JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

JOSEMAR RABELO, SEM ÓDIO E SEM MEDO

sábado, 13 de março de 2010

VERSOS DO POETA PEDRO FERNANDES

Josa, este mote teu veio através da glosa do poeta
Wellington Vicente.
Fiz o que pude.


Sinhô Pereira aceitou
Virgulino no seu bando
Depois passou-lhe o comando
A capitão lhe elevou
De Lampião batizou
Depois dum combate quente
Do seu fuzil estridente
Saia um fogo danado
Não existe aposentado
Na profissão de valente.

No cangaço, Jurity
Volta seca, mergulhão
Corisco, Belo, Azulão
Zé sereno e Bem-ti-vi
Cabeleira e jabuti
Sabino Gomes, Vicente
Jararaca, o inclemente
Em vida foi enterrado
Não existe aposentado
Na profissão de valente.

Foi Jurema e Zé balbino
Ezequiel e Cacique
combater em Xique Xique
aonde morreu Levino
Em Sousa foi Virgulino
Baleado gravemente
Em angicos cruelmente
Ele foi atraiçoado
Não existe aposentado
Na profissão de valente

Antonio Benício era
Fugitivo da polícia
Formou a sua milícia
Bravo que só uma fera
mas a historia exagera
dizendo qu’ ele era crente
não maltratava indigente
mas foi amaldiçoado
não existe aposentado
na profissão de valente.

Lembro que em caruaru
Tinha uma figura estranha
chamado mãe de pantanha
preto da cor de urubu
e viciado em pitu
Um latrocida indecente
Foi abatido de frente
D'uma escola no “salgado”
Não existe aposentado
Na profissão de valente.

Ser valente não implica
Ser um mero desordeiro
ser manso como um cordeiro
covardia não indica
valente significa
na hora aga tá presente
não acuse injustamente
só brigue se obrigado
não existe aposentado
na profissão de valente.

Não confunda valentia
Com um transtorno mental
Sujeito anti social
uma psicopatia
Toda armação ele cria
Calculista e envolvente
Nenhum remorso ele sente
Se preso vai conformado
Não existe aposentado
Na profissão de valente.

Receba amigo, um conselho
Tolerante se conserve
A sua vida preserve
Até andando de joelho
A vida é um grande espelho
As faltas que há n’agente
Se refletem fielmente
Pra onde tenha apontado
Não existe aposentado
Na profissão de valente.

Pedro Fernandes de Araújo
João Pessoa, 25/03/2008.
Josa, minhas modestas estrofes com seu mote. Despretenciosamente.
Meu bisaco de poesia tem mais pena do que pedra, por isso não vai muito longe.

Um abraço.



Terra seca, esturricada
Ária, pobre e sem vigor
Mas seja lá onde for
Que sou de lá, nego nada
Foi e será sempre amada
lá de novo eu nasceria
a raiz que me nutria
imita o mandacaru
Quem nasceu no pajeú
Tem o “gen” da poesia.

Nascer naquela ribeira
É privilégio de poucos
Poetas, músicos, loucos
De alma leve e ordeira
A poética é mensageira
No cordel, na cantoria
Lá se canta todo dia
Mesmo sem ganhar tutu
Quem nasceu no pajeú
Tem o “gen” da poesia.

Louro, Dimas, Otacílio
Jó tinha verve marôta
Cícero, Anita, Zé catôta
Cantavam motes de Hercílio
Zé Adalberto, Marcílio
Clodomiro Paes não lia
Pedro Amorim aplaudia
Marinho e Zezé Lulu
Quem nasce no Pajeú
Tem o”gen” da poesia.

Também banhou-se no rio
Zé Dantas, grande poeta
Numa inspiração completa
Fez Riacho do Navio
Em sua letra escupiu
Samarica e Proficia
Luiz Gonzaga dizia
Vem morena, Rei Bantú
Quem nasce no pajeú
Tem o”gen” da poesia

Ouvir poema, ouvi mote
Explicitando a beleza
Das cenas da natureza
Como o salto do caçote
O sapo embaixo dum pote
Recebendo a água fria
Dos pingos que lhe caia
Do ponte de barro cru
Quem nasce no pajeú
Tem o”gen”da poesia.

Viver distante me arrasa
mas morar lá eu não posso
quase que me dá um “troço”
São Pedro fora de casa
Sintir o calor da brasa
Aquecendo a noite fria
Ver que a fumaça subia
Dum tronco de mulungu
Quem nasce no pajeú
Tem o “gen” da poesia.


João Pessoa, 11/03/2008 - Dia nacional da poesia

Pedro Fernandes.



Uma camisa ordinária
Com número e fotografia
Um bigodudo sorria
Na TV imaginária
Distribui a indumentária
Com eleitor iludido
Passa dois meses vestido
No outdoor do ladrão
Na época da eleição
Todo pobre é conhecido.

Político profissional
Já vive de cara lisa
A todos diz que precisa
Receber o nosso aval
Mas na câmara federal
Ele se faz de esquecido
Muda logo de partido
E diz oh povo pidão !
Na época de eleição
Todo pobre é conhecido.

Como vai parente amigo?
Meu querido conterrâneo
Seu pai foi contemporâneo
serviu caserna comigo
Como vai ele Rodrigo?
Pergunta o cabra fingido
Soube que havia morrido
E fez uma encenação
Na época de eleição
Todo pobre é conhecido.

Siá Maria Carrapato
Recebeu um visita
Um metro e meio de chita
Pra votar num candidato
Um punhado de retrato
Para ser distribuído
Um boné pra seu marido
E para o filho um calção
Na época da eleição
Todo pobre é conhecido.

Mote de : Laci Chaves
Glosa: Pedro Fernandes
João Pessoa, 22/08/2008.

O sol nascente aqueceu
As asas do vento morno
Como uma boca de um forno
Que natureza acendeu
O verão firme sem chuva
Some a formiga saúva
Abelhas sentem o estio
Fundas cacimbas de areia
sangrando água da veia
Do leito seco de um rio.

Acordar de madrugada
Sem preguiça, sem catimba
Já tem fila na cacimba
Que a água está esgotada
Espera que o olho o d´água
Como quem chora de mágoa
Forme um açude minúsculo
Mulher, ancião, meninos
Exibem corpos franzinos
Só pele, osso sem músculo.


Formam-se redemoinho
Na aragem quente da tarde
Sol à pino, o olho arde
Poeira invade o caminho
Uma coruja crocita
Um papagaio manso grita
Fecha a janela Maria!
Uma mulher vem da horta
Fecha e reza atrás da porta
Com medo da ventania.

