JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

terça-feira, 6 de maio de 2008

Terra amada torrão onde meus pés
Se aprumaram pra meus primeiros passos
Testemunha de glórias e fracassos
Vitimada por mil secas cruéis.
Mas, pra nós sertanejos, inda és
Dos rincões, o mais belo e mais lembrado
Por seus filhos poetas, decantado
Para todos és chão, terra e auxílio
E pr’aqueles que vivem no “exìlio”
És lembrança chorosa do passado

Como posso esquecer as madrugadas
Nas moagens de cana nos engenhos
Tantas lutas, fadigas e empenhos
Das debulhas de milho nas latadas
Das bonitas manhãs ensolaradas
Adjuntos nas limpas de algodão
Buscas d’água num poço com galão
Almoçar feijão-verde com torresmo
Quem viveu essas coisas? Fui eu mesmo!
Nos meus anos de ouro no Sertão.

Quem não cala nas tardes sertanejas
Para ouvir o lamento do carão
Alternado no canto do cancão
Como fossem poetas em pelejas
Os badalos dos sinos nas igrejas
Convidando o caboclo a se benzer
O vermelho do sol no entardecer
Ir morrendo pras bandas do poente
Num teatro que Deus fez para a gente
Assistir esperando anoitecer.

Quando a noite, qual manto de viúva
Vem pintar o Sertão de negras cores
Aparecem os noturnos atores
Sapo, briba, guará, peba e saúva
Um matuto deitado, escuta a chuva
Que cai mansa nas telhas da palhoça
Quando o vento enfraquece, a chuva engrossa
Pensa então o caboclo emocionado:
Se eu pudesse ia agora pru roçado
Começar preparar a minha roça.

Meu Sertão, minha terra, meu regaço
O meu verso não é suficiente
Pra cantar o teu solo, a tua gente
Que trabalha e resiste sem cansaço
Não se assombra com seca nem mormaço.
Um cenário que Deus arquitetou
Eu aqui do lugar aonde estou
Apesar do progresso e do barulho
Mando um verso falando do orgulho
De Ser Tão sertanejo quanto sou.

Bràs Ivan

Também nasci no sertão
Onde o sol nasce bonito
Onde a terra é seca e quente
E rimar é quase um rito
A musa que beija a face
Beija tres vezes quem nasce
Em São José do Egito.
(Brás Ivan)
Pra chorar encontrei outro motivo
Quando achei do engenho a velha porta
No oitão uma ingazeira morta
Decretava o fim definitivo
Cabisbaixo, tristonho e pensativo
Vim embora de novo pra cidade
Recordar é viver! Isso é verdade
Não poder viver mais é que não presta.
No lugar do engenho hoje só resta
Os escombros de dor e de saudade.
Do engenho herança dos meus pais
Do qual eu deveria ser herdeiro
Restam só os tijolos do bueiro,
Alguns cacos de telhas, nada mais.
Lá num canto de cerca ainda jaz
A moenda sem mais utilidade
Me responda poeta por bondade
Se existe tristeza como esta.
No lugar do engenho hoje só resta
Os escombros de dor e de saudade.
Eu quase me esquecia
Mas você rapidamente
Me advertiu dizendo:
Poeta cante pra gente!
Vou atender seu apelo
Que o sobrenome Rabelo
E sinônimo de repente. (Braz Ivan)
De Onde Meu Verso Nasce

Meu verso nasce enrolado
Nas ramas da gitirana
Depois que nasce o amarro
Com tira de imburana
Não faltam tiras nem versos
Sete dias por semana.

Eu vendo um rolo de cana
Se transformar em bagaço
Um vaqueiro destemido
De gibão, perneira e laço
Misturo tudo com rima
Nos muitos versos que faço.

E quando sinto o mormaço
No pingo do meio-dia
Uma cigarra estridente
S’acabando em cantoria
Pego os dois ingredientes
E transformo em poesia.

Quando o bacural vigia
Na cabeça da estaca
Um caçote perde a vida
Na presa da jararaca
Eu sinto que um verso nasce
E no meu peito se ataca.

Enquanto na arataca
Um preà se aperreia
Um bode “trupica”e cai
Por estar preso na peia
Sinto um magote de verso
Correndo na minha veia.

Enquanto na roça alheia
Menino rouba goiaba
A nuvem roxa de inverno
`As aguas do céu desaba
Eu colho versos da fonte
Cheia que nunca se acaba.


O cheiro forte da baba
D’uma vaca remuendo
Uma torre no nascente
Se no sertão ta chuvendo
Sinto na roça da alma
Um verso novo nascendo.

Quando vem amanhecendo
No terreiro da cozinha
Eu vendo um galo pedrez
Correndo atràs da galinha
Até isso entra em meus versos
Dando graça a rima minha.

Ainda de manhãzinha
Mâe preparando o café
Meu pai batendo a enxada
Vovô cheirando rapé
Vendo essas coisas me inspiro
Faço verso sem dar fé.

Pescando de jereré
Caçando de baladeira
Pastorando a criação
Me balançando em porteira
Somente lembrando disso
Faço verso a tarde inteira.


Brocando uma capoeira
Esperando as trovoadas
Ouvindo um vaqueiro velho
Rouco cantando toadas
Assim comecei fazer
Minhas estrofes rimadas.



Enquanto nas madrugadas
Caçava peba e tatu
Com fogo, fumaça e vara
Eu derrubava um enxu
Lavava a alma com versos
Nas aguas do Pajeu.




E quando o mandacaru
Nos dava a flor da esperança
A seca ia-se embora
Dando lugar a bonança
Eu rabiscava sem jeito
Os meus versos de criança.


Quando era noite de dança
Atravessava os riachos
Para ver as sertanejas
Com lindas tranças e cachos
Melodiava meus versos
No toque dos oito-baixos.


E quando os ferventes tachos
Borbulhavam nas moagens
Deus bendizia com chuva
Altos, baixìos e vàrgens
Eu jà descrevia em versos
Essas bonitas imagens.


