JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

sábado, 13 de março de 2010

Versos do poeta Wellington Vicente

Foi Deus quem pôs maestria,
No vôo de uma gaivota."

(Mote de Ademar Macedo)

Deu imponência ao leão
E agilidade ao gato,
Deu nadadeiras ao pato,
Rapidez ao gavião,
Pôs um luar no sertão
Duma cor que não desbota,
Deu à semente que brota
Uma auréola de magia.
Foi Deus que pôs maestria
No vôo de uma gaivota.

Deus, Javé ou Jeová
Deu fidelidade ao cão,
Autonomia e visão
Ao predador carcará,
Pôs mau odor no gambá,
Fez do pavão um janota,
Pôs o mocó numa grota
Como habitante e vigia.
Foi Deus que pôs maestria
No vôo de uma gaivota.

Deu notas ao sabiá,
Magia ao uirapuru,
Deu feiúra ao cururu
E valentia ao guará,
Dentição forte ao preá,
À cotia e à marmota,
Marreco seguir a rota
Voando em noite sombria.
Foi Deus que pôs maestria
No vôo de uma gaivota.

Autor: Wellington Vicente.
Porto Velho, 20/04/2008.

Uma banda do meu peito
Não consegue te esquecer.

Sempre que os nossos olhares
Fixaram a mesma seta
Meu coração de poeta
Voou por vários lugares.
Olhando aqueles luares
Que a paixão pôde trazer
Eu não consigo entender
A razão de tanto efeito.
Uma banda do meu peito
Não consegue te esquecer.

Guardo comigo a caneta
Com o teu nome gravado:
É tesouro conservado
Dentro da minha gaveta.
Eu vivo como estafeta
Da tropa do bem-querer
Como não posso te ver
Deito e não durmo direito.
Uma banda do meu peito
Não consegue te esquecer.

Já tentei por vários meios
Aproximar-me de ti:
Disfarçar-me de gari,
Ser o homem dos correios.
Para conter os anseios
De querer e não poder,
Só está faltando eu ser
Um candidato a prefeito.
Uma banda do meu peito
Não consegue te esquecer.

Autor: Wellington Vicente
Porto Velho, 13/04/2008.

Ao poeta Zé Vicente da Paraíba.

“Ah! Que saudades que tenho...”
Um grande vate dizia.
Guardo na mente o desenho
Da terra que me deu cria.
Nesta viagem me lanço
Inda recordo o balanço
Que eu pedi pra Sinhá
E ela com seu trabalho
O pendurou em teu galho
Meu velho pé de jucá!

Quando Sinhá me embalava
Eu sentia a liberdade
Igual a quem viajava
Montado em felicidade.
O teu galho retesado
Como mãe que tem cuidado
Com o pequeno piá
E eu sorrindo a valer
Parecia te entender
Meu velho pé de jucá.

Hoje estás envelhecido,
Teu caule, outrora viçoso,
Já está todo ruído
Pelo cupim furioso.
Teus galhos, meu grande amigo!
Já não servem de abrigo
Ao canoro sabiá
E eu de ti recordando
Sinto a velhice chegando
Meu velho pé de jucá.

Mote: Zé Ilton
Glosas: Wellington Vicente
Porto Velho, 13/12/07.
Tem que haver sofrimento
Pra poesia fluir.

(Mote do repentista Xexéu)

Às amigas: Fátima Marcolino, Taíza, Clóris, Irene, Cida, Gitana, Marconiza, Marivalda, Neide, Neidinha, Pétala, Aparecida Cavalcanti, Rosimere, Alda e Wendy.

Xexéu, grande repentista,
Com sua alma inquieta
Disse que todo poeta
Tem um “quê” de masoquista.
Pelo seu ponto de vista
Fui a campo conferir:
Vi que a rima é elixir
Para combater lamento.
Tem que haver sofrimento
Pra poesia fluir.

Fui folhear os anais
Do poeta Castro Alves,
De Casimiro e Gonçalves,
Patativa e Luís Vaz.
Percebi que são iguais
Nas maneiras de agir:
Quando a dor vem afligir
A cura vem do talento.
Tem que haver sofrimento
Pra poesia fluir.

Relendo as composições
Dos poetas pioneiros
Transformo os meus desesperos
Em meras recordações.
Minhas antigas paixões
Já não podem me ferir,
As musas mandam seguir
Nas asas do pensamento.
Tem que haver sofrimento
Pra poesia fluir.

Autor: Wellington Vicente.
Porto Velho, 30/03/2008.

Fiz isso sem precisão,
Avalie se precisar.

(Mote de Daudeth Bandeira)

À cidade de Altinho-PE (terra que me criou).

Moleque, ainda em Altinho
Fui treloso na ribeira
Com a minha baladeira
Matei muito passarinho.
Nas terras do meu padrinho
Eu inventei de entrar
Por gaiatice soltar
O gado na plantação.
Fiz isso sem precisão,
Avalie se precisar.