Na roça as folhagens sêcas
Do milho que não vingou
O vento forte levou
bonecas murchas e pêcas
O feijão não formou vagem
Foi vítima da estiagem
Que calcina a região
No mesmo chão que plantei
Para o ano insistirei
Pra não deixar meu torrão.

Minha derradeira vaca
Da qual eu tirava o leite
Está servindo de enfeite
Na ponta daquela estaca
A ossada da cabeça
Como quem diz não esqueça
Aqui eu fui útil outrora
Ali virou talismã
Meu filho toda manhã
Ao passar por ela chora.


O roçado lá da serra
Foi verde, mas tá cinzento
Dois meninos num jumento
Puxam um cabrito que berra
Só tem o couro e o osso
Os quatro buscam um poço
Onde a sede matarão
Na volta enchem uma lata
Esse cenário retrata
Uma seca no sertão.

Pedro Fernandes
João Pessoa, 15/03/2008.

Conheci Biu de Crisanto
Paralítico e solitário
avesso a noticiário
recluso no seu recanto
um poeta que leu tanto
genética e filosofia
seu corpo não se movia
mas voava o pensamento
tem que haver sofrimento
pra fluir a poesia.


Rogaciano sofreu
e quase perdeu a calma
o seu livro "carne e alma"
com emoção escreveu
Jó, foi conterrâneo seu
na mesma fonte bebia
à "das Neves" oferecia
verso em frente o aposento
tem que haver sofrimento
pra fluir a poesia.

Cancão foi iluminado
mas o amor lhe feriu
ele silente partiu
Poemas foi seu legado
Outro poeta lembrado
Xudú nos versos dizia
que Anita os recebia
das asas leves do vento
tem que haver sofrimento
pra fluir a poesia.

Mote do repentista Xexéu
Glosa de Pedro Fernandes
João Pessoa, 31/03/2008.

Um abraço.
Um abraço poeta, com a força da correnteza do rio pajeú, nesse dias !!!


Eu era bem piquinino
Tu era mais maiózinha
Brincano lá na pracinha
Num brincava cum minino
Teu sapatin tinha um sino
Qui na grama se perdeu
Tirei o sino do meu
Dizeno: não sô lulu
mermo assim eu vi qui tu
Nunca arreparava n’eu.

O tempo foi se passano
Criei baiba qui nem bode
Quando a mucidade exprode
as paixão vão se chegano
As intenção vão mudano
Inocença se perdeu
Mas num sõi aconteceu
Nois dois junto ficá nu
Pruque d’ôto jeito tu
Nunca arreparava n’eu.

Eu vô li sê munto franco
Cuma eu sufri pru você
E sufri sem merecê
Qui o coração fico manco
Hoje de cabelo branco
Num cúipo o qui sucedeu
amô qui você nun deu
Eu incontrei in Zilu
Pruquê eu sôbe qui tu
Nunca arreparava n’eu.

Mote do poeta: Wellington Vicente
Glosa de: Pedro Fernandes
João Pessoa, 06/03/2008.
A noite a chuva caiu
Amanheceu diferente
O sertanejo contente
Nova esperança surgiu
Aquele sorriso abriu
Para a roça foi cantando
Na beira do rio chegando
Surpreso pois a dizer
Como é bonito se ver
O pajeú transbordando.

Pode causar prejuízo
Porque o rio está raso
Tanto tempo de descaso
Uma Dragagem é preciso
Não pode ser de improviso
É preciso ir planejando
deixar a água escoando
No seu leito se manter
Assim é lindo se ver
O pajeú transbordando.

As roças próximas do rio
Quem plantou se arrependeu
Toda lavoura perdeu
Porque a água cobriu
Virou lagoa o baixio
O pobre se interrogando
Que pecado tô pagando
Com chuva ou sol eu perder
Inda bem que pude ver
O pajeú transbordando.

O Tejo fugiu pra serra
O sapo desceu na cheia
Resto de cêrca passeia
Na água da cor de terra
Um borrego novo berra
Como quem está chamando
A mãe que desceu berrando
Bem distante foi morrer
Tudo pode acontecer
O pajeú transbordando

Eu fecho os olhos me vejo
Na beira do rio, á toa
Jota Simão na canoa
Um craque no seu manejo
atravessa o sertanejo
Só alguns passam nadando
Zé de Edite ajudando
Depois se dana a beber
Eu menino pude ver
O pajeú transbordando

É um motivo de festa
Menino tomando banho
entusiasmo é tamanho
De Itapetim à Floresta
O povo se manifesta
Esquece a seca cantando
E as beatas rezando
À Deus para agradecer
O quanto é belo se ver
O pajeú transbordando

De ir lá me deu vontade
Contemplar este cenário
Mas qual um presidiário
Impedido atrás da grade
A enchente da saudade
A vista foi me turvando
A lágrima foi inundando
chorei não pude conter
O meu desejo era ver
O pajeu transbordando.


Mote do Poeta: Josemar Rabelo
Glosa de Pedro Fernandes
João Pessoa, 08/04/2008.


Amanheci aluado
de tanto pensar em Vera
quando ela disse já era
nosso amor tá acabado
eu já chorei um bocado
nessa insônia insistente
me dano a fazer repente
com pensamentos perversos
um redemoinho de versos
na cachoeira da mente.

Desabafo de poeta
revelado num poema
falando no seu dilema
de uma paixão secreta
o amor quando se injeta
no coração do vivente
é parecido a enchente
deixa os tinos submersos
um redemoinho de versos
na cachoeira da mente.

Senti o clima mudando
pras bandas do meu sertão
depois eu vi o clarão
na tela do céu piscando
um trovão acompanhando
com sua voz estridente
me manifestei silente
do jeito dos introversos
um redemoinho de versos
na cachoeira da mente.

Sinto saudades do povo
do lugar onde nasci
eu de lá cedo dalí
só em lembrar me comovo
um dia eu volto de novo
para sentar no batente
e levar pra essa gente
que tem sentimentos tersos ¹
um redemoinho de versos
na cachoeira da mente.

Mote:Josa Rabelo
Glosa Pedro Fernandes

Ao ver a lua me inspiro
A nostalgia domina
Furtiva sobre a colina
É quando mais admiro
Narcotizado deliro
Nesse clarão reluzente
Sinto a força da corrente
Dividindo os universos
Um redemoinho de versos
Na cachoeira da mente.



O rio da poesia
Ta de barreira a barreira
Não é cheia passageira
É uma constante invernia
Surge como uma magia
Que a boca é só a vertente
Porque a sua nascente
Sãos neurônios submersos
Um redemoinho de versos
na cachoeira da mente.

(¹) Puros



Poeta, desculpa aí, mas a produção foi essa .
Um abraço, pajeuzeiro.
Pedro Fernandes

Sendo a vida uma viagem
As mãos de uma parteira
Foi a estação primeira
Desembarquei na coragem
Eu não trazia bagagem
do ventre que era morada
O abraço de chegada
Chôro no primeiro beijo
Eu olho pra trás e vejo
na poeira da estrada.

