JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

POETA DA SEMANA

Poesia: Lenelson Piancó, glosando três motes diferentes















Eu sou a pá de um arado
Que passa fazendo um trilho
Sou a boneca de milho

Mais bonita do roçado
Eu sou feito o balançado
De uma "bage" de feijão
Fazendo um risco no chão
Na hora da ventania
Sou grato a deus todo dia
Porque nasci no sertão!

Deu trabalho, mas tive que mudar
Conteúdo de quadras e tercetos
Mas agora o seu nome em meus sonetos
Vai ser muito difícil de encontrar
Desmanchei um galope a beira mar

Que escrevi quando estava apaixonado
Eu sou mais escrever verso quebrado
Que encontrar com você no meu caminho
Como diz o ditado: está sozinho
É melhor do que mal acompanhado!

Retornar à casinha onde eu vivia
Acabou se tornando obrigatório
Pra poder visitar um oratório
Onde a gente rezava todo dia
De um lado uma foto de maria
E do outro um pedido de oração
Num papel desbotado escrito à mão
Que mamãe escreveu na mocidade
Hasteei a bandeira da saudade
Num país que se chama coração!

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

BEM-TI-VI NÃO PROCURA UM ARQUITETO 
PRA FAZER O DESENHO DO SEU NINHO [
JOÃO DE BARRO TAMBÉM É PASSARINHO 
MAS CONSTRÓI SUA CASA COM PROJETO 
BEIJA-FLOR QUANDO NASCE VAI DIRETO 
EXTRAIR DE UMA ROSA, O SEU SABOR 
GOSTA MUITO DO DOCE DE UMA FLOR 
MAS ABELHA É QUEM SABE FAZER MEL 
EU NÃO SEI DIZER QUEM É MAIS FIEL 
AO PROJETO DE DEUS, O CRIADOR!
Lenelson Piancó

FILME DA SEMANA


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SINOPSE E DETALHES

Não recomendado para menores de 16 anos
Durante a Segunda Guerra Mundial, o médico do exército Desmond T. Doss (Abdrew Garfield) se recusa a pegar em uma arma e matar pessoas, porém, durante a Batalha de Okinawa ele trabalha na ala médica e salva mais de 75 homens, sendo condecorado. O que faz de Doss o primeiro Opositor Consciente da história norte-americana a receber a Medalha de Honra do Congresso.

RECEITA DA SEMANA

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Espetadas de Frango e Ananás
Ingredientes para 4:
  • 3 peitos de frango grandes, cortados em cubos
  • Ananás aos cubos (aproveite o que sobrou da sobremesa de domingo ou use ananás de lata para maior rapidez!)
  • Pimentos verdes (opcional)
  • Sal, pimenta, alho, sumo de limão q.b.
Preparação:

Deixe os peitos de frango a marinar de um dia para o outro (ou desde manhã) em sal, pimenta, alho, sumo de limão q.b. Pré-aqueça o forno a 160ºC e monte as espetadas, alternando entre cubos de frango, pimento e ananás. Grelhe as espetadas durante cerca de 5 minutos de cada lado (são 4 lados!). Sirva com arroz basmati (aquecido se já se estiver feito), uma salada ou frite batatas pré-congeladas!

MENSAGEM DE REFLEXÃO

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sexta-feira, 8 de setembro de 2017

ACHADO POÉTICO

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Vejo Deus em Cada Olhar
De Uma Forma Diferente,
Que o Olho Que Enxerga o Amor
Sempre Vê Deus Frente à Frente.
E Deus Por Não Ter Orgulho
Ver Pelos Olhos Da Gente.

(Poeta Lima Jr.)

Trinta anos de estrada: saiu a programação da Festa do Poeta em Tabira Publicado em Notícias por Nill Júnio



Em memória do Poeta Zé Marcolino e homenagem ao poeta Walter Marcolino, Tabira realiza através da APPTA,  Associação de Poetas e Prosadores de 10 a 16 de setembro, a 30ª edição da Missa do Poeta:
Foi divulgada a programação:
Dia 10:  abertura do Evento na Praça Gonçalo Gomes;
Dia 11: Chá Poético na Escola Carlota Breckenfeld;
Dia 12: 13º Festival de Violeiros Poeta Zé Liberal na Praça Gonçalo Gomes;
Dia 13: 9º Encontro de Sanfoneiros na Praça Gonçalo Gomes;
Dia 14:  Associação e Grupo de Xaxado Cabras de Lampião na Praça Gonçalo Gomes;
Dia 15:  21ª Mesa de Glosas do Pajeú e 6º Recital Feminino as 19h30 na escola Arnaldo Alves;
Dia 16: Lançamentos do Livro de Luiz Nunes,  Juscelino: vida obra e verso, 15hs na Câmara de vereadores;
Shows com Sevi Nascimento – Chico Arruda – Lindomar Souza – BKL – Lula Sabiá – Denilson Nunes. -Adelmo Aguiar e Banda

