JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

quarta-feira, 30 de março de 2011

TUPÃ FOLIA 2011

Para quem gosta de carnaval fora de época e aguarda o TUPÃFOLIA 2011, a programação:
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Data: 09 e 10 de Abril
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Sábado (09): 
Trio e Banda Asas da America
Banda Quebra Aê
Banda Me chama Aê
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Domingo (10)
Novo Som Mix
Banda Inala


DO BLOG TARCIO VIU ASSIM 2

CUNFISSÃO DE CABÔCLO

CUNFISSÃO DE CABÔCO
Descrição: cordelista_zedaluz.gif
Seu doutô sou criminoso,
Sou criminoso de morte,
To aqui pra me entregá.
Vosmicê fique sabendo
Qui a muié qui traz a sorte
De atraiçoá o isposo
Só presta pra se matá.
Li peço um grande favô
Antes de vosa mercê
Mi butá daqui pra fora:
É a licença do doutô
Pr´eu li contá minha istóra.
Sinhô, doutô delegado,
Digo a vossa sinhuria
Qui inté onte fui casado
Cum a muié qui in vida
Se chamou RosA Maria.
Faz dez mês qui nós morava
Cumo pobre, é verdade,
Mas a gente se sintia
Rico de filicidade.
Pras banda qui nós morava
No lugá Chão – da – Cutia,
Morava tombém um cabra
Chamado Chico Faria.
Esse cabra mais pra trás
Tinha gostado de Rosa,
Chegaro inté a ser noivo,
Mas não fizero a introsa
Do casamento, pru mode
Mané Uréia de Bode
Que era padrim de Maria
Tê dismanchado essa prosa.
Entonce, Chico Faria,
Adispois qui nós casamo,
In conversa as vez dizia
Qui ainda mi dava fim
Pra se casá cum Maria.
Dessas coisa eu sabia
Mas nunca dei importança.
Tinha toda confiança
Na muié qui eu amava
Ou mais mió adorava
Cum toda minha sustança.
Dispois disso, o meu rijume
Era vivê trabaiano
Sem da muié tê ciúme.
A muié, pru sua vez,
Num me dava cabimento
Deu pensá qui ela fizesse
Um dia um farsejamento.
Mas seu doutô tome tento
No resto da minha istóra
Qui o ruim chegou agora.
Se não me farta a mimóra,
Já faz assim uns três mês
Qui o cabra Chico Faria,
Todo prosa, todo ancho,
Quage sempre, mais das vez,
Avisitava o meu rancho.
Purali discunfiado,
Cuma quem qué e num qué,
Eu fui vendo qui o marvado
Tentava minha muié.
Ou tentação ou engano,
Eu fui vendo a coisa feia,
Pru derradero eu já tava
- mosca detrás da uréia.
Os tempo foram passando
E o meu arriceiamento
Cada vez ia omentando
Seu doutô, vá iscutando!
Onte já de tardezinha,
Meu cumpade Quinca Arruda
Me chamô pra nós dançá
Num samba lá na Varginha,
Na casa de Mestre Duda.
Mestre Duda é um cabôco,
Um tocadô de premêra,
É o imboladô de coco
Mais bom daquela ribêra.
Entonce, Rosa Maria,
Sempre gostou de sambá.
Mas porém, discunfiada,
Me dixe já de noitinha
Qui pru samba ela num ia,
Qui tava muito infadada,
Precisava se deitá...
Eu fiquei discunfiado
Cum a preposta da muié
Dispois qui tumei café,
Quage puro, sem mistura,
Cum a faca na cintura,
Fui pru samba , fui sambá.
Cheguei no samba, doutô,
Quem era qui tava lá?
O cabra Chico Faria
Qui, quando foi mi avistando,
Foi logo me preguntando:
Cadê Sá Dona Maria?
Num veio não, pra dançá?
-Não sinhô, ficou in casa.
Pru Faria arrispondi.
Sintí entonce uma brasa,
Queimando meu coração.
Nunca mais pude tirá
As palavra desse cabra
Da minha imaginação.
Perdi o gosto da festa,
E não pude dançá não.
O cabra, pru sua vez,
Não dançava, seu doutô,
De vez in quando me oiava
Cum oiá de um traídô
Meia noite, mais ou menos,
Se adispidindo dos povo,
Disse: - Adeus, qui eu já vou.
Quando ele se arritirou,
Eu tombém me arritirei,
Atrás dele, sim sinhô.
Ele na frente, eu atrás,
Se o cabra andava depressa
Eu andava muito mais.
Noite iscura cumo breu!
Nem eu avistava o cabra,
Nem o cabra via eu.
sempre andando sempre andando
ele na frente eu atrás
já nem se escutava mais
a voz do fole tocando
na casa do mestre Duda
a noite tava mais preta
