JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

domingo, 6 de maio de 2012

POETAS DA SEMANA



Enquanto na arataca
Um preà se aperreia
Um bode “trupica”e cai
Por estar preso na peia
Sinto um magote de verso
Correndo na minha veia.
 
Quando na roça alheia
Menino rouba goiaba
A nuvem roxa de inverno
`As aguas do céu desaba
Eu colho versos da fonte
Cheia que nunca se acaba.

O cheiro forte da baba
D’uma vaca remuendo
Uma torre no nascente
Se no sertão ta chuvendo
Sinto na roça da alma
Um verso novo nascendo.

Quando vem amanhecendo
No terreiro da cozinha
Eu vendo um galo pedrez
Correndo atràs da galinha
Até isso entra em meus versos
Dando graça a rima minha.

Ainda de manhãzinha
Mâe preparando o café
Meu pai batendo a enxada
Vovô cheirando rapé
Vendo essas coisas me inspiro
Faço verso sem dar fé.

Pescando de jereré
Caçando de baladeira
Pastorando a criação
Me balançando em porteira
Somente lembrando disso
Faço verso a tarde inteira.

Brocando uma capoeira
Esperando as trovoadas
Ouvindo um vaqueiro velho
Rouco cantando toadas
Assim comecei fazer
Minhas estrofes rimadas.
 Enquanto nas madrugadas
Caçava peba e tatu
Com fogo, fumaça e vara
Eu derrubava um enxu
Lavava a alma com versos
Nas aguas do Pajeu.

E quando o mandacaru
Nos dava a flor da esperança
A seca ia-se embora
Dando lugar a bonança
Eu rabiscava sem jeito
Os meus versos de criança.

Quando era noite de dança
Atravessava os riachos
Para ver as sertanejas
Com lindas tranças e cachos
Melodiava meus versos
No toque dos oito-baixos.

E quando os ferventes tachos
Borbulhavam nas moagens
Deus bendizia com chuva
Altos, baixìos e vàrgens
Eu jà descrevia em versos
Essas bonitas imagens.
 E quando as cinzas paisagens
Denunciavam o estio
Eu na luz de um candeeiro
De lata, gàs e pavio
Cantava a terra rachada
Do leito seco do rio.

Um sertanejo bravio
Num serviço de emergência
Uma mâe com doze filhos
Sofrendo com paciência
Faziam com que meu verso
Ganhasse forma e essência.

Quando as mãos da Providência
Tinham compaixão do povo
Mandava chuva na terra
Como sinal de aprovo
Sentia um verso na alma
Começar nascer de novo.

Pra festa de ano novo
Quando pai caiava a casa
Mâe estirava o vestido
Num velho ferro de brasa
Sentia a rima crescendo
E o verso criando asa.

Quando na cacimba rasa
A seca prenunciava
Que estaria chegando
Sem dizer quando voltava
Eu sentia que calada
A minha alma rimava.
E quando a rama da fava
Marcava o cabão de milho
Um cheiro invadia a sala:
Angu, pamonha e sequilho
Assim nasceu meu repente
... E disso meu verso è filho.

Ao ouvir um trocadilho
Do poeta lourival
Um padre fazendo verso
Na vigilia de natal
Dizia: quando eu crescer
Quero fazer um igual.

Vendo uma velha rural
Servindo de lotação
A vìrgem sendo exaltada
Num poema de Cancão
Nasceram assim no meu peito
Um monte de inspiração.

E quando a televisão
Não tinha lugar na sala
Vovò contava anedotas
Jà velha usando bengala
Ao lembrar disso minh’alma
Faz verso, soluça e cala.

E quando uma rosa exala
Cheiro excitando a abelha
Um pingo de chuva entra
Por uma brecha da telha
Faço um verso tão sofrido
Chega a rima saia vermelha.
S’a derradeira centelha
Do sol morre no poente
E o negrume da noite
Envolve o sertão da gente
Escuto a alma agitada
... Gemer parindo repente.

E quando da terra quente
Se levantava o mormaço
Com um feixe de ração
Pesando em meu espinhaço
Eu fazia um verso inteiro
Rimando cada pedaço.

Assim o verso que faço
Nasceu aonde eu nasci
Bebeu a agua barrenta
do barreiro que bebi
E comeu o xerem quente
Com leite como eu comi.

Os versos que eu pari
Nunca chamarei de meus
Porque sò fiz o retoque
E alguns detalhes seus
Fiz eu o acabamento
Quem criou mesmo foi Deus.

Não os quero nos museus
(Passa-Tempo de granfino)
E nem ornados em ouro
Escritos em papel fino
Os quero escritos somente
Na alma do nordestino.

Padre e Poeta Brás Ivan Costa Santos
Esses anjos benfasejos
Que me ajudam viver,
Com quem divido esperança,
Saudade, dor e prazer.
Poetas, loucos e sãos,
Meus amigos sâo irmãos
Que Deus deixou-me escolher.
PadrePoeta Brás Ivan
 
 

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