JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

domingo, 25 de agosto de 2013

POETA DA SEMANA



MEU TESTAMENTO, DO GRANDE MANOEL FILÓ

http://www.luizberto.com/na-cacimba-da-poesia-luciano-pedrosa/meu-testamento-do-grande-manoel-filo


Manoel Filó
 

Quando o sertão vira poesia

O sopro da ventania
Torce a calda do novilho
O pelo de um gato preto
Começa a perder o brilho
Depois de ter se coçado
Num caco de torrar milho.
Quando falta a companheira
Na vida d'um passarinho
Ele busca um pau bem alto
Para construir seu ninho
Devido ser menos triste
Para quem vive sozinho.
Da meia noite em diante
Ninguém mais sabe meu giro
Eu começo gaguejando
Porém depois que me inspiro
Tenho a grandeza do tato
De um cego jogando firo.
                  Manoel Filó 


Êita gôta!
por Jorge Filó

Falar de Manoel Filo é hoje um misto de alegria, pela lembrança sadia a qual ele sempre nos remete, e do sentimento imperativo da ausência irreversível, que as vezes chega a doer que só uma ferroada dum cavalo-do-cão, que, segundo ele, em uma de suas magníficas comparações, o cabra tem que sair atrás dum canto pra se lavar depois da ferroada.
No mês em que completa um ano de sua derradeira viagem terrena – aos 21 dias do mês de agosto de 2005, numa fatídica madrugada de um domingo cinzento em São Jose do Egito, estando sepultado em Tuparetama, cidade vizinha, também na região do Pajeu – as homenagens se sucedem por todos os cantos por onde o poeta passou e edificou amizades infindáveis.
Embora a Internet seja um campo virtual, distante de sua realidade sertaneja, o poeta já tinha suas passagens em menções de amigos, poetas e artistas que sempre o admiraram. Este mês o site INTERPOÉTICA, dos amigos Cida Pedrosa e Sennor Ramos, dá a sua, justa e bela, contribuição para a eternização do grande mestre que foi Manoel Filomeno de Menezes, Manoel Filó, Manoel Filósofo. De quem tenho o maior orgulho de ser filho! Obrigado a todos!!!
Estes versos escrevi especialmente para publicação de seu livro "As Curvas do Meu Caminho", publicado em 2003.
GENEALOGIA
O poeta já nasce destinado

Desde a hora de sua geração
Cada veia que sai do coração
É um verso a pulsar acelerado
Pela deusa da musa é coroado
Do castelo dos sonhos é o rei
Tudo quanto improvisa vira lei
Quando quer, tudo pode, tudo cria
Trago o gen imortal da poesia
Pela força do sangue que herdei.

Aprendi com meu grande professor

Que o xexéu o piston a tarde emuda
Que no mundo não há quem não se iluda
No caminho de pedras do amor
Aprendi os segredos que há na flor
E que tudo na vida quanto sei
Foi porque minha vida eu debrucei
Pra melhor entender FiloSOFIA
Trago o gen imortal da poesia
Pela força do sangue que herdei.



DE CORPO PRESENTE
por Ésio Rafael

Não é possível dizer, até agora, que estamos órfãos de Manoel Filó. Nem reclamamos de sua ausência, pois, desde o seu sepultamento na cidade de Tuparetama, pajeú pernambucano, há um ano, no percurso do cemitério, que nunca se viu coisa igual.
Cada acompanhante segurava uma lágrima rasa, oscilante, entre os olhos e a garganta. Engolia seco, na medida em que desfiava uma história, um verso, uma prosa ou uma "cunha" que Mané teria colocado como complemento de uma piada que alguém lhe contara. Foi uma celebração à maneira Filó, caso fosse ele o acompanhante (risos e lágrimas).
Agora mesmo ri, ao me lembrar de uma visita que ele me fez, acompanhado do poeta Jorge, seu filho. É que o "meu vizinho de lado" tem um cachorro, invocado, "mordido". Por isso, há uma placa de advertência no portão: "CUIDADO COM O CÃO". Ao descer do carro Manoel me chamou e disse:
-Grapiúna, esse negócio ta escrito errado! Cuidado com VOCÊ, se não o cão lhe morde...
Falar nisso, Mané, já te deparasse com Heleno "cai cai"? Me conta, pode ser um sonho...
Por diferentes abrigos

Contrariado ando eu
Explorando os meus amigos
Vendendo o que Deus me deu

Num terreno acidentado

Deus passa devagarinho
Amaciando um cajado
Nas curvas do meu caminho

                       Manoel Filó

 