O caminho da escola
A primeira professora
A música na difusora
O compacto na vitrola
o roubo de graviola
brincadeira na calçada
a primeira namorada
que me frustrava o desejo
eu olho pra trás e vejo
na poeira da estrada.

caminhos que percorri
pontes que atravessei
sombras onde descansei
o pão doce que vendi
frio e calor que senti
a alpargata torada
eu comia tripa assada
com pensamento no queijo
eu olho pra trás e vejo
na poeira da estrada.

Eu fui um jovem esportista
Que não ligava pra taça
Jogava pela cachaça
Uma prática amadorista
Contribuí pra conquista
Nos campinhos de pelada
E na tática improvisada
fui campeão sertanejo
eu olho pra trás e vejo
na poeira da estrada.

Deixei meu torrão saudoso
Porque não dizer tristonho
Em busca daquele sonho
D’algum dia ser famoso
Ingênuo, cru, generoso
Bati em porta fechada
Levei da vida pancada
Da inocência despejo
Eu olho pra trás e vejo
Na poeira da estrada.

Um emprego, a faculdade
O primeiro rendimento
Pedido de casamento
veio a paternidade
tempo põe velocidade
quando sopra dá rajada
não dá ré nem faz parada
nem, o seu leme eu manejo
Eu olho pra trás e vejo
Na poeira da estrada.

Estou sentindo um enfado
Lembrança mostrando falha
As contusões, dor espalha
Dando sinal de cansado
Eu sou um resignado
Sem remorso da jornada
que só será completada
fazendo o último cortejo
eu olho pra trás e vejo
A poeira da estrada.

Mote e glosa de: Pedro Fernandes
João Pessoa, 03/05/2008.
No pano verde da vida
Quem dava as cartas era eu
Até que me apareceu
A ingênua Aparecida
sedutora, bem vestida
de falsa ingenuidade
Cheia de cumplicidade
Com um "crupier" ladrão
Na roleta da paixão
Meu prêmio será saudade.

Uma mulher eu ganhei
No relancim da paquera
Antes d’uma primavera
Ela disse já cansei
Desse baralho enjoei
Não me contenta a trindade
Foi embora da cidade
Fugindo com Ricardão
Na roleta da paixão
meu premio será saudade

Eu caí na jogatina
De aventura amorosa
Apostei e ganhei Rosa
A mais bonita menina
Angelical e grão-fina
Quando eu tirei “liberdade”
Ela me disse em verdade
De homem eu não gosto não
Na roleta da paixão
Meu prêmio será saudade.

O casamento é sinuca
Cada dia uma jogada
Tem que acertar a tacada
Se o taco espirra machuca
O giz de esfriar a cuca
A sublime lealdade
No fuso marca idade
De bico é separação
Na roleta da paixão
meu premio será saudade.

Com Míriam fiz parceria
Na bacarat do amor
Com ela fui ganhador
No jogo não me traía
A toda hora dizia
Eu tenho felicidade
A morte só por maldade
Cancelou nossa união
Na roleta da paixão
meu prêmio será saudade.


Poeta véi, foi o que pude fazer. Desculpe aí.

Um grande abraço.

Pedro Fernandes.
.



Um grande abraço, poeta !!!







Mãe
Mãe que me deu luz e vida
Me abrigou nove meses
Se acordou muitas vezes
Pra fazer minha comida
Quando sentia a mordida
Que eu lhe dava nos seios
De água seus olhos cheios
A mamada não parava
aí é que me abraçava
saciando meus anseios.


Se eu dormisse de dia
Ficava a noite acordado
E ela ali do meu lado
Cochilava e não dormia
Se a noite tivesse fria
Me agasalhava na manta
A fé de mãe era tanta
Enquanto embalava o berço
Ia dedilhando um terço
Rezando pra outra santa.




Ela me pôs na escola
Preparou minha merenda
Como eu não tinha agenda
Mãe pregava na sacola
um bilhetinho com cola
A professora Ritinha
passa a ficha todinha
de como me comportei
e eu nunca desconfiei
E pensava: mãe advinha.


Me acordar com carícia
Toda manhã ela vinha
Para o café na cozinha
E me servia a delícia
Papai ouvia a notícia
No rádio de pilha antigo
Mamãe sentava comigo
Dividindo a tapioca
Gesto que na CEIA invoca
Jesus repartindo trigo.





Os afazeres da casa
Mãe me ensinou bem cedo
Dizia não tem segredo
Fazer um fogo de brasa
Me dizia quem se atrasa
Mostra falta de respeito
Aprendi forrar o leito
Fazer mala pra viagem
O que pus nessa bagagem
Nunca mais será desfeito.


O tempo foi se passando
Perversidade trazendo
mamãe foi envelhecendo
A cabeleira pintando
sua memória falhando
A vista ficando escura
Sua passada insegura
A mão pegou a tremer
Mas não parou de crescer
O seu jardim de ternura.





Ser mãe é missão sublime
Um divino ministério
Há prêmio também cautério
Compondo o mesmo regime
Se o filho comete um crime
Faz parte do seu destino
Sofre com tal desatino
é do filho a defensora
Se ajoelha e diz: doutora
Me prenda e solte o menino.


Mamãe tinha fé castiça
Me ensinou a rezar
No domingo me acordar
Para assistir uma missa
Me ensinou que a preguiça
irmã da necessidade
dizia fale a verdade
mesmo que ela lhe doa
meu choro hoje atordoa
minha bússula de saudade


Mãe, é fonte de candura
Roseira que exala amor
Seu sopro alivia a dor
O seio jorra doçura
Seu colo tem a fofura
Do capucho de algodão
Uma usina de perdão
Sinfônica que o filho embala
A voz suave não cala
No palco do coração.

Pedro Fernandes
João Pessoa, 10/05/2008.
Eu trago vivo na mente
o jeito como ela andava
a roupa que ela usava
e a coroa no dente
pra roça ia na frente
não fica esmorecida
inda levava a comida
meu pai estava esperando
hoje choro me lembrando
da minha mamãe querida.

Sua chinela havaiana
com um prego atravessado
correia tinha quebrado
só porque não tinha grana
chegava o fim-de-semana
não arrefecia a lida
botava a calça comprida
no cavalo ia montando
hoje choro me lembrando
da minha mamãe querida.

Criou dez filhos sozinha
depois que papai morreu
educou, do jeito seu
se alguém saísse da linha
com autoridade vinha
austera mas comedida
a falha era corrigida
assim foi nos educando
hoje choro me lembrando
da minha mamãe querida.

