Um poema de Marcos Mairton
(Tanto faz ler de cima pra baixo, como de baixo pra cima)
POESIA INDO E VOLTANDO
Poesia pra dizer indo e voltando
Não é coisa para qualquer um fazer.
É preciso o poeta conhecer
O mistério de falar sempre rimando,
Com destreza as palavras ir juntando,
E falar da sua dor com alegria,
Misturar realidade e fantasia,
Pra dizer o que ele quer de trás pra frente.
É preciso um poeta inteligente
Pra dizer indo e voltando a poesia.
Pra dizer indo e voltando a poesia,
É preciso um poeta inteligente,
Pra dizer o que ele quer de trás pra frente,
Misturar realidade e fantasia,
E falar da sua dor com alegria,
Com destreza as palavras ir juntando.
O mistério de falar sempre rimando,
É preciso o poeta conhecer .
Não é coisa para qualquer um fazer,
Poesia pra dizer indo e voltando.
O poeta mostra do que é capaz
Ao fazer a poesia desse jeito.
Quando eu não sabia nem falar direito,
Já cantava assim como você faz.
Já rimava para a frente e para trás,
Já sabia fazer versos recuando.
Eu já tinha das palavras o comando,
Antes de fazer três anos de idade.
Não me causa a menor dificuldade
Essa sua poesia indo e voltando.
Essa sua poesia indo e voltando
Não me causa a menor dificuldade.
Antes de fazer três anos de idade,
Eu já tinha das palavras o comando.
Já sabia fazer versos recuando,
Já rimava para a frente e para trás,
Já cantava assim como você faz,
Quando eu não sabia nem falar direito.
Ao fazer a poesia desse jeito
O poeta mostra do que é capaz.
* * *
Glosas de Otacilio Batista com o mote:
Tenho n’alma as tatuagens
Da minha origem cigana.
Fui criado entre as miragens,
Na solidão do deserto,
De um povo que andava incerto,
Tenho n’alma as tatuagens:
São abstratas imagens
De Alá, que não se profana;
Dos chefes de caravana,
Me orgulho em ser porta-voz:
Os primitivos heróis
Da minha origem cigana!
Os antigos personagens,
Defensores dos escravos;
De uma legião de bravos,
Tenho n’alma as tatuagens!
Fugindo às velhas linhagens
Da imposição duridana,
Por vontade Soberana,
Ismael foi peregrino,
O primeiro beduíno
Da minha origem cigana!
Um poema de Patativa do Assaré
Antônio Conselheiro
Cada um na vida tem
O direito de julgar
Como tenho o meu também
Com razão quero falar
Nestes meus versos singelos
Mas de sentimentos belos
Sobre um grande brasileiro
Cearense meu conterrâneo,
Líder sensato espontâneo,
Nosso Antônio Conselheiro.
Este cearense nasceu
Lá em Quixeramobim,
Se eu sei como ele viveu
Sei como foi o seu fim,
Quando em Canudos chegou
Com amor organizou
Um ambiente comum
Sem enredos nem engodos,
Ali era um por todos
E eram todos por um.
Quando eu era criança
meu mundo era diferente.
Valdir Teles
Na viola eu aconselho
às crianças de hoje em dia,
que o período que eu vivia,
eu lia noutro evangelho,
tomava bênção a pai velho,
mesmo sem ser meu parente,
hoje no lugar da gente
já existe uma mudança.
Quando eu era criança
meu mundo era diferente.
Geraldo Amâncio
Já mudou a tradição,
da nossa velha morada,
não tinha mulher pelada
passando em televisão,
nem existia ladrão,
que vive assombrando a gente,
o bandido atualmente
acaba a nossa esperança.
Quando eu era criança
meu mundo era diferente.
Dois improvisos de César Coelho
Coisa linda é madrugada,
Com luar pelo terreiro,
Viola em beira de estrada,
Cantiga de violeiro.
Quero a paz do teu carinho,
Mil cantigas de viola,
Quero ouvir um passarinho,
Que não seja na gaiola
* * *
Um improviso de Zé de Cazuza homenageando Elísio Félix, o Canhotinho
Campina dá por igual
A canhoto um monumento
Pois onde morre um talento
A fama vive imortal
Ela é seu torrão natal
Cada qual entristeceu
Um perdeu, outro perdeu
Mais um poeta excelente
Enfim, morreu de repente
Quem de repente viveu.
Um improviso do Cego Aderaldo
A prisão deve ter sido
Invenção de Lucifer
Eu só aceito a prisão
Nos braços duma mulher
Agüentando o que ela faz
E fazendo o que ela quer.
* * *
Improvisos de João Paraibano
Vi o fantasma da seca
Ser transportado numa rede
Vi o açude secando
Com três rachões na parede
E as abelhas no velório
Da flor que morreu de sede.
Faço da minha esperança
Arma pra sobreviver
Até desengano eu planto
Pensando que vai nascer
E rego com as próprias lágrimas
Pra ilusão não morrer.
Estou ficando cansado
O corpo sem energia
Jesus pintou meus cabelos
No final da boemia
Mas na hora de pintar
Esqueceu de perguntar
Qual era a cor que eu queria.
