JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

sábado, 13 de março de 2010

Versos do poeta Abel Araújo

Nada é pior do que,
ver a casa destruída;
visitar um irmão preso,
rezar pra mãe falecida,
do pai não saber o nome,
um filho chorar de fome
e a casa não ter comida.

Abel Araújo

Oh meu Deus após essa vida inteira,
renascendo eu não quero ser chique,
o berço só uma casa de pau-a-pique,
por obstreta eu quero uma parteira.
por ambulância, uma burra pantinzeira,
por leite em pó, quero caldo de feijão.
na hora do parto, em vez de cirurgião,
uma benzedeira, mulher de camponês.
Ou meu Deus se eu nascer outra vez,
eu te peço me mande pro sertão.

Vindo outra vez, Deus peço, por favor:
deixe eu ser sensível a uma poesia,
me ensine a gostar mais de cantoria,
deixe que meu pai seja um lavrador.
Deixe-me sentir o cheiro duma flor,
antes da chuva esfreguar ela no chão.
ou mande renascer Luiz, rei do baião,
ou mande quem faça, isso que ele fez.
Oh meu Deus se eu nascer outra vez,
eu te peço , me mande pra o sertão.

Mote e glosa: Abel Araújo

Quem tem um barraco por morada,
e quem ver o esgoto em sua rua,
quem dorme com mosquito, pele nua,
quem tem uma mãe desempregada.
Quem já teve uma irmã estuprada,
quem já fez cobertas de jonais,
e não sabe quem são os seus pais,
se não fizer crime, o troço tá errado.
A ganância dos homens tem gerado,
batalhão de futuros marjinais.

O dinheiro do juro do banqueiro,
o resto de obra superfaturada,
a propriedade que não é tributada,
os milhões de renda de artilheiro.
As divisas evaídas de doleiro,
por falha de nossas leis fiscais.
Depois falta pra pagar policiais,
e um sistema carcerário ultrapassado.
A ganância dos homens tem gerado,
batalhões de futuros marjinais.

Mote: domínio público.
Glosa: Abel Araújo

A criança é tão sincera,
em seu riso e seu olhar.
Que vendo uma criança,
com sua mãe resmongar,
sem tempo, hora e norma,
no mínimo é uma forma,
que Deus usa pra falar.
(ABEL ARAÚJO)

A alma vai mastigando,
um pedaço de oração,
para ver se Deus tem pena,
e a alma ganha o perdão.
(pedaço duma sextilha de Sebastião Dias)

No lugar do engenho hoje só resta,
os escombros da dor e da saudade.

O tempo foi perverso e destruiu,
aquela coisa que vivi de escutar,
a madeira virou lenha de queimar,
a junta de bois, faminta sucumbiu.
A parede velha,veio a chuva,ela ruiu,
cana não tem naquela propriedade,
e rapadura estão fazendo na cidade,
mas rapadura, industrial, não presta.
No lugar do engenho hoje só resta,
os escombros da dor e da saudade.

Mote: Rafael Moura
Glosa: Abel Araúj