MATUTO INTELIGENTE


Um folheto de João Ferreira de Lima
AS PROEZAS DE JOÃO GRILO
ajg
João Grilo foi um cristão
que nasceu antes do dia
criou-se sem formosura
mas tinha sabedoria
e morreu depois da hora
pelas artes que fazia.
E nasceu de sete meses
chorou no bucho da mãe
quando ela pegou um gato
ele gritou: não me arranhe
não jogue neste animal
que talvez você não ganhe
Na noite que João nasceu
houve um eclipse na lua
e detonou um vulcão
que ainda continua
naquela noite correu
um lobisomem na rua
Porem João Grilo criou-se
pequeno, magro e sambudo
as pernas tortas e finas
boca grande e beiçudo
no sitio onde morava
dava noticia de tudo
João perdeu o pai
com sete anos de idade
morava perto de um rio
ia pescar toda tarde
um dia fez uma cena
que admirou a cidade.
O rio estava de nado
vinha um vaqueiro de fora
perguntou: dará passagem?
João Grilo disse: inda agora
o gadinho de meu pai
passou com o lombo de fora.
O vaqueiro botou o cavalo
com uma braça deu nado
foi sair já muito embaixo
quase que morre afogado
voltou e disse ao menino:
você é um desgraçado!
João Grilo foi ver o gado
para provar aquele ato
veio trazendo na frente
um bom rebanho de pato
os patos passaram n’agua
João provou que era exato
Um dia a mãe de João Grilo
foi buscar água à tardinha
deixou João Grilo em casa
e quando deu fé lá vinha
um padre pedindo água
nessa ocasião não tinha
João disse; só tem garapa
disse o padre: donde é?
João Grilo lhe respondeu:
é do engenho Catolé!
disse o padre: pois eu quero
João levou uma coité
O padre bebeu e disse:
oh! que garapa boa!
João Grilo disse: quer mais?
o padre disse; e a patroa
não brigará com você?
João disse: tem uma canoa
João trouxe outra coité
naquele mesmo momento
disse ao padre: bebe mais
não precisa acanhamento
na garapa tinha um rato
estava podre o fedorento
O padre disse: menino
tenha mais educação
e porque não me disseste?
oh! natureza do cão!
pegou a dita coité
arrebentou-a no chão
João Grilo disse; danou-se!
misericórdia, S. Bento!
com isto mamãe se dana
me pegue mil e quinhentos
essa coité, seu vigário
é de mamãe mijar dentro!
O padre deu uma pôpa
disse para o sacristão
esse menino é o diabo
em forma de cristão!
meteu o dedo na goela
quase vomita o pulmão
João Grilo ficou sorrindo
pela cilada que fez
dizendo: vou confessar-me
no dia sete do mês
êle nunca confessou-se
foi essa a primeira vez
João Grilo tinha um costume
para toda parte que ia
era alegre e satisfeito
no convívio da alegria
João Grilo fazia graça
que todo mundo sorria
Num dia de sexta-feira
às cinco horas da tarde
João Grilo disse: hoje a noite
eu assombro aquele padre
se êle não perdoar-me
na igreja há novidade
Pegou uma lagartixa
amarrou-a pelo gogó
botou-a numa caixinha
no bolso do paletó
foi confessar-se João Grilo
com paciência de Jó
As sete horas da noite
foi ao confessionário
fez logo pelo-sinal
posto nos pés do vigário
o padre disse: acuse-se;
João disse o necessário
Eu sou aquele menino
da garapa e da coité;
o padre disse: levante-se,
eu já sei você quem é;
João tirou a lagartixa
soltou-a junto do pé
A lagartixa subiu
por debaixo da batina
entrou na perna da calça
tornou-se feia a buzina
o padre meteu os pés
arrebentou a cortina
Jogou a batina fora
naquela grande fadiga
a lagartixa cascuda
arranhando na barriga;
João Grilo de lá gritava;
seu padre, Deus lhe castiga!
O padre impaciente
naquele turututu
saltava pra todo lado
que parecia um timbu
terminou tirando as calças
ficando o esqueleto nu
João disse: padre é homem?
pensei que fosse mulher
anda vestido de saia
não casa porque não quer
isto é que é ser caviloso
cara de mata bebé
O padre disse: João Grilo
vai-te daqui infeliz!
João Grilo disse: bravo
do vigário da matriz
é assim que ele me paga
o benefício que fiz?
João Grilo foi embora
o padre ficou zangado
João Grilo disse: ora sebo
eu não aliso croado
vou vingar-me duma raiva
que tive o ano passado
No subúrbio da cidade
morava um português
vivia de vender ovos
justamente nesse mês
denunciou de João Grilo
pelas artes que ele fez
João encontrou o português