MANOEL FILÓ
por Zelito Nunes

"Cantar devia ter sido

Minha primitiva escola
Ter os dedos calejados
Dos arames da viola
Cantar como o xexéu preto
Na solidão da gaiola"

Manoel Filomeno de Menezes, Manoel Filó, nasceu no dia 13/10/1930, na fazenda Taboado no então município de Afogados da Ingazeira. O Taboado situa-se a uns cinco quilômetros do povoado de Jabitacá, contemplando a serra da Carnaíba que faz fronteira com a Paraíba e na época era propriedade de Chico Cazuza e dona Mariquinha que era tia do poeta.
Mariquinha era irmã de Tereza Maria de Jesus mãe de Manoel e mãe do também poeta Heleno Rafael, "Heleno de Tia Mariquinha" como carinhosamente nós o chamávamos. Maria de Jesus visitava a irmã, quando foi acudida nas dores do parto, quando veio ao mundo o poeta Manoel que foi mais um dentre os doze que viriam. Ainda criança foi morar com os pais o poeta José Filó e dona Tereza, no pequeno ainda hoje, povoado de Mundo Novo, um lugar de várzeas e riachos fecundos, perdido entre os municípios de Ouro Velho na Paraíba e São José do Egito, em Pernambuco. Poeta por vocação e cigano por instinto, Manoel passou a vida se mudando, tendo morado dentre outras cidades, em São Paulo, Recife, Paulo Afonso, Monteiro e Arcoverde, (havia se mudado há três meses, para a cidade-mãe da poesia, o seu porto mais seguro, São José do Egito). Foi empresário bem sucedido no ramo de autopeças, mas a sua natureza de poeta, não lhe permitia conviver com o espírito do lucro, vivia distribuindo o que juntava, com os mais necessitados ou não, por isso a sua vida foi toda de altos e baixos até o fim quando partiu levando somente uma alma de cara limpa, as mãos vazias e um coração pleno de bondade e poesia. Não foi um grande cantador por que não quis, (seguramente por uma questão de generosidade, para não ofuscar o brilho dos companheiros). São da sua lavra, dentre muitos outros:
Respondendo a uma "deixa" de Job Patriota:
Job:
"inseto tem feito coisas

que a gente às vezes estranha"

Filó:
"No sertão tem uma aranha

De uma qualidade escassa
Que tapa a sua morada
Com lã da cor de fumaça
O tecido é tão perfeito
Que a chuva bate e não passa".

Com Manoel Chudu:
Chudu:
"Essa morena é bonita

Como a flor da açucena"

Filó:
"O corpo dessa morena

É macio igual a fuba
Tem a beleza tocante
Do leque da carnaúba
Cheirosa igualmente à pinha
Que o papa-sebo derruba"

O padre Assis, um italiano radicado há muitos anos no Pajeú, grande admirador dos poetas populares e hoje vigário de Tabira, segundo o poeta e seu velho companheiro, Zé de Cazuza, costumava chamá-lo sabiamente de "Manoel Filósofo". Quem contestaria?
"Não me vem pelo desejo

Tudo aquilo que espero
Não quero as coisas que vejo
Não tenho as coisas que quero"

O poeta na sua bondade e grandeza, soube como poucos, transitar no meio dos jovens e generosamente passar para eles os seus ensinamentos. A sua convivência com os mais novos, produziu bons frutos e deixa herdeiros que não fariam vergonha ao mestre, dentre outros, estão: Jorge Filó, seu filho, poeta e cordelista, autor do excelente livro/cordel, A IGREJA DO DIABO. José Paes de Lira Filho - Lirinha do CORDEL DO FOGO ENCANTADO. Felizardo Moura - POETA E APRESENTADOR de festivais de cantoria e seu companheiro mais constante. Antônio Marinho do Nascimento - poeta declamador e autor do livro de poesias, NASCIMENTO.


