JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

domingo, 21 de julho de 2013

POETAS DA SEMANA

Pedro Ernesto Filho
(Ao saber da morte do grande poeta Diniz Vitorino)
Mote:
Quando morre um poeta nordestino
nasce um pé de saudade no sertão.
Quando um vate de nome e de cartaz
dá adeus a seus fãs e deixa a terra,
uma neve de dor envolve a serra
e os poetas que ficam perdem a paz,
a viola, sequer, se afina mais
e a poesia recita o seu refrão
como quem presta a última informação
pondo a culpa na ordem do destino.
Quando morre um poeta nordestino
nasce um pé de saudade no sertão.
A canção erudita se entristece
e o luar de repente perde a cor,
quando a morte carrega um cantador
a cultura por si se desconhece,
a plateia chorosa permanece
enfrentado o calor da emoção
se pudesse se opor dizia não
mas conhece a grandeza do Divino.
Quando morre um poeta nordestino
nasce um pé de saudade no sertão.
Uma voz no espaço triste diz
foi embora um poeta renomado,
todo pé de parede tem gravado
um poema da lavra de Diniz,
só o tempo restaura a cicatriz
que este fato gerou na multidão,
é possível encontrar em cada oitão
o sabor do seu verso cristalino.
Quando morre um poeta nordestino
nasce um pé de saudade no sertão.
Destacou-se entre os grandes sonetistas,
conterrâneo de Pinto do Monteiro,
Pernambuco, o seu solo derradeiro;
detentor de prestígio e de conquistas,
um parceiro afinado dos Batistas
que só deu alegria à profissão,
carregava no ritmo do baião
um estilo arrojado, raro e fino.
Quando morre um poeta nordestino
nasce um pé de saudade no sertão.
Vários livros por ele publicados,
escreveu sobre temas sociais,
campeão em diversos festivais,
deu trabalho a poetas preparados,
o Nordeste acumula em seus estados
os efeitos cruéis da solidão,
seja casa de taipa ou casarão
já ouviu, do Diniz, a voz de sino.
Quando morre um poeta nordestino
nasce um pé de saudade no sertão.
Deu sucesso duplando com Bandeira,
deixou brilho cantando com Xudu,
semeou no sertão do Pajeú
o melhor da poesia brasileira,
mas a morte precoce e traiçoeira
resolveu do poeta lançar mão,
e lá no céu os colegas que estão
o recebem com festa, graça e hino.
Quando morre um poeta nordestino
nasce um pé de saudade no sertão.
* * *
Manoel Xudu cantando com Diniz Vitorino
Manoel Xudu
Voei célere aos campos da certeza
E com os fluidos da paz banhei a mente
Pra falar do Senhor Onipotente
Criador da Suprema Natureza
Fez do céu reino vasto, onde a beleza
Edifica seu magno pedestal
Infinita mansão celestial
Onde Deus empunhou saber profundo
Pra sabermos nas curvas deste mundo
Que Ele impera no trono divinal.
Diniz Vitorino
Vemos a lua, princesa sideral
Nos deixar encantados e perplexos
Inundando os céus brancos de reflexos
Como um disco dourado de cristal
Face cálida, altiva, lirial
Inspirando canções tenras de amor
Jovem virgem de corpo sedutor
Bem vestida num “robe” embranquecido
De mãos postas num templo colorido
Escutando os sermões do Criador.
Manoel Xudu
Os astros louros do céu encantador
Quando um nasce brilhando, outro se some
E cada astro brilhante tem um nome
Um tamanho, uma forma, brilho e cor
Lacrimosos vertendo resplendor
Como corpos de pérolas enfeitados
Entre tronos de plumas bem sentados
Vigiando as fortunas majestosas
Que Deus guarda nas torres luminosas
Que flutuam nos paramos azulados.
Diniz Vitorino
Olho os mares, os vejo revoltados
Quando o vento fugaz transtorna as brumas
E as ondas raivosas lançam espumas