Mote do poeta : Abel Araujo
Glosa de: Pedro Fernandes.
João Pessoa, 10/05/2008

Mote: Josa Rabelo
Glosa: Pedro Fernandes

O amor é anzol com três barbelas
com iscas cheirosas e desejadas
nesse mar de paixão são atiradas
nos incita a nadar em busca delas
engolidas provocam umas seqüelas
ofuscando o tirocínio e a razão
um velhote enfrentar um furacão
nessas águas vira peixe o pescador
sopra a brisa suave do amor
abrandando a quentura da paixão.

Pedro Fernandes
















Foi quebrado o silêncio da rotina
Quando grande arquiteto anunciou
Zé Vicente a missão já completou
O chamei para a hoste celestina
Lhe permito transpor essa cortina
E se encontrar com o Benone Conrado
Com Ascêncio, Bandeira e animado
Fazer dupla com Faustino e João de Lima
Quando parte um poeta o céu se anima
Por ganhar mais um astro iluminado.

As porteiras do céu foram se abrindo
A medida que o cortejo avançava
Sob aplauso, reverência onde passava
Aos acenos, retribuía sorrindo
Numa nuvem se lia “seja bem vindo”
A orquestra angelical toca um dobrado
E o maestro num gesto delicado
Lhe oferece a batuta com uma rima
Quando parte um poeta o céu se anima
Por ganhar mais um astro iluminado

Mote de Wellington Vicente
Glosa de : Pedro Fernandes
João Pessoa, 26/05/2008.






Viajei no transporte da memória
Na estrada que leva à meninice
Pra que os olhos de adulto assistisse
Aonde começou a minha história
O casebre duma família simplória
Que unida viveu e sofreu nela
A miséria entrou pela janela
E nunca mais saiu desta morada
Toda casa de taipa abandonada
Guarda um grito de fome dento dela.

Há anos ninguém mais lhe habitou
As paredes internas destruídas
A madeira das portas corroídas
que o cupim do tempo se instalou
A coberta de palha se queimou
O barreiro coberto de favela
A tristeza do cenário nos revela
O quanto a pobreza é castigada
Toda de casa de taipa abandonada
Guarda um grito de fome dentro dela

Mote de : Ademar Macedo
Glosa de: Pedro Fernndes
João Pessoa, 31/05/2008.

Um bom domingo, poeta.












JOSA,
um abraço, poeta!!.
Era assim...

O fumaceiro anuncia
Que chegou o São João
No espaço um foguetão
Deixa um rastro de magia
Um balão se distancia
No ventre da noite escura
Ninguém sabe em que altura
Nem aonde vai parar
De tanto a gente espiar
Com estrelas se mistura


O cheiro de milho assado
Se espalha no terreiro
Um busca-pé bem ligeiro
Ciscando pra todo lado
Um matutinho assustado
Corre pra dentro de casa
Vovô pisava na brasa
Mostrando ao povo o que é
Um homem puro e de fé
Que humildade extravasa.

Depois da fogueira acesa
Roqueira dar estampido
Bacamarteiro atrevido
aponta e com ligeireza
dispara trincando a presa
chapéu quebrado na testa
depois olha pra Ernesta
coração acelerado
ela diz ta aprovado
ele diz ganhei a festa.





Tem pamonha e tapioca
Cocada De amendoim
Doce de coco, alfenim
Batata doce e pipoca
Pé de moleque, paçoca
Tem bolo de macaxeira
Água quente na chaleira
Pra fazer café ou chá
Tem pão-de-ló, mungunzá
Queijo e manteiga caseira.


Toda comida é servida
Sem hora pra o fim da ceia
Depois da barriga cheia
Inda cabe uma bebida
Tem o quentão e batida
De frutas da região
jÁ BEM VARRIDO O Salão
Grita alto o sanfoneiro
Viva Antonio casamenteiro
Viva São Pedro, São João.




Era assim o meu São João
Que jà não existe mais
Costumes das capitais
Invadiram o meu sertão
A música de Gonzagão
Se ouvir é raridade
Tanta criatividade
Sendo substituída
Por música prostituída
Mata a gente de saudade.


João Pessoa, 08/06/2008
Pedro Fernandes

No espaço o sol é o astro rei
Que viaja na BR do infinito
o arrebol é o quadro mais bonito
que em minha vida já presenciei
Com a morada da águia me encantei
Seu tamanho, altura e posição
OH! que ave tão bonita é o pavão
que se orgulha de sua boniteza
No cinema maior da natureza
Tem um DEUS na sua direção.

A cascata que chora noite e dia
Umedece a face da montanha
notívaga a coruja se assanha
encantada com a luz da lua fria
Clareando o cenário em calmaria
Os artistas da mata agora estão
Hospedados sobre a vegetação
Amanhã apresentam outra beleza
No cinema maior da natureza
Tem um DEUS na sua direção.


Glosa: Pedro Fernandes
João Pessoa, 03/07/2008.
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De manhã andar na praia
Pé descalço sobre areia
Contemplar a lua cheia
Branca da cor de cambraia
Uma nuvem forma a saia
Como quem quer escondê-la
Só volto depois de vê-la
Exposta, inteira, despida
Se eu não tivesse essa vida
Pediria a DEUS pra tê-la

Viver sem poluição
Sem o calor do deserto
O que preciso tem perto
Nem precisa condução
Um shop em pé no balcão
Na porrinha sou estrela
Essa fama vou mantê-la
Com ela ganho a bebida
Se não tivesse essa vida
Pediria a DEUS pra tê-la.

Sentar no banco da praça
Sem compromisso marcado
Ficar de papo furado
Olhando o povo que passa
Moçoila cheia de graça
É um prazer conhecê-la
Se não puder convencê-la
Vou lhe deixar comovida
Se eu não tivesse essa vida
Pediria a DEUS pra tê-la.

Mote de: Marcos Ferraz
Glosa de: Pedro Fernandes
João Pessoa, 11/07/2008.


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Um adjunto pra roça
limpa de mato e plantio
do alto para o baixio
só vai quem tem a mão grossa
a água está na palhoça
numa cabaça no chão
e como não tem fogão
sobre trempre queima lata
Só um poeta retrata
as coisas do meu sertão.

Espingarda socadeira
O caçador de rolinha
Espera de manhanzinha
Debaixo da quixabeira
Num espera traiçoeira
É de cortar coração
Se acaso tremer a mão
chumbo se espalha e mata
Só um poeta retrata
As coisas do meu sertão.

Em julho viva Santana
Toda noite uma novena
sendo a cidade pequena
depois do terço tem cana
forró no fim de semana
Tem bacamarte e balão
Um frango vai a leilão
Maior oferta arremata
Só um poeta retrata
As coisa do meu sertão.