com a égua carregada
com duas caixas de ovos
João lhe disse: oh! camarada
deixa eu dizer a tua égua
uma pequena charada
O português disse: diga,
João chegou bem no ouvido
com a ponta do cigarro
soltou-a dentro escondido
a égua meteu os pés
foi temeroso estampido
Derrubou o português
foi ovos pra todo lado
arrebentou a cangalha
ficou o chão ensopado
o português levantou-se
tristonho e todo melado
O português perguntou:
o que foi que tu disseste
que causou tanto desgosto
a esse animal agreste?
– Eu disse que a mãe morreu
o português respondeu:
oh égua besta da peste!
João Grilo foi a escola
com sete anos de idade
com dez anos ele saiu
por espontânea vontade
todos perdiam pra ele
outro Grilo como aquele
perdeu-se a propriedade
João Grilo em qualquer escola
chamava o povo atenção
passava quinau nos mestres
nunca faltou com a lição
era um tipo inteligente
no futuro e no presente
João dava interpretação
Um dia pergunta ao mestre:
O que é que Deus não vê
o homem vê qualquer hora?
diz ele: não pode ser
pois Deus vê tudo no mundo
em menos de um segundo
de tudo pode saber
João Grilo disse: qual nada
quêde os elementos seus?
abra os olhos, mestre velho
que vou lhe mostrar os meus
seus estudos se consomem
um homem ver outro homem
só Deus vão ver outro Deus
João Grilo disse: seu mestre,
me diga como se chama
a mãe de todas as mães?
tenha cuidado no drama
o mestre coça a cabeça
disse: antes que me esqueça
vou resolver o programa
– A mãe de todas as mães
é Maria Concebida
João Grilo disse: eu protesto
antes dela nascer
já esta mãe existia
não foi a Virgem Maria
oh que resposta perdida!
João Grilo disse depois
num bonito português:
a mãe de todas as mães
já disse e digo outra vez
como a escritura ensina
é a natureza divina
que tudo criou e fez
– Me responda professor
entre grandes e pequenos
quero que fique notável
por todos nossos terrenos
responda com rapidez
como se chama o mês
que a mulher fala menos?
– Este mês eu não conheço
quem fez esta tabuada?
João Grilo lhe respondeu:
ora sebo, camarada
pra mim perdeu o valor
ter o nome de professor
mais não conhece de nada
-Este mês é fevereiro
por todos bem conhecido
só tem vinte e oito dias
o tempo mais resumido
entre grandes e pequenos
é o que a mulher fala menos
mestre, você está perdido
– Seu professor, me responda
se algum tempo estudou
quem serviu a Jesus Cristo
morreu e não se salvou
no dia que ele morreu
seu corpo o urubu comeu
e ninguém o sepultou?
– Não conheço quem é esse
porque nunca vi escrito;
João Grilo lhe respondeu:
foi um jumento está dito
que a Jesus Cristo servia
na noite que ele fugia
de Belém para o Egito
João Grilo olhou de um lado
disse para o diretor:
fique sabendo o senhor
sem dúvida exame não fez
o aluno desta vez
ensinou ao professor
João Grilo foi para casa
encontrou sua mãe chorando
ele então disse: mamãe
não está ouvindo encantando?
não chora, cante mais antes
pois o seu filho garante
pra isso vive estudando
A mãe de João Grilo disse:
choro por necessidade
sou uma pobre viúva
e tu de menor idade
até da escola saíste;
João lhe disse: ainda existe
o mesmo Deus de bondade
— A senhora pensa em carne
de vinte mil réis o quilo
ou talvez no meu destino
que a força hei de segui-lo?
não chore, fique bem certa
a senhora só se aperta
quando matarem João Grilo
João chegou no rio
ás cinco horas da tarde
passou até nove horas
porém tudo foi debalde
na noite triste e sombria
João Grilo sem companhia
voltava sem novidade
Chegando dentro da mata
ouviu lá dentro um gemido
os lobos devoradores
o caminho interrompido
e trepou-se num pinheiro
como era forasteiro
ficou calado escondido
Os lobos foram embora
e João não quis descer
disse: eu dormirei aqui
suceda o que suceder
eu hoje imito araquan
só vou embora amanhã
quando o dia amanhecer
O Grilo ficou trepado
temendo lobos e leões
pensando na fatal sorte
e recordando as lições
que na escola estudou
quando do súbito chegou
uns quatro ou cinco ladrões
Eram uns ladrões de Meca
que roubavam no grito
se ocultavam na mata
naquele bosque esquisito
