JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

DOIS GÊNIOS EXTRAORDINÁRIOS!!!!



Em dezembro: o sol lindo, clima quente;
Em janeiro: o vilão da seca morre,
Um rosário de pingo d’água escorre
No pescoço do rio formando enchente.
A mãe terra despida, de repente,
Um tecido de flor faz seu pijama
Cururu na lagoa escolhe a cama,
Pra fazer sem sabão bolha de espuma
O nordeste se enfeita e se perfuma
Quando o pranto da nuvem se derrama.

O relâmpago se acende pra dá show
Camponês sem castelo vira rei
Quando a voz do trovão diz: eu cheguei!
O fantasma da fome diz: já vou!
Abra a boca de um silo que lacrou
Enche a cuia e não pesa em quilograma
Põe na cova, com um mês tem folha e grama
Quem plantou grão por grão colhe de ruma
O nordeste se enfeita e se perfuma
Quando o pranto da nuvem se derrama

Chove dez, quinze dias todo mês
Qu’a goteira da casa enche os canecos
Com excesso de água os açudecos
Ameaçam romper-se de uma vez
O capim cresce a ponto que uma rês
Sem curvar o pescoço alcança a grama
E quanto mais o bezerro suga a mama
Mas o peito com leite se avoluma
O nordeste se enfeita e se perfuma
Quando o pranto da nuvem se derrama

Do buraco as formigas vem pra fora
Os besouros, terreiro nenhum cabe.
Quando o céu engravida a nuvem sabe
Que vai da luz de chuva a qualquer hora
Um lençol de neblina envolve a flora
Mexe a gruta um pirão de areia e lama
A montanha esfumaça sem ter chama
Dá até pra pensar que a terra fuma
O nordeste se enfeita e se perfuma
Quando o pranto da nuvem se derrama


Contra a fome a fartura é um escudo
Que não pega zinabre nem ferrugem
O baixio coberto de babugem
Mais parece um tapete de veludo
Quem nos tempos da seca topou tudo
Vendo a chuva mudando o panorama
Vai dizer ao patrão findou-se o drama
Nunca mais planto roça de três ruma
O nordeste se enfeita e se perfuma
Quando o pranto da nuvem se derrama

Vê-se o raio cobrir-se de centelha
O terreno rochoso fica mole
A garganta da bica toma um gole
Quando a flecha da chuva alveja as telhas
Produz mais a indústria das abelhas
Pelo céu nevoeiro se esparrama
Quem tem casa de taipa se reclama
Se a parede entortar só Deus apruma
O nordeste se enfeita e se perfuma
Quando o pranto da nuvem se derrama

Quando o vento da chuva não vem manso
Quem tem medo de vento um pranto joga
Na traquéia do rio a cheia afoga
Um balseiro no meio de um remanso,
Berra um bode assombrado, nada um ganso
E se tremendo com o frio um boi se “acama”
E a enchente barrenta cor de Brahma
O que encontra arrumado, desarruma
O nordeste se enfeita e se perfuma
Quando o pranto da nuvem se derrama


No período que a chuva não se some
Fauna e flora se salvam dos maus tratos
O carão adivinho ganha status
A peitica agourenta perde o nome
O trator da fartura enterra a fome
A ferida da seca desinflama
E o terreno que a flor não embalsama
Nem precisa adubar que Deus estruma
O nordeste se enfeita e se perfuma
Quanto o pranto da nuvem se derrama




Nordestino que larga o rancho seu
E a morar no sudeste se obriga
Quando chega em São Paulo a mulher liga
Homem volte pra casa que choveu!
Ele mais saudosista do que eu
Reafirma que vem num telegrama
Quem nasceu no nordeste ao sertão ama
E em São Paulo... Nem morto se acostuma
O nordeste se enfeita e se perfuma
Quando o pranto da nuvem se derrama

De encapelo uma torre se levanta
Pra que o povo na roça não se queixe
Engolindo água nova nada o peixe
Sem limite de altura cresce a planta
Dando graças a Deus o pássaro canta
Parecendo um artista de programa
Vendo a chuva lavar o último grama
De poeira existente em sua pluma
O nordeste se enfeita e se perfuma
Quando o pranto da nuvem se derrama.

(Os Nonatos, 6º Desafio Nordestino de Violeiros).



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