JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

UMA TARDE MARAVILHOSA / DOIS POETAS GENIAIS


Algumas sextilhas soltas dos poetas: Aldo Neves e Dió de Santo Izidro, na casa de Terezinha Rabelo, no sítio Várzea de Cima, no dia 03/12/2011, falando sobre o Entardecer no Sertão:

Dió              

Depois que a tarde começa
Logo o crepúsculo inicia
O sol coloca em seus raios
A mais bela fantasia
Enfeitando o horizonte
Na sepultura do dia

Aldo

Depois da morte do dia
O vento dá um açoite
O violão da saudade
Me ajuda, a fazer pernoite
E saudade marca um ponto
No prontuário da noite

Dió

Onde a brisa dá acoite
Eu fico feliz com gosto
A tarde se inicia
Eu me sinto mais disposto
E o sol nos entrega as costas
Pra noite mostrar o rosto

Aldo

Depois da morte do dia
Hora, minuto e segundo
A ponte serve de abrigo
E d’um lençol pra vagabundo
E meu pensamento poético
Dá uma volta no mundo



Dió

Nosso assunto não se encerra
Eu acho que tá errado
O palco onde passarinho
Cantava todo animado
Hoje ao invés de cantar
Chora num toco cortado

Aldo

Depois que o sol vai embora
No curral a vaca berra
A água passa no chão
Fofando o corpo da terra
E o vento toca uma música
No espinhaço da serra

Dió

Onde um pássaro dava um grito
Hoje não tem condição
Em vez da árvore florida
Se quer cantar é no chão
Devido o homem malvado
Com tanta devastação

Aldo

O céu, um alcochoado,
O mundo, um canto restrito
No vácuo da serrania
Um nambu dá um apito
E a lua desfila acessa
Na praia do infinito

Aldo

Um lençol preto no chão
Pra mim um grande segredo
O pássaro só deita à tarde
Mas levanta muito cedo
Deus só não volta pra terra
Mas cutuca com o dedo

Dió

Eu sei que ninguém estranha
Mas  isso nos desconforta
Tantas madeiras cortadas
Pra ripa, caibro e pra porta
E a boca da natureza
Tá escancarada e morta

Aldo

O vento bate na porta
D’um casebre abandonado
A baba corre na boca
De um cabrito chiquerado
O bucho faltando leite
Vendo a mãe do outro lado

Dió

Tá tudo desmantelado
Posso dizer logo após
Qu’ede o galho, qu’ede a rama
Qu’ede o pau, qu’ede os cipós
E a natureza sofrendo
E a culpa é de todo nós.