pois cada um de persi
que vinha juntar-se ali
para ver quem era perito
O capitão dos ladrões
disse: não fala ninguém?
um respondeu: não senhor
disse ele: muito bem
cuidado, não roubem vã
vamos ajuntar-nos amanhã
na capela de Belém
— Lá partiremos o dinheiro
pois aqui tudo é graúdo
temos um roubo a fazer
desde ontem que estudo
mas já estou preparado;
e o Grilo lá trepado
calado e escutando tudo.
Os ladrões foram embora
depois da conversação
João Grilo ficou ciente
dizendo em seu coração:
se Deus ajudar a mim
acabou-se tempo ruim
sou eu quem ganho a questão
João Grilo desceu da árvore
quando o dia amanheceu
mas quando chegou em casa
não contou o que se deu
furtou um roupão de malha
vestiu fez uma mortalha
lá no mato se escondeu
À noite foi pra capela
por detraz da sacristia
vestiu-se com a mortalha
pois a capela jazia
sempre com a porta aberta
João Grilo partiu na certa
colhêr o que pretendia
Deitou-se lá num caixão
que enterrava defunto
João Grilo disse: hoje aqui
vou ganhar um bom presunto;
os ladrões foram chegando
João Grilo observando
sem pensar em outro assunto
Acenderam um farol
penduraram numa cruz
foram contar o dinheiro
no claro de uma luz
João Grilo de lá gritou:
esperem por mim que vou
com as ordens de Jesus!
Os ladrões dali fugiram
quando viram a alma em pé
João Grilo ficou com tudo
disse: já sei como é
nada no mundo me atrasa
agora vou pra casa
tomar um rico café
Chegou e disse: mamãe
morreu nossa precisão
o ladrão que rouba outro
tem cem anos de perdão;
contou o que tinha feito
disse a velha: está direito
vamos fazer refeição
Bartolomeu do Egito
foi um rei de opinião
mandou convidar João Grilo
pra uma adivinhação
João Grilo disse: eu vou,
no outro dia embarcou
para saudar o sultão
João Grilo chegou na corte
cumprimentou o sultão
disse: pronto, senhor rei
(deu-lhe um aperto de mão)
com calma e maneira doce
o sultão admirou-se
da sua disposição
O sultão pergunta ao Grilo:
de onde você saiu?
aonde você nasceu?
João Grilo fitou ele e sorriu
— Sou deste mundo d’agora
nasci na ditosa hora
que minha mãe me pariu
— João Grilo, tu adivinha?
e Grilo respondeu, não
eu digo algumas coisas
conforme a ocasião
quem canta de graça é galo
cangalha só pra cavalo
e sêca só no sertão
— Eu tenho doze perguntas
pra você me responder
no prazo de quinze dias
escute o que vou dizer
veja lá como se arruma
è bastante faltar uma
está condenado a morrer
João Grilo disse: estou pronto
pode dizer a primeira
se acaso sair-me bem
venha a segunda e a terceira
venha a quarta e a quinta
talvez o Grilo não minta
diga até a derradeira
Perguntou: qual o animal
que mostra mais rapidez
que anda de quatro pés
de manhã por sua vez
ao meio-dia com dois
passando disto depois
a tarde anda com três?
O Grilo disse: é o homem
que se arrasta pelo chão
no tempo que engatinha
depois toma posição
anda em pé bem seguro
mas quando fica maduro
faz três pés com o bastão
O sultão maravilhou-se
com sua resposta linda
João disse: pergunte outra
vou ver se respondo ainda;
a segunda o sultão fez
João Grilo daquela vez
celebrizou sua vinda
— Grilo, você me responda
em termos bem divididos
uma cova bem cavada
doze mortos estendidos
e todos mortos falando
cinco vivos passeando
trabalham com três sentidos
— Esta cova é um violão
com prima, baixo e bordão
mortas são as doze cordas
quando canta um cidadão
canta, toca e faz verso
cinco vivos num progresso
os cinco dedos da mão
Houve uma salva de palma
com vivas que retumbou
o sultão ficou suspenso
seu viva também bradou
depois pediu silencio
com outro desejo imenso
a terceira perguntou
João Grilo, qual é a coisa
que eu mandei carregar
primeiro dia e segundo
no terceiro fui olhar
quase dá-me a tiririca
se tirar mais grande fica
não mingua, faz aumentar?
— Senhor rei, sua pergunta
parece me fazer guerra
um Grilo não tem saber
criado dentro da serra
mas digo pra quem conhece
o que tirando mais cresce
é um buraco na terra
— João Grilo, vou terminar
as perguntas do tratado
e Grilo disse: pergunte
quero ficar descansado;
disse o rei: é muito exato