O meu pai, velho vaqueiro,
(Porque caí duma burra)
Pegou-me e deu-me uma surra
Com vara de marmeleiro.
Eu, moleque presepeiro,
Quis da surra me vingar,
À noitinha fui cortar
As correias do gibão.
Fiz isso sem precisão,
Avalie se precisar.

O padre Pedro Solano,
Pároco da minha cidade,
Com toda a sua bondade
Batizou este ente humano.
Anos depois o decano
Necessitou viajar
E eu, chofer do lugar,
Cobrei a mais do ancião.
Fiz isso sem precisão
Avalie se precisar.

Autor: Wellington Vicente.

João Pessoa-PB, 16/01/2008

NÃO EXISTE APOSENTADO
NA PROFISSÃO DE VALENTE.

O grande Antônio Silvino
“Governador do sertão”
Antecedeu Lampião
No cangaço nordestino
Porém um dia o destino
Pôs no caminho um tenente
E o bravo combatente
Foi pra Recife algemado
Não existe aposentado
Na profissão de valente.

A Bíblia diz que Sansão
Recebeu forças de Deus
E centenas de Filisteus
Pereceram em sua mão
Mas um dia o coração
Sentiu algo diferente
Dalila, covardemente,
O fez ser capturado.
Não existe aposentado
Na profissão de valente.

Já Virgolino Ferreira
O famoso Lampião
Combatia um batalhão
Sem se afastar da trincheira
Uma informação certeira
Trouxe a volante potente
Mas existe quem comente
Que morreu envenenado.
Não existe aposentado
Na profissão de valente.

Mote: Josemar Rabelo
Glosas: Wellington Vicente.
Porto Velho, 24/03/2008.

CADA PEDAÇO DE CHÃO
GUARDOU UM POUCO DE NÓS.

A todas as Marias, fictícias ou não, que povoam as mentes dos Josés.

Ô! Mocidade fugaz,
Passaste como uma enchente
Imprimindo em minha mente
Recordações imortais.
Fui à casa dos meus pais
E ao sítio dos meus avós.
Maria ouvi tua voz
Ecoando no grotão!
Cada pedaço de chão
Guardou um pouco de nós.

Deitei-me sobre o lajedo
Onde a gente namorava
E o nosso amor brotava
Na rigidez do rochedo.
A lua guarda o segredo
Do que ocorreu após
E o rio em sua foz
Entoava uma canção.
Cada pedaço de chão
Guardou um pouco de nós.

Vi na tábua da porteira
As nossas iniciais
Envelhecidas demais
Pelo pincel da poeira.
Inda existe a ingazeira
Junto à cerca de aveloz,
Lembrei dos teus caracóis
Aquecendo a minha mão.
Cada pedaço de chão
Guardou um pouco de nós.

Autor: Wellington Vicente
Porto Velho, 11/03/2008.

PARABÉNS, POETA!

Fiz um rosário rimado
Para me dar proteção.

(Aproveitando a idéia de Fátima Marcolino para homenagear o Dia da Poesia).

Descobri que meu remédio
Está nos versos que faço,
A rima dar-me um abraço
Chega e desaloja o tédio.
Passo na frente do prédio
De uma antiga paixão,
Mas a tal recordação
Não me deixa desolado.
Fiz um rosário rimado
Para me dar proteção.

Saudades da minha terra
Sempre atormentam demais
Dos meus irmãos, dos meus pais,
Do meu belo pé-de-serra.
Do profeta que não erra
Com a sua previsão,
Do Padim Ciço Romão
Com o seu santo cajado.
Fiz um rosário rimado
Para me dar proteção.

Daquela paixão primeira
Que tanto marcou a gente
Parecendo um ferro quente
Numa brasa de aroeira.
Daí, faço uma barreira
Que serve de contenção
E a minha improvisação
Deixa o meu corpo fechado.
Fiz um rosário rimado
Para me dar proteção.

Autor: Wellington Vicente
Porto Velho, 15/03/2008.

É pororoca de versos
Na cachoeira da mente.

(Adaptação de um mote de Josemar Rabelo)

Quando estou a meditar
Sobre pequenos problemas
Um riacho de poemas
Pede para desaguar
Na imensidão do mar
Que detém tanto Repente
E a tristeza aparente
Some por vales diversos.
É pororoca de versos
Na cachoeira da mente.

Tudo enfim se ilumina
E aquela saudade boa
Num instante sobrevoa
Minha nação nordestina.
Meu ego já se inclina,
Meu olhar fica contente
E a bênção de Zé Vicente
Livra-me dos maus e perversos.
É pororoca de versos
Na cachoeira da mente.

Autor: Wellington Vicente
Porto Velho, 02/05/2008.

NA ROLETA DA PAIXÃO
MEU PRÊMIO SERÁ SAUDADE.

(JOSEMAR RABÊLO)

Uma famosa cigana
Leu as minhas digitais
E disse: - Pelos sinais
Querem só a tua grana.
Evite a mulher mundana
Repleta de falsidade,
Senão a diversidade
Invade o teu coração!
Na roleta da paixão
Meu prêmio será saudade.

