JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

segunda-feira, 3 de junho de 2013

POETAS DA SEMANA

Mote: ESCUTEI A ROQUEIRA DO TROVÃO
AVISANDO O SERTÃO VAI SER MOLHADO
(Joaquim Filó)

O sertão quando a terra está molhada
A enchente no rio faz rumores
As abelhas brincando com as flores
Sertanejo se acorda à madrugada
Meia noite uma serra é aguada
Com um chuveiro depois de destrancado
Carro pipa de tanque enferrujado
E a cigarra esquecida do verão
Escutei a roqueira do trovão
Avisando o sertão está molhado




Uma nuvem se forma no nascente
Com a força do vento se balança
Jitirana nas cercas fazem trança
Canta os sapos felizes na enchente
Para a terra Deus manda esse presente
Tantas vezes e nada tem cobrado
E as formigas trabalham no roçado 
Igual gente fazendo procissão
Escutei a roqueira do trovão
Avisando o sertão está molhado

Quando sobra fartura o pobre enrica
E recupera de novo a esperança
E um moleque com fome encosta a pança
Na panela melada de canjica
Vai embora o verão, o carão fica
Pra cantar quando o rio está de nado
E o nordeste só cheira a milho assado
Nas fogueiras de noite de São João
Escutei a roqueira do trovão
Avisando o sertão está molhado

O cenário enfeitando a capoeira
Sol o tempo querendo ele desmancha
E um enxame de abelhas se arrancha
Num buraco de um pau de aroeira
Na segunda o matuto vai à feira
Contar que fez no seu roçado
E o fantasma da seca encarcerado
Sem querer Deus botou-lhe na prisão
Escutei a roqueira do trovão
Avisando o sertão está molhado
(Aldo Neves)

É Terezinha, a mulher
Que aqui a gente ama
Não me guardou no seu ventre
Não me teve em sua cama
Mas é a segunda mãe 
Que tenho em Tuparetama

Seu eu fosse parente dela
Cuidava com muito zelo
Tirava as rugas do rosto
Voltava a cor do cabelo
E sem dúvida era um puxa-saco
De Terezinha Rabelo



No teu beijo, Deus bota uma mistura
Que imitá-lo eu acho tão custoso
O teu beijo pra mim, é mais gostoso,
Que uma manga depois que está madura.
Porque que ele pra mim tem mais doçura
Que o miolo da própria melancia
Eu beijei o teu rosto e, não sabia,
Que o teu cheiro ficava em minha face
Se o teu beijo matasse quem beijasse
Eu beijava sabendo que morria
(Aldo Neves)

Josa, minhas modestas estrofes com seu mote. Despretenciosamente.
Meu bisaco de poesia tem mais pena do que pedra, por isso não vai muito longe.

Um abraço.



Terra seca, esturricada
Ária, pobre e sem vigor
Mas seja lá onde for
Que sou de lá, nego nada
Foi e será sempre amada
lá de novo eu nasceria
a raiz que me nutria
imita o mandacaru
Quem nasceu no pajeú
Tem o “gen” da poesia.

Nascer naquela ribeira
É privilégio de poucos
Poetas, músicos, loucos
De alma leve e ordeira
A poética é mensageira
No cordel, na cantoria
Lá se canta todo dia
Mesmo sem ganhar tutu
Quem nasceu no pajeú
Tem o “gen” da poesia.

Louro, Dimas, Otacílio
Jó tinha verve marôta
Cícero, Anita, Zé catôta
Cantavam motes de Hercílio
Zé Adalberto, Marcílio
Clodomiro Paes não lia
Pedro Amorim aplaudia
Marinho e Zezé Lulu
Quem nasce no Pajeú
Tem o”gen” da poesia.