o que é que vem do alto
cai em pé, corre deitado?
— Aquele que cai em pé
e sai correndo no chão
será uma grande chuva
nos barros de um sertão;
o rei disse: muito bem
no mundo todo não tem
outro Grilo como João
— João Grilo, você bebe?
João disse: bebo 1 pouquinho
e disse: eu não sou filho
de Baco que fez o vinho
o meu pai morreu bebendo
eu o que estou fazendo?
de boca aberta em seu ninho
O rei disse: João Grilo
beber è coisa ruim
e Grilo respondeu: qual
o meu pai dizia assim:
na casa de seu Henrique
zelam bem um alambique
melhor do que um jardim
O rei disse: João Grilo
tua fama é um estrondo
João Grilo disse: eu sabendo
o que perguntar respondo
disse o rei enfurecido:
o que tem o pé comprido
e faz o rastro redondo?
Senhor rei, tenho lembrança
de tempo da minha avó
que ela tinha um compasso
na caixa do bororó
como êsse eu também ando
fazendo o rastro redondo
andando com uma perna só
João qual é o bicho,
que passa pela campina
a qualquer hora da noite
andando de lamparina?
é um pequeno animal
tem luz artificial;
veja o que determina
— Esse bicho eu já vi
pois eu tinha por costume
de brincar sempre com êle
minha mãe tinha ciúme
eu andava pelo campo
uns chamam pirilampo
e outros de vagalume
O rei já tinha esgotado
a sua imaginação
não achou uma pergunta
que interrompesse a João
disse: me responda agora
qual é o olho que chora
sem haver consolação?
O Grilo então respondeu:
lá muito perto da gente
tem num oiteiro importante
um moço muito doente
suas lágrimas têm paladar
quem não deixa de chorar
é ôlho d’água vertente
O rei inventou um truque
do jeito que lhe convinha
— Vou arrumar uma cilada
ver se João adivinha
mandou vir um alçapão
fez outra adivinhação
escondeu uma bacurinha
— João, o que é que tem
dentro deste alçapão?
se não disser o que é
é morto, não tem perdão
João Grilo lhe respondeu:
quem mata um como eu
não tem dó no coração
João lhe disse: esse objeto
nem é manso nem é brabo
nem é grande nem é pequeno
nem é santo nem é diabo
bem que mamãe me dizia
que eu ainda caía
onde a porca torce o rabo
Trouxeram uma bandeja
ornada de muitas flores
dentro dela uma latinha
cheia de muitos fulgores
o rei lhe disse: João Grilo
é este o último estrilo
que rebenta tuas dores
João Grilo desta vez
passou na última estica
adivinhar uma coisa
nojenta que se pratica
fugir da sorte mesquinha
pois dentro da lata tinha
um pouquinho de xinica
O rei disse: João Grilo
veja se escapa da morte
o que tem nesta latinha?
responda se tiver sorte
toda aquela populaça
queria ver a desgraça
do Grilo franzino e forte
— Minha mãe profetizou
que o futuro è minha perda
— Dessas adivinhações
brevemente você herda
faz de conta que já vi
como esta hoje aqui
parece que dá em merda
O rei achou muita graça
nada teve o que fazer
João Grilo ficou na corte
com regosijo e prazer
gozando um bom paladar
foi comer sem trabalhar
desta data até morrer
E todas as questões do reino
era João que deslindava
qualquer pergunta difícil
ele sempre decifrava
julgamentos delicados
problemas muito enrascados
e João Grilo desmanchava
Certa vez chegou na corte
em mendigo esfarrapado
com uma mochila nas costas
dois guardas de cada lado
seu rosto cheio de mágoa
os olhos vertendo água
fazia pena o coitado
Junto dele estava um duque
que veio denunciar
dizendo que o mendigo
na prisão ia morar
por não pagar a despesa
que fizera por afoiteza
sem ter como lhe pagar
João Grilo disse ao mendigo:
e como é, pobretão
que se faz uma despesa
sem ter no bolso um tostão
me conte todo passado
depois de eu ter-lhe escutado
lhe darei razão ou não
Disse o mendigo: sou pobre
e fui pedir uma esmola
na casa do senhor duque
levei a minha sacola
quando cheguei na cozinha
vi cozinhando galinha
numa grande caçarola
Como a comida cheirava
eu tive apetite nela
tirei um taco de pão
e marchei pro lado dela
e sem pensar na desgraça
botei o pão na fumaça
que saia da panela
O cozinheiro zangou-se
chamou logo o seu senhor
dizendo que eu roubara
da comida o seu sabor
só por eu ter colocado
um taco de pão mirrado
aproveitando o vapor
Por isso fui obrigado