A partir da profecia
Daquela sábia mulher
Eu namorei a Esther,
Marta, Marcela e Maria.
Inda conquistei Sofia
E Maria Soledade
Porém naquela amizade
Só encontrei traição.
Na roleta da paixão
Meu prêmio será saudade.

Nunca mais tive sossego
Pois minhas novas conquistas
Foram todas egoístas
E só queriam chamego.
Eu que queria o emprego
Do meu amor e bondade
Não encontro quem me agrade
E me dê o coração.
Na roleta da paixão
Meu prêmio será saudade.


Autor: Wellington Vicente
Porto Velho, 06/05/2008.

Negue tudo, mas não negue
Meu direito de amar.

(Asa Branca do Ceará)

Jure que quando me avista
Seu peito não acelera
Que nunca encarou “de vera”
Esse jogo de conquista
Diga pro seu analista
Que só quer me humilhar
Fale que ao me ligar
A ligação não prossegue
Negue tudo, mas não negue
Meu direito de amar.

Diga que seus sentimentos
Nunca passam de rompantes
Que os melhores instantes
São apenas fingimentos
Fale que nos aposentos
Nunca conseguiu entrar
Sustente que ao me beijar
Nunca se sentiu entregue
Negue tudo, mas não negue
Meu direito de amar.

Autor: Wellington Vicente
Porto Velho, 23/03/2008

Quando parte um poeta o céu se anima
Por ganhar mais um anjo iluminado.

* Em memória do meu pai, POETA ZÉ VICENTE DA PARAÍBA, pela sua passagem ao Plano Superior em 09 de maio de 2008.

Muitas saudades!!!

Quando O Ser Divinal faz a chamada
Avisando que a viagem terminou
A matéria sofrida e castigada
Fica livre do espírito que voou.
Os lamentos dos entes mais queridos
São até muitas vezes confundidos
Com os cânticos dum Arcanjo destacado
Que anuncia do palco lá de cima:
Quando parte um poeta o céu se anima
Por ganhar mais um anjo iluminado.

A beleza das rimas eterniza
Mais um nome no lar dos imortais,
Vem a musa com carinho e suaviza
O que foi, até pouco, muitos ais.
Numa Esfera sem dores e mentiras
Querubins vão tocando as suas liras
Em louvor ao aedo anunciado
E a terra em respeito muda o clima.
Quando parte um poeta o céu se anima
Por ganhar mais um anjo iluminado.


Autor: Wellington Vicente.

Toda casa de taipa abandonada
Guarda um grito de fome dentro dela.

(Mote de Ademar Macedo)

*Em visita ao sítio Sobradinho em Altinho-PE.

Visitando o torrão dos meus avós
Vi que o tempo havia destruído
Um pequeno casebre protegido
Pela sombra duma cerca de aveloz.
À direita inda havia uns mororós
Como que emoldurando uma aquarela,
No terreiro um pedaço de gamela,
Um ferrolho e um cabo de enxada.
Toda casa de taipa abandonada
Guarda um grito de fome dentro dela.

No monturo daquela moradia
Avistei uns arreios de vaqueiro,
Uma canga, uma vara de carreiro,
Um balaio emborcado, uma bacia.
Eu diante de tanta nostalgia
Fui sentindo um entalo em minha goela
E chorando passei pela cancela
Com a alma mais triste e mais pesada.
Toda casa de taipa abandonada
Guarda um grito de fome dentro dela.

Autor: Wellington Vicente.
Altinho-PE, 21/05/2008.
POETA DO NORTE.

Aos amigos Prof. Sebah e Taíza Maria.

Meu Pernambuco adorado!
Meu bravo Leão Dourado!
Muito jovem te deixei,
Mas trago as tuas paisagens
Como capa das imagens
Mais belas que avistei.

Pelo passado de glória
És hoje o pai da História,
Berço de Joaquim Nabuco
E os primeiros guerreiros
Defendendo os brasileiros
São teus filhos, Pernambuco!

Nos famosos arraiais
Onde o guerreiro voraz
Sangrava honrando o teu chão
Negros e índios (soldados)
Lutavam escutando os brados
De Henrique e Camarão.

Parti daí muito cedo
Mas aprendi no degredo
Ser como és: Muito forte.
Obedecendo ao destino
De migrante nordestino
Virei Poeta do Norte!

Autor: Wellington Vicente.
Porto Velho, 06 de maio de 2008.

*Participe da comunidade “POETA ZÉ VICENTE DA PARAÍBA”.

Mote: Veio o vento da noite e deu um tapa
Bem na cara da minha solidão.


Visitando o Torrão que me criou
Numa certa madrugada triste e fria
Assisti a uma sessão de nostalgia
Que a tela do tempo me mostrou.
Só o vento, solidário, acompanhou
As imagens que revi do meu sertão,
Meu passado foi revisto em edição,
Minha infância foi mostrada em cada etapa.
Veio o vento da noite e deu um tapa
Bem na cara da minha solidão.