Toda a noite quando deito
Um pesadelo me abraça
Meu cabelo que era preto
Está da cor de fumaça
Ficou branco após os trinta
Eu não quis gastar com tinta
O tempo pintou de graça.
Terreno ruim não dá fruto,
por mais que a gente cultive,
no seu céu eu nunca fui,
sua estrela eu nunca tive,
que o espinho não se hospeda,
na mansão que a rosa vive.
Coruja dá gargalhada
Na casa que não tem dono
A borboleta azulada
Da cor de um papel carbono
Faz ventilador das asas
Pra rosa pegar no sono.
Uma glosa de Moysés Sesyom
Vida longa não alcanço
Na orgia ou no prazer.
Mas, enquanto não morrer
- Bebo, fumo, jogo e danço!
Brinco, farreio, não canso,
Me censure quem quiser…
Enquanto eu vida tiver,
Cumprindo essa sina venho,
E, além dos vícios que tenho,
- Sou perdido por mulher!…
* * *
Um improviso de Canhotinho
Doce como os versos teus
Só o mel de uruçu,
A água do coco verde,
A flor do mandacaru,
O riiso de uma criança
E o canto do uirapuru.
Um improviso de Domingos Fonseca
Toda mãe por qualquer filho
Se iguala num só amor.
As mães de Cristo e de Judas
Sofreram uma só dor:
Uma, pelo filho JUSTO
Outra, pelo TRAIDOR”
* * *
Um improviso de Domingos Fonseca
Toda mãe por qualquer filho
Se iguala num só amor.
As mães de Cristo e de Judas
Sofreram uma só dor:
Uma, pelo filho JUSTO
Outra, pelo TRAIDOR”
* * *
Homenagem de Dedé Monteiro a Lourival Batista com o mote:
São José escurece outra metade,
que o repente de LOURO iluminou.
São José do Egito, a cada ano,
vem ficando mais pobre e enlutada:
foi MARINHO a primeira bordoada…
sofreu muito ao perder ROGACIANO…
JÓ deixou de cantar no térreo plano,
pra no plano divino fazer show…
dia seis de dezembro o REI botou
mais tristeza no peito da cidade…
São José escurece outra metade,
que o repente de LOURO iluminou.
Manoel Xudú
Cantador pra enfrentar Manoel Xudú
É preciso pular como uma bola
Ter a curva do arco da viola
Ter o doce do mel da uruçu
Ter o suco da polpa do caju
O azeite do sumo da castanha
O tecido da teia da aranha
A beleza da pena da arara
O tacape do índio ubirajara
E a destreza da fera da montanha.
Manoel Filó
Cantador pra enfrentar Manoel Filó
É preciso comer besouro assado
Dar pancadas com o gume do machado
Num angico que tem um sanharó
Se enrolar com uma cobra de cipó
Dar um chute num cão com hidrofobia
Mastigar na cabeça de uma jia
Se subir num coqueiro catolé
Se montar em Inácio Jacaré
E viajar três semanas pra Bahia.
Geraldo Amâncio glosando o mote
Foi com dor no coração
que eu deixei o meu lugar
Não voltei pra minha aldeia,
já faz tempo que eu não vejo
meu primeiro realejo,
e a minha bola de meia;
brincar de toca na areia
nunca mais pude brincar
também não fui mais puxar
na ponteira do pião.
Foi com dor no coração
que eu deixei o meu lugar.
Zé Adalberto do Caroço do Juá glosando o mote:
RETIREI SEU RETRATO DA CARTEIRA
SEM TIRAR SEU AMOR DO CORAÇÃO
Seu veículo de amor ainda cabe
Na garagem do peito que era seu,
O chassi do seu corpo está no meu
Se eu tentar alterá-lo o mundo sabe
Não existe paixão que não se acabe
Mas amor não possui limitação
Vai além das fronteiras da razão
E o que eu sinto por ela é sem fronteira
Retirei seu retrato da carteira
Sem tirar seu amor do coração.
Da carteira eu tratei de dar um jeito
De tirar sua foto de olhos vivos
Mas não pude apagar os negativos
Que ficaram gravados no meu peito
Junto à lei nosso caso foi desfeito
A igreja anulou nossa união
Mas do peito não tive condição
De tirar esse amor por mais que eu queira
Retirei seu retrato da carteira
Sem tirar seu amor do coração.
Seu retrato foi todo incinerado
Mas até na fumaça deu pra vê-la
Não há nada que faça eu esquecê-la
Eu nem sei se por ela sou lembrado
Meu desejo está contaminado
Pelo vírus da sua sedução
Junta médica não faz intervenção
Se souber que a doença é roedeira
Retirei seu retrato da carteira
Sem tirar seu amor do coração.
Esse meu coração só pensa nela
Apesar de bater no meu reduto
120 batidas por minuto
São as 20 por mim, e as 100 por ela
Eu com raiva rasguei a foto dela
Mas amor não se rasga com a mão
Se vontade rasgasse ingratidão
Eu só tinha deixado a pedaceira
Retirei seu retrato da carteira
Sem tirar seu amor do coração.