E quando as cinzas paisagens
Denunciavam o estio
Eu na luz de um candeeiro
De lata, gàs e pavio
Cantava a terra rachada
Do leito seco do rio.


Um sertanejo bravio
Num serviço de emergência
Uma mâe com doze filhos
Sofrendo com paciência
Faziam com que meu verso
Ganhasse forma e essência.


Quando as mãos da Providência
Tinham compaixão do povo
Mandava chuva na terra
Como sinal de aprovo
Sentia um verso na alma
Começar nascer de novo.


Pra festa de ano novo
Quando pai caiava a casa
Mâe estirava o vestido
Num velho ferro de brasa
Sentia a rima crescendo
E o verso criando asa.


Quando na cacimba rasa
A seca prenunciava
Que estaria chegando
Sem dizer quando voltava
Eu sentia que calada
A minha alma rimava.


E quando a rama da fava
Marcava o cabão de milho
Um cheiro invadia a sala:
Angu, pamonha e sequilho
Assim nasceu meu repente
E disso meu verso è filho.


Ao ouvir um trocadilho
Do poeta lourival
Um padre fazendo verso
Na vigilia de natal
Dizia: quando eu crescer
Quero fazer um igual.


Vendo uma velha rural
Servindo de lotação
A vìrgem sendo exaltada
Num poema de Cancão
Nasceram assim no meu peito
Um monte de inspiração.


E quando a televisão
Não tinha lugar na sala
Vovò contava anedotas
Jà velha usando bengala
Ao lembrar disso minh’alma
Faz verso, soluça e cala.


E quando uma rosa exala
Cheiro excitando a abelha
Um pingo de chuva entra
Por uma brecha da telha
Faço um verso tão sofrido
Chega a rima saia vermelha.


S’a derradeira centelha
Do sol morre no poente
E o negrume da noite
Envolve o sertão da gente
Escuto a alma agitada
Gemer parindo repente.


E quando da terra quente
Se levantava o mormaço
Com um feixe de ração
Pesando em meu espinhaço
Eu fazia um verso inteiro
Rimando cada pedaço.


Assim o verso que faço
Nasceu aonde eu nasci
Bebeu a agua barrenta
Do barreiro que bebi
E comeu o xerem quente
Com leite como eu comi.


Os versos que eu pari
Nunca chamarei de meus
Porque sò fiz o retoque
E alguns detalhes seus
Fiz eu o acabamento
Quem criou mesmo foi Deus.


Não os quero nos museus
(Passa-Tempo de granfino)
E nem ornados em ouro
Escritos em papel fino
Os quero escritos somente
Na alma do nordestino.
(Brás Ivan)



Desafio entre o Reverendo Brás e João Rolim

Brás
João Rolim tu tens sido até feliz
Nas pelejas que tens participado
Mas, comigo o rojão é mais pesado
Já passei do meu tempo de aprendiz
As proezas que até agora fiz
Dão a prova de minha competência
Reconheço a sua inteligência
Mas, não corro, não temo nem vacilo
Se quiser pelejar diga o estilo
Ou o tema de sua preferência.

João
Eu não sei qual a tua sapiência
Mas terás o castigo que mereces
Pegue o terço e comeces tuas preces
Pois de mim não terás sobrevivência
Já tomei a devida providência
Pegues leite e mistures com mastruz
Sou carrasco coberto com capuz
Vim trazendo mil galhos de urtiga
Pra fazer tu secares a bexiga
Vou te dar três lapadas numa cruz

Brás
O teu verso é opaco, o meu reluz
Tua rima é quebrada, a minha inteira
Já venci no repente Zé Limeira
Otacílio Batista e Zé da Luz
Tu terás que comer muito cuscuz
Pra fazeres um terço do que fiz
Derrotei Lourival, Dimas,Diniz,
Xudu, Pinto, Cancâo, Jó e Valdir
Vila-Nova, Amâncio e Moacir.
E eu era somente um aprendiz.

João
Nossa! Nunca fiquei, assim, feliz
Com trezentos mil nomes de poetas
Menestréis, pais das rimas mais completas
Nossos deuses de versos de raiz!
Tão mais fácil serei a geratriz
Colocando teus versos lá pra trás
É melhor, pois ganhando de "seu" Brás
Serás tu, mais trezentos mil perdidos
Vão ficar todos loucos, sacudidos
Com mal sonhos, comigo, o ferrabrás!

Brás
Vou mostrar a você como se faz
Desafio em Martelo Agalopado
Quem estuda comigo sai formado
Com mestrado nas rimas principais
Os alunos, porém, não são iguais
Nem maiores que os mestres do repente
Pra você respeitar minha patente
Vou lhe dar uma surra extravagante
Pra você aprender de hoje em diante
Nunca mais afrontar cabra-valente

João
Sou Netuno, do mar, com meu tridente
Castigando tu'alma de bastardo
O maior dos felinos: leopardo
Que te ataca com sangue no meu dente
Sou o sol que renasce no oriente
E sou lua se pondo do outro lado
A patente que tens é de soldado
Já eu sou o maior dos generais
Sou, das rimas, o pai de todos pais
Tu és filho e serás meu deserdado

Brás
Dos poetas que têm me enfrentado
Dois deixaram o Brasil rapidamente
Um deixou de cantar e virou crente
Um deixou a mulher virou viado
Dois ficaram sem voz, um aluado
Hoje pede esmola na esquina
Três deixaram a terra nordestina
Peguei um "poetinha" amador,
Dei-lhe tanto um dia em Salvador
Que correu, foi morar em Teresina.

João
Capei um, de machão, virou menina
Descambei seu reinado faz-de-conta
Não aceito nenhuma desafronta
E o poeta aprende essa doutrina
Eu prescrevo-te dose de morfina
Pra acabar com a dor que te agonia
Eu comi teu sobejo de poesia
Digeri e caguei tudo rimado
Nesse chão vou deixar tudo adubado
Pra nascer minha bela dinastia

Brás
Teu reinado eu já sei como seria
Um castelo pequeno de areia
A rainha, uma rapariga feia
A princesa uma puta da Bahia
Um cavalo-de-pau por montaria
General, um cachorro vira-lata
Por exercito uma praga de barata
Refeição será bosta de besouro
Quatro "bilas" quebradas o teu ouro
Um rebôlo de pedra a tua prata.