a pagar essa quantia
como não tive dinheiro
o duque por tirania
mandou trazer-me escoltado
para depois de ser julgado
ser posto na enxovia
João Grilo disse: está bem
não precisa mais falar:
então perguntou ao duque:
quanto o homem vai pagar?
– Cinco coroas de prata
ou paga ou vai pra chibata
não lhe deve perdoar
João Grilo tirou do bolso
a importância cobrada
na mochila do mendigo
deixou-a depositada
e disse para o mendigo:
balance a mochila, amigo
pro duque ouvir a zuada
O mendigo sem demora
fez como Grilo mandou
pegou sua mochilinha
sem compreender o truque
bem no ouvido do duque
o dinheiro tilintou
Disse o duque enfurecido:
mas não recebi o meu,
diz João Grilo: sim senhor,
isto foi o que valeu
deixe de ser batoteiro
o tinido do dinheiro
o senhor já recebeu
– Você diz que o mendigo
por ter provado o vapor
foi mesmo que ter comido
seu manjar e seu sabor
pois também é verdadeiro
que o tinir do dinheiro
representa o seu valor
Virou-se para o mendigo
e disse: estás perdoado
leva o dinheiro que dei-te
vai pra casa descansado
o duque olhou para o Grilo
depois de dar um estrilo
saiu por ali danado
A fama então de João Grilo
foi de nação em nação
por sua sabedoria
e por seu bom coração
sem ser por êle esperado
um dia foi convidado
para visitar um sultão
O rei daquele país
quis o reino embandeirado
pra receber a visita
do ilustre convidado
o castelo estava em flores
cheio de tantos fulgores
ricamente engalanado
As damas da alta côrte
trajavam decentemente
tôda côrte imperial
esperava impaciente
ou por isso ou por aquilo
para conhecer João Grilo
figura tão eminente
Afinal chegou João Grilo
no reinado do sultão
quando êle entrou na côrte
que grande decepção!
de palitó remendado
sapato velho furado
nas costas um matulão
O rei disse: não é ele
pois assim já é demais;
João Grilo pediu licença
mostrou-lhe as credenciais
embora o rei não gostasse
mandou que ele ocupasse
os aposentos reais
Só se ouvia cochichos
que vinham de todo lado
as damas então diziam:
é esse o homem falado?
duma pobreza tamanha
e ele nem se acanha
de ser nosso convidado?
Até os membros da côrte
diziam num tom chocante
pensava que o João Grilo
fôsse dum tipo elegante
mas nos manda 1 remendado
sem roupa, esfarrapado
um maltrapilho ambulante
E João Grilo ouvia tudo
mas sem dar demonstração
em toda a côrte real
ninguem lhe dava atenção
por mostrar-se esmolambado
tinha sido desprezado
naquela rica nação
Afinal veio um criado
e disse sem o fitar:
já preparei o banheiro
para o senhor se banhar
vista uma roupa minha
e depois vá pra cozinha
na hora de almoçar
João Grilo disse; está bom;
mas disse com seu botão:
roupas finas trouxe eu
dentro de meu matulão
me apresentei rasgado
para ver neste reinado
qual era a minha impressão
João Grilo tomou um banho
vestiu uma roupa de gala
então muito bem vestido
apresentou-se na sala
ao ver seu traje tão belo
houve gente no castelo
que quase perdia a fala
E então toda repulsa
transformou-se de repente
o rei chamou-o pra mesa
como homem competente
consigo, dizia João:
na hora da refeição
vez ensinar esta gente
O almoço foi servido
porém João não quis comer
despejou vinho na roupa
só para vê-lo escorrer
ante a corte estarrecida
encheu os bolsos de comida
para toda corte ver
O rei bastante zangado
perguntou pra João:
por que motivo o senhor
não come da refeição?
respondeu João com maldade:
tenha calma, majestade
digo já toda razão
Esta mesa tão repleta
de tanta comida boa
não foi posta pra mim
um ente vulgar a toa
desde sobre-mesa a sopa
foram postas à minha roupa
e não à minha pessoa
Os comensais se olharam
o rei pergunta espantado:
por que o senhor diz isto
estando tão bem tratado?
disse João: isso se explica
por está de roupa rica
não sou mais esmolambado
Eu estando esfarrapado
ia comer na cozinha
mas como troquei de roupa
como junto da rainha
vejo nisto um grande ultraje
homenagem ao meu traje
e não a pessoa minha
Toda corte imperial
pediu desculpa a João
e muito tempo falou-se
naquela dura lição
e todo mundo dizia
que sua sabedoria
era igual a Salomão.