Também banhou-se no rio
Zé Dantas, grande poeta
Numa inspiração completa
Fez Riacho do Navio
Em sua letra escupiu
Samarica e Proficia
Luiz Gonzaga dizia
Vem morena, Rei Bantú
Quem nasce no pajeú
Tem o”gen” da poesia

Ouvir poema, ouvi mote
Explicitando a beleza
Das cenas da natureza
Como o salto do caçote
O sapo embaixo dum pote
Recebendo a água fria
Dos pingos que lhe caia
Do ponte de barro cru
Quem nasce no pajeú
Tem o”gen”da poesia.

Viver distante me arrasa
mas morar lá eu não posso
quase que me dá um “troço”
São Pedro fora de casa
Sintir o calor da brasa
Aquecendo a noite fria
Ver que a fumaça subia
Dum tronco de mulungu
Quem nasce no pajeú
Tem o “gen” da poesia.


João Pessoa, 11/03/2008 - Dia nacional da poesia

Pedro Fernandes.



Uma camisa ordinária
Com número e fotografia
Um bigodudo sorria
Na TV imaginária
Distribui a indumentária
Com eleitor iludido
Passa dois meses vestido
No outdoor do ladrão
Na época da eleição
Todo pobre é conhecido.

Político profissional
Já vive de cara lisa
A todos diz que precisa
Receber o nosso aval
Mas na câmara federal
Ele se faz de esquecido
Muda logo de partido
E diz oh povo pidão !
Na época de eleição
Todo pobre é conhecido.

Como vai parente amigo?
Meu querido conterrâneo
Seu pai foi contemporâneo
serviu caserna comigo
Como vai ele Rodrigo?
Pergunta o cabra fingido
Soube que havia morrido
E fez uma encenação
Na época de eleição
Todo pobre é conhecido.

Siá Maria Carrapato
Recebeu um visita
Um metro e meio de chita
Pra votar num candidato
Um punhado de retrato
Para ser distribuído
Um boné pra seu marido
E para o filho um calção
Na época da eleição
Todo pobre é conhecido.

Mote de : Laci Chaves
Glosa: Pedro Fernandes
João Pessoa, 22/08/2008.

O sol nascente aqueceu
As asas do vento morno
Como uma boca de um forno
Que natureza acendeu
O verão firme sem chuva
Some a formiga saúva
Abelhas sentem o estio
Fundas cacimbas de areia
sangrando água da veia
Do leito seco de um rio.

Acordar de madrugada
Sem preguiça, sem catimba
Já tem fila na cacimba
Que a água está esgotada
Espera que o olho o d´água
Como quem chora de mágoa
Forme um açude minúsculo
Mulher, ancião, meninos
Exibem corpos franzinos
Só pele, osso sem músculo.


Formam-se redemoinho
Na aragem quente da tarde
Sol à pino, o olho arde
Poeira invade o caminho
Uma coruja crocita
Um papagaio manso grita
Fecha a janela Maria!
Uma mulher vem da horta
Fecha e reza atrás da porta
Com medo da ventania.

Na roça as folhagens sêcas
Do milho que não vingou
O vento forte levou
bonecas murchas e pêcas
O feijão não formou vagem
Foi vítima da estiagem
Que calcina a região
No mesmo chão que plantei
Para o ano insistirei
Pra não deixar meu torrão.

Minha derradeira vaca
Da qual eu tirava o leite
Está servindo de enfeite
Na ponta daquela estaca
A ossada da cabeça
Como quem diz não esqueça
Aqui eu fui útil outrora
Ali virou talismã
Meu filho toda manhã
Ao passar por ela chora.


O roçado lá da serra
Foi verde, mas tá cinzento
Dois meninos num jumento
Puxam um cabrito que berra
Só tem o couro e o osso
Os quatro buscam um poço
Onde a sede matarão
Na volta enchem uma lata
Esse cenário retrata
Uma seca no sertão.

Pedro Fernandes
João Pessoa, 15/03/2008.

Conheci Biu de Crisanto
Paralítico e solitário
avesso a noticiário
recluso no seu recanto
um poeta que leu tanto
genética e filosofia
seu corpo não se movia
mas voava o pensamento
tem que haver sofrimento
pra fluir a poesia.