João
Rapariga, donzela, até beata
Todas provo, com fúria e com paixão
Meretriz da Bahia ou Maranhão
São acordes pra minha serenata
Sou cavalo-de-pau que se desata
Um cachorro-sem-dono a viajar
Sou barata que vai te envenenar
Alquimista com prata em toneladas
Transformando teus versos em latadas
E latadas num belo recitar






Brás
Sou as cores do manto de Iemanjar
Sou o traço da linha do Equador
Sou a ponta do bico do condor
Sou a luz prateada do luar
O gemido da ema a soluçar
Contemplando as centelhas do sol posto
Para vate pequeno e indisposto
Ou pseudo-poeta como tu
Sou malvado que nem mandacaru
Não lhe sombra fresca nem encosto

João
Sou poeta, sou teu sincero oposto
Rezo às graças de Nossa Mãe Maria
A Jesus, eu pra sempre cantaria
A Satã, jogo pragas no seu rosto
Jogo o doce no mar, mudando o gosto
E depois tempestade no sertão
Sou a lava explodindo do vulcão
Injeção pra curar qualquer doença
Minha marca que trago de nascença
É bater em poeta fanfarrão

Brás
Com poetas da tua posição
Pelejar é jogar verso no mato
Não consegues fazer um verso exato
Faltam métrica, rima e oração
Um poeta da minha condição
Cuja rima é perfeita, o verso belo
Nem devia escutar esse donzelo
E deixar que o povo lhe esqueça
Onde diabos estava com a cabeça
Quando te convidei para o duelo?

João
Vou marchando e teus versos atropelo
Como cinco mil homens numa guerra
Essa briga, veremos que se encerra
Quando tu se quebrares em farelo
Eu cansei de tua rima e te afivelo
Passo a rédea, castigo e deixo manco
Dou-te uns chutes certeiros no teu flanco
Que até hoje, tu mijas puro sangue
Faço para que todo o povo mangue
E só chorem de rir quando te espanco

Brás
No meu time você fica no banco
Sem direito a chutar nenhuma bola
Serás sempre reserva e eu cartola
Serei sempre estrada e tu barranco
Onde quer que te escondas te arranco
Onde quer que tu corras vou atrás
Vou lhe dar uma surra tão voraz
E depois do serviço concluído
Tu dirás orgulhoso e comovido
Minha gente, hoje apanhei de Bràs!

João
Sou o tiro de cruz no satanás
Meteoro caindo no teu bucho
Sou a 12 cheinha de cartucho
Disparando na frente e por detrás
Sou valete, rainha, rei e ás
Dum baralho, marcado e bem certeiro
Sou a benção almejada por romeiro
Quando reza uma prece a Padim Ciço
Sou o vinho francês, queijo suíço
Cascavel com meu bote traiçoeiro

Brás
A cigana roubou o teu dinheiro
Predizendo teu dom de menestrel
Tô pensando que essa cascavel
Não agüenta meu carcará guerreiro
Vou lhe dar uma chance companheiro
De correr antes que você se acabe
Você quer um lugar, mas, não lhe cabe
No partido dos grandes do repente
Vá passar anador pra dor de dente
Deixe aqui, cantoria pra quem sabe.

João
Deixa tu, e meu verso leia e babe
Pois voltei com mais força que Sansão
Sou Rolim, meu primeiro nome é João
Corra logo, antes que você desabe
Todo grito de dor bem mais lhe cabe
Zé Limeira uma vez me disse bem:
"João Rolim, esse Brás não é ninguém
É melhor tu parar, se não Brás chora
Não mais perca seu tempo, vá embora
Pois tu és cantador pra mais de cem"

Brás
Joao Rolim você sabe muito bem
Que comigo o buraco é mais embaixo
Tenho verso guardado e desencaixo
Faço os meus e empresto a quem não tem
Mas, você se atraveu fazer desdém
Numa frase que Limeira propôs
Es mais fraco que água de arroz
O teu verso é suado e sem sentido
Se Limeira não tivesse morrido
Meteria o cacete em todos dois

João
Tu conhece, seu Brás, carro-de-bois,
Que se vê no sertão de meu nordeste?
Pois eu sou um vaqueiro tão da peste
O melhor, com certeza, de nós dois
Pois afirmo, pro mundo, que não sois
Nem mugido que dá esse animal
Aliás, eu menti, tu, afinal
És um deles, que puxa a chicotadas
Dou-te pisa sem medo das chifradas
E tu levas, e eu João, vou magistral

Brás
Eu conheço de certo esse animal
Não me ofende uma tal comparação
Já que os bois são a força do sertão
E motores da industria rural
Já você também mora no curral
Mas tem outra função e outro plano
Passa o dia no pasto sem ter dano
Sendo que o que dais por serventia
Cinco litros de leite em cada dia
E um bezerro parido todo ano.

João
Eu já soube que és paraibano
Da cidade que brota cordelistas
Mas não chegas aos pés do teus artistas
Pois nas rimas, pra ti, sou desumano
Sou cearense-soteropolitano:
Da Bahia amada onde eu nasci
Pôs-me forte sua tribo Guarani
Sob o sol escaldante eu me criei
Mas meu versos, seu Brás, eu lapidei
Nas belezas do belo Cariri
João

Brás
João Rolim eu agora entendi
Que brigar com você é sem futuro
Toda vez dou de cara contra o muro
Pois rimar ruim assim eu nunca vi
Faça um curso intensivo por ai
Depois marque comigo uma porfia
Te ensino também geografia
Pra saber Pernambuco aonde è
Que eu nasci, cabra besta! em São José
Capital mundial da poesia

João
Aprender matemática, agronomia,
Ou história, ciências e francês
Estudar geometria, português
Bioquímica e até filosofia
Isso tudo, querendo eu bem faria
Sem suar, só por pura brincadeira
Mas escola da trova condoreira
Não se vê em qualquer rincão perdido
Pois aqui o seu verso é suprimido
Por matuto da brenha catingueira

Brás
O meu verso se inspira na rendeira
De mãos grossas rendendo a branca lã
No orvalho gelado da manhã,
É mais quente que boca de caieira
E você não achando uma maneira
Para ao menos de longe me seguir
Começou a tentar me agredir
Dando coice e rinchando como um jegue
Me afrontar,tudo bem, você consegue
Me vencer, é difícil conseguir.