Mote de: João...
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Esse banzo me domina
Não há programa engraçado
Fico no quarto trancado
O mau humor se confina
Não saio nem na esquina
E nem dedilho o piano
Desisto de fazer plano
Porque me falta alegria
A sua ausência de um dia
Gera saudade de um ano.

Desaprendo a dar risada
Fico sério carrancudo
Todos notam quando mudo
Fico de cara amarrada
Não piso nem na calçada
Pra não falar com fulano
nem revelar a ciclano
Quanta falta faz Maria
A sua ausência de um dia
Gera saudade de um ano.

Eu não sei ser diferente
Não aprendi disfarçar
Chega a hora do jantar
Espero que você sente
Mas você esta ausente
Sinto n’alma um desengano
Pego um litro de cinzano
Se fossem dois eu bebia
A sua ausência de um dia
Gera saudade de um ano.

Pedro Fernandes, João Pessoa, 11/07/2008.

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É preciso amar pra ser feliz
É preciso estudar pra aprender
É preciso viajar pra conhecer
É preciso encenar pra ser atriz
Só depois da primeira pede bis
para alma olho serve de janela
É preciso ter pavio pra ser vela
Pra colher é preciso que se plante
A morada de Deus é tão distante
Que é preciso morrer pra entrar nela.

Pra viver é preciso correr risco
O relâmpago antecede a um trovão
O morcego se abriga num porão
Vento forte carrega qualquer cisco
Protetor de animais é São Francisco
Divertimento de pião é currutela
Vida fácil só existe na novela
Todo mestre um dia foi estudante
A morada de Deus é tão distante
Que preciso morrer pra entrar nela.

Mote do Poeta; Lima Jr.
Glosa de: Pedro Fernandes

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Certas senas vistas no cotidiano
arrepiam minh’ alma e contamina
bandido que estupra uma menina
patrão que explora o ser humano
Uma família no mar de desengano
Sem trabalho, sem pão e moradia
Perambula pela rua todo o dia
A noite vai dormir sem comer nada
Um menino dormindo na calçada
E um cachorro servindo de vigia

Passa o dia a pedir de porta em porta
ouvir não, já não lhe afeta mais
todo dia é manchete nos jornais
com retrato duma criança morta
se por acaso o frio não suporta
se cobre com jornal que noticia
o crack não perdoa a quem vicia
mesmo assim ele dar uma tragada
um menino dormindo na calçada
e um cachorro servindo de vigia.

Sua cama é de cimento grosseiro
Junto à porta de vidro atrás da grade
A marquise já caiu quase a metade
de dia o seu nome é maloqueiro
pivete, trombadinha, maconheiro
um vira lata que atende por cutia
solidário, lhe acompanha pela via
toda noite essa peça é encenada
um menino dormindo na calçada
e um cachorro servindo de vigia.

Essa farmácia da rua da matriz
Fica aberto somente até às dez
Seus vizinhos são bares e cafés
Ao fecharem, se abre a cicatriz
De uma vida rude, torpe, infeliz
Que amanhece rente a soleira fria
Ao escárnio da vil democracia
Que finge não ser contaminada
Um menino dormindo na calçada
E um cachorro servindo de vigia.

Mote de: Clóris.
Glosa de: Pedro Fernandes
João Pessoa, 12/07/2008.

Um abraço, poeta !!!


Se o São João não foi bom
Seja feliz em Santana
Os laços que nos irmana
É canal que escorre som
Às vezes se erra o tom
Desvirtua a melodia
se de nós não dependia
A vida é a maestrina
Com sua batuta afina
Refazendo a harmonia.

Cantar é o seu destino
Poesia é seu produto
Como seu fã eu refuto
Seu silêncio repentino
Puxe o badalo do sino
Espante a chateação
A luz da animação
Precisa ficar acesa
Se despeça da tristeza
Entoando uma canção.

Na orquestração da vida
Cada um tem seu papel
Do soldado ao coronel
A caserna é assistida
Se uma pessoa querida
Sopra desobediência
Arca com a conseqüência
Porque o código é assim
Ninguém vai pagar por mim
Nem no caso de amência.

João Pessoa, 13/07/2008
Pedro Fernandes





Mote do poeta Lima Jr.

Sua presença pra mim é refrigério
Sua imagem me serve de colírio
O sussurro da voz leva ao delírio
Seu corpo do amor é um império
Sua ausência produz em mim cautério
O crepúsculo vai mais cedo acontecer
esperando logo mais amanhecer
e nosso ninho de amor vir clarear
Sou capaz de pedir para cegar
Se olhar para o mundo e não te ver

Alimento minh’alma com seu gesto
O seu cheiro embriaga a minha mente
Quero ser seu amante eternamente
E pra isso hoje aqui me manifesto
Para tal eu transpus pântano funesto
Obstáculos mortais pude vencer
Para tê-la em meus braços e lhe dizer
Do langor que eu sinto ao lhe beijar
Sou capaz de pedir para cegar
Se olhar para o mundo e não te ver.

A influência que borrifas sobre mim
Qual orvalho asperso sobre a flor
Não altera o perfume nem a cor
Da begônia, Camélia ou do jasmim
És a aura de um anjo querubim
Que caminha comigo a proteger
Não há mal que me possa acontecer
Sua presença não posso diespensar
Sou capaz de pedir para cegar
Se olhar para o mundo e não te ver.

Mote do Poeta: Lima Jr.
Glosa de: Pedro Fernandes
João Pessoa, 16/07/2008.

Um abraço, poeta!!!

Um fato até curioso
Que a mim não incomoda
Não me adaptei a moda
Pintando o couro piloso
Vovô era caprichoso
Papai lhe acompanhava
Até no nome imitava
e jurou que ia mantê-lo
Hoje vejo o meu cabelo
Da cor que papai usava

No salão da natureza
A cabeleireira é cega
Primeiro vem e esfrega
Qualquer cor que dar beleza
Só depois vem a surpresa
Dessa cor não repintava
E um pote branco pegava
pintava mesmo sem vê-lo
Hoje vejo o meu cabelo
da cor que papai usava.

Obedecendo a genética
Eu carrego essa herança
Convivi desde criança
Nessa natureza ética
sem camuflar na cosmética
consciente que mudava
a mão de Deus me pintava
Cada fio com mais zelo
Hoje vejo o meu cabelo
Da cor que papai usava

Mote: Hugo Araújo
Glosa de: Pedro Fernandes
João Pessoa, 15/07/2008.

Dia dos pais
Pedro Fernandes de Araújo

Pai saía pra roça bem cedinho
Eu só ia mais tarde, com preguiça
arrancando os pés de hortaliça
dos pomares da beira do caminho
no percurso espantava passarinho
que na sombra da cerca descansava
quando a pedra zunia ele voava
eu olhava pra ver qual direção
outra pedra com jeito e atenção
a minha baladeira eu carregava.