Fui revendo o meu tempo de menino:
A cartilha, o caminho da escola,
O meu carro de lata, a minha bola,
O boi de barro, invenção de Severino*,
Um cordel endeusando Virgolino,
Que pra quem não conhece é Lampião,
Vi papai escrevendo uma canção
E mamãe preparando uma garapa.
Veio o vento da noite e deu um tapa
Bem na cara da minha solidão.

Autor: Wellington Vicente.
Porto Velho, 08 de maio de 2008.
*Severino Vitalino (filho do Mestre Vitalino e meu amigo do Alto do Moura, Caruaru-PE).

DEFINIÇÃO DE SAUDADE.

À poetisa Fátima Marcolino.

A saudade é como espinho
Que entra e não quer sair
Infecciona o peito
Quando se tenta extrair
De dia fica acordada
De noite não quer dormir.

Autor: Wellington Vicente.
Porto Velho, 10/06/2008.

Cai a chuva no colo do roçado
Germinando o pendão da esperança.

(Mote de Vanilson de Souza Silva)

Uma prece que chegou ao Pai Eterno
Do roceiro mais contrito do sertão
Faz com que O Divino olhe pro chão
E mande abrir as torneiras do inverno
E o que foi até pouco aquele inferno
Vira logo um recanto de bonança,
Pois a fé quando chega à balança
Pesa mais que o prato do pecado.
Cai a chuva no colo do roçado
Germinando o pendão da esperança.


É daí que a terra entra no cio
Esperando a semente no seu ventre,
A lagoa pede ao sapo que concentre
Mais coaxos no grande desafio.
Os peixinhos desovam pelo rio,
A devota reza mais e não se cansa,
À noitinha, vem a lua e também lança
Um sorriso ao lugar abençoado.
Cai a chuva no colo do roçado
Germinando o pendão da esperança.

Autor: Wellington Vicente.

Porto Velho, 14.06.2008

Êita! Saudade danada
Das festas de São João.

Do forró ainda puro,
Sem sintomas de lambada,
Da espiga retirada
Do milharal do monturo,
Do bacamarte pé-duro
Ribombando no grotão,
Chamando a população
Para a dança na latada.
Êita! Saudade danada
Das festas de São João.

Daquele aroma brejeiro
Das moças da minha terra,
Do povo do pé da serra
Que chamava o sanfoneiro.
A cota vinha primeiro
E tal contribuição
Garantia que o baião
Fosse até de madrugada.
Êita! Saudade danada
Das festas de São João.

Das promessas de amor
Regadas à aguardente,
Da morena sorridente
Paquerando o tocador,
Do matutinho cantor,
(Parecendo o Azulão),
Imitando o Gonzagão
Entoando uma toada.
Êita! Saudade danada
Das festas de São João.

Autor: Wellington Vicente.
Porto Velho, 19 de junho de 2008.

A ARTE DE REPENTISTA,
ALÉM DE SER TÃO SINGELA.
NÃO É DEUSA MAS É SANTA,
NÃO É MULHER MAS É BELA.
NÃO DAR BEIJO, NEM FAZ SEXO,
MAS EU ME CASEI COM ELA.

Autor: Vicente Reinaldo.



Pois pinte a sua aquarela
Com as tintas do Repente
Seja andarilho do verso
Faça improviso pra gente
Para ficar parecido
Com o que foi Zé Vicente.

Autor: Wellington Vicente.

Acenda a sua fogueira
Com a brasa da saudade!

(Mote da amiga Fátima Marcolino)

Nossa Fátima Marcolino
Deu um mote sugestivo
E achei mais um motivo
Pra dizer que o nordestino
Longe do chão agrestino
Enfrenta a disparidade
Ninguém calcula a metade
Da lembrança da ribeira.
Acenda a sua fogueira
Com a brasa da saudade!

Só quem passou ou está
Passando por esta fase
Pode calcular a base
Das recordações de lá.
Quem saiu de Quixadá,
Caruaru, Soledade,
Altinho, Sumé, Trindade,
Afogados da Ingazeira.
Acenda a sua fogueira
Com a brasa da saudade!

Aproveite este São João,
Enfeite bem o terreiro,
Ouça Jackson do Pandeiro,
Jacinto Silva, Azulão,
Marinês e Gonzagão,
A mais alta sumidade,
Espalhe pela cidade
O som da música brejeira.
Acenda a sua fogueira
Com a brasa da saudade!

Autor: Wellington Vicente.
Porto Velho, 23 de junho de 2008.

Está com o fundo rasgado
O saco do querer mais.

(Final de sextilha de João Paraibano enviada por Josa Rabêlo)

O cruel Capitalismo
Com suas garras potentes
Transforma os bons ambientes
Em arenas de egoísmo
Enterra todo o civismo
E raízes culturais
Rasga todos os anais
Que retrataram o passado.
Está com o fundo rasgado
O saco do querer mais.