João
Tudo bem, eu não vou mais te ferir
Já que tu não consegues segurar
Eu começo outro verso pra brincar
Só espero que largues de mentir
Pois comigo não vais sobressair
Sente aí, aprecie o cantador
Há mil anos que faço a tua dor
Já que sou o bisneto dos três "pês"
Eu herdei de Joaca* o que tu lês
Não confundas mal-feito com primor

Brás
Posso até respeitar o teu valor
Se fizeres um verso com sentido
Porém tudo de teu que tenho lido
È sem cheiro, sem forma e sem sabor
No teu verso também eu quero por
Cinco letras: um "D" de duvidoso
Acrescento um "V" de vergonhoso
Eis aí a razão por que me temes:
É por que o teu verso tem 3 "Émes"
Mutilado, medíocre e mentiroso.

João
Eu achei o teu verso duvidoso
Pois falaste de três "émes" completos
Pode vir com antigos alfabetos
Que eu até fico mais que curioso
Mas os "pês" de meu verso astucioso
São honrados por todo meu parente:
Pegues, passes, pareças pertinente
Pois, pateta, precisas pesquisar
Poetinha pedir pra pelejar?
Porque paras, perdido plenamente?

Brás
Com você tenho sido complascente
Mas,agora acabou a brincadeira
Ou você se apruma na fileira
Ou se lasca comigo no repente
Vai ser esse o rojão daqui pra frente
Eu na frente e você correndo atrás
Você tenta, se esforça mas, não faz
Acordado o que eu faço dormindo
Tô chegando e você nem tá partindo
Sento aqui e te espero um pouco mais.

João
Teu navio não se ancora neste cais
Dos mais belos, temidos do repente
Eu nasci lá na terra do sol quente
Meus cordéis são maiores e imortais
Tu verás nestes teus tempos finais
Que poeira é seu único companheiro
Pois eu sei que és último e eu primeiro
Sou maior, seu cabrinha, sai daqui
Tenho a força da tribo Kariri
Que criou minha rima em Juazeiro

Brás
O meu verso forjei no tabuleiro
Cada estrofe que faço é de um talho
Já a sua é feita de retalho
Até hoje não vi um verso inteiro
Me rebaixo pra ser seu companheiro
Mas você nem assim me acompanha
Quanto mais se esforça mais apanha
Vai à missa, se benze e faz promessa,
Ler romance,cordel,se interessa,
Pra ganhar a peleja,mas, não ganha.

João
Essa tua frescura não me arranha
Pois eu sou cordelista muito macho
Colho versos que nascem neste cacho
Da mais bela natura da montanha
Saiba, Brás, que comigo é na inhãnha*
Meus retalhos são mais que os teus vestidos
Pra cabrinhas mal-feitos e exibidos
Que vieram pensando em pelejar
Vá de reto e aprenda qual seu lugar
Pois aqui seus martelos são feridos

Brás
È tortura demais pra meus ouvidos
Essa tua cantiga retalhada
Parte bem, mas, bem perto da chegada
Se ver logo uns três versos perdidos
Os teus erros são todos conhecidos
São de métrica, rima e oração
Apesar disto tudo ainda são
Sem sentido, sem pé e sem cabeça
Até hoje não vi um que mereça
Um minuto de minha atenção





João
Eu confesso: teu verso é sem noção
Nunca esteve entre os grandes do repente
No Martelo eu sou muito mais decente
Já tua sina é viver na contramão
Sou a fúria carnívora do leão
Que trás sangue por entre suas presas
Avoante que vê todas belezas
Lá de cima, num vôo ao firmamento
Tenho o verso mais lindo em nascimento
Enfeitado com mantos de riquezas

Brás
Vou agora somar tuas fraquezas:
Verso torto quebrado pelo meio,
Rima fraca franzina sem recheio,
Orações sem contexto e sem belezas.
Se não fosse umas duas safadezas
Entre os versos os dismetrificando
As estrofes seriam como um bando
De elefantes na loja Cristal
É assim o teu fraco recital
É assim que até hoje vens cantando

Dinheiro do Santo
Nosso sertão tem histórias
Que até o diabo duvida
De desventuras, de glórias,
De coisas da outra vida.
Essa que eu vou contar
Aconteceu num lugar
Pequenino,pobre e feio
Porém de gente decente
De cabra honesto e valente
Era Riacho do Meio.

Naquele tempo o distrito
Tinha uma igreja pequena
Para se cantar bendito
No mês que tinha novena
O povo todo acorria
Quando a igreja abria
E alguém o terço puxava
Outro levava um dinheiro
Para o santo milagreiro
E aos seus pés depositava.

Um frade tinha doado
À capela do distrito
Um santo muito afamado
Por nome São Benedito
O santo era poderoso
E logo ficou famoso
Porque mostrou muita raça
Quem rezava e lhe pedia
Nem bem da igreja saia
Já tinha alcançado a graça.

Todo tipo de promessa
O povo vinha fazer
O santo mais que depressa
Não tardava em atender
Pedido de todo jeito
Pra se livrar de defeito,
Pro ano ser bom de inverno
Moça velha se casar
Ladrão deixar de roubar
E se livrar do inferno.

O santo logo ganhou
O titulo de padroeiro
O padre a missa rezou
Para o santo milagreiro
E o povo na capela
Reza, acendia vela
Depois cantava um bendito
Para o santo padroeiro
E não faltava dinheiro
Nos pés de São Benedito.

