JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

domingo, 14 de abril de 2013

POETA DA SEMANA

"EU DEIXEI DEPOSITADO
NO COFRE DO PAJEÚ".

As cores do meu sertão,
O rosto da lua cheia
A minha bola de meia
O meu carrinho de mão
As festas de Sao João
Cantorias de Xudu
O palpite do Peru
No jogo do viciado
"EU DEIXEI DEPOSITADO
NO COFRE DO PAJEÚ".

A minha baleadeira,
O meu pião no terreiro
Brincadeira de vaqueiro
Subindo em pé de ladeira.
O banho na cachoeira
A sombra no pé de umbu
A castanha do caju
O caminho do roçado
"EU DEIXEI DEPOSITADO
NO COFRE DO PAJEÚ".

A bagaceira da cana,
O engenho e a fornalha
O milho verde na palha
O mel da italiana
O acúcar da banana
O doce mel do enxu
A flor do mandacarua
O cheiro de chão molhado
"EU DEIXEI DEPOSITADO
NO COFRE DO PAJEÚ".

A sinfonia da mata
A fauna sem empecilho
A rapidez e o brilho
O olho vivo da gata
O nó que não se desata
No chifre do boi zebú
Chibata de couro crú
Junta de boi infandado
"EU DEIXEI DEPOSITADO
NO COFRE DO PAJEÚ".

A pedra do meu quixó
A corda da arataca
O mal cheiro da ticaca
A mijada do potó
A caçada de mocó
De preá, peba e tatu;
A resposta do nambú
Na mesma voz do recado
"EU DEIXEI DEPOSITADO
NO COFRE DO PAJEÚ".

Papa capim e perdiz
Sabiá, xexeú, rolinha,
Rouxinol e andorinha;
Bentevi e corduniz
Socó, canário e concriz,
Galinha d'água e jacú,
Asa branca e urubu
São os pássaros do passado
"EU DEIXEI DEPOSITADO
NO COFRE DO PAJEÚ".

O cheiro de carne assada,
O xerém que mãe fazia...
...O sol aquecendo o dia
No filme da madrugada.
Feijão verde e feijoada,
Cebola, alho e chuchú,
Cuscuz de milho e angú
Bolo de caco queimado
"EU DEIXEI DEPOSITADO
NO COFRE DO PAJEÚ".

Imaginação do medo,
Histórias de malassombro;
Casa velha do escombro
O pavor de acordar cedo.
Moleque me dando o dedo,
Carnaval e papangu,
Carreira de gabirú
E doido embriagado
"EU DEIXEI DEPOSITADO
NO COFRE DO PAJEÚ".

Mamãe me ensinando a lê
Consosantes e vogais;
Contas de menos e mais
No catilha do ABC.
Tratamento de você
Para não chmar de tu.
Soletrar de cá a cú
Com a palmatória de lado
"EU DEIXEI DEPOSITADO
NO COFRE DO PAJEÚ".

Poetas:

"Se foi falta de memória,
Vocês perdoem o pecado.
O pajeú tem um cofre
Que é maior que o passado
O que não pude lembrar
Também tá depositado.

POETA: ISRRAEL GOMES, TABIRA, 07 DE JULHO DE 1997.






















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