JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

POETA DA SEMANA


("Tali Quali" Marcolino)
Mote: Brás Costa
Versos: Brás Costa

Fica sobre uma colina
Tem um terreiro espaçoso
Um pé de agalha frondoso
E uma vasta campina
La quando cai a neblina
E o chão fica molhado
Se sente o cheiro do gado
Se ouve o som do vem-vem.
Minha casa tambem tem
Um juazeiro de lado.
E' uma  casa singela
Com oito compartimentos:
Cozinha, quatro aposentos
Uma sala com janela,
Outra sala pra quê nela
O radio seja ligado
O oitavo é um "puxado"
Que a gente chama armazem.
Minha casa tambem tem
Um juazeiro de lado.
No aceiro do terreiro
Tem dois belos pés de pinha
No terreiro da cozinha
Tem um mal feito poleiro
Tem um pequeno barreiro
Que foi por meu pai cavado
Que fica com o chão rachado
Quando o inverno não vem.
Minha casa tambem tem
Um juazeiro do lado.

Esse casebre sem brilhos
Sem formas originais
Serviu de abrigo a meus pais
Depois a seus onze filhos
La se ouve os estribilhos
De sanhassú e golado
E dá pra assistir sentado
O sol se por no alem.
Minha casa tambem tem
Um juazeiro de lado.
Tem um juazeiro antigo
No oitão da casa minha
Na sua sombra a tardinha
Cansado encontrava abrigo
Nesse juazeiro amigo
Tem um segredo guardado:
Num dos seus galhos gravado
O nome de quem quis bem.
Minha casa tambem tem
Um juazeiro de lado.
Bràs Costa


Terra amada torrão onde meus pés
Se aprumaram pra meus primeiros passos
Testemunha de glórias e fracassos
Vitimada por mil secas cruéis.
Mas, pra nós sertanejos, inda és
Dos rincões, o mais belo e mais lembrado
Por seus filhos poetas, decantado
Para todos és chão, terra e auxílio
E pr’aqueles que vivem no “exìlio”
És lembrança chorosa do passado

Como posso esquecer as madrugadas
Nas moagens de cana nos engenhos
Tantas lutas, fadigas e empenhos
Das debulhas de milho nas latadas
Das bonitas manhãs ensolaradas
Adjuntos nas limpas de algodão
Buscas d’água num poço com galão
Almoçar feijão-verde com torresmo
Quem viveu essas coisas? Fui eu mesmo!
Nos meus anos de ouro no Sertão.

Quem não cala nas tardes sertanejas
Para ouvir o lamento do carão
Alternado no canto do cancão
Como fossem poetas em pelejas
Os badalos dos sinos nas igrejas
Convidando o caboclo a se benzer
O vermelho do sol no entardecer
Ir morrendo pras bandas do poente
Num teatro que Deus fez para a gente
Assistir esperando anoitecer.

Quando a noite, qual manto de viúva
Vem pintar o Sertão de negras cores
Aparecem os noturnos atores
Sapo, briba, guará, peba e saúva
Um matuto deitado, escuta a chuva
Que cai mansa nas telhas da palhoça
Quando o vento enfraquece, a chuva engrossa
Pensa então o caboclo emocionado:
Se eu pudesse ia agora pru roçado
Começar preparar a minha roça.

Meu Sertão, minha terra, meu regaço
O meu verso não é suficiente
Pra cantar o teu solo, a tua gente
Que trabalha e resiste sem cansaço
Não se assombra com seca nem mormaço.
Um cenário que Deus arquitetou
Eu aqui do lugar aonde estou
Apesar do progresso e do barulho
Mando um verso falando do orgulho
De Ser Tão sertanejo quanto sou.

Bràs Ivan

Também nasci no sertão
Onde o sol nasce bonito
Onde a terra é seca e quente
E rimar é quase um rito
A musa que beija a face
Beija tres vezes quem nasce
Em São José do Egito
.
                                                          (Brás Ivan)

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