JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

POETA DA SEMANA





Giuseppe Ghiaroni 
Mineiro de Paraíba do Sul, Giuseppe Ghiaroni, poeta  e jornalista,  transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou na redação do jornal A Noite desenvolvendo intensa atividade. Seus poemas lidos na Rádio Nacional entraram para a história do Brasil! Dentre suas Obras publicadas e mais conhecidas, ressaltam-se: O Dia da Existência, seu primeiro livro, de 1941,  A Graça de Deus, de 1945 e a Canção do Vagabundo, de 1948. Em 1997 publica A Máquina de Escrever, obra lançada inclusive no Programa do Jô!

Dia das Mães

Mãe! eu volto a te ver na antiga sala 
onde uma noite te deixei sem fala 
dizendo adeus como quem vai morrer. 
E me viste sumir pela neblina, 
orque a sina das mães é esta sina: 
amar, cuidar, criar, depois... perder. 
Perder o filho é como achar a morte. 
Perder o filho quando, grande e forte, 
já podia ampará-la e compensá-la. 
Mas nesse instante uma mulher bonita, 
sorrindo, o rouba, e a avelha mãe aflita 
ainda se volta para abençoá-la 

Assim parti, e nos abençoaste. 
Fui esquecer o bem que me ensinaste, 
fui para o mundo me deseducar. 
E tu ficaste num silêncio frio, 
olhando o leito que eu deixei vazio, 
cantando uma cantiga de ninar. 

Hoje volto coberto de poeira 
e ten encontro quietinha na cadeira, 
a cabeça pendida sobre o peito. 
Quero beijar-te a fronte, e não me atrevo. 
Quero acordar-te, mas não sei se devo, 
não sinto que me caiba este direito. 

O direito de dar-te este desgosto, 
de te mostrar nas rugas do meu rosto 
toda a miséria que me aconteceu. 
E quando vires e expressão horrível 
da minha máscara irreconhecível, 
minha voz rouca murmurar:''Sou eu!" 

Eu bebi na taberna dos cretinos, 
eu brandi o punhal dos assassinos, 
eu andei pelo braço dos canalhas. 
Eu fui jogral em todas as comédias, 
eu fui vilão em todas as tragédias, 
eu fui covarde em todas as batalhas. 

Eu te esqueci: as mães são esquecidas. 
Vivi a vida, vivi muitas vidas, 
e só agora, quando chego ao fim, 
traído pela última esperança, 
e só agora quando a dor me alcança 
lembro quem nunca se esqueceu de mim. 

Não! Eu devo voltar, ser esquecido. 
Mas que foi? De repente ouço um ruído; 
a cadeira rangeu; é tade agora! 
Minha mãe se levanta abrindo os braços 
e, me envolvendo num milhão de abraços, 
rendendo graçs, diz:"Meu filho!", e chora. 

E chora e treme como fala e ri, 
e parece que Deus entrou aqui, 
em vez de o último dos condenados. 
E o seu pranto rolando em minha face 
quase é como se o Céu me perdoasse, 
me limpasse de todos os pecados. 

Mãe! Nos teus braços eu me tranfiguro. 
Lembro que fui criança, que fui puro. 
Sim, tenho mãe! E esta ventura é tanta 
que eu compreendo o que significa: 
o filho é pobre, mas a mãe é rica! 
O filho é homem, mas a mãe é santa! 

Santa que eu fiz envelhecer sofrendo, 
mas que me beija como agradecendo 
toda a dor que por mim lhe foi causada. 
Dos mundos onde andei nada te trouxe, 
mas tu me olhas num olhar tão doce 
que , nada tendo, não te falta nada. 

Dia das Mães! É o dia da bondade 
maior que todo o mal da humanidade 
purificada num amor fecundo. 
Por mais que o homem seja um mesquinho, 
enquanto a Mãe cantar junto a um bercinho 
cantará a esperança para o mundo!
 

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