Nossos jovens brasileiros
Grande massa alienada
Esquecem a cultura herdada
E copiam os estrangeiros
Até mesmo os forrozeiros
Presentes nos arraiais
Perderam as credenciais
Do Baião e do Xaxado.
Está com o fundo rasgado
O saco do querer mais.

Na política, nem se fala
O poder do vil metal
Troca o antigo ideal
Pelo “miolo” da mala
Nas reuniões da sala
As câmeras mostram demais
Que os políticos rivais
Comem do mesmo bocado.
Está com o fundo rasgado
O saco do querer mais.

Autor: Wellington Vicente.
Porto Velho, 30.06.08.





HAJA SAUDADE NA GENTE!

Ao Poeta Zé Marcolino.

Desceu do Serrote Agudo
Labaredas de saudade
E Zé na eternidade
Vive acompanhando tudo
O fole de Zé Bicudo
Toca aquele xote quente
E o cantador de repente
Num martelo agalopado
Canta bastante inspirado:
-Haja saudade na gente!

A lacuna que deixou
Ninguém preencheu ainda
A saudade nunca finda
E a dor nunca passou
Hoje a Fátima lembrou
Do seu amado parente
Eu liguei pra Zé Vicente
Narrando o acontecido
Ele falou, comovido:
-Haja saudade na gente!

Autor: Wellington Vicente, Porto Velho, 28/06/2007.









Dorme a cinza da fogueira
Esperando o Carnaval.

(Mote do amigo Junior do Bode, de Olinda-PE).

No derradeiro floreio
Da sanfona pé-de-bode
A morena se sacode
E naquele balanceio
O meu olhar fica cheio
De emoção sem igual
Como sou sentimental
Digo a minha companheira:
- Dorme a cinza da fogueira
Esperando o Carnaval!

Quando a sanfona se cala
Parece que a Natureza
Sopra um sopro de tristeza
Pelos recantos da sala
O forrozeiro se abala
Pelo fim do arraial
Aí vem um vendaval
De saudade matadeira.
Dorme a cinza da fogueira
Esperando o Carnaval.

E os adornos juninos
Já vão sendo retirados
Muitos deles disputados
Por dezenas de meninos
Nossos irmãos nordestinos
Que vieram ao festival
Lamentam pelo final
Mas voltam à terra estrangeira.
Dorme a cinza da fogueira
Esperando o Carnaval.

Autor: Wellington Vicente.
Porto Velho, 03/07/08.


Vou conduzindo a canoa
Com o remo que possuo.

(Mote enviado pela amiga Clóris, a quem dedico estas glosas).

Imitando os beiradeiros
Vou abrindo os meus caminhos
Por entre os redemoinhos,
Barrancos e aguaceiros,
Sei evitar atoleiros,
Piso maneiro onde atuo,
Se a tromba é forte, recuo
E me sustento na proa.
Vou conduzindo a canoa
Com o remo que possuo.

Até os botos conhecem
O meu jeito de remar
E só de me acompanhar
Parece que se envaidecem.
Aos humanos que merecem
Eu sempre ajudo e influo
Mas evito e não incluo
Idéia de má pessoa.
Vou conduzindo a canoa
Com o remo que possuo.

Carrego em minha boroca,
Desde o dia do batismo,
Uma cuia de otimismo
Para qualquer pororoca.
Se um sentimento me toca
Sendo bom, eu acentuo,
Se for tristeza, diluo
Com poesia da boa.
Vou conduzindo a canoa
Com o remo que possuo.

Autor: Wellington Vicente.
Porto Velho, 08/07/2008.














Ninguém consegue prender
A alma do cantador.

(Mote do poeta Abel Araújo).

Nasceu pra viver voando
Ou atravessando rios
Enfrentando desafios
Nas pelejas porfiando
Ninguém sabe desde quando
Este pássaro voador
Vive igualzinho um condor
Sendo e gostando de ser
Ninguém consegue prender
A alma do cantador.

São marinheiros da rima
Em cada porto um poema
Em cada estrofe um esquema
Parindo uma obra-prima
A viola é sua lima
E como mestre escultor
Põe contornos numa dor
E a transforma em prazer
Ninguém consegue prender
A alma do cantador.

Seu canto não tem Fronteira
E nem respeita Divisa
O seu verso mobiliza
O pessoal da ribeira
Mas também canta na feira,
Na morada do doutor,
Pregando o mesmo teor
Eternizando o dizer:
- Ninguém consegue prender
A alma do cantador!

Autor: Wellington Vicente
Porto Velho, 07/07/2007.

Com a invenção da internet
O Mundo está sem porteira.

(Mote do poeta Zeca Domingos).

Virgem Maria! Doutor!
Agora inventaram um “trem”
Que um cabra de Belém
(Se for muito falador)
Fala com o de Salvador,
De Cabrobó ou de Feira,
Um matuto de Pesqueira
Ver um monge no Tibet.
Com a invenção da internet
O Mundo está sem porteira.