POETA DA SEMANA

Silvino Pirauá de Lima glosando o mote:
“E tudo vem a ser nada”
Tanta riqueza inserida
Por tanta gente orgulhosa,
Se julgando poderosa
No curto espaço da vida;
Oh! que ideia perdida.
Oh! que mente tão errada,
Dessa gente que enlevada
Nessa fingida grandeza
Junta montões de riqueza,
E tudo vem a ser nada.
Vemos um rico pomposo
Afetando gravidade,
Ali só reina bondade,
Nesse mortal orgulhoso,
Quer se fazer caprichoso,
Vive até de venta inchada,
Sua cara empantufada,
Só apresenta denodos
Tem esses inchaços todos
E tudo vem a ser nada.
Trabalha o homem, peleja
Mesmo a ponto de morrer,
É somente para ter,
Que ele tanto moureja,
As vezes chove e troveja
E ele nessa enredada
À lama, ao sol, ao chuveiro,
Ajuntam tanto dinheiro,
E tudo vem a ser nada.
Temos palácios pomposos
Dos grandes imperadores,
Ministros e senadores,
E mais vultos majestosos;
Temos papas virtuosos
De uma vida regrada,
Temos também a espada
De soberbos generais,
Comandantes, Marechais,
E tudo vem a ser nada.
Honra, grandezas, brasões;
Entusiasmos, bondades;
São completas vaidades
São perfeitas ilusões,
Argumentos, discussões;
Algazarra, palavrada,
Sinagoga, caçoada,
Murmúrios, tricas, censura,
Muito tem a criatura,
E tudo vem a ser nada.
Vai tudo numa carreira
Envelhece a mocidade,
A avareza e a vaidade
É quer queira ou não queira;
Tudo se torna em poeira,
Cá nesta vida cansada
É uma lei promulgada
Que vem pela mão Divina,
O dever assim destina
E tudo vem a ser nada.
Formosuras e ilusões,
Passatempos e prazeres;
Mandatos, altos poderes;
De distintos figurões,
Cantilenas de salões;
E festa engalanada,
Virgem donzela enfeitada
No gozo de namorar,
Mancebos a flautear,
E tudo vem a ser nada.
Lascivas, depravações
Na imoral petulância,
São enlevos da infância,
São infames corrupções;
São fingidas seduções
Que faz a dama enfeitada
Influi-se a rapaziada
Velhos também de permeio
E vivem nesse paleio,
E tudo vem a ser nada.
Bailes, teatros, festins,
Comadre, drama, assembleia,
Clube, liceu, epopeia;
Todos aguardam seus fins,
Flores, relvas e jardins,
Festas com grande zoada,
Outeiro e campinada
Frondam, copam e florescem,
Brilham, luzem, resplandecem
E tudo vem a ser nada.
O homem se julga honrado,
Repleto de garantia,
De brasões e fidalguia
É ele considerado,
Mas, quanto está enganado
Nesta ilusória pousada
Cá nesta breve morada.
Não vemos nada imortal
Temos um ponto final;
E tudo vem a ser nada.
Tudo quanto se divisa
Neste cruento torrão,
As árvores, a criação,
Tudo em fim se finaliza,
Até mesmo a própria brisa,
Soprando a terra escarpada,
Com força descompassada
Se transformando em tufão,
Deita pau rola no chão,
E tudo vem a ser nada.
Infindo só temos Deus,
Senhor de toda a grandeza,
Dos céus e da natureza,
De todos os mundos seus.
Do Brasil, dos Europeus,
Da terra toda englobada
Até mesmo da manada
Que vemos no arrebol:
Nuvem, lua, estrela e sol,
Tudo mais vem a ser nada.

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

MENSAGEM DA SEMANA

A CAMINHADA DA VIDA

Na caminhada da vida, aprendi que 
nem sempre temos o que queremos. 
Porque nem sempre 
o que queremos nos faz bem.
Foi preciso sentir dor, para que 
eu aprendesse com as lágrimas.
Foi necessário o riso, para que 
eu não me enclausurasse com o tempo.
Foram precisas as pedras, para que 
eu construísse meu caminho.
Foram fundamentais as flores, para que 
eu me alegrasse na caminhada.
Foi imprescindível a fé, para que eu 
não perdesse a esperança.
Foi preciso perder, para que 
ganhasse de verdade.
Foi no silêncio que me 
escutaram com clareza.
Pois sem provas não tem aprovação.
E a vitória sem conquista é ilusão.
E a maior virtude dos fortes é o perdão.