No ano quarenta e três
Teve uma seca infeliz
Choveu um quarto de mês
Dos sertões aos cariris
E Antonio Cabugé
Que inda hoje vivo é.
Sem ver mais nuvens no céu
E a lavoura perdida
Resolveu fazer partida
De Barra de São Miguel.

E foi procurar trabalho
Logo em Riacho do Meio
Arrumou um quebra-galho
Para fazer um esteio
E foi por ali ficando
Sempre,sempre trabalhando
Todo serviço enfrentava
Lutava a semana inteira
Quando era dia de feira
Umas cachaças tomava.

Antonio era um rapaz
Que lhes dizer eu preciso
Não era doido demais,
Nem tinha muito juízo
Mais era trabalhador
Honesto e respeitador
Todos lhe queriam bem
Era bem visto na rua
Tomava a cachaça sua
Sem fazer mal a ninguém.
Quem parte do cariri;
Um lugar que chove pouco
E vem parar por aqui
Só pode ser mesmo louco.
Pois se lá è ruim que dobra
Aqui é pior e sobra
Padece da mesma falha
Pra quem vem de São Miguel
É sair do fogaréu,
Pra entrar numa fornalha.

Antonio è feito dum talho
Que hoje não se usa mais
Não tem medo de trabalho
Mandou, pagou, ele faz
Sua palavra é um tiro
Até o ultimo suspiro
Sustenta a palavra dada
Mesmo ninguém nunca viu
De norte a sul do Brasil
Antonio com enrolada.


Antonio um dia tomou
Umas bicadas a mais
Porque ele misturou
Cana com vinho São Brás
Não era de embriagar-se
Mas sem que ele notasse
Perdeu o rumo dos astros
E fico na ocasião
Como se diz no sertão:
Fazendo dum pé, dois rastros.

Antonio então resolveu
Que queria outra bicada
Porem logo percebeu
Que no bolso, tinha nada
Ficou meio encabulado
Porque já tinha alisado
E não tinha uma ruela
Saiu andando sem norte
E por azar ou por sorte
Se viu dentro da capela.

Quando Antonio olhou de lado
Viu a imagem do santo
E ficou admirado
Quando também viu o tanto
De dinheiro velho e novo
Que era oferta do povo
Para o santo poderoso
Nisso Antonio levantou-se
Da imagem aproximou-se
E disse em tom respeitoso:

Boa tarde cidadão
Sô Antôio Cabugè
Moro perto do grotão
Trabaio pra João Coité
Recebo toda sumana
Quero tumar uma cana
Mas tô mei disprivinido
Percibi sua bondade
E tomei a liberdade
Di li fazer um pidido:

Da pru sinhô me arrumar
Do muito cobre que tem
Cinco minrés preu tumar
Uma ali no armazém?
Podi imprestar sem sobrosso
Que sabu despois do armoço
Assim que eu receber
O meu pequeno ordenado
Podi ficar sossegado
Que eu vem aqui lhe trazer.


Comigo não tem perigo
Do sinhô num receber
Pode escrever o que eu digo
Depois espere pra ver
Se eu tenho palavra ou não
Pois daqui pru Riachão
Meu nome é limpo na praça
E se o sinhô mim emprestar
Garanto de li pagar
Di sabu que vem num passa.
São Benedito ficou
Calado e indiferente
Ele consigo pensou:
Quem cala é por que consente.
Ficou na ponta dos pés
Pegou os cinco minrés
Despediu-se gentilmente
Com o dinheiro emprestado
Entro no bar de Conrado
Tomou mais uma aguardente.

Tinha um guarda na capela
Rezando na sacristia
Escutou toda novela
Que Antonio ao santo dizia
E resolveu esperar
Se ele vinha pagar
Como tinha prometido
E depois achou por bem
Não contar nada a ninguém
Sobre o que tinha ocorrido.

Antonio voltou pra roça
Trabalhou feito um jumento
Sempre a noite na palhoça
Lembrava do juramento
E consigo ia pensando:
Eita, tá quage chegando
O dia do ordenado
Compru um sandaio prus pés
E levo os cinco minrés
Daquele homi educado.

Quando enfim chegou o dia
Que Antonio tinha marcado
Pegou a justa quantia
E partiu meio apressado
Quando foi na rua entrando
De longe foi avistando
Meio sem acreditar
Pois sim! era Cazuzinha
Seu irmão menor que vinha
Da Barra lhe visitar.


Se entreteram meia hora
Num constante blablablà
Antonio lhe disse: Agora
Fique aqui que eu volto já
Vou acertar um negoço
Pois me esquecer eu não posso
E hoje é o dia certo
Depois da conta acertada
Nós toma uma bicada
Ali no bar de Adaberto.

Quando ele ia saindo
O guarda se aproximou
Onde o senhor está indo?
Zangado lhe perguntou.
Deixe dessa veiaquisse
Não foi o senhor que disse
Que hoje pagava o santo
Pois pegue os cinco minrés
E vá botar nos seus pés
Você sabe onde è o canto.

Quando Antonio aquilo ouviu
Ficou dispranaviado
Pra igreja se dirigiu
Sem responder ao soldado
A porta tava encostada
Deu lhe logo uma pesada
Foi tabua pra todo lado
Sem que ninguém lhe impedisse
Pegou o dinheiro e disse:
Toma ai cabra safado.

Por certo você pensava
Que eu não vinha lhe pagar
Me diga se precisava
Você o guarda mandar
Cobrar essa minxaria
Saiba que essa quantia
Para mim não vale nada
Comigo você foi raso
Eu inda tava no prazo
Você que fez paiaçada.
Ao ouvir o lambassé
O sacristão perguntou
O que è isso Cabugé,
Por que a porta quebrou?
Antonio lhe disse: nada!
Eu e esse camarada
Tamu acertando uns pendido
Fique fora da manobra
Se não o cacete sobra
Também pru seu pé do uvido.


E partiu feito um leão
Pra cima de Benedito
Lhe agarrou o sacristão
Uma velha deu um grito
Juntou gente pra danado
O cacete foi pesado
Não ficou um banco em pé
Por mais gente que juntasse
Não tinha quem sigurasse
A fùria de Cabugé.

