JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

domingo, 18 de dezembro de 2011

POETA DA SEMANA


O Técnico Agrícola e Poeta Marquinhos da Serrinha, vendia coentro no povoado de Mundo Novo Mul. de S. J. do Egito e toda vez que a poetisa Severina Branca, o via pedia-lhe um moeda dizendo: Fofinho! Uma pratinha Fofinho.
Certo dia quando a poetisa aproximou-se e pediu mais uma moeda o poeta disse que daria com uma condição: Ele faria um verso e ela faria outro respondendo o dele.
O poeta  Marquinhos, já tinha um verso pronto, disse:

Quando o caboclo é da roça
Com tudo se realiza.
Corta capim pra ração,
Tira estaca, faz divisa,
Vende uma caixa de coentro
E namora com a poetisa

A poetisa deu uns pulinhos, ficou arrodeando e disse de improviso:

Fofinho você precisa
Arrumar outra pessoa
Que tenha mais compromisso
Não é que eu não seja boa
Mas tem mais de vinte anos
Que eu ando no mundo à toa

O poeta Marquinhos sabendo da separação matrimonial de um amigo fez este soneto:

Vim pedir perdão pra ver se me acho
O deserto infindo do quarto e da cama
Ando arrependido, triste cabisbaixo
Pago pelo erro que me fez má fama

Dos filmes da vida eu hoje me encaixo
No rol dos que vivem pesaroso drama
É que o homem tolo pra provar que é macho
Quer fazer capacho da mulher que ama

Não vejo mais graça em nada que faço
Porque o meu corpo sem o teu abraço
Tornou-se algo, sem ter serventia

Com a tua ausência eu tirei a prova
Estando contigo tudo se renova
Longe  nos teus braços, morro à cada dia



ÔH que tamanha maldade
O destino tem me feito
Quase toda noite eu deito
Sussurrando de saudade
Vejo amanhecer o dia
Acho que ninguém devia
Sofrer por alguém assim
Nem tão pura e nem tão bela
Mas eu penso tanto nela
Que até esqueço de mim

Iracema

Amar só uma pessoa
Ou ser igual bicho bruto
Responda a esse matuto
Qual é a escolha boa
Que eu quero seguir no rumo
E nivelar o meu prumo
Pelo o da felicidade
Que eu errei  na caminhada
Topei vereda fechada
E me arranhei de saudade

Amei só uma matuta
Chamada de Iracema
A razão do meu dilema
Linda sem substituta
Criada lá na ribeira
Desde menina faceira
Encantadora demais
Mesmo sem ter muito estudo
Seu moço ela tinha tudo
Pra iludir qualquer rapaz

Tinha o corpo desenhado
As pernas meia cabota
Dessas que o cabra só nota
Depois que olha aprumado
Pele morena macia
Meia meia comprida e esquia
Feito animal de corrida
Eu digo sem fazer fita
Foi a moça mais bonita
Que eu avistei na vida

Cabelo comprido, liso,
Olho branco esverdeado
E o  rosto bem afilado
Combinava com o sorriso
O que trazia como deixa:
Dois buraquin na bochecha
E um na ponta do queixo
A voz soava tão bela
Que se fosse falar dela
Não precisava desfecho

Foi no dia 08 de maio
Que eu fui cantar Iracema
Junto de um pé de jurema
Já depois de muito ensaio
Ela sentou num porrete
Com um cherin de sabonete
Cheirei-ia e vi o pinote
E com a vozinha macia
Me disse” Vige” Maria
Eu tenho “cosca” no gangote

Começamos namorar
Tudo combinava tanto
Qu’eu achei que  aquele canto
Devia se eternizar
A jureminha, o porrete
Que foi o meu palacete
Com a brisa soprando fria
A  noite, um luar tão belo
Mas parecia um castelo
Onde o  amor se escondia

Daí se passaram meses:
São João, Santana, Natal
Lá naquele mesmo  local
Se encontramos várias vezes
Sem haver nenhum problema
A família de Iracema
Queria buscar melhora
E fizeram um triste mal
Partiram pra capital
E levaram Iracema embora


A mim, só restou saudade
Eu sei, lá não tinha ganho
Mas levar pra um mundo estranho
Um coração sem maldade
Ache isso muito errado
Além de ter me afastado
Dá princesa de voz mansa
Pro meu sofrer não ter fim
Foi um pedaço de dentro
Dentro daquela mudança

Acabou-se a alegria
Passou-se  ano e mais ano
Não tinha segundo plano
Só Iracema eu queria
Conheci meninas belas
Namorei várias donzelas
Mas sempre achava um defeito
Mesmo eu querendo gostar
Só um existia um lagar
Pra Iracema em meu peito

Com a solidão como guia
Empurrei o pé na estrada
Eu buscava a minha amada
Em toda moça qu’eu via
Mas de tanto eu ter andado
Notei que eu entrado entrado
No munda da a capital
Que tudo tem um preço e pressa
Só o prazer interessa
O sentimento faz mal

Resolvi voltar pra o mato
Lugar onde eu tenho apego
Troquei tudo por sossego
E me escondi  do mundo ingrato
É que as moças da cidade
Só fazem mais amizade
Se a gente tiver riqueza
Se o caboclo tiver duro
Elas dizem: É sem futuro
Nem interessa a beleza


Aliviei o sentido
Igual a um rio que corre
Porque amor nunca morre
Fica adormecido
Dei um cochilo no arbusto
E alguém me fez um susto
Com  um cheiro no pescoço
Quando olhei... Era Iracema
A do pezin de jurema
A que eu lhe falei seu moço

Tava mais bonita ainda
Devido a maioridade
Só que havia falsidade
Naquela face tão linda
Eu olhando aquela flor
Mesmo perdido de amor
Vi que ela tinha mudado
E guardei no pensamento
Aproveitei o momento
Resolvi  fica calado


Nos amamos uma vez
Mas quando agente se amava
Iracema só falava
Como se eu fosse um freguês
Aquilo me assassinava
A princesa que eu sonhava
Que a tantos anos queria
Ficara lá no passado
O tempo havia matado
Nem ela mesma existia

Seu moço, onde eu fui errado
Será que eu amei de mais
Errei sem deixar pra trás
Aquele amor do passado
Será que eu quanto eu sonha va
Alguma outra me amava
E eu não quis substituta
Ou a culpa foi da cidade
Que só colocou maldade
Na cabeça da matuta

Poeta Maquinhos da Serrinha

Um comentário:

  1. Quando a gente acha que tudo está se perdendo neste País, aparece Marquinho de Serrinha com uma poesia rica em rima, métrica e sentido, com a melhor qualidade que o Pajeú produz.

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