E assim eu seguia pela estrada
Não fechava colchete nem cancela
Calça curta, sem camisa, de chinela
Quando via que a hora era avançada
Aumentava a freqüência da passada
Que a marmita no saco balançava
E o caldo do feijão se derramava
A água da cabaça já bem quente
Eu criava uma estória comovente
Pai dava entender que acreditava

Retornando no horário vespertino
Só chegava em casa com o sol posto
A expressão serena do seu rosto
contava a minha mãe meu desatino
Não castigue nem bata no menino
O Diálogo consolida a confiança
Pai num gesto sublime de bonança
Segurava entre as mãos minha cabeça
Eu também já fiz isso, não esqueça
Peraltice é normal quando criança

Pai me deu seu voto de minerva
Toda vez que eu errei de atitude
Me dizia é bom que você mude
Um homem responsável se preserva
Onde chega com respeito se conserva
Saiba entrar e sair com altivez
Seja homem responsável, mas cortês
Nunca minta, não roube, nem se humilhe
Espero que um dia você brilhe
Com propósito, talento e honradez.

Como pai eu não sou nem a metade
Do que foi o meu pai na paciência
Quando um filho me vem com insistência
Dizer não, castigar me dar vontade
Desisto quando inverto a minha idade
E Começo meu passado resgatar
A voz suave de papai a me falar
Fecho os olhos, conselhos vou ouvindo
Abro os olhos me pego repetindo
Que vontade papai, de lhe abraçar

Na viagem do tempo ao infinito
Embarquei assistindo aquele exemplo
Eu morei numa casa que era um templo
Sem imagem nem púlpito de granito
O que eu vi foi um gesto tão bonito
De amor, tolerância e harmonia
A página do diálogo se abria
se conflito o equilíbrio ameaçasse
quem tiver seu pai vivo lhe abrace
dia dos pais não é hoje, é todo dia.
Um abraço poeta!!!

Fui lá no Tejuaçú
Lugar onde me criei
Não me contive, chorei
Na sombra do pé de umbu
Não vi mais gado zebu
Nem cavalo, nem gibão
Sem jequi e sem mourão
Calou-se a voz do vaqueiro
Voltei pra sentir o cheiro
Das terras do meu sertão.

Menino, pastorei gado
Botei capim, Cortei palma
Trago gravadas na alma
as tarefas do roçado
meu ombro era calejado
de botar água em galão
era minha obrigação
encher os potes primeiro
voltei pra sentir o cheiro
das terras do meu sertão.

No período de moagem
Que durava uma semana
Ajudava moer cana
Mostrando minha coragem
Eu guardo viva a imagem
Dos dois bois na rotação
Tangidos por meu irmão
Que sonhava ser carreiro
Voltei pra sentir o cheiro
Das terras do meu sertão.

Mote: Jonas de Antonio de Hilário
Glosa: Pedro Fernandes
João Pessoa, 13/08/208.

Desde cedo aprender a tanger gado
pastorar e levar para o curral
tirar leite é tarefa matinal
sua escola primeira é o roçado
sem preguiça ele cresce acostumado
inicia o plantio logo em janeiro
se anima quando ver o nevoeiro
anunciando que prestes vai chover
tem que ser nordestino pra saber
dá valor ao nordeste brasileiro.

É honesto, valente e prestimoso
paciente, solidário, alegre e bom
recebem de Deus o grande dom
de poeta, sensível atencioso
No que faz é sempre caprichoso
agricultor, tangerino e bom vaqueiro
aboiador, repentista, zabumbeiro
E tocando a sanfona dá prazer !
tem que ser nordestino pra saber
dá valor ao nordeste brasileiro.

Tres figuras nasceram nesse chão
E fizeram bonito em todo canto
O maestro Sivuca é um espanto
Jackson do pandeiro e Gonzagão
Foi o rei que inventor o baião
Sua herança pra todo sanfoneiro
Se o forró toca no Brasil inteiro
É à Luiz que se deve agradecer
Tem que ser nordestino pra saber
Dá valor ao nordeste brasileiro.

Mot:Berenildo

Técnica até hoje não surgiu
Que possa nossa mente decifrar
Hipnose não deu pra enxergar
Ressonância magnética não serviu
Ultrassom também não descobriu
O que dentro da mente acontece
A idéia vem do nada e aparece
Outra idéia demora uma semana
É indecifrável a mente humana
Só o perfil do poeta estabelece
(Pedro Fernandes)

Cantarola a linda camponesa
Na cabeça a rodilha, a lata d’água
Um vestido de chita sem anágua
Todo dia percorre sem tristeza
O percurso de casa pra represa
Passa a vida refém duma ilusão
Esperando a volta de Simão
E ter filho depois do casamento
ver menino montado num jumento
estampada na bandeira do sertão

O terreiro da casa bem varrido
Que Parece uma quadra de esportes
um magote de meninos muito fortes
Cada um nessa casa foi parido
A roceira possui um só marido
Pra ter mais é preciso a condição
Ser viúva, ou por separação
D’ outro jeito não quebra o juramento
Ver menino montado num jumento
Na paisagem Bucólica do sertão

O carro de boi está sem fueiro
A forquilha escorando o cabeçote
A brocha prende o boi pelo cangote
Mas agora estão soltos no basseiro
Ficam todos em baixo d’umbuzeiro
Sem atrito do eixo com o cocão
A inércia das rodas sem tração
O silêncio é a forma de lamento
Quatro latas, a cangalha e o jumento
Estampadas na bandeira do sertão

Pedro Fernandes












Lembo a crença que havia
Que o arco-íris sugava
o nevoeiro secava
E por isso não chovia
Pra cortar essa magia
Procurava pelo chão
Três pedras pra formação
Duma pirâmide mal feita
O arco-íris se deita
Na paisagem do sertão.

Poeta é um sonhador
A natureza lhe encanta
À tarde no céu Deus Planta
um fenômeno multicor
Seja de que ângulo for
Comparo essa aparição
Um diadema grandão
Que a face da serra enfeita
O arco-íris se deita
Na paisagem do sertão.

A formiga corta a folha
Um tiziu solto dá pulo
A lagarta num casulo
Com o formato de bolha
Depois não terá escolha
Na mágica transformação
Mostrando admiração
À borboleta perfeita
O arco-íris se deita
Na paisagem do sertão

Mote de: Fátima Marcolino
Glosa de: Pedro Fernandes – João Pessoa. 22/07/2008.