Um soneto de Jomaci Dantas
Desejos de um poeta
Quero só um boêmio como amigo,
Uma flor, o luar, uma calçada,
E um poeta na minha madrugada
Pra cantar a canção que não consigo.
Uma simples mulher beba comigo,
Totalmente de amor necessitada,
Eu conduza no drinque ou na tragada
Minha última esperança pra o jazigo.
Quero, sim, um boteco na cidade,
Pra que eu possa esconder minha saudade
Colocando no copo a minha dor.
E o meu corpo ao perder toda a estrutura,
Alguém bote na minha sepultura
“Aqui jaz um cativo do amor”.
Uma glosa de Waldir Telles
Mote:
Quando morre um alguém que agente adora
Nasce um broto de dor no coração.
Quando morre um parente ou um amigo
Resta só lamentar, ninguém dá jeito
A tristeza se aloja em nosso peito
A angústia se apossa do abrigo
O seu corpo levado pra o jazigo
É seguido por uma multidão
Nem compensa apertar na sua mão
É inútil dizer não vá agora
Quando morre um alguém que agente adora
Nasce um broto de dor no coração.
JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

terça-feira, 4 de maio de 2010
VERSOS, DIVERSOS VERSOS
TODO DIA EU MEDITO COM SAUDADE
MINHA INFÂNCIA VIVIDA NO SERTÃO
Sebastião Dias
Hoje eu posso dizer que eu sou feliz,
todo dia eu me lembro, quando acordo,
do sertão que vivi e eu recordo,
o jumento, a cangalha e os barris,
uma canga, a correia e seus canzis,
quatro deles prendendo o barbatão,
o azeite oleando o meu cocão,
eis os números da minha identidade.
Todo dia eu medito com saudade
minha infância vivida no sertão.
Raimundo Caetano
Não me esqueço da árdua trajetória,
todo dia saindo pra o trabalho,
com a roupa molhada de orvalho,
com a mão estirada à palmatória,
esse é um pedaço da história,
que eu não posso prender na minha mão,
mas se eu for remexer meu coração,
inda dá pra salvar mais da metade
Todo dia eu medito com saudade
minha infância vivida no sertão.
* * *
Sebastião da Silva e Moacir Laurentino improvisando com o mote:
SINTO A ÚLTIMA ESPERANÇA SE QUEIMANDO
NA FOGUEIRA DA SECA NORDESTINA
Sebastião da Silva
Outro mote bonito aqui está,
vem falando de crise e sequidão
e nessa seca que há no meu sertão,
Piauí, Pernambuco, Ceará,
não se ouve o cantar do sabiá,
do canário de crista da campina,
e a cigarra também não faz buzina,
não tem ave do campo mais cantando.
Sinto a última esperança se queimando
na fogueira da seca nordestina.
Moacir Laurentino
Essa dura e cruel situação,
da maneira que muita gente está
Paraíba, Sergipe e Ceará,
Rio Grande, Alagoas, Maranhão,
tá despida toda vegetação,
não tem mais folha verde na campina,
essa seca cruel e assassina,
com sol quente que vêm lhe sapecando.
Sinto a última esperança se queimando
na fogueira da seca nordestina.
MINHA INFÂNCIA VIVIDA NO SERTÃO
Sebastião Dias
Hoje eu posso dizer que eu sou feliz,
todo dia eu me lembro, quando acordo,
do sertão que vivi e eu recordo,
o jumento, a cangalha e os barris,
uma canga, a correia e seus canzis,
quatro deles prendendo o barbatão,
o azeite oleando o meu cocão,
eis os números da minha identidade.
Todo dia eu medito com saudade
minha infância vivida no sertão.
Raimundo Caetano
Não me esqueço da árdua trajetória,
todo dia saindo pra o trabalho,
com a roupa molhada de orvalho,
com a mão estirada à palmatória,
esse é um pedaço da história,
que eu não posso prender na minha mão,
mas se eu for remexer meu coração,
inda dá pra salvar mais da metade
Todo dia eu medito com saudade
minha infância vivida no sertão.
* * *
Sebastião da Silva e Moacir Laurentino improvisando com o mote:
SINTO A ÚLTIMA ESPERANÇA SE QUEIMANDO
NA FOGUEIRA DA SECA NORDESTINA
Sebastião da Silva
Outro mote bonito aqui está,
vem falando de crise e sequidão
e nessa seca que há no meu sertão,
Piauí, Pernambuco, Ceará,
não se ouve o cantar do sabiá,
do canário de crista da campina,
e a cigarra também não faz buzina,
não tem ave do campo mais cantando.
Sinto a última esperança se queimando
na fogueira da seca nordestina.
Moacir Laurentino
Essa dura e cruel situação,
da maneira que muita gente está
Paraíba, Sergipe e Ceará,
Rio Grande, Alagoas, Maranhão,
tá despida toda vegetação,
não tem mais folha verde na campina,
essa seca cruel e assassina,
com sol quente que vêm lhe sapecando.
Sinto a última esperança se queimando
na fogueira da seca nordestina.
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