Sem precisar de carteiro
Eu escrevo aqui agora
E as letras vão embora
Sem nunca errar o roteiro.
É um troço tão ligeiro,
De pontaria certeira,
Que guardei na cristaleira
A minha antiga Olivetti.
Com a invenção da internet
O Mundo está sem porteira.






Uma ruma de notícias
Eu leio aqui todo dia,
É falando em carestia
Em favelas, em milícias,
Em incursões das polícias
Lá no morro da Mangueira,
Até Maria Ferreira
Diz: - Agora tô na Net!!!
Com a invenção da internet
O Mundo está sem porteira.

Autor: Wellington Vicente.
Porto Velho, 12/07/2008.

A sua ausência de um dia
Gera saudade de um ano.

(Mote do poeta Pedro Fernandes).

Eu nunca havia sentido
Uma dor tão sufocante
Faltou fôlego, num instante
Vi que estava perdido.
Perguntei a um conhecido
Irmão gêmeo dum cigano.
Ele falou: - Olha mano!
Tua saudade deu cria!
A sua ausência de um dia
Gera saudade de um ano.

Nunca vi tanta potência
Num choque de solidão
Senti a alta tensão
Da força da sua ausência.
Pedi logo providência
Ao diretor veterano
Que acionou um plano
Para me dar garantia.
A sua ausência de um dia
Gera saudade de um ano.

Sem você sou passarinho
Sem espaço pra voar,
Um cantador sem cantar,
Uma Asa Branca sem ninho,
Caminheiro sem caminho,
Pescador sem oceano,
Um Waldick Soriano
Desterrado da Bahia.
A sua ausência de um dia
Gera saudade de um ano.

Autor: Wellington Vicente.
Porto Velho, 13/07/2008




Um arco-íris se deita
Na paisagem do Sertão.

(Mote de Fátima Marcolino).

Uma nuvem no horizonte,
Parecendo uma cortina,
Vai jogando uma neblina
No cocuruto do monte.
No pé da serra defronte
Já se escuta o trovão
E o gado come ração
Numa cocheira bem feita.
Um arco-íris se deita
Na paisagem do Sertão.

O vento frio arrepia
As folhas do umbuzeiro,
Um dedicado vaqueiro
Tange a vaca que deu cria.
Um matutinho assovia
Uns acordes de baião,
A vovó prepara o pão
Sem precisar de receita.
Um arco-íris se deita
Na paisagem do Sertão.

Um violeiro ponteia
Seu estimado instrumento,
Lá no terreiro um jumento
Vem se espojar na areia.
A aranha tece a teia,
O velho faz oração,
O Autor da Criação
Vendo tudo se deleita.
Um arco-íris se deita
Na paisagem do Sertão.

Autor: Wellington Vicente.
Porto Velho, 21/07/2008.

Voltei pra sentir o cheiro
Das terras do meu sertão.

(Mote: Jonas de Antônio de Hilário. Enviado por Josa Rabêlo)


- Saudade é coisa do “Fute!”
Já dizia a minha avó.
Senti na garganta um nó
Quase perco o azimute.
Abandonei o Orkut,
Embarquei no avião,
Doido pra rever o chão
Que ouviu meu choro primeiro.
Voltei pra sentir o cheiro
Das terras do meu sertão.

Fui percorrer os locais
Onde passei minha infância
Comprovei que a distância
Provoca danos letais.
Procurei pelos meus pais
Só revi um, outro não.
Fui chorar lá no oitão
A contemplar o terreiro.
Voltei pra sentir o cheiro
Das terras do meu sertão.

Os amigos que deixei
Não revi nem a metade
Uns partiram pra cidade
Outros, onde estão não sei.
Mas ainda perguntei
Por Maria Conceição
Que levou meu coração
E não sei seu paradeiro.
Voltei pra sentir o cheiro
Das terras do meu sertão.

Glosas: Wellington Vicente.
Porto Velho, 12/08/2008.








Os legítimos repentistas
Estão desaparecendo.

(Asa Branca do Ceará)

Asa Branca, um cantador
Preservando a tradição
Dos aedos do sertão
Disse pra mim: - Glosador!
Busque em seu interior
Os versos que estão querendo
Que o povo fique sabendo
O que houve com os artistas.
Os legítimos repentistas
Estão desaparecendo.

Pelo estágio da morte
Passaram Antônio Marinho,
Pinto, Xudu, Canhotinho
E Passarinho do Norte.
Zé Limeira foi um forte
Com seu estilo estupendo
Sem querer acabou sendo
Precursor dos vanguardistas.
Os legítimos repentistas
Estão desaparecendo.

Asa Branca* e Expedito,
Aristo e José Barbosa
Estão recitando glosa
No sarau do Infinito.
Eu quase não acredito
Mas sofri um golpe horrendo,
Vi Zé Vicente dizendo:
- Fale para os cordelistas!
Os legítimos repentistas
Estão desaparecendo.

