JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

sexta-feira, 1 de maio de 2015

PROSA SERTANEJA!

SABATINA FEITA COM UM MATUTO PRESIDENTE DE BANCO DE FEIRA

Fiz esse texto no ano 2000 e foi publicado em 2001 na página 79 do livro Prosa Morena.
O assunto corrupção é feito casa funerária: não tem fim nunca.
prosa morena
* * *
Senador – Senhor Pedim de Mané Lingüiça, sendo um presidente de banco de feira, como o sr. vê a situação econômica do Brasil, hoje?
Matuto – Ahh!… O Brasil tá se acabando ligerim feito sabão em mão de lavadeira.
Senador – Ao seu ver, qual a causa desta situação de crise em que o país se encontra?
Matuto – Falta de medida meu cumpade! Cada qual só devia estirar a perna até onde lhe chega o lençol.
Senador – Mas o governo promete ajustes para resolver o problema da crise, não promete?
Matuto – É… Só que ovelha prometida não diminui rebanho, né?
Senador – E quanto aos novos rumos que o governo está tomando, qual a sua opinião?
Matuto – Pra quem tá perdido, todo mato é caminho.
Senador – Na sua opinião, o que o governo deve fazer para sair da crise?
Matuto – Deve deixar de mel que é estruição de farinha.
Senador – O que o sr. acha do problema dos rombos, no poder público?
Matuto – O problema tá na cerca: cerca ruim é que ensina o boi ser ladrão.
Senador – Agora vamos falar de Nordeste. Como é verdadeiramente o quadro da seca no Nordeste?
Matuto – Olhe: De bicho de cabelo, só quem escapa é escova, de bicho de fôlego, só quem escapa é fole, e animal de quatro pé, só escapa tamborete.
Senador – O sr. não acha que o governo tem realmente vontade de resolver este problema da seca?
Matuto – O que mais se perde neste mundo é vontade e cuspe, home!
Senador – E os açudes que os governos já construíram?
Matuto – Açude de papel e cuia emborcada não ajunta água não, cumpade véi!
Senador – E quanto aos políticos que já deram a palavra, que vão resolver esta situação caótica do Nordeste, o sr. também não acredita?
Matuto – Olhe cumpade: sol de inverno, chuva de verão, choro de mulher e palavra de ladrão… esse aqui não fia não.
Senador – Mas o sr. não acha que a atual situação econômica, está afetando pobres e ricos e o próprio governo?
Matuto – Tá nada, home!.. O pau entorta no cu do rico e do governo, mas só se quebra no do pobre.
Senador – Como é que o pobre esta sobrevivendo nesta crise?
Matuto – Gato com fome come até farofa de alfinete.
Senador – Como o sr. vê a justiça no Brasil?
Matuto – Da justiça pobre só conhece os castigo.
Senador – Como o Sr. está vivendo agora?
Matuto – Nasci nu, tou vestido; pra morrer pelado não custo.
Senador – O que o Sr. acha da classe política brasileira?
Matuto – Olhe cumpade véi, tem um magote ali dentro tão bom de roubo que, se vendesse cavalo, achava um jeito de ficar com o galope.
Senador – E quanto aos prefeitos e vereadores?
Matuto – Ahhh! meu fi… Esses aí tão ensinando rato a subir de costa em garrafa.
Senador – E quanto à oposição?
Matuto – Humm?
Senador – A oposição!…O sr. acredita nos partidos de oposição?
Matuto – Hummmm!
Senador – O senhor acha que são realmente o que dizem? Íntegros, retos, austeros?
Matuto – Hum-hum!
Senador – O sr. é sempre assim, de poucas palavras?
Matuto – Palavra de homem é um tiro. Falar sem cuidar é atirar sem apontar.
Senador – Como homem do povo, que recado o sr. tem para os governantes?
Matuto – Meu recado é uma verdade: a gente nunca se esquece de quem se esquece da gente.


Do Blog da Besta Fubana

Nenhum comentário:

Postar um comentário