Quem chegava pra apartar
Um bufete recebia
Com raiva, pra se vingar
Com pancada respondia
E a briga ia aumentando
E sempre gente chegando
Homem, mulher e menino
Quebraram com uma vassoura
A caixa da difusoura
E toraram a corda do sino.

No meio da confusão
Quebraram a chapa de Noca
Acertaram um bufetão
Na filha de Zé de Doca
Depois rasgaram o vestido
De Zefa de zé cumprido
Inda hoje ela tem mágoa
Ligeira como um foguete
Pra se livrar do cacete
Saiu correndo de anágua.

E nisso banco voava
E na parede batia
Um deles quase acertava
Nossa Senhora da Guia
No meio da bagaceira
Um pedaço de cadeira
Acharam por bem jogá-lo
Mesmo em São Jorge, patrão
Que ficou sá o dragão
E um taco do cavalo.

Quebrou-se o confessionário
De um coice que Antonio deu
O pobre São Januário
De um golpe que recebeu
Começou a balançar
Não tendo onde se apoiar
Espatifou-se no chão
Jogaram um pau em Abreu
Trincou São Judas Tadeu
Quebrou São Sebastião.


Tinha uma imagem indefesa
De São José e Jesus
Jogaram um taco de mesa
Acertou logo na luz
Depois atingiu o santo
Foi caco pra todo canto
O fuzuê foi bonito
A santaiada quebrada
Só quem não levou pancada
Foi mesmo São Benedito.

A bagunça se desfez
Quando a policia chegou
Todo mundo pro xadrez!
O delegado frisou.
Algemaram todo mundo
Somente José Raimundo
Filho de Nhô Nicolau
Invés de ir pra cadeia
Passou foi semana e meia
Na cama do Hospital.
Liberaram cabugé
Depois de alguns contatos
Porque nenhum um doido é
Responsável por seus atos
Liberaram todo mundo
Depois também Zé Raimundo
Teve alta do hospital
Riacho do Meio aos poucos
Apesar dos muitos loucos
Ia voltando ao normal.

Indireitaram a capela
Madaram imendar os santos
Bendito louvado seja!
Dizia o povo entre prantos
Sempre entoando bendito
Louvando São Benedito
Que do furdunço escapou
Já tem outra imagem até
De Jesus e São José
No lugar da que quebrou.

O vigário novamente
Fez a inauguração
E disse:daqui pra frente
É pra prestar atenção
Quando quiserem brigar
Procurem outro lugar
Pra fazer esse serviço.
Vão bagunçar noutros cantos
Que aqui sobrou foi pros santos
Que não têm nada com isso.


Antonio voltou pra lida
Tocou a vida pra frente
Manerou com a bebida
Mas inda toma aguardente
Continua sem preguiça
Vez enquando vai à missa
Reza pra Santo Expedito,
São José do Ribamar
Mas, não quer nem escutar
O nome São Benedito.
Bràs Ivan,
Suiça, maio de 2007.

Eu cantando já fui fenomenal
Comecei quando ainda era menino
Bati muito no velho Zé Faustino
Açoitei Cancão, Pinto e Lourival
Ivanildo me viu e passou mal
Moacir ao me ver correu pra trás
venci mais de duzentos festivais
E Geraldo onde me ver se espanta
No lugar onde eu chego ele não canta
E o que é que me falta fazer mais


Na Igreja fiz grande intervento
Todo mundo aceitou a minha idéia
Convoquei os Concílios de Nicéia
Dois em Constantinopla e um em Trento
Só se é Papa com meu consentimento
E sou eu quem elege os Cardeais
Os discursos que Bento sempre faz
Lhes dizer a verdade agora devo.
Ele os ler, mas, sou eu que os escrevo
E o que é que me falta fazer mais.

Este ano eu fui prêmio Nobel
Acabei os conflitos da Irlanda
Pus um fim na guerrilha de Uganda
Fiz aquele inferno virá céu
E dali eu parti pra Israel
E depois reuni-me com o Hamás
Prometeram a mim viver em Paz
Sem ofensa, sem rixa e sem ataque
Amanhã parto cedo pro Iraque.
E o que é que me falta fazer mais.
(Braz Ivan)

Todo dia assim que amanhece
Eu elevo a Deus uma oração
E movido de força e emoção
Eu elevo a Deus a mesma prece:
Quem me dera Senhor que eu tivesse
Na Recife, gigante hospitaleira
Guardiã da cultura alvissareira
Capital do estado e nosso orgulho.
Ah meu Deus! se amanhã já fosse julho
Pr'eu rever a "Veneza brasileira".

Ir à praia sentir a doce aragem
Temperar a garganta com pitù
Com caldinho de peixe e sururu
Contemplando do mar sua paisagem
Ir do Pina até Boa Viagem
Pra rever a pracinha e sua feira
Ir à Igreja rezar pra padroeira
E fugir um momento do barulho.
Ah meu Deus! se amanhã ja fosse julho
Pr'eu rever a "Veneza brasileira".

Quem me dera, sem ter pressa nenhuma
Contemplar a paisagem calma e linda
Num domingo de sol na Sé de Olinda
Pra comer tapioca e tomar uma.
Ir à praia e pisar na branca espuma
E depois caminhar na orla inteira
Ver a onda gigante vir ligeira
E bater de encontro ao pedregulho.
Ah meu Deus! se amanhã ja fosse julho
Pr'eu rever a "Veneza brasileira".

Er’eu dormindo e sonhando
Que « tava » no Pajeù.
Ouvi um som parecido
Com um baião de viola
Vi um pé de castanhola
Um umbuzeiro florido
Vi um boi esmorecido, Um menino com lundu
Vi um pé de mulungu
A seca desafiando:
Er’eu dormindo e sonhando
Que “tava” no Pajeú”.