Glosas: Wellington Vicente.
Porto Velho, 17/08/2008.




A cada légua que ando
Sinto duas de saudade.

(Mote de Raphael Poeta)

Ah! Meu tempo de menino!
Pena que não voltas mais
Para trocar os meus ais
Pelo riso genuíno.
Mas por ordem do Destino
Minha jovialidade
Partiu com a vitalidade
Que me mantinha cantando.
A cada légua que ando
Sinto duas de saudade.

Quantas festas, quantas danças,
Quantas conquistas vividas
Hoje parecem feridas
Inflamadas nas lembranças.
O tempo cortou as tranças
Das musas da minha idade.
Hoje vago na cidade
Nas esquinas me escorando.
A cada légua que ando
Sinto duas de saudade.







Os meus amigos de outrora,
Parceiros dos festivais,
Uns já nem existem mais
Outros foram morar fora.
Mas eu vou pedir agora
A quem ler esta verdade
Repassem à comunidade
As mágoas que estou passando!
A cada légua que ando
Sinto duas de saudade.

Autor: Wellington Vicente.
Porto Velho, 19/08/2008.

Todo dia eu bebo um gole
Da cachaça da saudade!!!

(Mote de Raphael Moura)

Sou vítima do saudosismo
Da minha terra adorada
E de “lapada” em “lapada”
Virei refém do alcoolismo.
Uns dizem que é bucolismo
Isto que sempre me invade,
Outros dizem: - Na verdade,
Tu és um sujeito mole!
Todo dia eu bebo um gole
Da cachaça da saudade!!!

Já ingressei no AA
Por conselhos dos meus pais,
Mas os laços fraternais
Não me seguraram lá.
Mudei para Gravatá,
Aquela bela cidade,
Mas pra minha ansiedade
Não há clima que console.
Todo dia eu bebo um gole
Da cachaça da saudade!!!

No livro do meu passado
Cada página que folheio
Só avisto o devaneio
De quem não é mais lembrado
E isso tem me deixado
Quase à marginalidade,
Pois a minha liberdade
De vez em quando escapole.
Todo dia eu bebo um gole
Da cachaça da saudade!!!

Glosas: Wellington Vicente.
Porto Velho, 21/11/2008

Eu sou é conservador
Na arte da cantoria.

(Mote enviado pela amiga Clóris Andrade)

*Aos poetas-repentistas.

Nos modernos festivais
Para sair premiado
Precisa ser escolado
Em sistemas digitais,
Em câmbios nacionais,
Entender de mais-valia,
Mas tanta “sabedoria”
Não rima com cantador.
Eu sou é conservador
Na arte da cantoria.

Não cantem sobre “internete”,
“PC”,”chip”, “megabaite”,
“CPU”, “Pen-draive”, “saite”,
“HD”, “mause”, “disquete”.
Porque quem assim compete
(Pode até ganhar um dia),
Mas tira da poesia
O seu mais rico primor.
Eu sou é conservador
Na arte da cantoria.

Cantem os termos do Sertão:
Canga, canzil e fueiro,
Cabeçalho, tamoeiro,
Macambira, cansanção,
Facheiro, rompe-gibão,
Muganga, arenga e avia,
Imbuança e ingresia,
Coquista e aboiador.
Eu sou é conservador
Na arte da cantoria.

Autor: Wellington Vicente.
Porto Velho, 12/11/2008.

No Tribunal do Amor
Sou o réu e sou culpado.

(Mote de Josemar Rabelo)

Perdi em última instância
Em tudo que recorri,
Pois o peito que feri
Foi um amor da infância.
Devido a minha arrogância
Deixei esse amor de lado,
Hoje estou sendo julgado
Sem direito a defensor.
No Tribunal do Amor
Sou o réu e sou culpado.

Pois cada lágrima vertida
Por esse amor tão antigo,
Foi agravante no artigo
Da sentença proferida.
No momento que foi lida
Notei que cada jurado
Tinha me considerado
Como o pior malfeitor.
No Tribunal do Amor
Sou o réu e sou culpado.

A cada dia que vivo
Na prisão da consciência
Vejo que há evidência
Do alegado motivo
Que fez de mim um cativo
Sem que eu seja um celerado.
Só o Santo advogado
Pode escutar meu clamor.
No Tribunal do Amor
Sou o réu e sou culpado.

Autor: Wellington Vicente.
Porto Velho, 25.11.2008.







Saudade não é peixeira
Mas corta o peito da gente.

(Mote enviado pelo amigo Adevaldo)

Tem corte sem sangramento
Por ter seu fio invisível
Mas já sei que é terrível
O dano do ferimento.
Uns dizem que é sentimento
Que só quem sabe é quem sente,
Uns sentem, só brevemente,
Outros, pela vida inteira.
Saudade não é peixeira
Mas corta o peito da gente.

