JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

domingo, 10 de junho de 2012

POETAS DA SEMANA


A IMAGEM DE UMA SECA

ALDO NEVES E DIÓ DE SANTO IZIDRO

ALDO NEVES
A imagem de uma seca
É faltar cheiro na flor
Uma Acauã gritar perto
Da boca de um  corredor
E um vaqueiro chorar longe
De um boi que a seca matou

DIÓ
Pois pintar a seca eu vou
Na minha imaginação
Na vaca morta de fome
Tá sem água o cacimbão
Numa panela vazia
Na mesa da precisão

ALDO NEVES
Chorando um filho sem pão
“Manheceu” o dia em jejum
Vendo a barriga vazia
Sem feijão e jerimum
E a vaca com quato peitos
Na sai de leite em nenhum

DIÓ
Pintar a seca é comum
Mas eu acho diferente
Quem sabe o que é a seca
Ouvindo revelar sente
É a falta de alimento
Na boca de inocente

ALDO NEVES
A vaca rangendo o dente
Sem abelha no cortiço
E um pobre se lastimando
Pés descalços sem serviço
Quem se criou no nordeste
Já passou por tudo isso

DIÓ
Tenho que dizer por isso
Seca maior não terá
O bode escapa comendo
Essas folhas de juá
E abelha sem ter flor
Se alimenta em saburá
ALDO NEVES
É ruim de encontrar
No sertão do pajeú
Quando a seca agarra a gente
Ver morada de tatu
E o gado espiando a boca
Comendo mandacaru

DIÓ
Retratando o pajeú
Isso não é anedota
O touro cabeleando
A bezerra e a garrota
Comendo os últimos dos talos
Da ração que o dono bota

ALDO NEVES
Camponês chora a derrota
Solitário sem alegria
Planta o solo e nada nasce
Nem feijão, nem melancia
E o gado berra com sede
Vendo a cacimba vazia

DIÓ
Retrato com agonia
Isso aí é uma prova
Cai as folha que estão velhas
Quando chove ela renova
Mas sem chuva o grão que nasce
Morre por cima da cova

ALDO NEVES
Pra o homem a maior prova
Vendo a seca castigando
A vaquinha magricela
Sem ter chocalho tocando
Vai um mói de mosca atrás
E um urubu lhe acompanhando

DIÓ
A seca eutou retrantando
Na minha imaginação
Sem palma, capim,  agave
É triste a situação
A vaca olha pra o dono
Urra pedindo ração



ALDO NEVES
É triste a situação
Depois que a crise passou
Canta triste o sabiá
Triste vendo o sol se por
Morrendo um sapo de sede
Onde a cacimba secou

DIÓ
O que a seca retratou
É o que a gente relata
Não tem capim no baixio
Nem folha verde na mata
O vaqueiro se aperreia
E o fazendeiro se mata

ALDO NEVES
Não tem mais leite na mata
Nem coalhada a merendar
Não tem o pássaro que canta
Nem vaqueiro a aboiar
E  o patrão guarda o gibão
Sem ter o que campiar

ALDO NEVES
Pra seca se retratar
Na minha lembrança sai
Procurando o alimento
A vaca parida vai
O bezerro quer o peito
Bate sem força e cai

ALDO NEVES
Pra canto que vai
É o maior sofrimento
Berra uma vaca sofrida
À falta de alimento
Olha berrando pro dono
“Com isso eu me sustento”.

DIÓ
Pois a seca é sofrimento
Devido ao que preparou
Esperamos o inverno
Mas a chuva não chegou
E só sabe o que é a seca
Quem no meu sertão morou



ALDO NEVES
E o homem que viajou
Sentindo a crise que aperta
Vejo o meteorologista
Sem saber se tudo acerta
E berra uma vaca com sede
Bezerro de boca aberta

DIÓ
No peito o bezerro aperta
E alguma espuma pingou
Chupou tanto e nada encontra
No peito que ele chupou       
Viu a espuma no chão
Baixou a boca e cheirou

ALDO NEVES
A vaca magra ficou
Escorou-se na cancela
No inverno já foi gorda
Com seca não fica bela
Vira uma cacimba suja
Por entre uma outra costela

DIÓ
Vendo a vaca magricela
Isso eu não posso negar
Tá procurando ração
Cansou mas não via achar
E o dono sente tristeza
Não acha pasto pra dar

ALDO NEVES
Camponês a viajar
Levanta  de madrugada
Consegue um matulão sujo
A chibanca e a enxada
E a procissão de mendigos
Toma conta da estrada

DIÓ
Mas como seca e malvada
Seca pra nós desanima
O gado arrepia o pelo
Mostrando o jeito do clima
E depois come os talos secos
Que antes cagou por cima



ALDO NEVES
Eu vim á Várzea de Cima
Pra tomar uma aguardente
Vim atender um pedido
De Paulo que é meu parente
Que isso aí já faz parte
Desse cenário d’agente

DIÓ
Me desculpe realmente
Eu digo de coração
Se não fiz a seu agrado
Fiz a minha posição
Isso é cópia fiel
De uma seca do sertão



Nenhum comentário:

Postar um comentário