Jóias
raras dos geniais: Ivanildo Vila Nova e Geraldo Amâncio, pelos idos dos anos
70, trabalho em vinil...
... No
sertão quando o chão está molhado
Corre água
nas veias de um regato
Pula a
onça da furna corre o gato
E um
cavalo galopa estrupiado
Um garrote
atravessa um rio de nado
Uma cobra
se acoa com um canção
A cantiga
saudosa do carão
Faz
lembrar o lugar que fui nascido
Entre as
telas do filme colorido
Que Deus
fez para o cinema do sertão
No sertão
quando é bem de manhãzinha
O
sertanejo se acorda na palhoça
Chama o
filho mais velho e sai pra roça
E a mulher
toma conta da cozinha
Faz um
fogo de lenha e encaminha
Munguzá,
feijão quente e fava pura
E depois
de fazer esta mistura
Sai
faceira igualmente uma condessa
Com o
quibuque de barro na cabeça
E vai
levar aos heróis da agricultura
No sertão
quando rompe a alvorada
No oitão
do terreiro um frango pia
Uma cobra
valente engole gia
Na
floresta desperta a passarada
A cantar
uma canção tão afinada
Que parece
uma orquestra universal
Um piru dá
três volta no quintal
Um cabra
nas cabras puxa os seios
Um
vaqueiro esvazia os peitos cheios
De uma
vaca leiteira no curral
É preciso
ter muita paciência
Guardar
milho num quarto empaiolado
Sustentar
a criação com alastrado
N’uma
terra que tem pouca assistência
Trabalhar
no serviço de emergência
Esperando
o inverno que não vem
Insistir,
crer em Deus e passar bem
Manter
sempre a família tão unida
Do chão
seco arrancar o pão da vida
Sertanejo
faz isso e mais ninguém
A riqueza
do pobre nunca passa
D’um pote
que mata a sua sede
Uma enxada
nuj canto de parede
Dois
chapéus: um de palha outro de maça
Um cambito
tingido de fumaça
Uns dez
filhos que tem sua aparência
A esposa
que é mãe da paciência
Se chorar
ou sofrer não se maldiz
E ele às
vezes é muito mais feliz
Que um rico
ladrão de consciência
ORACÃO
DE UM PAI CORUJA
SENHOR,
Põe
tua benção sobre as minhas duas
Filhas
queridas, que a sorrir me deste.
Elas
são minhas, mas também são tuas
Sou
pai humano, Tu és Pai Celeste!
O
mundo é cheio de medidas cruas,
Assustadoras
ao primeiro teste...
São
muito duras as lições das ruas
Para
quem de poucas forças se reveste.
Dá
que elas possam no passar dos anos,
Usar
as armas da experiência
Contra
as ciladas deste mundo errado.
Perdão
se os sonhos q’ue transformo em planos
Foram
ditados pela consciência
De
um pai coruja muito apaixonado
(DEDÉ MONTEIRO)
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