Eu vi num dia de feira
Um cego desafinado
Tocando um velho teclado
Só cantando “roedeira”
Também vi na “salgadeira”
Um matuto semi-nu
Com um “quartim” de pitù
Jà quase se embriagando.
Er’eu dormindo e sonhando
Que “tava” no Pajeú.

Eu fui a Serra escutar
Na linda igreja da penha
O povo cantando: “Venha
Trazer paz para o meu lar”
Vi Marcolino cantar
A “Fulô do Cumaru”
“Feira de Caruaru”
Gonzagão interpretando.
Er’eu dormindo e sonhando
Que “tava” no Pajeú.

Me vi em vários lugares:
Afogados, Mirandiba
Calumbi e Carnaíba
Respirando doces ares,
Sempre provando em seus bares
“Tira-gosto” de tatu
Ou “tira-gosto” de umbu
Se grana estava faltando.
Er’eu dormindo e sonhando
Que estava no Pajeú.



Percorrendo o longo rio
Sem barcos, mapas e setas
Encontrei vários poetas
Cantando em desafio
Vi um poeta bravio
Desafiando Xudu
Vi Dimas, jò, Zé Lulu
E Louro trocadilhando.
Er’eu dormindo e sonhando
Que “tava” no Pajeú.


Quase senti os odores
De muçambê e jasmim
Quase vi Itapetim
A terra dos cantadores
Vi a igreja de Flores,
Uma safra de cajo,
Ia comendo um bejù,
Mas, aì, fui acordando.
Er’eu dormindo e sonhando
Que “tava” no Pajeú.

Acordei e me dei conta
Que estava muito distante
Mas, inda estou confiante
Qu'esta tristeza tramonta
Verei o sol que desponta
Como fosse um príncipe nú
Quero juntar eu e tu,
E nòs no mesmo lugar.
Quero dormir e sonhar
ESTANDO no Pajeú.

Bràs, Suiça, 21 de abril de 2008
Algumas sextilhas do poeta aldo Neves na cantoria de inauguração de sua viola, na Pousada do Vale, no dia 16/02/2008.
Eu puxei antigamente
Jumento pelo estovo
Vendo pai fazendo cerca
E minha mãe juntando ovo
Daria tudo que tenho
Pra ser criança de novo



Sextilha (A paisagem Nordestina)
A paisagem nordestina
Primeiro a chuva caindo
Segundo a terra molhada
Terceiro a flor se abrindo
Quarto um açude sangrando
Quinto a pastagem surgindo
(Aldo Neves)
Mais sextilhas da cantoria:

Pra o homem que é vigilante
O seu sofrer continua
Que só tem por companhia
A solidão e a lua
Cuida da casa dos outros
E anoite cuida da sua

Nessa hora na calçada
Cochila um ébrio deitado
O silêncio faz visita
Na cela d’um carcerado
E a natureza me obriga
Viver sonhando acordado

A noite acolhe os fantasma
Um detento forra a cela
A lua nasce embassada
Por trás da nuvem amarela
Se a viola é minha cruz
Vou ter que carregar ela.

Eu comparo a mocidade
Com a aurora prateada
Velhice cadeia triste
Com sua porta fechada
Que o delegado dos anos
Ver tudo mas não faz nada

Quando o inverno começa
Toda tristeza se esconde
Uma casaca de couro
Canta e outra responde
E a cheia arranca um caniço
E vai deixar não sei aonde.

Quando chove no sertão
Fica tudo diferente
A compesa solta, a agua,
Cobra e humilha o cliente.
Deus quando manda é de grasça
Não cobra nada da gente

A enchente empurra as varas
Pra desmanchar o caniço
As abelhas fazem mel
Se enganchar no cortiço
Quem se criou no sertão
Sabe o que é tudo isso
(Aldo Neves)

Admiro a sabiá
Por ser uma ave bela
Faz o ninho poe e choca
E quer o filho perto dela
E tem mãe que mata a criança
Pra não dá trabalho a ela.
(Dió de Santo Izidro)
Numa missa em Tuparetama, na missa do dia dos pais em agosto 2006, o poeta Aldo Neves fez:

Decassílabo
Jesus cristo tem sido até agora
Protetor de ateus e de pagãos
Me entrego senhor em tuas maõs
Tando aqui ou andando mundo afora
Ele a ajuda a que ri e a quem chora
Porque é paciente e bom amigo
Me livrando da treva e do perigo
É o mestre do mundo e da igreja
E por mais longe senhor que eu esteja
Com certeza eu alcanço o teu abrigo

Sextilha
Quando chove no sertão
Se acabam todos os horrores
As abelhas fazem mel
Tirando o néctar das flores
E a capina é o cenário
Do filme dos cantadores
Mote: FICOU FELIZ O SERTÃO
COM A CHUVA NOVAMENTE (Josa Rabêlo) dia 10 de junho/2007
Com medo de um perdigueiro
Corre um preá pra coivara
E uma rolinha se ampara
Na sombra de um juazeiro
Na sangria de um barreiro
Canta um cururu contente
Deus deixa a cigarra ausennte
E dá lugar pra o carão
Ficou feliz o sertão
Com a chuva novamemte

Quando a terra está molhada
No curral as vacas mugem
Camponês tira a ferrugem
Do gume da sua enxada
Levanta de madrugada
Já vai escolher semente
E não vai fcar um vivente
Sem plantar milho e feijão
Ficou feliz o sertão
Com a chuva novamente

Quem tinha arrumado a mala
Não vai sair do sertão
Na zuada do trovão
Toda cigarra se cala
No riacho a água embala
Levando o que tem na frente
Parecendo uma serpente
Se arrastando pelo chão
Ficou feliz o sertão
Com a chuva novamente

A nuvem sofre um desmaio
Deixando o céu colorido
O trovão dá estampido
Como quem faz um ensaio
Um pe´de apara-raio
Se balança lentamente
Não se parece com gente
Mas dá ligeira impressão
Ficou feliz o sertão
Com a chuva novamente

No riacho a água sobra
Levando as folhas da serra
Deus une o céu com a terra
Quando a chuva se desdobra
Pra se esconder de uma cobra
Sai um sapo velozmente
E num relâmpago do nascente
Deus tira a foto do chão
Ficou feliz o sertão
Com a chuva novamente
(Aldo Neves)

O poeta Aldo Neves, no mote de Josa Rabêlo:

VALORIZE A CULTURA DO SERTÃO,
FECHE AS PORTAS À MÍDIA ENGANADORA.