Fonte: https://www.mundodasmensagens.com/mensagens-reflexao/

POETA DA SEMANA

DOIS POEMAS DE VINICIUS GREGÓRIO


Minha droga é a Poesia


Poesia é bom demais!
Poesia é o meu conceito.
Pra mim o mal só tem jeito
Quando o real se desfaz
E, num “lapidar”, se faz
Um majestoso repente,
Que encanta qualquer vivente
Dotado de sentimento.
É na Poesia o momento
Que a dor não se faz presente.


É como se a Poesia
Fosse a minha Nicotina,
Meu Ópio, minha Heroína,
Meu Êxtase em demasia...
Ela é quem me fantasia
E quem traça meus traçados.
Através dos meus rimados
Me liberto desse mundo
Pra cair num mar profundo
De Lindos Sonhos Dourados.


Sou viciado em Poesia,
Disso eu tenho consciência.
Chega a dar abstinência
Se ela me falta algum dia...
Pra voltar minha alegria,
Basta eu tomar outra “dose”.
Venha comigo, se entrose!
Prove da minha “Heroína”!
Pois, dessa “droga” divina,
Quero morrer de overdose.


Quem prova minha “bebida”,
Sente o gosto do Sertão
E escuta o som do trovão
Mesmo em terra ressequida.
Venha que eu te dou guarida!
Vamos viajar sem prumo,
Sem conseqüência, sem rumo...
Sem medo de ter cirrose.
Te encosta, toma outra “dose”
Dessa droga que eu consumo.


Mas se tu achas nocivo
Esse vício que me enlaça,
Então fuja da fumaça
Que o efeito é corrosivo.
Feito um fumante passivo,
Vais ter um vício profundo.
E, nesse mesmo segundo,
Se queres uma “tragada”,
Podes “tragar”, camarada,
Tem verso pra todo mundo!




Menor abandonado (Made in Brazil)


Minha história, seu moço, é muito triste!
Quem lhe fala é um menino abandonado.
Eu nasci de um estupro desgraçado...
Desde ai, só tristeza em mim persiste.
Minha mãe já morreu, não mais existe,
E só ela me amou como eu a amei,
Um momento feliz, nunca passei,
Pois a rua me fez um rato humano.
Vou vivendo num mundo desumano,
E até quando, seu moço, “inda” não sei.


No momento em que minha mãe morreu,
O que já era ruim ficou pior.
Eu passei a viver do meu suor;
Das malícias que Deus do céu me deu...
Mas depois o que foi que aconteceu?
Dessa parte eu nem gosto de falar...
Ninguém mais me chamou pra trabalhar
E eu passei a ter fome a vida inteira.
“Nesse instante eu troquei a mamadeira
Por um tubo de cola pra cheirar.”


Me condenam, me vendo cheirar cola,
Dizem logo que eu sou um traficante,
Sou bandido, que eu sou um mal constante,
Que eu devia ser morto na degola.
Mas por que não me botam numa escola?
Por que não me dão chance de viver?
Cheiro sim! Mas cheiro pra não morrer,
Tu não “sabe” o que é fome, que tu “come”,
Pois quem tem o que comer não sente fome,
Sente apenas vontade de comer.


Outro dia, eu passando na calçada,
Escutei numa casa, na TV...
Um tal de um presidente prometer
Ajudar a criança abandonada.
Nem sabia quem era o camarada,
Mas meu peito tomou-se de esperança...
E apostei toda a minha confiança
No que aquele infeliz me prometeu,
Mas na certa, seu moço, ele esqueceu.
Nessa história, sempre sou eu quem dança.


Mas quem manda ser besta e acreditar
No que diz esse povo do poder?
Esse povo não sabe o que é sofrer,
Nenhum deles se Põe no meu lugar!
Só que agora o que eu vou lhe revelar
Talvez deixe você titubeando:
Fome ou frio nada são se comparando
A essa dor que me dói feito facada,
Que é ver gente mudando de calçada
Quando notam que estou me aproximando.


Sou mais um maltrapilho desgraçado
Aumentando a fileira da pobreza.
Meu viver não possui a sutileza
Do viver de um menino bem criado.
Sou apenas um rato camuflado,
Sou alguém sem futuro e sem destino,
Sou cigano da vida e peregrino
Das estradas que a fome produziu,
Sou produto fiel “Made in Brazil”,
Disfarçado no corpo de um menino.

FONTE:

http://www.interpoetica.com/site/