JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

domingo, 25 de março de 2012

POETAS DA SEMANA


DEDÉ MONTEIRO

Dupla estiagem - Dedé

Quando Deus manda lá por seus motivos
Dois anos secos para os sertanejos
Se os mesmo anos são consecutivos
Tombam por terra todos os desejos

E caminhando tristes, pensativos
Vão rastejando como caranguejos
Milhares desses pobres semivivos
Deixando a vida sobre seus rastejos

Se a nossa terra com a chuva é rica
Faltando, a mesma desprezada fica
Tombando a terra sobre os ombros nus

O sol deturpa todas as alfombras
E os bichos britos vão procurar sombras
Nas sombras magras dos mandacarus
 
Sem máscaras - Dedé Monteiro

É quarta-feira de cinzas
Dia de graça e desgraça
Passa o perfume da lança
Passa a ressaca da taça
Mas a saudade que fica
É tão cruel que não passa

Morre a batida do bumbo
Que deu compasso à folia
Finda um filme colorido
Intitulado " alegria"
Mas fica um gênio escondio
Cochichando em cada ouvido:
" acabou-se a fantasia"

Passa a chuva dos confetes
O bloco da liberdade
O baile dos devaneios
E o som da felicidade
Mas, num contrste medonho,
Fica um pierrô tristonho
Trocando a máscara do sonho
Pela da realidade
Casei porque não sabia
Sou criminoso, confesso
Matei meu próprio destino
Me prendam por assassino
Que a liberdade eu não peço
Já sei que não tem regresso
Minha alegria de outrora
E vejo que os dias de agora
são feitos de desconforto
E vejo um futuro morto
No qual meu futuro mora

O tempo me foi sisudo
A vida me covarde
Eu vejo tristeza eu tudo
E vejo que tudo é tarde
Vejo meus dias de moço
Perdidos no calabouço
Do meu viver de cativo
Sou preso e não me liberto
Sinto a liberdade perto
E como assassino vivo!

Minha infância foi tão bela
E nela fui tão feliz
Mas o destino não quis
Que eu permanecesse nela
E a bordo da caravela
Do tempo me sacudiu
O mar da vida bramiu
E, dentro de seus bramidos
Relembro os inesquecidos
Anos que o tempo engoliu...

Se um dia me perguntarem
Quantas primaveras conto
Eu peço pra se calarem
e ponho na papo um ponto
Depois de um certo espaço
Eu, meditanto um pedaço
Respondo a quem perguntou:
" Vivi até o momento
Da hora do casamento
Depois o tempo parou"

Dizem que casamento
É quem traz felicidade
Mas, minha infelicidade
Nasceu naquele momento
Pois, sem prevê sofrimento
Respondi que aceitaria
Arrependido, hoje em dia,
Vivo com quem mais detesto
Ela não presta, eu não presto
CASEI PORQUE NÃO SABIA
 
Falando do "cálice"

Este poema de Gilberto e Chico,
Feito no tempo do " cala essa boca!",
Foi um protesto corajoso e rico
Contra o regime da vergonha pouca.

Ninguém dizia nada que pensava
E nem cantava tudo o que sentia...
A voz da farda nossa voz calava
E o nosso grito, sem nascer, morria.

A ditadura, que ditava tudo,
Ditava os versos da canção do povo...
E ai da cabeça do civil miúdo
Que aparecesse de poema novo...

Naquele tempo negro e negativo,
Eis, em resumo, o que amargava mais:
Beber o "cálice"( substantivo)
E ouvir o verbo: " cale-se" rapaz!...

Aquele monstro que saiu da pena
De quem compôs essa poesia outrora
Retrata a nossa liberdade plena
Que está saindo da lagoa agora!

A porca gorda e a faca cega e injusta,
Que estão, ainda, a se exibir na praça,
São os corruptos que enricaram à custa
Da fome enorme que a pobreza passa!

Que a porca morra, que a faca se quebre
E as vozes presas ganhem liberdade,
Pra que, pra sempre, a multidão celebre
A volta eterna da felicidade!
 
 
 
 

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