Valorize o caboclo nordestino
O gibão, o vaqueiro e sua cela;
O curral o mourão e a cancela,
O chocalho que é boca de sino.
Dê valor ao caboclo campesino
Que é o homem sofrido da lavoura.
E por aí já tem mais de uma emissora
Que não sabe quem foi um Gonzagão,
VALORIZE A CULTURA DO SERTÃO,
FECHE AS PORTAS À MÍDIA ENGANADORA.

Dê valor a um carão de madrugada,
Que não é um doutor mas advinha.
E vinte pintos seguir uma galinha
E ela só, tomar conta da ninhada.
E um trovão estralar de madrugada
Sem contato com os fios da emissora.
E a formiga cortar sem ter tesoura
Estragando a lavoura do feijão.
VALORIZE A CULTURA DO SERTÃO,
FECHE AS PORTAS À MÍDIA ENGADORA


Camponez quando acorda sabe a hora
Com o galo que é seu seresteiro
Com o sapo cantando no barreiro
E com o sol enfeitando a branca aurora
Um riacho jogando água pra fora
Sem ter canos que sirva de adutora
Inda tem nessa terra encantadora
A sanfona, o chapéu e o gibão
VALORIZE A CULTURA DO SERTÃO
FECHE AS PORTAS PRA MÍDIA ENGANADORA


O poeta do pé da serra – Aldo Neves, (Aldo de Luiz Terto), fez esses versos em homenagem aos 48 de convivência de João Martins e Dona Nilza.

São quarenta e oito anos
De muita felicidade
Do lado de dona Nilza
Prazer e honestidade
Do lado de João Martins
Safadeza e falsidade.

João Martins pediu que o poeta não acabasse com ele e o poeta fez:

São quarenta e oito anos
De convivência e respeito
Aonde existe bons planos
A união faz efeito
E nem na loto se ganha
Um homem bom desse jeito

Na Exposição de Animais de Tuparetama vendo a lua sair cheia e bonita Josa Rabêlo pediu ao poeta Aldo Neves que fizesse um verso pra ela, a lua.

A lua no Céu Vagueia
Como um barco que flutua
Inspirando o seresteiro
Jogando os raios na rua
Tudo que o poeta é
Só deve a Deus e a lua

Pra lua sair bonita
Deus é quem abre a janela
E o quadro azul do espaço
A natureza pincela
Num sei quem é mais bonita
Se a noite ou se é ela
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
SEXTILHAS
O homem tira da terra
O pão pra botar na mesa
Sem precisar poluir
O rio e nem a represa
Deus vira as costa pr’àqueles
Que ferem a natureza

Mote: ESCUTEI A ROQUEIRA DO TROVÃO
AVISANDO O SERTÃO VAI SER MOLHADO
(Joaquim Filó)

O sertão quando a terra está molhada
A enchente no rio faz rumores
As abelhas brincando com as flores
Sertanejo se acorda à madrugada
Meia noite uma serra é aguada
Com um chuveiro depois de destrancado
Carro pipa de tanque enferrujado
E a cigarra esquecida do verão
Escutei a roqueira do trovão
Avisando o sertão está molhado




Uma nuvem se forma no nascente
Com a força do vento se balança
Jitirana nas cercas fazem trança
Canta os sapos felizes na enchente
Para a terra Deus manda esse presente
Tantas vezes e nada tem cobrado
E as formigas trabalham no roçado
Igual gente fazendo procissão
Escutei a roqueira do trovão
Avisando o sertão está molhado

Quando sobra fartura o pobre enrica
E recupera de novo a esperança
E um moleque com fome encosta a pança
Na panela melada de canjica
Vai embora o verão, o carão fica
Pra cantar quando o rio está de nado
E o nordeste só cheira a milho assado
Nas fogueiras de noite de São João
Escutei a roqueira do trovão
Avisando o sertão está molhado

O cenário enfeitando a capoeira
Sol o tempo querendo ele desmancha
E um enxame de abelhas se arrancha
Num buraco de um pau de aroeira
Na segunda o matuto vai à feira
Contar que fez no seu roçado
E o fantasma da seca encarcerado
Sem querer Deus botou-lhe na prisão
Escutei a roqueira do trovão
Avisando o sertão está molhado
(Aldo Neves)

É Terezinha, a mulher
Que aqui a gente ama
Não me guardou no seu ventre
Não me teve em sua cama
Mas é a segunda mãe
Que tenho em Tuparetama

Seu eu fosse parente dela
Cuidava com muito zelo
Tirava as rugas do rosto
Voltava a cor do cabelo
E sem dúvida era um puxa-saco
De Terezinha Rabelo



No teu beijo, Deus bota uma mistura
Que imitá-lo eu acho tão custoso
O teu beijo pra mim, é mais gostoso,
Que uma manga depois que está madura.
Porque que ele pra mim tem mais doçura
Que o miolo da própria melancia
Eu beijei o teu rosto e, não sabia,
Que o teu cheiro ficava em minha face
Se o teu beijo matasse quem beijasse
Eu beijava sabendo que morria
(Aldo Neves)

Nas eleições de 2000 em Tuparetama, o grupo adversário de Sávio Torres, usou da falta de respeito na hora da retirada de uma placa que continha a foto de Sávio Torres. O Poeta Aldo Neves, nas eliçoes de 2004 no ato da colocação da mesma placa fez...

Essa placa tem sido até agora
Grande vítima dos que lhe escoltaram
Quatro anos de dores já passaram
E a tristeza da gente foi embora
O prefeito tem sido até agora
Protetor de inveja e de maldade
Sávio Torres o povo tem vontade
De levá-lo ao palanque da mudança
Que pra gente é um pingo de esperança
Contra um mar de mentira e falsidade