A ferida provocada,
Dependendo do motivo,
Não encontra curativo
Para deixá-la sanada.
Quando está quase sarada
Tem recaída freqüente,
Não há doutor que oriente
Uma cura verdadeira.
Saudade não é peixeira
Mas corta o peito da gente.

Não serve a Penicilina,
Mercúrio ou Merthiolathe,
Nem Bezetacil que trate
A infecção ferina.
A danada contamina
Quando entra na corrente
É auto-suficiente
Pra produzir choradeira.
Saudade não é peixeira
Mas corta o peito da gente.

Autor: Wellington Vicente.
Porto Velho, 16/07/2008.


A minha saudade é tanta
Que eu nem sei dizer o tanto.

(Mote de Asa Branca do Ceará)

Sete letras importantes,
Mas que só traduzem ais,
Contendo quatro vogais
E também três consoantes.
É o terror dos amantes
E produtora de pranto.
O seu poder causa espanto
Que só pneu de jamanta.
A minha saudade é tanta
Que eu nem sei dizer o tanto.

Até achava bonita
Esta palavra saudade
Por não sentir de verdade
A sua força esquisita.
Hoje a minha mente aflita
Vive acuada num canto
Sentindo o peso do manto
Que de noite se agiganta.
A minha saudade é tanta
Que eu nem sei dizer o tanto.

Como dizia o poeta:
- Saudade por ser mulher
Conhece todo o mister
Daquilo que nos afeta.
A sua invisível seta
Tem a magia do encanto,
Só quem sente sabe o quanto
Dói o peito e a garganta.
A minha saudade é tanta
Que eu nem sei dizer o tanto.

Autor; Wellington Vicente.
Porto Velho, 05/12/2008.

CENAS NOTURNAS

*Inspirado nos versos de Damião Metamorfose: “Isso tudo aconteceu enquanto você dormia”.

Uma coruja agourava
Na galhada de um jambeiro,
No boteco um seresteiro
Seu violão dedilhava,
A prostituta passava
Em busca da freguesia,
Um velho marujo ouvia
Uma canção do Alceu.
Isso tudo aconteceu
Enquanto você dormia.

A “campana” era montada
Na entrada da favela,
Um rádio tocava aquela
Canção do Noite Ilustrada,
Uma luzinha acanhada
Vinda da borracharia
Denunciava o vigia
Dormindo sobre um pneu.
Isso tudo aconteceu
Enquanto você dormia.

Um choro lá no berçário
Anunciava um vivente,
Outro virava cliente
Do agente funerário,
A velha no seu rosário
Agradecia à Maria
E o diário trazia
O que de fato ocorreu.
Isso tudo aconteceu
Enquanto você dormia.

Autor: Wellington Vicente.
Porto Velho, 10/12/2008.

MENSAGEM DE ANO NOVO.

Quem quer vencer faz assim.

(Mote do poeta Matias Neto)

Exerça a fraternidade,
Pratique a filantropia,
Ignore a covardia,
Cultive sempre a verdade,
Dê desprezo à falsidade,
Ore ao Senhor do Bonfim,
Regue sempre o seu jardim
Com as gotas da bonança,
Conserve sua esperança.
Quem quer vencer faz assim.

Distribua mais abraços,
Relembre os momentos bons,
Viva alimentando os dons,
Dê rumo certo aos seus passos,
Tire exemplos dos fracassos,
Não cultue o que é ruim,
Seja reto até o fim,
Tenha bondade em seus atos,
Nunca alimente boatos.
Quem quer vencer faz assim.

Não inveje quem trabalha
(Trabalhe do mesmo tanto!)
Não blasfeme contra santo,
Se falhar, corrija a falha,
Seja leal na batalha,
Amigo em qualquer festim,
Um conselheiro em motim,
Justo em toda decisão,
Exemplo pra cada irmão.
Quem quer vencer faz assim.

Autor: Wellington Vicente.
Porto Velho, 24/12/2008

A alma tem que pagar
O crime que a carne fez.

(Mote do poeta Bira Marcolino)

Quando Adão comeu o fruto
Que Jeová proibiu,
No mesmo instante surgiu
Nosso primeiro estatuto.
Satanás, de gênio bruto,
Com terrível sordidez,
Fez de Eva o seu indez
Só para o homem pecar.
A alma tem que pagar
O crime que a carne fez.

Do Éden foi excluído
Nosso casal pioneiro
Por ter quebrado o primeiro
Mandamento recebido.
Apesar de comovido,
Deus falou só uma vez:
- Agora, meu camponês,
Tu vais ter que trabalhar!
A alma tem que pagar
O crime que a carne fez.

Até hoje os nossos atos
Determinam as nossas penas,
Nossas preces são apenas
As remissões nos contratos,
Lenitivos para os fatos
Contrários à honradez,
Cada hora, dia e mês
Deus não pára de contar.
A alma tem que pagar
O crime que a carne fez.

Autor: Wellington Vicente.
Porto Velho, 09/01/2009.