Construindo castelos encantados
As sereias se ausentam dos pecados
Que nodoam as almas dos humanos
E tiram notas das cordas dos pianos
Que o bom Deus ocultou nos verdes mares
E gorjeiam gravando seus cantares
Na paisagem abismal dos oceanos.
* * *
Diniz Vitorino cantando com Ivanildo Vilanova
Diniz Vitorino
Eu vou defender a morte
Mas tô conformado ainda
A ida pro túmulo é certa
E é quase impossível a vinda
O que começa termina
Tudo que nasce se finda.
Ivanildo Vilanova
A vida é praia de Olinda
É vagalhão que se agita
A morte é caixão quebrado
É trava e cova esquisita
Bocado que o mundo enjeita
Osso que o mundo vomita.
Diniz Vitorino
Eu sei que a vida é bonita
Mas à morte eu dou cartaz
Que a vida quer ir pra frente
A morte puxa pra trás
A vida quer mais não foge
Dos cercos que a morte faz.
Ivanildo Vilanova
Mesmo a vida ruim demais
De sobressalto e sobrosso
Todos querem morrer velho
Que ninguém quer morrer moço
Com uma bala no crânio
E uma corda no pescoço.
Diniz Vitorino
Pertinho de um calabouço
A vida faz seu império
A morte chega e transforma
Ouro fino em pó funéreo
Roupa rasgada em mortalha
E palacete em cemitério.
Ivanildo Vilanova
Mas a vida tem mistério
Todo mundo quer viver
Um velho de oitenta anos
Tendo riqueza e poder
Contrata os médicos do mundo
Faz força pra não morrer.
Diniz Vitorino
A morte me dá prazer
Que eu a morte já conheço
Tira a fatura dos débitos
Mostra a nota, cobra o preço
No fim o cliente paga
O tributo do começo.
Ivanildo Vilanova
A vida tem tanto apreço
Que quem adoece pende
Vai pra médico e hospital
Gasta, mas não se arrepende
Que só não se compra a morte
Porque ela não se vende.
Diniz Vitorino
Dela ninguém se defende
Que a morte não faz tolice
Se ela não viesse logo
Talvez que o povo sentisse
A morte é muito melhor
Do que a dor da velhice.
Ivanildo Vilanova
A morte tem mais sentidos
Que é perversa demais
Se não existisse morte
Barco não perdia o cais
Não tinha viúva só
Nem filho longe dos pais.
Diniz Vitorino
Neste mundo sem cartaz
Se as raças são pervertidas
Se as gerações futuras
Serão mais desenvolvidas
É justo que haja mortes
Pra que surjam novas vidas.
Ivanildo Vilanova
Vida tem riso e bebida
Embora tenha pecado
Porque se não fosse a morte
Caixão não era comprado
Coveiro não tinha emprego
E cemitério era fechado.
Diniz Vitorino
Pra quem vive sem pecado
A morte não é cruel
Se não morresse Izaias
Balaão, nem Daniel
Não nasceria Jesus
Pra salvação de Israel.
Ivanildo Vilanova
A vida é taça de mel
Que todo mundo aprecia
Porque se não fosse a morte
Não tinha casa vazia
Caneta não tinha preço
Mortalha, a traça comia.
Diniz Vitorino
A morte é mulher liberta
Pra mim tem boas condutas
Se Cleópatra não morresse
Nas presas das cobras brutas
Hoje o Egito seria
Um reino de prostitutas.
Ivanildo Vilanova
A vida tem boas frutas
Baladas, canto e procela
Mesmo se não fosse a morte
Não tinha tristeza nela
Padre não ganhava nota
Cera não queimava vela.
Diniz Vitorino
A morte não tem preguiça
Nem trava lutas perdidas
Se Helena rainha falsa
Tivesse um milhão de vidas
Quantas cidades troianas
Não seriam destruídas.
Ivanildo Vilanova
Porém faz coisas erradas
Aviso com alegria
Se Lampião fosse vivo
Com a sua pontaria
Muito cabra sem-vergonha
Pagava o que me devia.

Diniz Vitorino
Muito prazer eu teria
Se a morte desse fim
Ao velho Anuar Sadat
Fidel Castro, Idi Amin
Ivanildo Vilanova
Mas esquecesse de mim.

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