Rogaciano sofreu
e quase perdeu a calma
o seu livro "carne e alma"
com emoção escreveu
Jó, foi conterrâneo seu
na mesma fonte bebia
à "das Neves" oferecia
verso em frente o aposento
tem que haver sofrimento
pra fluir a poesia.

Cancão foi iluminado
mas o amor lhe feriu
ele silente partiu
Poemas foi seu legado
Outro poeta lembrado
Xudú nos versos dizia
que Anita os recebia
das asas leves do vento
tem que haver sofrimento
pra fluir a poesia.

Mote do repentista Xexéu
Glosa de Pedro Fernandes
João Pessoa, 31/03/2008.

Um abraço.
Um abraço poeta, com a força da correnteza do rio pajeú, nesse dias !!!


Eu era bem piquinino
Tu era mais maiózinha
Brincano lá na pracinha
Num brincava cum minino
Teu sapatin tinha um sino
Qui na grama se perdeu
Tirei o sino do meu
Dizeno: não sô lulu
mermo assim eu vi qui tu
Nunca arreparava n’eu.

O tempo foi se passano
Criei baiba qui nem bode
Quando a mucidade exprode
as paixão vão se chegano
As intenção vão mudano
Inocença se perdeu
Mas num sõi aconteceu
Nois dois junto ficá nu
Pruque d’ôto jeito tu
Nunca arreparava n’eu.

Eu vô li sê munto franco
Cuma eu sufri pru você
E sufri sem merecê
Qui o coração fico manco
Hoje de cabelo branco
Num cúipo o qui sucedeu
amô qui você nun deu
Eu incontrei in Zilu
Pruquê eu sôbe qui tu
Nunca arreparava n’eu.

Mote do poeta: Wellington Vicente
Glosa de: Pedro Fernandes
João Pessoa, 06/03/2008.
A noite a chuva caiu
Amanheceu diferente
O sertanejo contente
Nova esperança surgiu
Aquele sorriso abriu
Para a roça foi cantando
Na beira do rio chegando
Surpreso pois a dizer
Como é bonito se ver
O pajeú transbordando.

Pode causar prejuízo
Porque o rio está raso
Tanto tempo de descaso
Uma Dragagem é preciso 
Não pode ser de improviso
É preciso ir planejando
deixar a água escoando
No seu leito se manter
Assim é lindo se ver
O pajeú transbordando.

As roças próximas do rio
Quem plantou se arrependeu
Toda lavoura perdeu
Porque a água cobriu
Virou lagoa o baixio
O pobre se interrogando
Que pecado tô pagando
Com chuva ou sol eu perder
Inda bem que pude ver
O pajeú transbordando.

O Tejo fugiu pra serra
O sapo desceu na cheia
Resto de cêrca passeia
Na água da cor de terra
Um borrego novo berra
Como quem está chamando
A mãe que desceu berrando
Bem distante foi morrer
Tudo pode acontecer
O pajeú transbordando

Eu fecho os olhos me vejo
Na beira do rio, á toa
Jota Simão na canoa
Um craque no seu manejo
atravessa o sertanejo
Só alguns passam nadando
Zé de Edite ajudando
Depois se dana a beber
Eu menino pude ver
O pajeú transbordando

É um motivo de festa
Menino tomando banho
entusiasmo é tamanho
De Itapetim à Floresta
O povo se manifesta
Esquece a seca cantando
E as beatas rezando
À Deus para agradecer
O quanto é belo se ver
O pajeú transbordando

De ir lá me deu vontade
Contemplar este cenário
Mas qual um presidiário
Impedido atrás da grade
A enchente da saudade
A vista foi me turvando
A lágrima foi inundando
chorei não pude conter
O meu desejo era ver
O pajeu transbordando.


Mote do Poeta: Josemar Rabelo
Glosa de Pedro Fernandes
João Pessoa, 08/04/2008.

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