JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

terça-feira, 4 de maio de 2010

VERSOS, DIVERSOS VERSOS

Um poema de Marcos Mairton


(Tanto faz ler de cima pra baixo, como de baixo pra cima)



POESIA INDO E VOLTANDO



Poesia pra dizer indo e voltando

Não é coisa para qualquer um fazer.

É preciso o poeta conhecer

O mistério de falar sempre rimando,

Com destreza as palavras ir juntando,

E falar da sua dor com alegria,

Misturar realidade e fantasia,

Pra dizer o que ele quer de trás pra frente.

É preciso um poeta inteligente

Pra dizer indo e voltando a poesia.



Pra dizer indo e voltando a poesia,

É preciso um poeta inteligente,

Pra dizer o que ele quer de trás pra frente,

Misturar realidade e fantasia,

E falar da sua dor com alegria,

Com destreza as palavras ir juntando.

O mistério de falar sempre rimando,

É preciso o poeta conhecer .

Não é coisa para qualquer um fazer,

Poesia pra dizer indo e voltando.



O poeta mostra do que é capaz

Ao fazer a poesia desse jeito.

Quando eu não sabia nem falar direito,

Já cantava assim como você faz.

Já rimava para a frente e para trás,

Já sabia fazer versos recuando.

Eu já tinha das palavras o comando,

Antes de fazer três anos de idade.

Não me causa a menor dificuldade

Essa sua poesia indo e voltando.



Essa sua poesia indo e voltando

Não me causa a menor dificuldade.

Antes de fazer três anos de idade,

Eu já tinha das palavras o comando.

Já sabia fazer versos recuando,

Já rimava para a frente e para trás,

Já cantava assim como você faz,

Quando eu não sabia nem falar direito.

Ao fazer a poesia desse jeito

O poeta mostra do que é capaz.



* * *



Glosas de Otacilio Batista com o mote:



Tenho n’alma as tatuagens

Da minha origem cigana.



Fui criado entre as miragens,

Na solidão do deserto,

De um povo que andava incerto,

Tenho n’alma as tatuagens:

São abstratas imagens

De Alá, que não se profana;

Dos chefes de caravana,

Me orgulho em ser porta-voz:

Os primitivos heróis

Da minha origem cigana!



Os antigos personagens,

Defensores dos escravos;

De uma legião de bravos,

Tenho n’alma as tatuagens!

Fugindo às velhas linhagens

Da imposição duridana,

Por vontade Soberana,

Ismael foi peregrino,

O primeiro beduíno

Da minha origem cigana!



Um poema de Patativa do Assaré




Antônio Conselheiro



Cada um na vida tem

O direito de julgar

Como tenho o meu também

Com razão quero falar

Nestes meus versos singelos

Mas de sentimentos belos

Sobre um grande brasileiro

Cearense meu conterrâneo,

Líder sensato espontâneo,

Nosso Antônio Conselheiro.



Este cearense nasceu

Lá em Quixeramobim,

Se eu sei como ele viveu

Sei como foi o seu fim,

Quando em Canudos chegou

Com amor organizou

Um ambiente comum

Sem enredos nem engodos,

Ali era um por todos

E eram todos por um.

Quando eu era criança


meu mundo era diferente.



Valdir Teles



Na viola eu aconselho

às crianças de hoje em dia,

que o período que eu vivia,

eu lia noutro evangelho,

tomava bênção a pai velho,

mesmo sem ser meu parente,

hoje no lugar da gente

já existe uma mudança.

Quando eu era criança

meu mundo era diferente.



Geraldo Amâncio



Já mudou a tradição,

da nossa velha morada,

não tinha mulher pelada

passando em televisão,

nem existia ladrão,

que vive assombrando a gente,

o bandido atualmente

acaba a nossa esperança.

Quando eu era criança

meu mundo era diferente.

Dois improvisos de César Coelho




Coisa linda é madrugada,

Com luar pelo terreiro,

Viola em beira de estrada,

Cantiga de violeiro.



Quero a paz do teu carinho,

Mil cantigas de viola,

Quero ouvir um passarinho,

Que não seja na gaiola



* * *



Um improviso de Zé de Cazuza homenageando Elísio Félix, o Canhotinho



Campina dá por igual

A canhoto um monumento

Pois onde morre um talento

A fama vive imortal

Ela é seu torrão natal

Cada qual entristeceu

Um perdeu, outro perdeu

Mais um poeta excelente

Enfim, morreu de repente

Quem de repente viveu.