que a consciença de Judas
sempre andando sempre andando
eu fui vendo seu dotô
que o maivado ia tomando
direção de minha casa
minha casa sim sinhô
ja pertinho do terreiro
eu me escondi pro detrái
de um pé de trapiazeiro
abaixadinho escundido
prendi a respiração
abri os óio os uvido
pra mió ver e uvi
quá era sua intenção
seu dotô repare bem
o cabra oiando pra trás
do mesmo geito que faz
o ladrão pra ver aiguém
nao tendo visto ninguém
na minha porta bateu
de lá dentro uma voz
bem baixinho arrespondeu
ele entoce cá de fora
quem tá batendo sou eu
de repente abriu-se a porta
ai seu dotô nessa hora
a esperança tá morta
tava morto meu amor
no escuro uma voz falou
taqui seu chico um carta
que a tempo tinha escrevido
´pra mandar pra vóis micê
pro favor não leia agora
vá simbora va simbora
que que quando chegar em casa
tem muito tempo pra ler...
Quando minhas oiça uviu
As palavra qui Maria
Dizia pru desgraçado,
Eu fiquei amalucado,
Fiquei quage cumo um louco,
Ou mió, cumo um cabôco
Quando tá chei de isprito.
Dum sarto cumo um cabrito
Eu tava nos pés do cabra
E sem querê dei um grito:
-Miseráve! E arrastei
minha faca da cintura.
Naquela hora, doutô,
Eu vi o Chico Faria
Na bêra da serputura.
Mas o cabra teve sorte,
Sempre nessas circunstança
Os hôme foge da morte.
Dei de garra do papé,
O portadô da traição,
Machuquei nas minha mão
A honra, doutô, a honra,
Daquela farsa muié.
Dispois oiando pra carta
Tive pena, pode crê
De não tê prindido a lê
Nas letra ali escrivida,
O que dizia Maria
Pru marvado traídô.
Tive pena, sim sinhô,
Mas qui haverá de fazê,
Se nunca prindí a lê?
Maria me atraiçuou,
Essa muié qui um dia
Jueiada nos pé do artá,
Jurou in nome de Deus
Qui inquanto tivesse vida
Havera de mi honrá
E mi amá cum todo amô.
Cum perdão de seu doutô,
Quando vi o miseráve,
Na iscuridão da noite,
Dos meu zóio se iscondê,
Sem dexá nem sombra inté,
Entrei pra dentro de casa
Pra me vingá da muié.
Doutô, qui hora minguada,
Maria tava ajueiada,
Chorando cum as mão posta,
Cuma quem faz oração...
Oiando pra eu pidia
Pelo Cali, pela ósta,
Pelo amô qui eu li amava
Qui eu num fizesse isso não.
Sem dizê uma palavra,
Agarrei das sua mão,
Levantei ela pra riba,
E interrei inté o cabo,
O ferro da parnahyba
Pru riba do coração.
Sarvei a honra, doutô,
Sarvei a honra, apois não.
Dispois qui vi Maria
Cair sem vida no chão,
Vim falá cum vosmicê,
Vim cunfessá o meu crime
E mi intregá as prisão.
Se seu doutô num credita
Se sou criminoso ou não,
Tá qui a faca assassina
E o sangue nas minha mão.
Cumo prova da traição,
Tá qui a carta, doutô.
Li peço um grande favô.
Antes de vossa sinhuria
Me mandá lá pras prisão,
Me leia aqui essa carta
Pr’eu sabê cumo Maria
Preparava a traição.
A CARTA
“Seu Chico. Chã-de-Cutia
Digo a vossa sinuria
Qui só li faço essa carta
Pru sinhô ficá sabendo
Qui eu não sou a muié
Qui o sinhô tá entendendo.
Se o sinhô continuá
Cum seus dibique atrevido,
O jeito qui tem é contá
Tudo tudo a meu marido.
O sinhô fique sabendo
Qui cum seu discaramento
Não faz nunca eu quebrá
O sagrado juramento,
Jurado nos pés do artá,
No dia do casamento.
Se o sinhô é inxirido
Incontrou uma muié forte,
O nome do meu marido
Eu honro inté minha morte!
Sou de vossa sinhuria,
Sua criada Maria.”
Doutô, doutô me arresponda
O qui é qui eu tô uvindo.
Vosmicê tá lendo a carta,
Ou tá... tá me inludindo?
Doutô, meu Deus, doutô,
Maria tava inucente...
Mi arresponda, pru favô.
-Inocente, sim sinhô.
Matei Maria inucente...
Pruquê, seu doutô, pruquê?
Matei Maria somente,
Pruquê num prindi a lê.
Mangine agora o doutô
Quanto é grande o meu sofrê.
Sou duas vez criminoso.
Qui castigo, qui horrô!
Qui crime num sabê lê!
AUTOR: ZÉ DA LUZ
(Zé da Luz Severino de Andrade Silva, nasceu em Itabaiana, PB, em 29/03/1904 e faleceu no Rio de Janeiro-RJ, em 12/02/1965)