lagoa
está tão linda e perfeita
que se espantar ela voa.
* * *
Dessa hora por diante
a terra aclama o mormaço;
um pedaço de jurema
se esfrega noutro pedaço;
parecem duas pessoas
pegando queda-de-braço.
* * *
Quando o chão está molhado
aparecem coisas boas:
se levantam cogumelos
que as capas parecem broas;
os sapos chocam de ruma;
bordam com cachos de espuma
o cenário das lagoas.
* * *
Hoje a Bandeira do Nego
hasteou só a metade;
a Paraíba chorou
como uma irmã com saudade,
porque Pinto do Monteiro
partiu para a eternidade.
* * *
O cemitério é a casa
dos nossos restos mortais;
ambição, ódio e vingança
ficam do portão pra trás,
porque, do portão pra frente,
todos nós somos iguais.
* * *
Na madrugada altaneira,
geme o vento atrás do monte;
um cururu toma banho
na água fresca da fonte
e a lua dorme emborcada
no colchão do horizonte.
* * *
Paulo tem duas estrelas
dentro das suas manhãs:
Uma mãe teve dois filhos
Para invejar outras mães
E um bom padeiro inventou
Uma forma pra dois pães.
* * *
Depois que a chuva caiu,
ficou verde o arrebol,
a babugem cobre o chão;
parece um verde lençol,
cicatrizando as feridas
das queimaduras do sol.
* * *
Deixei uma seca grande
no Nordeste brasileiro:
de verde, só aveloz,
papagaio e juazeiro,
que o Nordeste, pra sorrir,
tem que Deus chorar primeiro!
* * *
É um dia de tristeza
quando a mãe para o céu vai.
Os filhos se cobrem em prantos;
O caçula diz: ô pai,
Não vê, mamãe ta dormindo!
Abra o caixão que ela sai!
* * *

A Feitosa e a Ferreira,
pedir licença eu queria,
para dar um empurrão
no final da cantoria,
pra ver o corpo da noite
cair por cima do dia.
* * *

Vou me tornar vagabundo,
cantar pra o meu público fã,
que Deus, em forma de nuvem,
está por detrás da chã
pra ver o rosto do dia
nos espelhos da manhã.
* * *

Pode cantar à vontade
se apresentando pro povo,
que eu não vou jogar terra
na cara de um pinto novo
que está com o bico de fora
E o resto dentro do ovo.

José Alves Sobrinho

Jorram as águas do rio,
E as águas  como uma cobra,
Num andar lento e macio,
Descendo e fazendo dobra,
Derramam sobre o baixio
A quantidade que sobra.
* * *
Hélio Crisanto

A vida é um grande rio
Correndo no pedregulho
Cortando vale e entulho
Com seu instinto bravio.
Assim enfrento com brio
A corrente dos meus planos
E apesar dos desenganos
Dos meus desejos medonhos
Eu sigo empilhando sonhos
Na prateleira dos anos.


Eu lembro de manhãzinha
Papai aguando as plantas
E as suas palavras santas
Melhor que isso não tinha
Lembro da minha vozinha
Fazendo adivinhação
E no plantio do oitão
Mamãe colhendo quiabo
Eita coisa ruim do diabo
Viver longe do sertão.
* * *
José Bernardino de Oliveira

Eu não sei como suporte
O peso da minha carga:
Trilhando caminho estreito,
Vendo tanta estrada larga;
A sede que sinto é tanta,
Que a ponta da língua amarga!
* * *
Zé Amâncio

Roubaram um pobre poeta
Além de pobre, doente,
Ainda mais  deficiente
Com uma perna incompleta.
Roubou minha bicicleta
Com pneu , sela e catraca
Um ladrão de alma fraca
A polícia não descobre.
Quem rouba um poeta pobre
Vendo Jesus , mete a faca.
* * *
Otacílio Batista

Nem sei quantos  anos tem
O meu velho avô de aço
Talvez já passe de cem
Janeiros no espinhaço.
Quando vai só num passeio
Fica naquele aperreio
Se passa uma noite só
Tira um quadro das parede
E faz amor dentro das rede
Com um retrato da vovó.
* * *
Biu de Crisanto

Da visão desta janela
Eu vi os sonhos perdidos
A vida passou por mim
Causando dor e gemidos
E a esperança morreu
No vale dos esquecidos.
O mundo esqueceu de mim

Neste cubículo imundo
Onde mergulhei nos livros
Hora minuto e segundo
E fiz diversas viagens
Pela vastidão do mundo.
Não esqueço um só segundo
Dos dias da mocidade
Mais o tempo me roubou
Da vida mais da metade
Restando só amargura
Tristeza, dor e saudade.