O espelho impassível me revela
Com estou depois da mocidade
Não quero acreditar mas é verdade
Em cada cicatriz uma seqüela
Fico sério a expressão se congela
Se rio mostra a falta de pujança
O queixo dividido se balança
Dois riscos meu pescoço rodeou
A navalha do tempo retalhou
Minha face rosada de criança.

Se eu pudesse mantinha a aparência
O vigor dessa tez com formosura
O viço da pele, e essa candura
E os traços expressando inocência
Inexistia qualquer eflorescência
Não deixava ferir-lhe qualquer lança
Com o destino faria uma aliança
não mostrar as rugas que criou
A navalha do tempo retalhou
Minha face rosada de criança.

Vejo sulcos assimétricos espalhados
Das maçãs do meu rosto para a testa
Quando o trem da vida desembesta
Marcando passageiros embarcados
Os que não resistirem, são jogados
Para fora do vagão que não alcança
A estação da velhice onde se cansa
Com o peso da bagagem que juntou
A navalha do tempo retalhou
Minha face rosada de criança.

Pedro Fernandes.







Minha classe social
Bem diferente da sua
Voce morando na rua
E eu na zona rural
A diferença abissal
pra um pebleu sonhador
Sem culpa da minha cor
com sentimento antagônico
Mil perdões se fui platônico
Em sonhar com seu amor.

Eu sonhei até o dia
que me enchi de coragem
E caprichei na linguagem
pra dizer que lhe queria
o meu balaio de alegria
virou contêiner de dor
seu desdém arrasador
me deu um não tão lacônico
mil perdões se fui platônico
em sonhar com seu amor.

Eu escrevi um poema
Com uma nódoa de mágoa
o tempo que tudo enxágua
mas desbota quem blasfema
rejeição sempre foi tema
que maltrata o cantador
fui salvo por benzedor
com chá de pó amazônico
mil perdões se fui platônico
em sonhar com seu amor.

Mote: Wellington Vicente
Glosa: Pedro Fernandes
João Pessoa, 27/08/2008 – Dia do Psicólogo

Eu não creio na pessoa
que não se apega ao seu chão
nem abra seu coração
para as lembranças das "boa"
dos balanços de canoa
um copinho de geleda
de tardezinha a pelada
no oitão de Dona Diva
no mundo não há quem viva
sem ter saudades de nada.

Tomar um "rabo de galo"
pra queimar uma caieira
tome fogo a noite inteira
chega a lenha dava estalo
Rezava pra São Gonçalo
pra ter êxito na queimada
e no fim da madrugada
mãe sentava pensativa
no mundo não há quem viva
sem ter saudades de nada.

Os irmãos com quem brinquei
tomando banho em riacho
Tantas pitombas no cacho
que sorrateiro eu tirei
mangas maduras chupei
tanto rosa como espada
camisa toda melada
e fiapos na gengiva
no mundo não há quem viva
sem ter saudades de nada.

Mote do poeta: Zé Vicente
Glosa: Pedro Fernandes - João Pessoa, 29/08/2009.

Um abraço, Marcos Maia, grande poeta !!


Alô poeta !!! Veja esse mote de Fátima Marcolino!!!

A sua falta é sentida
Do nascer ao por do sol
A noite sem seu farol
Fica mais escurecida
Foi muito triste a partida
Porque nem se despediu
Meu peito uma dor sentiu
Com tamanha intensidade
Voce não mede a saudade
Que deixou quando partiu.

A cada dia que passa
cuias de lágrimas se lançam
Dos olhos que não se cansam
De fazer uma devassa
Na sua foto, que a traça
Boa parte destruiu
De furos fez bem uns mil
Só tá visível a metade
Voce não mede a saudade
Que deixou quando partiu.

Meu caçuá de lembrança
Pesa dez vezes meu peso
No meu lombo ele vai preso
Mas carregá-lo não cansa
Nesse passo de dança
minha mente admitiu
Aquele silencio que ouviu
Vinha da eternidade.
voce não mede a saudade
que deixou quando partiu.

Mesmo noutras dimensões
O que sinto voce sente
Porque há uma corrente
Transmissora de emoções
Liga nossos corações
Que se energizam sem fio
O amor não diminuiu
pela invisibilidade
Voce não mede a saudade
Que deixou quando partiu.

Glosa de : Pedro Fernandes
João Pessoa, 02/10/2008.

Saudações poéticas, Josa.

Criança é ingenuidade
Símbolo nobre de pureza
semente que a natureza
semeia na humanidade
sem manchas de vaidade
sem orgulho, ódio ou rancor
suave como uma flor
perfumada do jardim
foi Deus que a fez assim
anjo fonte de amor !!

Pedro Fernandes
O bolso cheio de bola
de gude para jogar
um alçapão pra pegar
a patativa de gola
e lhe prender na gaiola
ouvir seu canto dolente
eu também era inocente
sem culpa do que fazia
Oh meu Deus como eu queria
ser criança novamente.

Apelidava seu Chave
chamando-o de caboré
ele tirava o boné
corria atrás com a trave
nao era uma falta grave
Depois que ficou doente
Tão saudoso como a gente
chorava quando me via
Oh meu Deus como eu queria
ser criança novamente

Rodar pinhão na ponteira
brincar com vaca de osso
E tomar banho no poço
amossegar jardineira
na subida da ladeira
sem temer um acidente
Gritar em culto de crente
E pela janela cuspia
Oh meu Deus como eu queria
ser criança novamente.

Uma vizinha enjoada
trouxe feijão do roçado
e num dia ensolarado
espalhou pela calçada
para não ser espalhada
tocalhava atentamente
gritou comigo somente
porque por cima eu corria
Oh meu Deus como eu queria
ser criança novamente.

No mês de senhor São João
Eu carregava a roqueira
Juntava uma cabroeira
Comandava o pelotão
Pra ir até o oitão
De Dominga impaciente
cada pipoco extridente
com medo ela se benzia
Oh meu Deus como eu queria
Ser criança novamente.

O tempo é uma moenda
Que tudo na vida esmaga
O tempo bom ele apaga
no tempo ruim ele emenda
mas é pra que se aprenda
ser um Ser mais consciente
Saber que a vida é presente
E agradecer todo dia
Oh meu Deus como eu queria
Ser criança novamente.

Pedro Fernandes.
João Pessoa, 12/10/2008.
Hoje é dia do poeta
Esse ser puro sensível
Que enxerga o invisível
Com sua rima discreta
Sonha, delira, vegeta
Se sente dor anuncia
Mas chora de alegria
Na religião do verso
Declama pra o universo
No templo da poesia.

No pilar do sentimento
Ele edifica o poema
os afagos de Iracema
lhe servem de linimento
À noite, a lua e o vento
Despertam nele a saudade
Fere a sensibilidade
E faz brotar da ferida
buquê de rima florida
perfumando a humanidade.

