JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

terça-feira, 1 de maio de 2012

A "COISA" TÁ TREMENDO!!!!!


NÃO!!! ESSA COBRA... DE NOVO NÃO!!!

DIA DO TRABALHADOR




OS TRABALHADORES
Rogaciano Leite

(Poesia que está inserida num marco da Praça Vermelha de Moscou,onde o poeta esteve em 1968.)


Uma língua de fumo,enorme, bandoleante,
Vai lambendo o infinito - espessas e fatigada...
É a fumaça que sai da chaminé bronzeada
E se condensa em nuvens pelo espaço adiante!

Dir-se-ia uma serpente de inflamada fronte
Que assomando ao covil, ameaçadora e turva,
E subindo... e subindo...assim, de curva em curva,
Fosse enrolar a cauda ao dorso do horizonte!

Mas, não! É a chaminé da fábrica do outeiro
- Esse enorme charuto que a amplidão bafora -
Que vai gerando monstros pelo céu afora,
Cobrindo de fumaça aquele bairro inteiro.

Ouve-se da bigorna o eco na oficina,
O soluço da safra e o grito do martelo...
Como tigres travando ameaçador duelo
As máquinas estrugem no porão da usina!

É o antro onde do ferro o rebotalho impuro
Faz-se estrela brilhante à luz de áureo polvilho!
É o ventre do Trabalho onde gera o filho
Que estende a fronte loura aos braços do Futuro!

Um dia, de uma idéia uma semente verte,
Resvala fecundante e,se agregando ao solo,
Levanta-se... floresce... e ei-la a suster no colo
Os frutos que não tinha - enquanto estava inerte!

Foi o germe da Luz, a flor do Pensamento
Multiplicando a ação da força pequenina:
- De um retalho de bronze uma oficina!
- De uma esteira de cal gerou um monumento!

Trabalhar! Que o trabalho é o sacrifício santo,
Estaleiro de amor que as almas purifica!
Onde o pólen fecunda, o pão se multiplica
E em flores se transforma a lágrima do pranto!

Mas não vale o Trabalho andar a passo largo
Quando a estrada é forrada de injustiça e crimes...
Porque em vez de frutos dúlcidos, sublimes,
Gera bagos mortais e de sabor amargo!

Ide ver quanto herói, quanto guindaste humano
Sob a poeira exaustiva e o calor fatigante,
Os músculos de ferro,o porte gigante,
Misturando o suor o seu pão quotidiano.

Sua força é milagre! A redenção bendita!
O seu rígido braço é a enérgica alavanca
O escopro milagroso,a chave que destranca
O Reino do Progresso onde a Grandeza habita!

Sem os pés desse herói a Evolução não anda!
Sem as mães desse bravo uma nação nas cresce!
A indústria não produz! O campo não floresce!
O comércio definha! A exportação debanda!

No entanto, vêde bem! Esses heróis sem nome,
Malditos animais que ainda escraviza o ouro,
Arrastam - que injustiça! - o carro do tesouro,
Atrelados à dor,à enfermidade,e à fome!

Quanto prédio imponente e de valor suntuário
Erguido para o céu, firmado no infinito,
Indiferente à dor, indifrente ao grito
De desgraça que invade a choça do operário!

De dia é no labor! Exposto ao sol e à chuva!
De noite, na infecção de uma choupana escura
Onde breve uma filha há de tornar-se impura
E u'a mulher faminta há de ficar viúva!

Nem mesmo o sono acolhe as pálpebras cansadas!
O leite é a umidez dos fétidos mocambos!
O pão é escasso e duro! As vestes são molambos
E o calçado é paiol das ruas descalçadas!

Ali, a Medicina é estranho um só prodígio!...
Nunca um livro se abrirá em risos de esperança
Para encher de fulgor os olhos da criança,
Apontando-lhe o céu... mostrando-lhe um vestígio!...

Tudo é treva e descrença! O próprio Deus é triste
Ouvindo esse ofegar de corações humanos...
E a Lei - mulher feliz que dorme há tantos anos -
Não acorda pra ver quanta injustiça existe!

Onde está esse amor que os sacerdotes pregam?
Os estão essas leis que o Parlamento imprime?
O Código não pode abrir o seio ao Crime,
Infamando o pudor que os Tribunais segregam!

Vêde bem da fornalha a rubra labareda!...
Olhai das chaminés o fumo que desliza!...
Pois é o sangue... É o suor do pobre que agoniza
Enquanto a lei cochila entre os divãs de seda!

Que é feito desse herói? Ninguém lhe sabe a origem!
O Poder nunca entrou nas palhas do seu teto...
Somente a esposa enferma,o filho analfabeto,
E lá nos cabarés, - a filha... que era virgem!

Existe essa legião de mártires descrentes
Em cada fim de rua, em cada bairro pobre!
É desgraça demais que num país tão nobre
Que teve um Bonifácio e deu um Tiradentes

Será preciso o sangue borbotar na lança?
E o cadáver do povo apodrecer nas ruas?
Tu não vestes, ó Lei,as próprias filhas tuas?
Morre, pois,mãe cruel,debaixo da vingança!

Mas eu vejo que breve há de chegar a hora
Em que a voz do infeliz é livre - na garganta!
Porque sei que esse Deus que nos palácios canta
É o mesmo Deus que pelos bairros chora!

Quanto riso aqui dentro! E lá fora, os brados!
Quantos leitos de seda! E quantos pés descalçados!
Já que os homens não vêem esses decretos falsos,
Rasga,cristo, o teu manto! Abriga os desgraçados!...