Um improviso do Cego Aderaldo




A prisão deve ter sido

Invenção de Lucifer

Eu só aceito a prisão

Nos braços duma mulher

Agüentando o que ela faz

E fazendo o que ela quer.



* * *

Improvisos de João Paraibano




Vi o fantasma da seca

Ser transportado numa rede

Vi o açude secando

Com três rachões na parede

E as abelhas no velório

Da flor que morreu de sede.



Faço da minha esperança

Arma pra sobreviver

Até desengano eu planto

Pensando que vai nascer

E rego com as próprias lágrimas

Pra ilusão não morrer.



Estou ficando cansado

O corpo sem energia

Jesus pintou meus cabelos

No final da boemia

Mas na hora de pintar

Esqueceu de perguntar

Qual era a cor que eu queria.



Toda a noite quando deito

Um pesadelo me abraça

Meu cabelo que era preto

Está da cor de fumaça

Ficou branco após os trinta

Eu não quis gastar com tinta

O tempo pintou de graça.



Terreno ruim não dá fruto,

por mais que a gente cultive,

no seu céu eu nunca fui,

sua estrela eu nunca tive,

que o espinho não se hospeda,

na mansão que a rosa vive.



Coruja dá gargalhada

Na casa que não tem dono

A borboleta azulada

Da cor de um papel carbono

Faz ventilador das asas

Pra rosa pegar no sono.

Uma glosa de Moysés Sesyom




Vida longa não alcanço

Na orgia ou no prazer.

Mas, enquanto não morrer

- Bebo, fumo, jogo e danço!

Brinco, farreio, não canso,

Me censure quem quiser…

Enquanto eu vida tiver,

Cumprindo essa sina venho,

E, além dos vícios que tenho,

- Sou perdido por mulher!…



* * *



Um improviso de Canhotinho



Doce como os versos teus

Só o mel de uruçu,

A água do coco verde,

A flor do mandacaru,

O riiso de uma criança

E o canto do uirapuru.

Um improviso de Domingos Fonseca




Toda mãe por qualquer filho

Se iguala num só amor.

As mães de Cristo e de Judas

Sofreram uma só dor:

Uma, pelo filho JUSTO

Outra, pelo TRAIDOR”



* * *

Um improviso de Domingos Fonseca




Toda mãe por qualquer filho

Se iguala num só amor.

As mães de Cristo e de Judas

Sofreram uma só dor:

Uma, pelo filho JUSTO

Outra, pelo TRAIDOR”



* * *
Homenagem de Dedé Monteiro a Lourival Batista com o mote:




São José escurece outra metade,

que o repente de LOURO iluminou.



São José do Egito, a cada ano,

vem ficando mais pobre e enlutada:

foi MARINHO a primeira bordoada…

sofreu muito ao perder ROGACIANO…

JÓ deixou de cantar no térreo plano,

pra no plano divino fazer show…

dia seis de dezembro o REI botou

mais tristeza no peito da cidade…

São José escurece outra metade,

que o repente de LOURO iluminou.

Manoel Xudú




Cantador pra enfrentar Manoel Xudú

É preciso pular como uma bola

Ter a curva do arco da viola

Ter o doce do mel da uruçu

Ter o suco da polpa do caju

O azeite do sumo da castanha

O tecido da teia da aranha

A beleza da pena da arara

O tacape do índio ubirajara

E a destreza da fera da montanha.



Manoel Filó



Cantador pra enfrentar Manoel Filó

É preciso comer besouro assado

Dar pancadas com o gume do machado

Num angico que tem um sanharó

Se enrolar com uma cobra de cipó

Dar um chute num cão com hidrofobia

Mastigar na cabeça de uma jia

Se subir num coqueiro catolé

Se montar em Inácio Jacaré

E viajar três semanas pra Bahia.

Geraldo Amâncio glosando o mote




Foi com dor no coração

que eu deixei o meu lugar



Não voltei pra minha aldeia,

já faz tempo que eu não vejo

meu primeiro realejo,

e a minha bola de meia;

brincar de toca na areia

nunca mais pude brincar

também não fui mais puxar

na ponteira do pião.

Foi com dor no coração

que eu deixei o meu lugar.

Zé Adalberto do Caroço do Juá glosando o mote:




RETIREI SEU RETRATO DA CARTEIRA

SEM TIRAR SEU AMOR DO CORAÇÃO



Seu veículo de amor ainda cabe

Na garagem do peito que era seu,

O chassi do seu corpo está no meu

Se eu tentar alterá-lo o mundo sabe

Não existe paixão que não se acabe

Mas amor não possui limitação

Vai além das fronteiras da razão

E o que eu sinto por ela é sem fronteira

Retirei seu retrato da carteira

Sem tirar seu amor do coração.



