O saudoso Manel Filo (esquerda) e Dedé Monteiro: dois mitos da poesia nordestina
MANOEL FILÓ
Manoel Filomeno de Menezes,
Uma vez você disse sem pensar
“Chora o cedro na gruta da floresta
Escutando o machado a trabalhar”
E “O crepúsculo no campo é tão bonito
Que até Deus se debruça pra olhar.”
Quem cria motes assim
E os glosa qual você faz
Por mais que tenha vivido
Tem que viver muito mais
Pra continuar brilhando
Sendo aplaudido e criando
Prodígios fenomenais.
Lamentando o cenário sertanejo
Quando o sol do verão nos apavora
Você fez uns milagres neste mote
Que quem lê sem chorar, por dentro chora
“O carão que cantava em meu baixio
Teve medo da seca e foi embora”.
Criou também um poema
De inspiração desmedida
Neste mote primoroso
Magoador de ferida
“Todo dia muda a cor
Do quadro da minha vida”.
Você nunca soltou o cabo liso
Do martelo sagrado da emoção
Fez com ele uma peça genial
Neste mote de rara inspiração
“Quando a gente magoa uma saudade
Incomoda demais o coração”.
Que o mundo se coisifique
Todos morremos de medo
Por isso, você que sabe
Do sentimento o segredo
Não pode sair de cena
Bote mais tinta na pena
Não diga adeus nem tão cedo.
Quando Zé Marcolino despediu-se
E o nordeste ficou de alma enlutada
Amargando a saudade imorredoura
Você disse exprimindo a dor de cada
“A estrada matou quem escreveu
O mais belo poema da estrada”.
Conquistando os corações
“Devagar, devagarinho”
Você foi duplo gigante
No gabinete e no pinho
Por isso a gente não sai
“Das curvas do seu caminho”.
Eis aqui outra prova incontestável
De grandeza e de sensibilidade
Você disse aos que a vida condenou
A viverem sofrendo atrás das grades
“Uma gota de pranto molha o riso
Quando o preso recebe a liberdade”.
Parabéns Manoel Filó
Por teu menino primeiro
Dois mil e cinco, o segundo
Dois mil e seis, o terceiro
E espero que Deus consinta
Que aos cem em dois mil e trinta
Você faça o derradeiro!
(Ddé Monteiro)
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