Antônio Francisco
Nosso melão tem na casca
As cores do sol nascente
As rugas do nosso rosto
Riscadas pelo sol quente
E na carne dele o gosto
Do doce da nossa gente
* * *
Geraldo Amâncio

Não voltei pra minha aldeia,
já faz tempo que eu não vejo
meu primeiro realejo,
e a minha bola de meia;
brincar de toca na areia
nunca mais pude brincar
também não fui mais puxar
na porteira do pião.
Foi com dor no coração
que eu deixei o meu lugar.
Tendo chuva, tudo cria
tou feliz com meu roçado
meu “baxi” tá alagado
a roça tem garantia
tem maxixe e melancia
já tem “bagem” de feijão
meu Deus que satisfação
ou que paisagem importante.
A seca passou distante
do roçado do sertão.

Minha aurora foi embora
é isso que desanima
o crepúsculo se aproxima
minha noite se apavora
mocidade foi embora
nessa minha poesia
nossa vida é como dia
só é bom quando começa.
O tempo passou depressa,
fui feliz e não sabia .
* * *
Moacir Laurentino
O cantar do passarinho
é que o cantador se inspira
do talo da macambira
da ponte fina do espinho,
logo de manhã cedinho
quando se avista o clarão
e o bico dum gavião
matando a ninhada alheia
Verso só pega na veia
com rima e com oração

A poesia bem cantada
não é só vocabulário
é caboré solitário,
cantando de madrugada,
pra solidão da chapada
num meio da solidão
vive espiando o clarão
dos raios da lua cheia
Verso só pega na veia
com rima e com oração.
* * *
Eliseu Ventania
Pelo inverno, quando é de madrugada
A passarada dá sinal que o dia vem
Rio correndo, mato verde, açude cheio,
Naquele meio, todo mundo vive bem.
O sertanejo trabalhando em seu roçado
Muito animado com o ronco do trovão.
A meninada toma banho na lagoa,
Oh! Quanto é boa nossa vida no sertão.
* * *
Compadre Lemos
Prostituta, parteira ou entendida,
Dançarina, enfermeira ou cortesã,
Cangaceira ou doutora, é minha irmã,
Que são todos irmãos, em qualquer lida!
Sei que existe outra vida, além da vida,
Em que tudo se mostra e cai o pano
E se vê que o orgulho é puro engano
De quem pensa que Deus é pai de um só!…
Quem pensar dessa forma eu vou ter dó,
Nos Dez Pés do Martelo Alagoano!
* * *
Antônio Francisco
Pra nós sermos amigos de verdade,
Precisamos amar e querer bem;
Repartir nosso pão pela metade;
Dividir nossos sonhos com alguém;
Plantar uma semente de amizade
No jardim onde nasce a solidão
E dizer no ouvido do ermitão:
Plante um pé de amizade em sua horta!
Amizade é a chave que abre a porta
Do castelo onde mora o coração.
Dê uma volta no carro da amizade,

Puxe 80 km de amor!
Se desvie da estrada do rancor;
Solte os freios descendo a humildade;
Acenda os faróis da caridade;
Ilumine a estrada do irmão;
Baixe o vidro da porta e dê com a mão,
É um gesto é tão simples mas conforta.
Amizade é a chave que abre a porta
Do castelo onde mora o coração.
Se afaste do caos da vaidade;

Nunca pise na beira desse abismo
Nem se mele com a lama do egoísmo;
Beba água da fonte da verdade…
Só assim entraremos na cidade
Batizada com o nome de Sião.
Vamos todos, amigos, dar a mão!
Uma amizade sincera ninguém corta.
Amizade é a chave que abre a porta
Do castelo onde mora o coração.
* * *