Da carteira eu tratei de dar um jeito

De tirar sua foto de olhos vivos

Mas não pude apagar os negativos

Que ficaram gravados no meu peito

Junto à lei nosso caso foi desfeito

A igreja anulou nossa união

Mas do peito não tive condição

De tirar esse amor por mais que eu queira

Retirei seu retrato da carteira

Sem tirar seu amor do coração.



Seu retrato foi todo incinerado

Mas até na fumaça deu pra vê-la

Não há nada que faça eu esquecê-la

Eu nem sei se por ela sou lembrado

Meu desejo está contaminado

Pelo vírus da sua sedução

Junta médica não faz intervenção

Se souber que a doença é roedeira

Retirei seu retrato da carteira

Sem tirar seu amor do coração.



Esse meu coração só pensa nela

Apesar de bater no meu reduto

120 batidas por minuto

São as 20 por mim, e as 100 por ela

Eu com raiva rasguei a foto dela

Mas amor não se rasga com a mão

Se vontade rasgasse ingratidão

Eu só tinha deixado a pedaceira

Retirei seu retrato da carteira

Sem tirar seu amor do coração.



Um soneto de Jomaci Dantas




Desejos de um poeta



Quero só um boêmio como amigo,

Uma flor, o luar, uma calçada,

E um poeta na minha madrugada

Pra cantar a canção que não consigo.



Uma simples mulher beba comigo,

Totalmente de amor necessitada,

Eu conduza no drinque ou na tragada

Minha última esperança pra o jazigo.



Quero, sim, um boteco na cidade,

Pra que eu possa esconder minha saudade

Colocando no copo a minha dor.



E o meu corpo ao perder toda a estrutura,

Alguém bote na minha sepultura

“Aqui jaz um cativo do amor”.

Uma glosa de Waldir Telles




Mote:



Quando morre um alguém que agente adora

Nasce um broto de dor no coração.



Quando morre um parente ou um amigo

Resta só lamentar, ninguém dá jeito

A tristeza se aloja em nosso peito

A angústia se apossa do abrigo

O seu corpo levado pra o jazigo

É seguido por uma multidão

Nem compensa apertar na sua mão

É inútil dizer não vá agora

Quando morre um alguém que agente adora

Nasce um broto de dor no coração.

VERSOS, DIVERSOS VERSOS

TODO DIA EU MEDITO COM SAUDADE


MINHA INFÂNCIA VIVIDA NO SERTÃO



Sebastião Dias



Hoje eu posso dizer que eu sou feliz,

todo dia eu me lembro, quando acordo,

do sertão que vivi e eu recordo,

o jumento, a cangalha e os barris,

uma canga, a correia e seus canzis,

quatro deles prendendo o barbatão,

o azeite oleando o meu cocão,

eis os números da minha identidade.

Todo dia eu medito com saudade

minha infância vivida no sertão.



Raimundo Caetano



Não me esqueço da árdua trajetória,

todo dia saindo pra o trabalho,

com a roupa molhada de orvalho,

com a mão estirada à palmatória,

esse é um pedaço da história,

que eu não posso prender na minha mão,

mas se eu for remexer meu coração,

inda dá pra salvar mais da metade

Todo dia eu medito com saudade

minha infância vivida no sertão.



* * *



Sebastião da Silva e Moacir Laurentino improvisando com o mote:



SINTO A ÚLTIMA ESPERANÇA SE QUEIMANDO

NA FOGUEIRA DA SECA NORDESTINA



Sebastião da Silva



Outro mote bonito aqui está,

vem falando de crise e sequidão

e nessa seca que há no meu sertão,

Piauí, Pernambuco, Ceará,

não se ouve o cantar do sabiá,

do canário de crista da campina,

e a cigarra também não faz buzina,

não tem ave do campo mais cantando.

Sinto a última esperança se queimando

na fogueira da seca nordestina.



Moacir Laurentino



Essa dura e cruel situação,

da maneira que muita gente está

Paraíba, Sergipe e Ceará,

Rio Grande, Alagoas, Maranhão,

tá despida toda vegetação,

não tem mais folha verde na campina,

essa seca cruel e assassina,

com sol quente que vêm lhe sapecando.

Sinto a última esperança se queimando

na fogueira da seca nordestina.