Seu mundo é a natureza
O amor é seu garimpo
O sertão é seu olimpo
É diplomado em pureza
Seu patrimônio a pobreza
A vida é a sua escola
Seu instrumento a viola
Inspiração seu diploma
Divino dom, ninguém toma
Se fracassa, Deus consola.

Pedro Fernandes – João Pessoa, 20/10/2008.

Parabens pelo dia do poeta, poeta Josa.

Um abração.



Dia de finados

Mal havia o sol nascido
Vem o coveiro abre a porta
é seu jardim, sua horta
cada palmo é conhecido
já tinha pintado, varrido
essa lixeira de gente
por cima tão reluzente
mas por baixo putrefata
tanto faz um magnata
como um ser pobre indigente.

Eu fui visitar a cova
Onde sepultaram pai
Um pingo de vela cai
No pé da cruz semi nova
As flores servem de prova
De quem lhe tinha amizade
Sentei-me no pé da grade
Ouvia o povo rezando
Meus olhos iam minando
Duas lágrimas de saudade.

Vi uma mãe que chorava
Encostada num jazigo
Na mão um retrato antigo
do filho que tanto amava
a cada olhada que dava
Um soluço escapulia
O seu olhar traduzia
Saudade, dor, sofrimento
seu véu tremulava ao vento
como quem se despedia.

Um cruzeiro de granito
No centro do campo santo
Uma viúva com um manto
Reza um pai nosso contrito
Outra puxando um bendito
Uma mocinha com um véu
Os homens tiram o chapéu
Em respeito ao ambiente
O sol passa indiferente
Na passarela do céu.

Um viúvo ajoelhado
Escorado numa cruz
“fumo” no bolso conduz
Revela o luto guardado
Olha a cruz resignado
Se ver que por dentro chora
Mascara o pranto por fora
Reza a oração final
Conclui no pelo sinal
Se levanta e vai embora.

Com três anos de idade
Criança brinca, contente
Sua atitude inocente
Nos braços da orfandade
Sem noção da eternidade
Diz: mamãe foi viajar
Esperando ela voltar
Pensa que a mãe se esconde
Lhe chama,ela não responde
Com medo põem-se a chorar.

Era um dia de finados
Visitas ao cemitério
No chão que guarda mistério
Onde corpos transformados
os ossos são misturados
Fêmur, ilíaco, patelas
Escápula, ulnas, costelas
Tíbias, rádios, perônios
Vértebras e diversos crânios
Quem seriam donos delas?

É neste ambiente hostil
Fúnebre, sombrio e triste
Só flor de saudade existe
Ao seu redor reuniu
Quem a mesma dor sentiu
Em níveis tão variados
Pais, mães, filhos amados,
Irmãos, esposas, maridos
juntos choram comovidos
Hoje é dia de finados.

Pedro Fernandes de Araújo.






Tomei leite de jumenta
mãe queria me ver forte
no pescoço pra dar sorte
uma medalhinha benta
me banhei n'água barrenta
no período do verão
eu temperava o feijão
só com pimenta de cheiro
Eu fui menino roceiro,
nas quebradas do sertão.

De manhã ia à escola
pedalando uma magrela
o lanche era mortadela
com suco de graviola
no recreio jogava bola
na volta com meu irmão
sempre tinha discussão
quem ia no bagageiro
Eu fui menino roceiro
nas quebradas do sertão.

Ia com pai pra o roçado
quando a chuva começava
enquanto ele cavava
eu plantava com cuidado
o grão de milho contado
quando jogava no chão
completava a plantação
cobrindo a cova ligeiro
eu fui menino roceiro
nas quebradas do sertão.

Mote: Abel Araújo
Glosa: Pedro Fernandes.

Um abraço, poeta.





Me alimento de lembrança
Me divirto no delírio
Misturo lágrima e colírio
No colo da esperança
A rede que me balança
leva à ociosidade
ouço a voz da liberdade
dizendo não se isole
todo dia bebo um gole
da cachaça da saudade.

Viajo num nevoeiro
Com destino ignorado
Sedento e amargurado
Sem amor e sem dinheiro
Sempre acho um companheiro
Com a mesma enfermidade
No brinde da lealdade
O nome dela escapole
Todo dia eu bebo um gole
Da cachaça da saudade.

Todo dia eu vou na rua
Do bairro onde ela morava
E nosso encontro se dava
Só na presença da lua
Hoje essa ausência sua
É fonte de ansiedade
Outra ofertou-me amizade
Eu respondi não me amole
Todo dia eu bebo um gole
Da cachaça da saudade.

Mote: Raphael Mour
Glosa: Pedro Fernandes.

O juiz: a consciência
O réu: é esse poeta
A vítima: paixão secreta
O crime: pura insistência
Atenuante: a inocência
De um boêmio apaixonado
Que hoje vive calado
seu remorso é o promotor
No tribunal do amor
Sou o réu e sou culpado.

O fogo da mocidade
Queima as páginas da razão
Me fez cometer traição
Pra alimentar vaidade
Na frivolência da idade
A induzi ao pecado
Depois que foi consumado
me senti um vencedor
No tribunal do amor
Sou o réu e sou culpado.

Quando casei com Estela
Lhe jurei amor eterno
Sob o rótulo de moderno
Arranjei outra além dela
Num folhetim de novela
Sem script decorado
Errei por ter misturado
O artista com o autor
No tribunal do amor
Sol o réu e sou culpado.

Mote: Josemar Rabelo
Glosa: Pedro Fernandes.
João Pessoa, 25/11/2008.

Poeta, eis o que pude produzir.
Um abração.

O ano velho se finda
O ano novo começa
No “reveion” se despeça
Numa cerimônia linda
Que seja a “era” bem-vinda
Trazendo paz, união
Na terra passe um borrão
E apague toda tristeza
Que castigou a pobreza
Sofrida do meu sertão.

Esse povo humilde e forte
Não pede presente caro
Mas precisa de amparo
Das armadilhas da sorte
A seca, arena da morte
Mina sua resistência
Os ladrões de consciência
Na alma lhe deixa mágoa
Lhe negam direito à água
Tiram sua independência.

Deus pode dar um jeito
Atendendo esse pedido
Que seja um ano chovido
Mas de inverno perfeito
O rio correr no leito
Sem a ira da enchente
ver prosperar a semente
Satisfazendo esse povo
Que espera do ano novo
Boa safra de presente.

Pedro Fernandes - João Pessoa, 28/12/2008.

Voce subiu na calçada
espiou pela janela
como o rastro revela
não adentrou na morada
não chamou, nem disse nada
como quem quer e não quer
se outra chance tiver
do terreiro voce grita
eu agradeço a visita
e volte quando quiser.

Um abração, poeta!!!