Dom Manoel - O Venturoso
por Maurício Tadeu de Menezes Torres

O dia amanhece serenamente, sobre as brisas afáveis da fresca manhã, Dom Manoel se prepara para mais uma jornada. Seus fiéis súditos, embevecidos de honra pelo soberano exemplar, auxiliam-no solenemente, num misto de melancolia e felicidade de espírito.
Não há como mudar este ciclo. Dom Manoel parte e retorna com a naturalidade das estações do ano. Nos períodos em que nos felicita com sua generosidade presença, a benevolência altiva de sua aura dissemina-se, envolvendo a todos com a complacência que lhe é infinitamente peculiar. Nos seus caminhos infindáveis, por vezes tranqüilos e por muitas outras coroados de percalços, ele segue estóico, irredutível na missão de semear o bem.
Em muitas paragens o sábio viandante confunde-se involuntariamente com os entes comuns, ocultando a grandeza de sua alma superior. Mas o rei-poeta detem inspiração admirável, nos presenteando com versejos de trovador; com estrofes de bardo único.
Abnegado a pomposos palácios, Dom Manoel atua no reino da simplicidade, edificando somente um potentoso castelo de admiração. E mesmo quando um dos seus requer uma intervenção por errônea conduta, ele o orienta com sábias admoestações, condenando espontaneamente a arrogância dos colossos de pés de barro.
Hoje chega sereno à maturidade rodeado de escudeiros irradiando alegrias por sua bela história. Muitos caminhos ainda hão de vir, e por esses caminhos seguirá Dom Manoel - o venturoso - cavaleiro da placidez, Dom Quixote da clarividência...


Orlando Tejo, Jorge Filó e Manoel Filó


JORGE FILÓ é poeta e filho de Manoel Filó
ÉSIO RAFAEL é poeta e estudioso da cultura popular
ZELITO NUNES é poeta e estudioso da cultura popular
MAURÍCIO TADEU DE MENEZES TORRES é poeta e sobrinho de Manoel Filó

A página INTERPOÉTICA, no mês de agosto de 2006, quando fez um ano da morte do mestre Manoel Filó, dedicou sua seção de homenagem, FIGURA DA VEZ, ao poeta sertanejo, que cantou suas origens e que merece ser reconhecido como um dos grandes poetas da nossa terra. Manoel Filó: Presente!

Cantador pra enfrentar Manoel Filó
É preciso comer besouro assado
Dar pancadas com o gume do machado
Num angico que tem um sanharó
Se enrolar com uma cobra de cipó
Dar um chute num cão com hidrofobia
Mastigar na cabeça de uma jia
Se subir num coqueiro catolé
Se montar em Inácio Jacaré
E viajar três semanas pra Bahia.



Quando o sertão vira poesia

O sopro da ventania
Torce a calda do novilho
O pelo de um gato preto
Começa a perder o brilho
Depois de ter se coçado
Num caco de torrar milho.
Quando falta a companheira
Na vida d'um passarinho
Ele busca um pau bem alto
Para construir seu ninho
Devido ser menos triste
Para quem vive sozinho.
Da meia noite em diante
Ninguém mais sabe meu giro
Eu começo gaguejando
Porém depois que me inspiro
Tenho a grandeza do tato
De um cego jogando firo.
                  Manoel Filó 


FILME DA SEMANA

AS SANDÁLIAS DO PESCADOR

  • Sinopse
    Todos os olhos fitam o Vaticano, aguardando a fumaça branca que comunica a eleição do novo Papa. O novo pontífice é a única pessoa capaz de trazer paz ao mundo ameaçado por uma guerra nuclear. Adaptado a partir do best seller de Morris L. West, o filme é, ao mesmo tempo, uma história sobre a atual intriga geopolítica e sobre os bastidores do Vaticano. Anthony Quinn interpreta um político russo recém-liberto do cativeiro que é indicado para ser o Papa Kiril Lakota. Produção indicada para dois Oscar® e ganhadora do Globo de Ouro pela trilha sonora criada por Alex North.

FRASE DA SEMANA

Deus, para a felicidade do homem, inventou a fé e o amor. O Diabo, invejoso, fez o homem confundir fé com religião e amor com casamento".
(Machado de Assis)

RECEITA DA SEMANA

RECEITA DE EISBEIN

Por Editora Emporium de Ideias   
Foto: Ed. Emporium de ideias
Ingredientes
  • 4 joelhos de porco
  • 1 colher (sopa) de sal
  • 2 colheres (sopa) de páprica
  • 1 pitada de pimenta do reino
  • 3 folhas de louro
  • 3 colheres (sopa) de cheiro verde
  • 3 dentes de alho cortados ao meio
  • 3 cebolas grandes cortadas em quatro
Modo de preparo
  • Em uma panela, coloque todos os ingredientes, cubra com água e tampe.
  • Leve ao fogo alto, deixe ferver, abaixe o fogo.
  • Cozinhe até a carne ficar bem macia, juntando mais água quente, se for necessário e tire do fogo.
  • Coloque os joelhos de porco bem quentes em pratos individuais.
  • Regue com um pouco do molho e leve imediatamente à mesa.
Rendimento: 4 porções
Dificuldade: média
Tempo de preparo: 2 horas (mais 1 hora e 30 minutos de descanso)


Fonte: Comida e Receitas - http://www.comidaereceitas.com.br/carnes/eisbein.html#ixzz2cyYpTz3Q